sexta-feira, 30 de junho de 2017

quarta-feira, 28 de junho de 2017

WIESLAW WALKUSKI




ZÉ DA SILVA


Foi no Viaduto do Chá. Não sei explicar como fui parar lá, mas tomei aquele de lírio selvagem e a vi. A cigana. Vestia uma roupa igual à do Hendrix. Estiquei o braço direito e abri a mão sem ela pedir. Os olhos da mulher se arregalaram igual aos quadros daquela pintora que virou filme normal do Tim Burton. Mais que grandes! Não tem linhas, ela gritou. Um carro lá embaixo, no Vale do Anhangabaú, freou. Outro, atrás, bateu – e mais outro, outro, outro e outro. Marcelo Tas apareceu de óculos vermelhos como o repórter Ernesto Varela. Subiu num capô e levou um safanão de um craquelento que comandava o exército de esfarrapados que veio da Estação da Luz. Alguém lembrou de Michael Jackson e começou a cantar e dançar Thriller. A mulher que não desgrudou da minha mão deu um riso fantasmagórico. Não tinha dentes. Sem futuro, ela disse. Olhei em volta e concordei.


segunda-feira, 26 de junho de 2017

domingo, 25 de junho de 2017

IVAN CARDOSO

E A ANTOLÓGICA CAPA DA "PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU" 



















Fotos e texto por  Ivan Cardoso

EM 1978, EU FUI CONVIDADO PELO MEU AMIGO CARLOS SION PARA FOTOGRAFAR A CAPA DUPLA DO NOVO LP DO ENDIABRADO CANTOR ZÉ RAMALHO !!! NA VERDADE A MINHA MISSÃO ERA MAIOR QUE A DE UM SIMPLES FOTOGRAFO, NAQUELA ÉPOCA O ZÉ RAMALHO ESTAVA ESTOURADO, SEU DISCO ANTERIOR TINHA SIDO UM GRANDE SUCESSO DE MANEIRA QUE A SUA GRAVADORA, A CBS ESTAVA DECIDIDA EM INVESTIR MAIS NO NOVO PROJETO DO CANTOR PARAIBANO... ALÉM DISSO ZÉ RAMALHO ERA UM FÃ APAIXONADO PELO CINEMA DE JOSÉ MOJICA MARINS, E O SEU GRANDE SONHO ERA TER AO SEU LADO, NA CAPA DESTE DISCO O MALDITO ZÉ DO CAIXÃO !!!
ELES ACREDITAVAM QUE SERIA IMPOSSÍVEL LOGRAR ESTA FAÇANHA. MAS, COMO SABIAM DA MINHA AMIZADE INTIMA COM O HOMEM DA CAPA PRETA DA BOCA DO LIXO, ME PEDIRAM QUE USASSE A MINHA INFLUENCIA, NO SENTIDO DE CONTRATAR O ZÉ PARA APARECER NA CAPA DO OUTRO ZÉ !!!
ALÉM DE UM CACHÊ, EQUIVALENTE AO QUE HOJE, SERIA UNS DEZ MIL REAIS... A PARTICIPAÇÃO DE MOJICA, AINDA CUSTARIA MAIS CARO,PORQUE ENVOLVIA TAMBÉM AS PASSAGENS AÉREAS PARA O FAMOSO CINEASTA PAULISTA & SEU GUARDA COSTAS, SATÃ (QUE TAMBÉM RECEBERIA UMA PEQUENA REMUNERAÇÃO), HOSPEDAGEM POR TRÊS DIAS ;NO HOTEL PLAZA, ASSIM COMO O PAGAMENTO DE TODOS OS COMES & BEBES DA EXTRAVAGANTE DUPLA !!!
TANTO O CARLINHOS, QUANTO O PESSOAL DA CBS &  PRINCIPALMENTE O ZÉ RAMALHO - QUE ESTAVA PAGANDO COM DINHEIRO DE SEU PRÓPRIO BOLSO PARTE DESTA SUPER PRODUÇÃO - FICARAM EUFÓRICOS COM A NOTÍCIA DA CONTRATAÇÃO DO MESTRE DO TERROR... &  RESOLVERAM INVESTIR AINDA MAIS NO MEGA PROJETO, CONTRATANDO DUAS MOÇAS, SENDO UMA DELAS, A DESLUMBRANTE ATRIZ XUXA LOPES QUE TAMBÉM ERA MINHA AMIGA, PARA EMBELEZAREM AINDA MAIS A CAPA DO INUSITADO LP !!
