sábado, 19 de novembro de 2016

ZÉ DA SILVA

MEDO E PAVOR

Caubói. Dose tripla do “Velho Jack”. O balcão, pra mim, parecia mais uma obra de Dali. Era o quinto bar que passava. Não lembrava quais os outros e nem o que tinha bebido. Há muito tempo estava com este pequeno problema que chamam de “apagamento”. O meu era no ato, não daqueles que, no dia seguinte, ressaca fenomenal, a gente tenta lembrar como conseguiu chegar em casa – e blicas. Não sei se paguei. Saí. Meu carro? Eu tinha carro? Fui andando encostado às paredes para não desabar. Sem prumo. Sem Rumo. Caí porque uma parede acabou. Olhei do chão. Era um beco. Tão escuro como minha vida. Levantei. O porre federal pareceu ter ido embora. Algo me incentivava a ir em frente. Senti medo. Foi aí que vi, ou achei que vi. Eram cabeças apenas. Alguma luz iluminava-as de forma tênue. Delirium? Não, estava sóbrio naquela hora, tanto que senti o xixi quente escorrendo perna abaixo. Os olhos que me fitavam eram cor de sangue. Bocarras escancaradas mostravam dentes podres. Não parei de andar. Achei que meu fim chegara dessa forma. No beco escuro. Então, uma luz forte iluminou meu rosto. Tive uma cegueira momentânea. Por isso gritei. Não sei o quê. A luz apagou e eu vi, juro!, eu vi todas aquelas cabeças se virando e sumindo em alta velocidade. Eles sentiram pavor. Eu fui o motivo.



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