quinta-feira, 15 de novembro de 2018

STAN LEE

O homem que reinventou os quadrinhos

   Stan Lee e O Homem Aranha                                                      © Nick Saglimbeni


por  Célio Heitor Guimarães


Stan Lee, que faleceu na segunda-feira, aos 95 anos de idade, não foi apenas o editor e roteirista de quadrinhos que criou centenas de personagens, até hoje cultuados por milhões de leitores de gibis e espectadores de cinema em todo o mundo. Lee foi muito mais do que isso: ele humanizou os super-heróis, aproximando-os dos seres comuns.

Até o início da década de 60, super-heróis eram figuras não apenas poderosas, mas também inatingíveis, invencíveis, incapazes de sofrer danos e, por isso, praticamente, imortais. Com Stan Lee, tudo mudou. E ele revolucionou o mundo dos comics books. Super-herói passou a ter dor de estômago, apanhar do adversário, cair em depressão, ter problemas de falta de dinheiro – igual a todos nós.

“Eu estava cansado de escrever roteiros simplistas, com palavras que jamais excediam duas sílabas…” – como regista Roberto Guedes em “Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis”, Editora Kolaco, 2012. Então, Lee disse à esposa: “Vou cair fora!”. Joan interveio com o bom-senso feminino: “Ora, Stan, você sempre disse que gostaria de escrever histórias diferentes. Então, por que não faz isso e edita uma revista do jeito que você quer? O pior que pode acontecer é o (editor) Martins te demitir. Mas você já quer pular fora de qualquer jeito…”. Daí nasceu o Universo Marvel. “Tudo por culpa da minha mulher!” – pontua o quadrinhista.

O Quarteto Fantástico foi a primeira experiência, em “Fantastic Four” # 1, lançado em novembro de 1961. Um grupo de heróis bem diferente dos tradicionais, sem uniformes vistosos e identidades secretas. Além do que, o cientista Reed Richard, sua noiva Sue Storm, o irmão mais novo dela, Johnny, e um piloto de caças, Bem Grimm, têm endereço conhecido, no alto do edifício Baxter, em Manhattan. Durante a corrida espacial, em uma missão suicida, os quatro acabam expostos a misteriosos raios cósmicos. Resultado: Reed virou o Senhor Fantástico, capaz de esticar o corpo; Sue transforma-se na Garota Invisível; Johnny vira uma nova versão do velho herói dos anos 40 Tocha Humana; e Bem vira o Coisa, um ser rochoso de cor alaranjada.

O sucesso foi imediato. E, como diz Guedes, Stan Lee “sacou que tinha dinamite nas mãos”. Resgatou do ostracismo Namor, o Príncipe Submarino”, e, em parceria com o desenhista Jack Kirby, lançou o Incrível Hulk (maio de 1962). Em seguida, o Poderoso Thor (agosto de 1962), inspirado na mitologia nórdica, O Homem de Ferro (março de 1963) e Doutor Estranho (julho de 1963). Reunindo todo mundo, mais o diminuto Homem-Formiga e Vespa, surgiram Os Vingadores, e em março de 1964 foi revivido o Capitão América, não mais o super-soldado congelado num iceberg, mas um homem deslocado no tempo. Depois, vieram Nick Fury, O Falcão e o primeiro super-heróis negro, o Pantera Negra (nova criação com Kirby). Aí foi a vez dos X-Men, jovens que já nasceram com superpoderes, supervisionados pelo cientista mutante e telepata Charles Xavier, e do Demolidor (abril de 1964), bolado por Lee em parceria com o desenhista Bill Everett.

Em março de 1966, nasceria um dos mais extraordinários personagens da dupla Lee/Kirby: O Surfista Prateado, que surfava pelos céus numa prancha voadora. Arauto de Galactus, o devorador de planetas, a criatura logo rebelar-se-ia contra o criador e se tornaria exilado na Terra, atormentado pela prisão e temido e odiado pelos terráqueos. Uma obra-prima.