EU, JÁ TINHA FEITO, MAIS DE DEZ CAPAZ DE DISCO, DOS PRINCIPAIS ASTROS DA NOSSA MPB, MAS NUNCA TINHA VISTO UMA VERBA TÃO GENEROSA PARA ESTE TIPO DE PRODUÇÃO... DEPOIS DE TER ACERTADO, SEM MAIORES PROBLEMAS A MINHA REGIA REMUNERAÇÃO... ASSISTINDO AQUELA FARRA TODA DE DINHEIRO, ME LEMBREI QUE O MEU QUERIDO AMIGO HÉLIO OITICICA ESTAVA DURO, PRECISANDO DE UMA GRANA... E, POR ISSO MESMO, USEI OS MEUS PODERES PARA FAZER A CABEÇA DO CARLINHOS SION, SOBRE A IMPORTÂNCIA DE POR APENAS UM PEQUENO CACHÊ, PODERMOS CONTAR TAMBÉM, COM A PARTICIPAÇÃO DO LENDÁRIO CRIADOR DA TROPICÁLIA, NESTA JÁ ANTOLÓGICA CAPA !!!
ESCOLHI COMO CENÁRIO DE FUNDO DO NOSSO TRABALHO A INCRÍVEL CASA DAS RUÍNAS, EM SANTA TEREZA, ONDE COSTUMAVA FILMAR MEUS FILMES DE MÚMIA, NOS ANOS 70, PODENDO LHES GARANTIR QUE NAQUELE TEMPO A NOSSA LOCAÇÃO ESTAVA REALMENTE CAINDO AOS PEDAÇOS !!! NO DIA DAS FOTOS, A CONFUSÃO ERA GERAL, MAS GRAÇAS A COLABORAÇÃO SEMPRE EFICIENTE DE OSCAR RAMOS, DE LUCIANO FIGUEREDO &  DO PRÓPRIO CARLOS SION, NUM SÁBADO ENSOLARADO., LÁ FOMOS NOS PARA SANTA TEREZA !!! EU HAVIA PEDIDO AO HÉLIO QUE ALÉM DE SUA CELEBRE CALÇA DE PASSISTA DA MANGUEIRA, LEVASSE TAMBÉM O PARANGOLÉ "NOBLAU" QUE ELE TINHA CRIADO ESPECIALMENTE PARA O MEU FILME "HO" !!! O HÉLIO ESTAVA EUFÓRICO COM A SUA CONTRATAÇÃO, NÃO SÓ COM OS MIL REAIS (?) QUE IRIA EMBOLSAR, MAS, PRINCIPALMENTE PORQUE QUANDO VOLTOU DA AMÉRICA, OITICICA ESTÁ DECIDIDO A VIRAR ATOR... CURIOSAMENTE, NO FIM DE SUA VIDA, HÉLIO QUERIA FAZER TUDO, ENTREVISTAS, TEXTOS, PERFORMANCES, FILMES, MENOS ARTES PLASTICAS ???  OUTRO DADO INTERESSANTE É QUE NO SET DAS FOTOS, NENHUM DOS DOIS ZÉ CONHECIA, NEM SABIA QUEM ERA AQUELE HOMEM PÁSSARO...,AQUELE ESTRANHO PERSONAGEM AINDA MAIS LOUCO QUE ELES !!!
PARA PIORAR AINDA MAIS AS COISAS, NA HORA EM QUE ÍAMOS COMEÇAR A FOTOGRAFAR & ESTÁVAMOS FUMANDO AQUELE PODEROSO BASEADO, DE UM LEGÍTIMO MANGA ROSA, VINDO DA BAHIA... APARECEU A POLÍCIA !!! MAS, ELES NÃO ESTAVAM NO NOSSO ENCALÇO, MAS SIM DE UM FORAGIDO TRAVESTI QUE, SEGUNDO AS INFORMAÇÕES QUE TINHAM, COSTUMAVA SE ESCONDER NAS RUÍNAS !!!
ENTRETANTO, COM SUA VOZ GRAVE & DEBOCHADA... HÉLIO NÃO TEVE  O MENOR PROBLEMA EM DESPACHAR OS PMS...
"TRAVESTI ??? AINDA NÃO VIMOS, NENHUM... POR ENQUANTO, AQUI SÓ ESTÃO O ZÉ RAMALHO, SATÃ & O ZÉ DO CAIXÃO !!!
COM A POLÍCIA SAINDO DE FININHO DEMOS INICIO A NOSSA TÃO AGUARDADA SESSÃO DE FOTOGRAFIAS, PASSANDO A DIREÇÃO DOS ATORES, AO MEU QUERIDO COLEGA ZÉ DO CAIXÃO QUE NÃO TEVE A MENOR DIFICULDADE EM IDEALIZAR UMA CENA QUE VIROU A FAMOSA CAPA, ONDE O FABULOSO HÉLIO OITICICA ACABOU SENDO BATIZADO DE "ANJO" PELO DEMÔNIO DA MOÓCA !!!


























