segunda-feira, 14 de setembro de 2015

DISCOTECA BÁSICA

Hüsker Dü

Warehouse: Songs and Stories (1990)


(Edição 144,Julho de 1997) 

Uma grande banda que acaba antes da decadência e ainda faz uma obra-prima no último disco.Sonho de roqueiro obsessivo? Não,existiu o Hüsker Dü. Warehouse: Songs And Histories saiu em 1987. O Dü foi para turnê, o empresário (David Savoy, um daqueles caras que colocam a tranqueira no furgão) se matou, o trio de Saint Paul (Estados Unidos) descobriu que não se topava mais e o óbito chegou. Mas em Warehouse, eles mandam bala naquilo que, os Pixies souberam trabalhar depois - e que o Nirvana incorporou para se tornar a maior banda do mundo(em 1991,Bob Mould recusou o convite do então verdinho Kurt Cobain para produzir nevermind.Sobrou para Butch Vig). 
Desde 1979, o Dü capitaneava a legião “vamos-lá-na-raça" do rock, independente.Os primeiros discos do trio formado por Bob Mould (guitarra, vocais), Grant Hart (bateria, vocais) e Greg Norton (baixo) não passavam de coices hardcore - em Land Speed Record (1981), seu álbum de estréia, eles executam dezessete canções em meros 26 minutos. Um dia o trio estalou que podia juntar barulho com sacada pop, coisa que outros nem sabiam (por preconceito, rebeldia ou falta de talento) que era possível. E acabou por entrar definitivamente na história do punk rock americano. 
O Hüsker Dü foi uma das primeiras bandas pós-punk americanas dos anos 80 a assinar com uma grande gravadora - o império Warner o capturou em 1986. Depois de soltarem o belo (e surpreendentemente otimista) Candy Apple Grey, Mould e Hart, abriram o registro para jorrar Warehouse. 
O som do LP, segundo álbum duplo da carreira do Hüsker Dü (o primeiro foi a obra de barulheira conceitual Zen Arcade), é de chorar, Paredes de guitarra mouldiana como reboco da cozinha firme de Norton e Hart, vocais humanos (de urros a sussurros) com harmonias bastardas dos Beatles. E coloridos de ritmo em que convivem valsa-punk ("She Floated Away"), 1-2-3-4 ramonesístico (a suprema "Could Vou Be The One") e rockabilly desnorteado (" Actual Condiction"). 
As letras seguram ainda mais. O Dü montou um mosaico da vida corriqueira: ansiedades, paixões em desenvolvimento e/ou mal resolvidas ("Could Vou Be The One", "Standing In The Rain", "Ice Cold Ice"), responsabilidades assumidas ("Charity, Chastity, Prudence And Hope"; desmoronamentos emocionais ("She Floated Away"), pequenas alegrias ("These Important Years"). 
Mould, homossexual discreto que se recusa a levantar bandeiras, tem sensibilidade para escrever feridas abertas que se aplicam a heteros, homos e pessoas que assistem a comerciais de facas Ginsu de madrugada. Basta prestar atenção no cenário descrito em "Standing In The Rain", que narra o fora levado por Mould num encontro - quem não passou por uma situação dessas? Hart não fica atrás. Com compositores desses, como a banda acabou? 

Como? Não sei. Acabou. Mould formou e separou o Sugar no meio de sua carreira solo. Hart montou uma banda, Nova Mob, que entrou em parafuso e está só também. O bigodudo Greg Norton hoje é um mero chefe de cozinha depois que o Hüsker Dü passou a ter começo, meio e fim. 

Marcelo Orozco




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