No entanto, a grande criação de Stan Lee foi e continuará sendo sempre O Homem-Aranha, vivido por Peter Parker, uma figurinha sem graça, sem amigos, vítima de bullying na escola, sem emprego fixo e sem dinheiro, com imensos óculos e uma tia velha para cuidar. Tudo ia nesse ritmo até que, durante uma exibição científica, uma pequena aranha contaminada por radioatividade pica o jovem, que passa a exibir habilidades idênticas às do aracnídeo: força e agilidade, uma espécie de sexto sentido e a capacidade de escalar prédios e andar pelas paredes.

O personagem, como achavam os editores, tinha tudo para dar errado. Era a antítese de um super-herói. Só que deu certo. E como! Um dos motivos foi a arte de Steve Ditko, que conferiu um visual de fragilidade e mistério ao personagem. E com o Homem-Aranha, Stan pode questionar instituições como a família, a escola, o trabalho, a imprensa e até mesmo o modelo capitalista, personificado pelo editor de “O Clarim Diário”, J. Jonah Jameson.

Muito ainda se poderia dizer sobre Stan Lee, que nasceu Stanley Martin Lieber, em 28 de dezembro de 1922, em Nova York, EUA. Infelizmente, o espaço é curto.

Acrescente-se, então, apenas, que o roteirista vinha enfrentando ultimamente uma série de problemas de saúde, além de conflitos com seu empresário, a respeito do gerenciamento de seus bens e de sua herança. Faleceu na manhã de 12 de novembro, no hospital Cedars-Sinai Medical Center, de Los Angeles, na Califórnia, deixando uma filha, Joan Celia Lee. A esposa Joan havia falecido em julho de 2017.

A DC Comics, a grande concorrente da Marvel, postou uma derradeira homenagem a Stan Lee em seu site: “Ele mudou a forma como vemos os heróis, e os quadrinhos modernos sempre carregarão sua marca indelével. Seu contagiante entusiasmo nos lembra por que nos apaixonamos por essas histórias em primeiro lugar. Excelsior, Stan!”



quinta-feira, 25 de outubro de 2018

LOUIS JORDAN

Caldonia (1946)



Cena do filme "Swing Parade of 1946 "

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

ARETHA FRANKLIN

RESPECT

Aretha Louise Franklin
(Memphis, 25 de março de 1942 — Detroit, 16 de agosto de 2018)

domingo, 29 de julho de 2018

WILLIAM MORTENSEN

William Herbert Mortensen  
(January 27, 1897 – August 12, 1965)










terça-feira, 24 de julho de 2018

ODAIR JOSÉ

Festival de Inverno de Garanhuns
Garanhuns, 23 de julho de 2018.

Fotografias de Ricardo Silva






 *Participação especial de Bárbara Eugênia
 *Participação especial de Bárbara Eugênia






quinta-feira, 12 de julho de 2018

Célio Heitor Guimarães


Ontem, hoje e amanhã



Minha geração foi criada com princípios morais comuns. Quando éramos crianças, ladrão tinha cara de ladrão, padre agia como padre e juiz era juiz; medo, tínhamos do escuro, de cemitério e de alma do outro mundo. Mães, pais, avós, tios e professores eram autoridades presumidas, dignas de respeito. Quanto mais próximas e mais velhas, mais afeto e mais respeito.

Hoje, dá uma tristeza infinita pensar no que já foi, no que aí está e no que nossos filhos e netos terão pela frente. De repente, matar pais ou avós, violentar crianças, sequestrar, roubar, enganar, tirar proveito, tudo virou banalidade, notícias corriqueiras de jornal ou de televisão, que serão esquecidas após o intervalo comercial.

Agentes da segurança viraram bandidos; fiscais de trânsito foram transformados em funcionários da indústria de multas; as blitz policiais não vão além de exercício de abuso de poder. Para os criminosos, os direitos humanos; para o cidadão honesto e cumpridor de seus deveres, mais deveres. Bandidos passaram a usar terno e gravata; assassinos têm cara de anjos; pedófilos, cabelos brancos e batinas. E os ladrões do dinheiro público viraram empresários, políticos e autoridades públicas. Em regra, com o voto da gente.

