quinta-feira, 18 de setembro de 2014

MILLÔR FERNANDES


A Esfinge Brasileira


VolksMillor, o humorista do povo, através deste órgão de grande penetração (Honni soit qui mal y pense) que é O PASQUIM, vem propor às autoridades este modelo para a confecção de uma estátua-símbolo-do-Brasil, a qual abalará os pósteros e até mesmo os retros.

Desta vez não só a Europa se curvará novamente diante do Brasil (ôba, ôba, Europa!) como também a Grécia, (ôba, ôba, Grécia, mais um pouquinho, sim? Assim; é!), não essa Grécia que está aí, a da junta, mas a velha Grécia, a Grécia Magna, a Grécia mesmo.

Porque, uma vez construída a estátua cujo modelo damos acima, evidentemente o mistério da Esfinge, considerado o máximo em sofisticação adivinhatória e metafísica de todos os tempos, passará a ser objeto de riso. Diante da concepção esfingética (gostaram?) brasileira estamos certos de que o drama de Édipo não teria lugar porque, não podendo, de modo algum, resolver o mistério proposto, consequentemente ele teria sido devorado e, portanto, mais tarde, não daria aquele vexame de traçar a própria mãe lá dele.

A estátua que V.M. propõe como símbolo supremo da enigmática nacional deverá ser instalada na Praça dos Três Poderes (Exército, Marinha e Aeronáutica), em Brasília. Como já perceberam os mais atiladinhos, esse gesto da estátua (8 metros de altura) não significa nenhum símbolo criptocomunista ou pantero-negro. A figura, na sua simplicidade clássica, representa apenas a figura bem tropical, bem brasileira do Jogador de Porrinha.

Colocada, como quer o autor, na praça principal do país, a estátua na certa atrairá milhões de visitantes de todas as partes do mundo que, boquiabertos, tentarão em vão resolver o mistério proposto. Mas VolksMillor, o humorista do povo, garante: por mais que examine o Jogador de Porrinha, em mármore, no Paraná nunca ninguém jamais conseguirá dizer quantos pauzinhos ele tem na mão.


Millôr, julho de 1976

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