quarta-feira, 25 de junho de 2008

CINEMA


DEATH PROOF


Realização: Quentin Tarantino. Elenco: Kurt Russell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Jordan Ladd, Rose McGowan, Sydney Poitier, Tracie Thoms, Mary Elizabeth Winstead, Zoë Bell, Michael Parks, James Parks, Quentin Tarantino, Monica Staggs. Nacionalidade: EUA, 2007.
A cicatriz que marca a cara de Stuntman Mike (Kurt Russell) é o que ele tem de menos inquietante. Duplo de filmes e séries de televisão dos anos 70, ele distrai-se a utilizar o seu carro Chevy Nova “à prova de morte” para matar belas jovens.
“Death Proof” é um slasher movie misturado com o típico filme de perseguições. Uma homenagem, tal como “Kill Bill” o tinha sido para os filmes de kung-fu.
Aqui existem mulheres bonitas (uma especial nota para quem tenha um foot fetish) e carros cheios de estilo. As referências aos anos 70 são inúmeras, quer as estéticas, como a fotografia de Brigitte Bardot cuja pose é emulada por Jungle Julia, quer as cinematográficas, como o evidente “Vanishing Point” (1971). Mas, ao mesmo tempo, Tarantino faz questão de se descolar de um tempo fixo, e dá-nos telemóveis e carros figurantes totalmente actuais.
A estrutura do filme divide-se em duas partes, separadas cronologicamente por alguns meses e por dois grupos diferentes de jovens mulheres. O primeiro é composto por Jungle Julia (Sydney Poitier, filha do actor Sidney Poitier), Arlene (Vanessa Ferlito), Shanna (Jordan Ladd, filha da Charlie’s Angel Cheryl Ladd) e Lanna Frank (Monica Staggs), jovens arrogantes com vontade de beber uns copos, fumar alguma erva e divertirem-se. Do segundo grupo fazem parte Kim (Tracie Thoms), Abernathy (Rosario Dawson), Lee (Mary Elizabeth Winstead) e Zoë (Zoë Bell, a dupla de The Bride em “Kill Bill”, aqui interpretando-se a si mesma), mulheres temperamentais decididas a experimentar as potencialidades de um Dodge Challenger R/T de 1970, o mesmo modelo usado em “Vanishing Point”.
Ainda à semelhança de “Kill Bill”, “Death Proof” é também um filme sobre a vingança. Mas em contraste com exploração sexual típica deste género de filmes, Tarantino dá uma inusual força às mulheres, estabelecendo um ritmo crescente, que vai desde os intensos diálogos (tarantinescos) da primeira parte à intensa acção física da parte final. A violência e o gore assumem aqui um deliberado estilo anos 70, com fotografia granulosa, cores gastas, película com riscos, mudanças de bobine e cortes propositados na montagem.
Tarantino rodeia-se de elementos familiares, desde o toque do telemóvel "Twisted Nerve" de Bernard Herrmann, que acompanhou a arrepiante caminhada de Daryl Hannah em “Kill Bill Vol.1”, até ao carro amarelo com barras pretas, “vestido” exactamente igual a Uma Thurman. Também de “Kill Bill Vol.1” vêm os agentes McGraw, pai e filho interpretados, respectivamente, por Michael e James Parks. As paredes estão repletas de posters, e apetece parar cada frame e analisar com atenção todos os detalhes, sabendo de antemão que todos eles foram pensados com extrema minúcia.
E para quem se canse do carácter ‘self-conscious’ das excessivas referências, ou ache insuficiente a moralidade subjacente do “cá se fazem cá se pagam”, basta deixar-se inebriar pelo sentimento de perigo real providenciado pela incrível perseguição final, onde o CGI não tem lugar e onde Zoë Bell é simplesmente impressionante.
Uma nota ainda para a sempre boa selecção de banda sonora, de onde destaco JEEPSTER dos T-Rex, HOLD TIGHT dos Dave Dee Dozy Beaky Mick and Titch e, para terminar, a viciante CHICK HABIT de April March (versão da música de Serge Gainsbourg “Laisser Tomber les Filles” popularizada por France Gall).
“Death Proof” foi idealizado para ser apresentado em sessão dupla em conjunto com o filme “Planet Terror”, o filme de Robert Rodriguez que entre nós deverá estrear em Setembro. Espero, pelo menos, que “Death Proof” seja reposto nessa altura para permitir que a experiência seja feita na sua totalidade. Ainda assim, como obra individual (e com a vantagem de termos ganho 27 minutos face à versão americana) “Death Proof” é imperdível.

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