Que tempo é este?

Escolas são saqueadas, professores são surrados em sala de aula, comerciantes são ameaçados por traficantes; assalta-se e mata-se ao ar livre e à luz do sol com escancarada desfaçatez, grades cobrem nossas janelas, ninguém sai mais de casa; vivemos confinados nos shopping centers. Mas crianças continuam dormindo ao relento e gente como a gente continua morrendo de fome e de frio.

Que valores são esses?

Carros valem mais do que abraço, filhos querem-nos por haver passado de ano; todo mundo anda, come e trabalha de olho na telinha e celulares são presença obrigatória em mochilas escolares de recém saídos das fraudas…

O que vai querer em troca desse abraço, meu filho? Uma viagem ao Exterior, um SUV último tipo ou o mais recente lançamento da Apple ou da Samsung?

Mais vale um Armani do que um diploma; mais vale um whatsapp do que uma conversa; mais vale um baseado do que um sorvete.

Que lares são esses? Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente é uma droga.

Uma árvore, uma estrela, um pássaro, uma flor. Quando foi que tudo sumiu? Ou virou ridículo? Quando foi que eu esqueci o nome do meu vizinho? Qual foi a última vez em que olhamos para quem nos pede comida ou uma moeda no semáforo, sem sentir raiva ou medo?

Quero de volta a minha dignidade e a minha paz. Quero de volta a lei e a ordem, a liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para poder tocar as flores. Quero sentar na calçada e ter a porta da minha casa aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como obrigação e motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa, o olho no olho. Quero de novo a vergonha, a solidariedade, a esperança, a alegria. E teto, comida e emprego para todos.

Quero voltar a ser feliz. Quero dizer um basta a essa violência, a esse desamor, a essa patifaria, a essa inversão de valores e de ideais. Preciso voltar a ser gente, a ter amor, solidariedade, fraternidade; a indignar-me diante da falta de respeito, de ética, de caráter. E poder tentar construir um mundo melhor, mais humano e mais justo, onde as pessoas respeitem-se e sejam respeitadas. Apenas isto.

Utopia? Não, se cada um fizer a sua parte.

Esse desabafo me chegou, em essência, há algum tempo, via internet, de autor desconhecido. Assumo-o, adapto-o e o reparto com o leitor. Estamos todos precisando muito dele.


quarta-feira, 4 de julho de 2018

TORTA DE RICOTA

por  Yuri Vasconcelos Silva


Oito e pouco da noite. Pronto para uma rápida viagem, ida e volta em menos de 24 horas, uma inquietação preenche os espaços vazios entre os pensamentos. Ela vai aprontar esta noite. Ele a observa do outro lado da cozinha, tomando um redbull de canudinho para a vigília ao volante. Ela está vendo um seriado, esparramada no sofá, dentro de um moleton cinza e velho. Os olhos fixos na TV, ele tem convicção de que movimentos rápidos das órbitas oculares dela verificam se ele ainda a está observando. Tchau amor, estou indo. Ele diz, enquanto esmaga a latinha para enfiar no lixo. Boa viagem querido, cuidado na estrada. Ela responde, levantando-se do sofá para, em uma rápida esticada até a cozinha, dar um beijo de despedida. Ele quase enxerga a felicidade oculta logo abaixo da feição despreocupada em seu rosto. Ela não vê a hora do meu carro virar a esquina, para arrancar este trapo cinza e se enrolar naquela roupa apertada que comprou logo que soube que eu precisava fazer esta viagem. Ele pensou. Na garagem, sozinho, olhou o outro carro e concluiu que deveria ter colocado um rastreador. Uma ideia surgiu. Tirou um lápis de sua pasta e fez pequenas marcas em cruz no piso, sinalizando a posição dos pneus do veículo, de modo a demarcar com perfeição e discrição a posição exata das rodas. Como ela havia prometido que ficaria em casa vendo maratona de séries, esperando pelo retorno dele, ele saberia da traição assim que verificasse a posição das rodas. Não havia a menor chance dela tirar o carro e depois colocar no exato local sutilmente demarcado. Entrou no carro e foi embora. Tão logo virou a esquina, o terror invadiu os pensamentos. Uma série de pequenos trailers onde sua esposa era a protagonista dos mais picantes atos sexuais com desconhecidos e conhecidos. Um pesadelo que o mantém esmagando o volante até chegar ao destino. No dia seguinte, após angustiantes horas de retorno a velocidades superiores aos cento e vinte, ele enfim estaciona ao lado do carro de sua mulher. Ligeiro, verifica se as marcas em grafite no piso coincidem com as rodas. Nem um pouco! Nosso casamento não vai resistir. Entra se arrastando pela casa e encontra sua companheira prostrada diante da TV, no mesmo velho moleton. Você foi aonde? Ele pergunta seco. Oi amor, que bom que chegou antes. Tive que sair hoje cedinho porque estava louca pela torta de ricota da Gaspar. Mal consegui dormir de vontade. Ela justificou. O semblante sisudo dele se derrete em uma satisfação orgástica. Os olhos brilham, os cantos dos lábios se erguem. Ele abre a geladeira e encontra aquele prêmio dos deuses. A torta de ricota da Gaspar! Quando a garfada ainda com a geladeira aberta, encontra seu paladar, ele pensa que mesmo que sua mulher tivesse participado de uma orgia com o confeiteiro, ainda assim valia a pena.