FONTE

sábado, 24 de junho de 2017

ESTÃO ROUBANDO O MEU BAIÃO


por  Luciano José

A globalização não é um fenômeno da época atual, mas está nas origens do sistema capitalista. Não há relação de produção capitalista sem algum processo de globalização. Queremos com isso dizer que o forró que atualmente conquista o público brasileiro em massa e se faz presente em várias partes do mundo é de qualidade musical bastante duvidosa. O retrato musical forrozeiro atualmente pintado no Brasil é musiquinha comercial de baixo nível.
Não podemos considerar o forró moderno ou estilizado ou eletrônico como forró porque simplesmente não há qualquer vinculação com os elementos ligados à tradição da música nordestina. O forró universitário merece nosso respeito, pois pretende estabelecer um elo com as raízes da música regional nordestina e dialogar com seus mestres.
Forró moderno é Luiz Gonzaga que ao longo da carreira soube moldar sua sonoridade aos novos tempos e conquistar variados admiradores. Forró moderno é Jackson do Pandeiro que revigorou a tradição com a inclusão de instrumentos elétricos e adicionou ao ritmo do forró a batida do samba, o pulsar do frevo e as várias manifestações folclóricas nordestinas. Moderno é Jacinto Silva que desafiava cantadores com suas divisões ousadas e seu canto sincopado. Moderno é Dominguinhos que, mesmo fazendo incursões em outras sonoridades e estilos, nunca esqueceu a base do forró gonzagueano do pé da serra. Moderno é Clemilda que, junto ao som dos oito baixos de Gerson Filho, reintroduziu temas folclóricos e bem-humorados na música nordestina. Moderno é Marinês que, enveredando pela MPB, pelo carimbó e pela balada romântica, foi capaz de contribuir para o surgimento da versatilidade do canto de Elba Ramalho. Em suma, aquilo que representa a modernidade já está presente no tradicional. Um realimenta o outro, mas um não avacalha nem desfigura o outro.
O forró eletrônico ou estilizado ou moderno não é e nunca será forró. Na época em que surgiu, final dos anos 90, as gravadoras, as emissoras de rádio, os programas de TV, a pirataria e empresários inescrupulosos que visavam aumentar seus faturamentos, se uniram para desqualificar a música nordestina e embrutecer o público na escolha de uma única forma de “compor” e ouvir música. O gosto popular não pode ser o critério para qualquer definição de qualidade artística de um dado produto cultural. Sabemos que há uma indústria cultural capitalista que financia aquilo que deve ser consumido em termos de arte. Respeitamos a democracia, mas não a confundimos com o democratismo que veicula o baixo nível e a ingerência do mercado como figura determinante para estabelecer valor a algo ou forjar juízos de gosto. Pierre Bourdieu, sociólogo francês contemporâneo, já advertia que o juízo de gosto não é resultado de uma decisão individual isolada e inata, mas é uma construção histórica e condicionado a relações de poder surgidas no embate entre diferentes ambientes sociais.
Portanto, não é tão simples como possa parecer alguém dizer que qualquer um “pode ouvir de tudo e escolher o que mais lhe agrada”. Ou então, basta pronunciar a palavra “forró” para que o baixo nível prevaleça. É preciso, mais do que nunca, redescobrir os elementos que compõem a simplicidade da música popular produzida no Nordeste. Como expressava Jacinto Silva, “forró é simplicidade, é poeira, sanfona, zabumba, triângulo”. Nessa hora se faz necessário recorrer ao apelo presente na música “Estão roubando o meu baião” do grande artista popular Zenilton, sanfoneiro ligado as tradições do forró que nunca dispensou a modernidade: “Chame a polícia/Prenda o ladrão/Estão roubando o meu baião/Dizendo que é vanerão//O forró nunca foi música/Não existe vanerão/Na verdade o que existe/É xote, marcha e baião/O baião do pé da serra/Quem trouxe foi Gonzagão//Forrobodó é forró/Festa desorganizada/A cultura nordestina/Está sendo desprezada/Se pagar para tocar/O CD vai para as paradas”. O momento é de recuperar nossas raízes mais autênticas, mesmo que tenhamos de conviver com elementos culturais de pouca legitimidade. A palavra de ordem é válida, mas devemos evitar o discurso genocida ou usar aparatos bélicos para limpar o terreno.

Escritor Luciano José no lançamento de seu livro "Jacinto Silva - As Canções". Palmeira dos Índios, 25 de abril de 2013. Foto Ricardo Silva.

*Este artigo foi publicado no semanário Tribuna do Sertão (Palmeira dos Índios-AL), ano XXI, nº 1007, 19 de junho de 2017.


quinta-feira, 22 de junho de 2017

TORQUATO NETO

Poema do Aviso Final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.



HERMETO PASCOAL

Lagoa da Canoa ou Olho d'Água Grande, 22 de junho de 1936


Hermeto Pascoal é um compositor arranjador e multi-instrumentista brasileiro (toca acordeão, flauta, piano, saxofone, trompete, bombardino, escaleta, violão e diversos outros instrumentos musicais).


Os sons da natureza o fascinaram desde pequeno. A partir de um cano de mamona de jerimum (abóbora), fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos. Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e ficava tirando sons. Até o acordeão de 8 baixos de seu pai, de sete para oito anos, ele resolveu experimentar e não parou mais. Dessa forma, passou a tocar com seu irmão mais velho José Neto, em forrós e festas de casamento, revezando-se com ele no acordeão e no pandeiro.

Mudou-se para o Recife em 1950, e foi para a Rádio Tamandaré. De lá, logo foi convidado, com a ajuda de Sivuca (acordeonista conhecido), para integrar a Rádio Jornal do Commercio, onde José Neto já estava. Formaram o trio O Mundo Pegando Fogo e, segundo Hermeto, ele e seu irmão estavam apenas começando a tocar acordeão, ou seja, eles só tocavam o acordeão de 8 baixos até então.

Porém, por não querer tocar pandeiro e sim acordeão, foi mandado para a Rádio Difusora de Caruaru, como refugo, pelo diretor da Rádio Jornal do Commercio, o qual disse-lhe que "não dava para a música". Ficou nessa rádio em torno de três anos. Quando Sivuca passou por lá, fez muitos elogios sobre o Hermeto ao diretor dessa rádio, o Luís Torres, e Hermeto, por conta disso, logo voltou para a Rádio Jornal do Commercio, em Pernambuco, ganhando o que havia pedido, a convite da mesma pessoa que o tinha mandado embora. Ali, em 1954, casou-se com Ilza da Silva, com quem viveu 46 anos e teve seis filhos: Jorge, Fabio, Flávia, Fátima, Fabiula e Flávio. Foi nessa época também que descobriu o piano, a partir de um convite do guitarrista Heraldo do Monte, para tocar na Boate Delfim Verde. Dali, foi para João Pessoa, onde ficou quase um ano tocando na Orquestra Tabajara, do maestro Gomes.

Em 1958, mudou-se para o Rio de Janeiro para tocar acordeão no Regional de Pernambuco do Pandeiro (na Rádio Mauá) e, em seguida, piano no conjunto e na boate do violinista Fafá Lemos e, em seguida, no conjunto do Maestro Copinha (flautista e saxofonista), no Hotel Excelsior.

