domingo, 1 de janeiro de 2012

O CIRCO É NOSSO

 Foto de Ricardo Silva

Por Roberto José da Silva

Palhaços somos, porque é preciso rir e fazer rir para mostrar que, apesar de tudo, somos felizes. Gratos pela vida que nos foi presenteada. Choramos também, mas por dentro, quando baixa o véu da tristeza pela condição humana, quando nos deparamos com a insanidade alimentada pela ganância, pelo poder, pela humilhação gratuita, pela destruição generalizada, pela falta de caráter, pela futilidade, pela descrença, pela consumo alucinado, pela exacerbação da individualidade, pela falta de carinho, pela guerra entre irmãos, pela falta de amor, enfim. Somos palhaços, sim, mas não somos idiotas como pensam os verdadeiros idiotas, estes dos discursos fabricados, da cara lavada, das mãos sujas, das costas viradas, da enganação como alimento, da baba escorrendo quando dos conchavos para o roubo mais ignóbil, pois mais fácil, resultado de uma traição àqueles que os colocaram nesta condição e alimentam o cofre a ser saqueado. Somos palhaços porque rimos desta desgraça por acreditar que nem todos são assim, mesmo que eles sejam minoria. Sabemos que, por mais que estes seres abjetos se alimentem da podridão e do pensamento de que estão enganando, a máscara sempre cai  – e se não cair, eles serão corroídos por dentro em seus palácios, mesmo que em pesadelos, mas também na realidade dos olhos inocentes de uma criança, por exemplo – seja dentro da própria casa, num flagrante passado na tela de tv ou ali na esquina da vida real, vai uma balinha doutor? Somos palhaços, sim, porque rimos de felicidade e emoção no gol do nosso time – e até jogada de gênio do adversário, cantamos as músicas de ontem e de sempre, amamos, temos amigos que são amigos, trabalhamos, pagamos as contas, olhamos a natureza, cuidados dos filhos, dos mais velhos, nos equilibramos com honra na corda bamba – mas também temos a navalha para o que der e vier. E vamos cortando, do jeito que podemos. Sim, somos platéia, mas o circo inteiro é nosso – e os que fazem essas palhaçadas sem graça que nos jogam na cara no dia-a-dia, não entendem isso, porque inebriados pelas luzes do picadeiro. Sabemos, no entanto, que o incêndio não é o melhor caminho. Assim como a passividade. Nossa principal arma é o poder da substituição. Também podemos vaiar, denunciar… e aplaudir, seja o protagonista de que lado for. Como palhaços, podemos rir de felicidade e de escárnio. Só não queremos que estes, os do picadeiro, pensem que podem fazer tudo impunimente. Porque, no fim e no começo, nós é que comandamos o espetáculo.

Fonte: http://jornale.com.br/zebeto/

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