sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CABEÇA DE PEDRA

Atrás da foto

Descobri porque sempre tive medo. O motivo estava ali, naquela foto amarelecida. Apontaram a lente e fizeram o clique no corredor ao lado da casa grande. Eu devia ter entre dois e três anos. A mãe me arrumou bonitinho, de sapatinho e tudo. A fotografia confirmou que a cabeça sempre destoou do corpo. Grande, achatada atrás. Mas na imagem ali estava o buraco com uma grade. Devia ser o respiradouro do porão. Mas não havia outras entradas e não dava para ver nada lá. Mas eu via dentro da minha cabeçorra. Eram os monstros sem formas, a violência latente, o descontrole da natureza, o desastre em várias formas pensadas. Um dia gritei para tudo aquilo ir embora. Agora lembro. Não foram. Parece que se entranharam ainda mais em mim. Carrego-os até hoje. Foi ali. Estava ali. Está ali na foto que, agora, digitalizada, abro de vez em quando. Não para me ver, mas sim para tentar decifrar o que há por trás da imagem.

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