Atraído pelo mercado de trabalho, transferiu-se para São Paulo em 1961. Depois de um tempo, formou, juntamente com Papudinho no trompete, Edilson na bateria e Azeitona no baixo, o grupo Som Quatro . Foi aí que começou a tocar flauta. Com esse grupo gravou um LP. Em seguida, integrou o Sambrasa Trio, com Cleiber no baixo e Airto Moreira na bateria. No disco do Sambrasa Trio, Hermeto já registrou sua canção Coalhada.

Com o florescimento dos programas musicais de TV, criaram o Quarteto Novo, em 1966, sendo Hermeto no piano e flauta, Heraldo do Monte na viola e guitarra, Théo de Barros no baixo e violão e Airto Moreira na bateria e percussão. O grupo inovou com sua sonoridade refinada e riqueza harmônica, participando dos melhores festivais de música e programas da TV Record, representando o melhor da música brasileira. Nessa época, venceram um dos festivais com Ponteio, de Edu Lobo. Além disso, Hermeto ganhou várias vezes como arranjador. No ano seguinte gravou o LP Quarteto Novo, pela Odeon, onde registrou suas composições O Ovo e Canto Geral.


Em 1969, a convite de Flora Purim e Airto Moreira, viajou para os Estados Unidos e gravou com eles dois LP, atuando como compositor, arranjador e instrumentista. Nessa época, conheceu Miles Davis e gravou com ele duas músicas suas: Nem Um Talvez e Igrejinha.

Com o nome já reconhecido pelo talento, pela qualidade e por sua criatividade, tornou-se, juntamente com seu grupo, a atração de diversos eventos importantes, como o I Festival Internacional de Jazz, em 1978, em São Paulo, contando com a participação de Chick Corea , John McLaughlin e Stan Getz, que fizeram questão de dar uma "canja" com o grupo.

No ano seguinte, participou do '''Festival de Montreux''', na Suíça,onde seu trabalho com o grupo foi ovacionado, resultando num álbum duplo Hermeto Pascoal Montreux ao vivo, com participação do musico Nivaldo Ornellas. Seguiu para Japão, onde se apresentou com o grupo no festival Live Under the Sky, com a participação de Sadao Watanabe. Em 1979 Hermeto e grupo participam de uma tournê pela Argentina ( teatro Nacional e estádio "Obras sanitárias") e sul do Brasil, juntamente com Dizzy Gillespie. Tocou em vários festivais no Brasil , como no festival de verão do Guarujá no inicio de 1980.

Em março desse mesmo ano, os músicos Cacau de Queiroz e Nenê deixam o grupo e Hermeto renova sua formação;entram Marcio Bahia e Carlos Malta. Lançou o Cérebro Magnético em 1981 e multiplica suas apresentações pela Europa.


Em 1982, lançou, pela gravadora Som da Gente, o LP Hermeto Pascoal & Grupo. Em 1984, pelo mesmo selo, gravou o Lagoa da Canoa, em que registrou pela primeira vez Som da Aura com os locutores esportivos Osmar Santos e José Carlos Araújo. Esse disco também foi em homenagem à sua localidade natal, que se elevou, então, à categoria de município e conferiu-lhe o título de "cidadão honorário". Em 1986, o Brasil Universo, também com seu grupo.

Compôs ainda a Sinfonia em Quadrinhos, apresentando-se com a Orquestra Jovem de São Paulo. Em seguida, foi para Copenhague, nde lançou a Suíte Pixitotinha, que foi executada pela orquestra sinfônica local, em concerto transmitido via rádio para todo o Rio de Janeiro.

Em 1987, lançou mais um LP, Só Não Toca Quem Não Quer, em que homenageia jornalistas e radialistas como reconhecimento pelo seu apoio ao longo da carreira. Em 1989, fez seu primeiro disco de piano solo, o LP duplo Por Diferentes Caminhos.

Em 1992, já pela Philips, gravou com seu grupo o Festa dos Deuses. Depois do lançamento, viajou à Europa para uma série de concertos na Alemanha, na Suíça, na Dinamarca, na Inglaterra e em Portugal.

Em março de 1995, apresentou uma sinfonia no Parque Lúdico do Sesc Itaquera, em São Paulo, utilizando os gigantescos instrumentos musicais do parque. No mesmo ano foi a convite da Unicef para Rosário (Argentina), onde se apresentou para duas mil crianças, sendo que seu grupo entrou para tocar dentro da piscina montada no palco a pedido dele.

Em 1999 lançou o CD Eu e Eles, primeiro disco do selo Mec, no Rio de Janeiro. Neste CD produzido por seu filho Fábio Pascoal, Hermeto toca todos os instrumentos. Em 2003 lançou, com seu grupo, o CD Mundo Verde Esperança, também produzido por Fábio.

Em outubro de 2002, durante uma oficina em Londrina, conheceu a cantora Aline Morena e a convidou para se apresentar no dia seguinte com o seu grupo em Maringá. Em seguida ela o acompanhou ao Rio de Janeiro e, no fim de 2003, Hermeto passou a residir com ela em Curitiba. Assim, passou a dar-lhe noções de viola caipira, piano e percussão e, em março de 2004 estreou no Sesc Vila Mariana a sua mais nova formação: o duo Chimarrão com Rapadura (gaúcha com alagoano), formado por Hermeto e Aline Morena.

Em abril de 2004, embarcou para Londres para o terceiro concerto com a big band local. Em seguida, realizou mais alguns espetáculos solo em Tóquio e Quioto.

