quinta-feira, 18 de maio de 2017

ZÉ DA SILVA



Não desconfiava, apesar de ter sido alertado desde pequeno. Um dia foi visto enchendo o prato com macarrão de uma forma tal que a comida transbordava o prato e ocupava um grande espaço na mesa. Ele comeu tudo – de fora pra dentro. Numa banca de produtos chineses comprou um óculos com quatro graus para leitura e passou a usar, sem ter problema algum de visão. O enxoval do filho estava comprado há tempos, mas ele nem namorada tinha. Pagou adiantado o próprio velório e o crematório e encomendou algumas coroas de flores. Não conseguia ler duas linhas de qualquer texto e seu principal passatempo na tv era zapear constantemente e a uma velocidade espantosa. Nunca andava – corria. A respiração sempre acelerada. Teve o piripaque aos 20 anos. Na UTI, entubado, recebeu a visita de um amigo de infância, que lhe falou ao ouvido: “Não sei o porquê da pressa. Nós vamos e a terra fica”. Morreu logo que o colega saiu. Queria chegar ao céu o mais rapidamente possível.




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