quarta-feira, 16 de julho de 2014

PARA JOSÉ E JOSEFA


por Roberto José da Silva


Se bobear eles nasceram na mesma hora. O dia, com certeza, assim como o fato de serem vizinhos de sítio. Um 16 de julho como hoje. Naquele tempo ali havia muito mato, muito bicho, muito tudo nas cercanias de Palmeira dos Índios. Isso foi em 1926, um ano antes de Graciliano Ramos ser eleito prefeito do município com 433 votos. Muitos anos depois eles morreram no mesmo local, com diferença de quatro anos, na UTI do único hospital daquela cidade que, provavelmente, nunca mais teve um chefe de Executivo honesto como o escritor que despontou para o mundo da literatura com os relatórios que fez para o governo de Alagoas sobre a gestão que fez na cidade encravada no pé de uma serra. Eles se enamoraram no Rio de Janeiro, para onde desceram atrás dos irmãos. Depois do casamento, realizado na terra deles, só para provar que estavam casados mesmo, como mais tarde seria revelado, desceram praticamente direto para São Paulo. Retornaram para Alagoas, cumprindo a tradição dos paus-de-arara, para ali ficar eternamente. Estão juntinhos ao lado de um muro do cemitério que é vizinho dos sítios onde nasceram pelas mãos de parteiras. Cercados de plantação, com vista para a cidade, distante uns 5 quilômetros dali, que agora tem um Cristo em cima do morro, braços abertos tentando proteger tudo e todos. Josefa Maria da Silva e José Antonio da Silva deixaram dois filhos (o signatário e o artista Ricardo Silva), quatro netos (Yuri, Ticiana, Tarsila e Ana Carolina) e uma bisneta (Manuela), que seguem o caminho, quase sem pegadas, como diz o poeta, mas onde plantaram flores e ensinaram o que deve ser ensinado, mesmo com poucas palavras. Amém.


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