Em 2005 gravou o CD e o DVD Chimarrão com Rapadura com Aline Morena, além de realizar duas grandes turnês com seu grupo por toda a Europa. O CD e o DVD de Hermeto Pascoal e Aline Morena foram lançados de maneira totalmente independente em 2006.

Atualmente, Hermeto Pascoal apresenta-se com cinco formações: Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena, Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica.

Lançou em 2010 o CD Bodas de Latão, em duo com Aline Morena, comemorando sete anos de união na vida e na música. Esse CD contém duas faixas multimídia.



Fotografias de Ricardo Silva


quarta-feira, 21 de junho de 2017

MACHADO DE ASSIS


A PALMEIRA


Como é linda e verdejante 
Esta palmeira gigante 
Que se eleva sobre o monte! 
Como seus galhos frondosos 
S’elevam tão majestosos 
Quase a tocar no horizonte! 

Ó palmeira, eu te saúdo, 
Ó tronco valente e mudo, 
Da natureza expressão! 
Aqui te venho ofertar 
Triste canto, que soltar 
Vai meu triste coração. 

Sim, bem triste, que pendida 
Tenho a fronte amortecida, 
Do pesar acabrunhada! 
Sofro os rigores da sorte, 
Das desgraças a mais forte 
Nesta vida amargurada! 

Como tu amas a terra 
Que tua raiz encerra, 
Com profunda discrição; 
Também amei da donzela 
Sua imagem meiga e bela, 
Que alentava o coração. 

Como ao brilho purpurino 
Do crepúsc’lo matutino 
Da manhã o doce albor; 
Também amei com loucura 
Ess’alma toda ternura 
Dei-lhe todo o meu amor! 

Amei!... mas negra traição 
Perverteu o coração 
Dessa imagem da candura! 
Sofri então dor cruel, 
Sorvi da desgraça o fel, 
Sorvi tragos d’amargura!

........................................ 

Adeus, palmeira! ao cantor 
Guarda o segredo de amor; 
Sim, cala os segredos meus! 
Não reveles o meu canto, 
Esconde em ti o meu pranto 
Adeus, ó palmeira!... adeus!



*A FRANCISCO GONÇALVES BRAGA
RJ, 6 jan. 1855 O.D.C.



HÄXAN

A FEITIÇARIA ATRAVÉS DOS TEMPOS

Visão histórica e quase documental, dividida em sete capítulos, da história da bruxaria e forma como o homem tem tratado o assunto. Apresenta tanto fontes literárias com descrições do que se pensava ser a bruxaria e suas ligações demoníacas, como dramatizações, quer do que se julgava ser a atividade das bruxas, como o modo como a inquisição lidava com as pessoas acusadas de bruxaria. Por fim faz-se uma analogia com casos modernos de histeria, cujos sintomas se podem relacionar com aquilo que antigamente se julgava serem sinais do demônio.

Produção:

Título original: Häxan; Produção: Aljosha Production Company / Svensk Filmindustri (SF); País: Suécia; Ano: 1922; Duração: 105 minutos; Distribuição: Universum Film (UFA) (Alemanha); Estreia: 18 de Setembro de 1922 (Suécia).

Equipa técnica:

Realização: Benjamin Christensen; Produção: Benjamin Christensen; Argumento: Benjamin Christensen; Fotografia: Johan Ankerstjerne [preto e branco]; Montagem: Edla Hansen; Direcção Artística: Richard Louw.

Elenco:

Benjamin Christensen (O Diabo), Ella La Cour (Feiticeira Karna), Emmy Schønfeld (Assistente de Karna), Kate Fabian (Velha Ama), Astrid Holm (Anna), Oscar Stribolt (Monge Gordo / Médico), Wilhelmine Henriksen (Apelone), Elisabeth Christensen (Mãe de Anna), Karen Winther (Irmã de Anna), Maren Pedersen (Maria, a Fiandeira), John Andersen (Padre Henrik, Inquisidor Chefe), Elith Pio (Johannes, Jovem Monge da Inquisição), Aage Hertel (Juiz da Inquisição), Ib Schønberg (Juiz da Inquisição), Holst Jørgensen (Peter Titta ou Ole Kighul), Clara Pontoppidan (Freira), Elsa Vermehren (Freira), Alice O’Fredericks (Freira), Gerda Madsen (Freira), Karina Bell (Freira), Tora Teje (Histérica Moderna), Poul Reumert (Joalheiro), H.C. Nielsen (Assistente do Joalheiro), Albrecht Schmidt (Psiquiatra), Knud Rassow (Anatomista), Ellen Rassow (Criada), Frederik Christensen (Cidadão), Henry Seemann (Cidadão).



Análise:

Numa altura em que o cinema dinamarquês tinha já perdido o fulgor de outros tempos, tanto a nível artístico, como por menor pujança das suas produtoras (nomeadamente a Nordisk Film, que durante a Primeira Guerra Mundial perdeu a sua importância internacional), alguns dos seus melhores realizadores filmavam no estrangeiro. Um deles, Benjamin Christensen, que em breve iria emigrar para os Estados Unidos, filmou ainda em solo dinamarquês, embora com financiamento e produção suecos, aquela que seria considerada a sua obra-prima.