segunda-feira, 21 de maio de 2018

quarta-feira, 18 de abril de 2018

PAULO LEMINSKI


Contranarciso


em mim
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro
que há em mim
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós


sábado, 7 de abril de 2018

Malagueña Salerosa


Trio Tariácuri



Malagueña Salerosa canción interpretada por el Trío Tariácuri. El cantante principal de este video es Jesús de la Rosa Muñoz. Los hermanos Mendoza formaron el Trío Tariácuri en el año de 1931.

quinta-feira, 22 de março de 2018

quarta-feira, 14 de março de 2018

A FEBRE DO INFINITO


A Febre do Infinito do Mattüs é o segundo lançamento da Sirva-se como editora




Por Sirva-se


Sexo, drogas, suicídio em massa, violência, críticas sociais, hecatombes, tretas conjugais nos moldes das relações líquidas (Bauman que o diga) e um pouco de rock e MPB. Assim é ambientado o universo do escritor natural de Palmeira dos Índios e residente em Maceió, Mattüs.

O cara lança agora o seu segundo romance, A febre do Infinito (2018), um lançamento da Sirva-se Edições Alternativas em parceria com a Livrinho de Papel Finíssimo Editora, de Recife.

A recente publicação é uma continuação indireta de O beco das almas famintas (2016), livro de estréia do autor que trouxe como ambientação narrativas que se passavam na Cidade Sereia, uma pequena metrópole sanguinária habitada por cracudos, pastores picaretas e o encontro escatológico com o bode preto. O curto romance é dividido em pequenos capítulos, quase contos, que dão conta de narrar uma sociedade falida comandada pelo Deus dinheiro e a desesperança com a humanidade.

Já A Febre do Infinito tem no enredo a personagem principal Pedro, um figura que perde a namorada num ritual de suicídio em massa. Sacana que é, ele aproveita a morte da ex amada para afanar em seu apartamento os seus discos raros. O acontecimento é o ponto de partida para o desenrolar da trama, acaba pondo em risco toda a tranquilidade da Cidade Sereia, para ser mais preciso, o bairro mais nobre, conhecido como Praia Vermelha (PV).

“O enredo é crítico e fictício, logo resolvi não fazer uma “história de final fechado”, como fiz em “O Beco…”, tudo em “A Febre do infinito” é bem aberto, tanto que a ordem de alguns capítulos foi trocada só para intrigar o leitor. Como o número “8” é a referência presente em todo o livro, a obra foi dividida em oito capítulos, onde o oitavo capítulo tem oito partes e a oitava parte do oitavo capítulo possui oito parágrafos”, explica Mattüs.