“A Feitiçaria Através dos Tempos” é um projeto de grande fôlego, tendo-se tornado o mais dispendioso filme escandinavo até então. Nele Christensen, que o escreveu (sozinho, depois de os peritos consultados recusarem ajuda por serem contra o filme) e também interpretou, faz uma investigação histórica sobre o tema da feitiçaria, depois de ler o manual “Malleus Maleficarum” e incidindo particularmente no mundo germânico medieval. Filmando integralmente em estúdio, Christensen dá-nos um filme que espanta pela novidade quer temática quer estética, quer ainda pela abordagem baseada no rigor e detalhe quase formais trazidos das fontes históricas consultadas.

Apresentando o seu filme como um documentário com cenas encenadas, Benjamin Christensen vai mesmo ao ponto de nos citar as suas fontes, mostrando páginas de livros e incluindo inserts de ilustrações antigas, nas quais vai apontando detalhes ao mesmo tempo que as descreve, como se estivéssemos numa aula. Dessas lições passamos à encenação, a qual abarca tanto retratos históricos de desconfianças que levam a denúncias, capturas e julgamentos de mulheres que se crê serem bruxas, como também a sequências fantásticas, ilustrando aquilo que os livros ensinavam ser a bruxaria.

Com essas três vertentes a ocupar o grosso do filme (o qual se divide em sete capítulos), Christensen consegue uma enorme intensidade, beleza estética e riqueza técnica. Se a crueza com que o confronto entre a religião e superstição se dá com as supostas bruxas nos choca, não menos marcantes são as sequências fantásticas em que testemunhamos os recontros do Diabo com as suas discípulas. Com a película tingida de tons avermelhados, Christensen filma a noite (e curiosamente, à noite, por uma questão de encontrar o ambiente certo), em cenários de penumbra, já com influência do chiaroscuro do Expressionismo Alemão, com uma particular incidência no rosto humano (algo aperfeiçoado por Dreyer nos seus filmes seguintes), um imenso uso do grotesco (de rostos, gestos, acontecimentos e cenografia), que nos fazem sentir estar numa pintura de Bosch. Técnicas como dupla-exposição, dissolvências, movimentos reversos, animação stop-motion, bem como o uso de esqueletos animais e humanos, a personificação do demônio, nudez, cenas de marcado teor sexual (como uma simulação de masturbação por parte do Diabo), um polemico pisar de cruzes num Sabbath, a referência explícita à tortura e detalhes tão macabros o arrancar de um dedo de um corpo já putrefacto, ajudaram a tornar “A Feitiçaria Através dos Tempos” uma obra única e chocante no seu tempo.

O filme termina com um último quadro, contemporâneo, onde em jeito moralista, se mostra como a ciência já identificou tantos sintomas como causados por doenças mentais, em particular a histeria. Mostra-se então, comparativamente, como esses sintomas (sonambulismo, obsessões, insensibilidade táctil, cleptomania, etc.) foram em tempos sinal de marcas do demônio, e são agora (por agora entenda-se 1922) motivo de tratamento médico. No entanto, se antigamente o resultado eram problemas com a Igreja, e mortes na fogueira, agora são problemas com a autoridade, e internamentos em hospícios desumanos, mostrando que há ainda um longo caminho a percorrer.

Como não podia deixar de ser, “A Feitiçaria Através dos Tempos” passou por muitos problemas com a censura, tendo algumas das suas cenas mais ousadas sido cortadas nas versões originais. Tal resultou em versões truncadas. Com o filme a cair em domínio público, este foi replicado para venda em VHS ou DVD, por vezes a partir de más cópias e montagens duvidosas. Felizmente o filme tem sido motivo de vários restauros e reposições, a primeira das quais ainda em 1941, com uma nova banda sonora, composta por Emil Reesen. Uma versão mais curta foi apresentada 1968, com música de Daniel Humair, interpretada por um quinteto de jazz, e narração de William S. Burroughs. A versão mais comum hoje, feita em 2001 para DVD, com montagem que respeita a visão de Christensen, tem como banda sonora um misto de peças de Schubert, Gluck, e Beethoven, que tentam replicar as peças escolhidas pelos cinemas em 1922, e que receberam a a aprovação do realizador. A mais recente restauração data de 2006, feita pelo Svenska Filminstitutet, com música de Matti Bye. Alguns DVDs de 2007 acrescentam versões do compositor inglês Geoff Smith e do grupo de música eletronica Bronnt Industries Kapital.

Também o grupo de rock progressivo francês Art Zoyd (1997), o compositor islandês Barði Jóhannsson (2006) e o ensemble norte-americano The Rats & People Motion Picture Orchestra (2010) comporiam bandas sonoras independentes para o filme.




FONTE: 
A JANELA ENCANTADA

sábado, 17 de junho de 2017

JEFF HEALEY

As The Years Go Passing By



sexta-feira, 16 de junho de 2017

PAULO LEMINSKI


um bom poema


um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto


SOLDA

CÁUSTICO



SOLDA CÁUSTICO
:
http://cartunistasolda.com.br/

terça-feira, 13 de junho de 2017

DISCOTECA BÁSICA

CAETANO VELOSO
CAETANO VELOSO (1969)


por  Marcos Sampaio

A capa branca do disco de Caetano Veloso lançado em 1969, apesar da simplicidade, é um enigma digno dos faraós. Em primeiro lugar é sim uma homenagem, como tantas outras que foram feitas, ao álbum lançado um ano antes pelos Beatles. No lugar de um projeto gráfico com fotos ou desenhos, os rapazes de Liverpool enxugaram tudo e colocaram um imenso e absoluto branco na capa e contracapa do trabalho. No caso do baiano, para se diferenciar dos ídolos roqueiros, ele acrescentou apenas sua assinatura, e logo o disco ganhou o apelido de “o disco da assinatura”. Apesar de toda a paz estampada naquele mar de brancura, o que inspira Caetano a fazer aquele trabalho são seus tempos bicudos de uma ditadura brasileira, que logo o manteria exilado em Londres. Dessa forma, a ausência de cores acaba demonstrando também a saudade e o vazio em que o artista se encontrava, longe da sua amada Bahia. Já sentindo falta da família, o poeta abre o disco homenageando sua irmã Irene, contrastando a alegria do sorriso com uma despedida forçada. Mais melancólico, ele segue o disco falando em partidas e despedidas. Marinheiro só, cântico tradicional, vem cantada em inglês e mistura o recado direto com sua futura língua. A barroca Carolina, de Chico Buarque, fica ainda mais triste em sua janela quando cantada pelas vogais abertas do filho da Dona Canô. Triste ainda como as Chuvas de Verão, de Fernando Lobo. Em tom fadista, Os Argonautas recria o clima dos portugueses que partiram em busca de novas terras, como se o baiano quisesse falar que estava agora fazendo o caminho inverso. Mas como os contrastes daquela capa aparentemente sem nada, a tristeza do disco de Caetano se dissipa na última faixa, Alfômega. Suingada, funkeada e animada, a despedida do artista é em clima de festa, por que atrás desse bloco só não vai quem já morreu.




NELSON PADRELLA


Acordar hoje e ver na porta de casa as flores, velas e o champanhe não tem preço! Me senti muito amado… Só não entendi o frango e a farofa.

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segunda-feira, 12 de junho de 2017

FERNANDO PESSOA


Do livro do Desassossego

Nada me comove que se diga, de um homem que tenho por louco ou néscio, que supera a um homem vulgar em muitos casos e conseguimentos da vida. Os epiléticos são, na crise, fortíssimos; os paranoicos raciocinam como poucos homens normais conseguem discorrer; os delirantes com mania religiosa agregam multidões de crentes como poucos (se alguns) demagogos as agregam, e com uma força íntima que estes não logram dar aos seus sequazes. E isto tudo não prova senão que a loucura é loucura. Prefiro a derrota com o conhecimento da beleza das flores, que a vitória no meio dos desertos, cheia da cegueira da alma a sós com a sua nulidade separada. 


sábado, 10 de junho de 2017

ADAM WEST

William West Anderson

Walla Walla, 19 de setembro de 1928 - Los Angeles, 09 de junho de 2017.
Adam West nasceu em 19 de setembro de 1928, em Walla Walla, filho de Otto West Anderson (1903 – 1984) e Audrey V. Speer (1906–69). Aos 10 anos Adam colecionava quadrinhos e o personagem Batman o impressionou bastante. Quando sua mãe casou novamente, desta vez com Dr. Paul Flothow, mudaram-se para Seattle junto com seu irmão mais novo, John. Aos 14 anos, Adam entrou na Lakeside School e em seguida cursou o Whitman College, formando-se em duas áreas, Literatura e Psicologia. Durante seu último ano na faculdade, casou-se com Billie Lou Yeager.
Adam começou a trabalhar como DJ numa estação de rádio enquanto fazia uma pós graduação em Stanford. Dispensado do exército, passou dois anos tentando colocar uma estação de TV militar no ar - uma em San Luis Obispo, Califórnia e outra na área militar Fort Monmouth, Condado de Monmouth, Nova Jérsei. Nesse meio tempo, viajou pelo mundo com a esposa até que parou no Havaí para estrelar um programa infantil chamado The Kini Popo Show in Hawaii. Nessa época divorciou e em seguida casou com uma nativa chamada Frisbie Dawson, com quem teve uma filha em 1957 e um filho no ano seguinte - Jonelle e Hunter. Esse segundo casamento durou até 1962.

Em 1959, Adam foi para Hollywood, adotou o nome artístico de Adam West e conseguiu pequenos papéis em filmes de faroeste.

Após sete anos em Tinseltown, ele finalmente conseguiu um papel que o levou à fama. Em 1966, estrelou como Batman, pela rede ABC.

Em 1972 ele casou com Marcelle Tagand Lear com quem teve dois filhos; Nina em 1976 e Perrin em 1979. Em 1994 lançou uma auto biografia chamada De Volta a Bat-Caverna.

Morreu em 9 de junho de 2017, aos 88 anos, de leucemia.





FONTE : WIKIPÉDIA

sexta-feira, 9 de junho de 2017

SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE

A monster calls, 2016 
(Apaches Entertainment, 108min)
Direção: J.A. Bayona. Roteiro: Patrick Ness, romance homônimo de sua autoria, ideia de Siobhan Dowd. Fotografia: Oscar Faura. Montagem: Jaume Martí, Bernat Vilaplana. Música: Fernando Velázquez. Figurino: Steven Noble. Direção de arte/cenários: Eugenio Caballero/Pilar Revuelta. Produção executiva: Álvaro Augustin, Ghislain Barrois, Sandra Hermida, Jonathan King, Enrique López Lavigne, Patrick Ness, Bill Pohlad, Jeff Skoll, Patrick Wachsberger. Produção: Belén Atienza. Elenco: Lewis MacDougall, Felicity Jones, Sigourney Weaver, Liam Neeson, Toby Kebell, Geraldine Chaplin. Estreia: 09/9/16 (Festival de Toronto)