As influências durante o período de produção do livro vão desde o que ele estava lendo no momento, que no caso foram os escritores: Clarice Lispector, Lourenço Mutarelli e James Joyce até publicações sobre seitas suicidas.

Mattüs acredita que o caminho para continuar jogando no mundo seus escritos e ter a liberdade para produzir é optar pela autopublicação/publicações independentes. “Acredito no poder da autopublicação como não se ter barreiras para dar forma as suas ideias. Basicamente, a autopublicação (dos fanzineiros aos livreiros) é uma prova que o melhor caminho deve ser o de mandar todo mundo se foder e lançar livros como você bem entender”, defende.

A nova empreitada foi escrita em seis meses. O cara tem usado o esquema de fazer um “rascunhão” com praticamente um pouco mais da metade da obra numa vomitada só e, a partir disso, depois de um longo período no limbo, voltar a trabalhar no texto. Na medida em que os capítulos iam ficando prontos, ele mandava uma versão atualizada para um amigo ilustrar. “É um processo maravilhoso no começo, legal no meio e meio insuportável no final, mas o resultado impresso compensa qualquer dor de cabeça e ataques de pânico”, acrescenta.

Participam do livro: 
Daniel Contin (Ilustração), Dhiego Simões (revisão), Livrinho Editora (diagramação), Sirva-se Edições Alternativas (impressão).

Mattüs- por: R. Silva

Mattüs — besta do submundo das antiartes e agitos psicoquímicos — é uma aberração natural de Palmeira dos Índios (AL) e habita o underground maceioense há mais de uma década. A figura surgiu na literatura através do universo dos fanzines, sendo editor do grotesco zine marginal “Spermental” (2006–2013), “O Novo Pagão”, “Histórias pra Belzebu Dormir” e colaborador dezenas de outros zines com malucos de todo o país. Em 2016, lançou “O Beco das Almas Famintas” pela Livrinho de Papel Finíssimo Editora, a obra é um romance recheado de fábulas escatológicas que deram origem à “massacrelândia tropical” em que suas histórias pútridas são ambientadas: neste livro-inferno são abertas as portas da Cidade Sereia, uma pequenina metrópole sanguinária que odeia os miseráveis e está disfarçada de Califórnia brasileira, um reino de caos, diversão e destruição persiste, tornando-se um dos temas chave na narrativa de “A Febre do Infinito” (2018), segundo romance do autor.

O monstro também é roteirista/produtor da degenerada “Scoria Filmes”, produtora filmes trash/experimentais nascida há mais de uma década e com cerca de 10 trabalhos; dentre eles, os curtas “Psychodemia” (2009), “O Panorama da Carne” (2013) e o média metragem “Surf Kaeté” (2015). Não satisfeito em destruir a dignidade da literatura e do cinema, Mattüs ainda participa do projeto antimusical “Power of The Nóia”, antibanda que carrega quase uma dezena de lançamentos recheados de insucessos.


LANÇAMENTO

O livro já vem circulando ha certo tempo e Mattüs tem feito o esquema de distribuição de forma direta, de mão em mão ou por correspondência. Mas quem quiser sacar um pouco melhor da obra e trocar uma ideia com autor antes de adquirir a sua cópia, o figura vai lançar o material na próxima sexta-feira (16) ao som de música suja e barulhenta no evento Fim do Mundo que acontece no Pub Fiction, bairro da Jatiúca, em Maceió. Corre pra lá e garante teu exemplar, que as cópias são numeradas e limitadas!