Aplaudido pelo mundo já em seu primeiro longa-metragem - o assustador "O orfanato" (2007) - e posteriormente taxado de "o Steven Spielberg espanhol" por causa do sucesso de "O impossível" (2012), que deu uma indicação ao Oscar de melhor atriz à Naomi Watts, J.A. Bayona volta a mostrar sensibilidade na manipulação das emoções humanas (e principalmente infantis) em "Sete minutos depois da meia-noite", um impressionante e comovente drama de fantasia que, assim como "O labirinto do fauno" (2006), do mexicano Guillermo Del Toro, é uma ode à força da imaginação contra as tragédias do dia-a-dia. Ao contrário do premiado filme de Del Toro, porém, o filme de Bayona não fez tanto barulho nas bilheterias (cobriu seu orçamento apenas com a ajuda da arrecadação mundial) e foi solenemente ignorado pelo Oscar. Tal descaso, no entanto, não reflete nem de longe sua imensa qualidade: "Sete minutos depois da meia-noite" é um dos mais inteligentes e criativos filmes dos últimos anos, um devastador drama sobre amadurecimento disfarçado de aventura juvenil.

Inspirado em um livro infantil iniciado por Siobhan Dowd e finalizado por Patrick Ness após a morte do autor original, "Sete minutos depois da meia-noite" é um espetáculo visual de primeira linha à serviço de uma história fascinante e avassaladora, que trata de assuntos espinhosos com o verniz da fantasia e da imaginação pueril. O protagonista é Connor O'Malley (Lewis MacDougall), um menino irlandês de doze anos que está passando pelo pior período de sua curta existência: sua mãe (Felicity Jones, de "A teoria de tudo") está enfrentando um câncer terminal que a impede de conviver com ele de modo ideal; seu pai (Toby Kebell, de "Black Mirror") mora nos EUA com a nova família e não tem planos de incluí-lo em sua vida; sua avó (Sigourney Weaver), com quem não tem a melhor das relações, quer obrigá-lo a morar com ela; e na escola, ele sofre constante bullying por parte dos colegas mais fortes. Em uma noite, exatamente às 12:07, Connor recebe a visita de um monstro gigantesco em formato de árvore que avisa que irá visitá-lo sempre no mesmo horário para lhe contar três histórias que poderão lhe ajudar nessa fase da vida. O monstro completa o aviso informando-o também de que a última história será de sua autoria - e deverá explicar os motivos de seus pesadelos.

De forma brilhante e surpreendente, Bayona transforma um conto de solidão e trauma em um show de efeitos especiais que, ao invés de eclipsar a força da história, sublinha seu tom lúdico e fantástico. As narrativas do monstro são apresentadas em formato de animação, mas nada de esperar a estética Pixar ou Disney: o cineasta utiliza de cada uma das fábulas da apavorante criatura (com a voz de Liam Neeson e feições que vão se tornando mais humanas conforme a trama avança) para analisar, de maneira poética mas bastante contundente, todos os medos e sentimentos de Connor (e, por conseguinte, de boa parte da plateia, adulta ou não). Ao questionar fundamentos essenciais, como a bondade, a compaixão e a raiva, o roteiro do mesmo Patrick Ness que terminou o livro vai fortalecendo o caráter de seu protagonista e preparando-o para enfrentar o maior desafio de sua vida, que é encarar a morte da mãe e a maturidade precoce. É admirável os meios encontrados por Bayona e sua equipe em equilibrar tão organicamente a vida real de Connor e sua imaginação sem deixar que nenhuma das linhas narrativas sobreponha-se à outra - e mais importante ainda, que consiga fazer com que ambas se conectem tão naturalmente até o final, de uma tristeza profunda, mas dono de uma beleza incontestável.

Contando com um excepcional ator juvenil no papel principal - Lewis McDougall, que também participou do exótico "Peter Pan" (2015), de Joe Wright - e veteranos competentes entre os coadjuvantes - como Sigourney Weaver como sua irascível avó e Geraldine Chaplin, uma espécie de amuleto de sorte do diretor, tendo feito pontas em seus três trabalhos até aqui - "Sete minutos depois da meia-noite" surge como um dos melhores filmes de sua temporada. Com um roteiro de ritmo preciso e equilibrado, um visual acachapante e o tom emocional acertadamente adequado a uma história que mira em vários tipos de plateia, o filme de Bayona é um triunfo em todos os aspectos, capaz de cativar qualquer espectador disposto a mergulhar em uma narrativa repleta de simbolismos e metáforas que, longe de aborrecer ou confundir, apenas valorizam a beleza de suas intenções e de sua realização. Imperdível!

FONTE

terça-feira, 6 de junho de 2017

quinta-feira, 1 de junho de 2017

MILLÔR FERNANDES


Pensar Custa


Pensar é a todo momento e a todo custo. Pensar dói, cansa e só traz aborrecimentos. Melhor é não pensar. Mas pensar não é facultativo. Se o cérebro, a mínima parte dele que seja, deixa de estar alerta por um momento, penetram lá, como parasitas difíceis de erradicar, «ideias» vindas da imprensa, do rádio, da televisão, da propaganda geral, dos produtos em série, do consumo degenerado, dos doutores em lei, arte, literatura, ciência, política, sociologia. Essa massa de desinformação, não só inútil como nociva, nos é, aliás, imposta de maneira criminosa nos primeiros anos de nossa vida. E se, algum dia, chegamos a pensar no verdadeiro sentido do termo, todo o restante esforço da existência é para nos livrarmos de uma lamentável herança cultural. Pois, infelizmente, o cérebro humano é um dos poucos órgãos do corpo que não têm uma válvula excretora. E as fezes culturais ficam lá, nos envenenando pelo resto da vida, transformando o mais complexo e mais nobre órgão do corpo numa imensa fossa, imunda e fedorenta. Um lamentável erro da Criação.