PUB FICTION 
Avenida Antônio Gomes de Barros (Antiga Amélia Rosa), nº 1144.
16 de março de 2018
21 horas
Cartaz do evento onde Mattüs lança A Febre do Infinito na próxima sexta-feira (16)

https://medium.com/@Sirvase/a-febre-do-infinito-do-matt%C3%BCs-%C3%A9-o-segundo-lan%C3%A7amento-da-sirva-se-como-editora-3aee868582ef


terça-feira, 6 de março de 2018

sexta-feira, 2 de março de 2018

PAULO LEMINSKI


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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O DEMÔNIO DA NOITE



Por: Rodrigo Carreiro


Um sofisticado assaltante de lojas de equipamento eletrônico mata investigador a sangue frio e vira objeto de uma caçada policial minuciosa em Los Angeles. Ao filmar essa história com um estilo seco e objetivo, quase documental, o diretor Alfred L. Werker conseguiu demonstrar como a estética estilizada e quase expressionista do filme noir podia funcionar dentro de gêneros diferentes. Sem saber, ele estava revolucionando o thriller de perseguição, pois “O Demônio da Noite” (He Walked by Night, EUA, 1948) agregava um nível de realismo inédito ao estilo. Por razões diversas, o filme acabou fadado a um estágio injusto de semi-obscuridade, merecendo menções por ter inspirado a famosa série “Dragnet” (primeiro na rádio, depois da TV). Trata-se de uma obra que merece ser revalorizada.
Pode-se atribuir esse fenômeno, de certa forma, à trajetória errática do homem que a assina. Alfred L. Werker jamais se destacou em Hollywood, e seu nome não sobreviveu bem ao teste do tempo. Como a maior parte dos cinéfilos guia seu processo particular de redescoberta dos grandes clássicos do passado pelo nome dos diretores, “O Demônio da Noite” costuma passar despercebido a muita gente. Um dado importante, porém, pode corrigir o problema: reza a lenda que boa parte das seqüências do longa-metragem de 1948 foi dirigida por Anthony Mann, que se tornaria um dos maiores nomes de Hollywood na década seguinte.

Como Howard Hawks e John Ford, Anthony Mann foi um cineasta clássico, preferindo narrativas limpas e sem muitas firulas visuais. Essa é uma das maiores qualidades de “O Demônio da Noite”: é um filme eletrizante, alucinante, mais interessado em radiografar o processo dinâmico de investigação de um rumoroso caso verdadeiro do que em criar drama a partir de uma história de ficção. De certa forma, “O Demônio da Noite” aspira algo diferente da ficção, como deixa claro o letreiro que abre o filme. O objetivo dos realizadores era narrar, com o máximo de fidelidade possível, os procedimentos policiais para capturar um veterano de guerra que matou várias pessoas e aterrorizou Los Angeles durante o ano de 1947. Objetivo cumprido com perfeição.

Quase todo o filme enfoca os esforços da polícia para identificar e capturar o assassino. A única exceção é a seqüência de abertura, que mostra o motivo da perseguição tão obstinada: o assassinato de um policial, algo que sempre melindra os colegas do morto, fazendo-os se desdobrar para prender o responsável no menor tempo possível. A cena é curta e impactante, em parte devido à fotografia cheia de sombras e fortes contrastes, egressa do film noir. Pego em flagrante por um investigador ao tentar arrombar uma loja de artigos eletrônicos, o criminoso acerta três tiros no detetive para poder se safar, e foge em seguida. Com a morte do colega, os policiais formam uma verdadeira força-tarefa, na tentativa de conseguir uma pista concreta que possa levar ao criminoso.

O trabalho é duro, dificultado ainda mais pelo perfil do matador. Este é um homem solitário e metódico, o que complica bastante as investigações. Ele não deixa impressões digitais nos locais dos crimes, muda sempre o horário e a forma de agir, e não possui nenhuma conexão com o submundo, operando sempre sozinho. Dessa forma, os policiais são obrigados a investigar exaustivamente, utilizando todas as ferramentas disponíveis, conduzindo dezenas de interrogatórios com suspeitos e testemunhas e usando as mais avançadas técnicas forenses disponíveis.

A objetividade do filme é tão grande que nenhum dos personagens, sem exceção, tem vida própria; todos são mostrados apenas e exclusivamente durante a investigação do caso. Isso é tudo o que interessa ao diretor. Nessa escolha, é possível perceber alguma influência do miolo do filme alemão “M – O Vampiro de Düsseldorf”, de Fritz Lang. Os momentos mais lembrados do longa de 1930, são a abertura poética e o “julgamento” teatral que o encerra, mas Lang recheou a produção com longas seqüências que mostravam as técnicas policiais utilizadas na investigação. É esse o enfoque que interessa a Alfred L. Werker. A narração em off, quase jornalística, reforça ainda mais o estilo documental.

A decisão mantém o filme um tanto frio, sem permitir o envolvimento emocional do espectador com nenhum personagem. Por outro lado, dá à trama um sentido de urgência realmente impressionante. Nesse sentido, é possível sentir uma influência indireta de “O Demônio da Noite” em trabalhos que seriam famosos no futuro, como os thrillers “Seven” e “O Silêncio dos Inocentes”, e também na série de TV “C.S.I.”, que mostra um grupo de peritos científicos analisando cenários de crimes para descobrir quem os cometeu.

O maior destaque individual de “O Demônio da Noite” é a interpretação minimalista de Richard Basehart, no papel do criminoso. Basehart enfatiza o caráter solitário do homem, mastigando os raros diálogos com traços de mau-humor e dotando-o de olhar e risada maníacos. Além disso, o clímax do longa-metragem, passado nos esgotos de Los Angeles, cita o noir “O Terceiro Tiro” de forma empolgante e cheia de energia. Grande filme.


*
O Demônio da Noite (He Walked by Night, EUA, 1948)
Direção: Alfred L. Werker
Elenco: Richard Basehart, Scott Brady, Roy Roberts, Jack Webb
Duração: 79 minutos


CINE REPÓRTER


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

RASTROS DE ÓDIO


The searchers, 1956, 119min. Direção: John Ford. Roteiro: Frank S. Nugent, baseado no romance de Alan LeMay. Fotografia: Winton C. Hoch. Montagem: Jack Murray. Música: Max Steiner. Produção executiva: Merian C. Cooper. Elenco: John Wayne, Jeffrey Hunter, Natalie Wood, Vera Miles, Henry Brandon. Estreia: 13/3/56


Gênero americano por excelência, o western tinha no cineasta John Ford seu representante máximo e no ator John Wayne sua imagem absoluta. Apesar de terem trabalhado juntos por diversas vezes, é "Rastros de ódio", lançado em 1956, que mantém-se como a obra máxima de sua colaboração. Acusado de racista à época de seu lançamento, é hoje considerado a obra-prima de Ford, o diretor mais vezes premiado com o Oscar da categoria (quatro vitórias, nem todas por faroestes, mas todas por filmes unanimemente incensados por crítica e público).

"Rastros de ódio" já começa antológico. A porta de um rancho se abre, a silhueta de uma mulher é recortada contra um belo pôr-do-sol e Ethan Edwards (John Wayne) entra em cena. Estamos no Texas em 1868 e apesar da Guerra de Secessão já ter acabado uns bons anos antes recém o soldado da Confederação está regressando para a família. A família, no caso, é seu irmão, Aaron (Walter Coy), a cunhada Martha (Dorothy Jordan, esposa do produtor Merian C. Cooper), as duas sobrinhas Debbie e Lucy e Martin Pawley (Jeffrey Hunter), um mestiço cherokee que ele mesmo salvou depois do massacre de sua tribo. Logo depois de seu retorno, no entanto, uma tragédia acontece: a casa de seu irmão é incendiada, suas sobrinhas sequestradas e o casal violentamente morto. Ele tem certeza de que foram índios comanches que perpetraram tamanha desgraça e resolve partir em busca de vingança. A princípio junto com um grupo de soldados e depois contando apenas com Pawley, ele passa anos em busca da única sobrevivente da chacina, sua sobrinha Debbie. Seu objetivo, no entanto, não é resgatá-la e sim, matá-la, por considerar que ela já assumiu a personalidade de uma índia.

Levando em consideração as intenções de Ethan e seus pensamentos bastante preconceituosos, se vistos com os olhos de hoje, as acusações de racismo até fazem certo sentido. Mas quem há de negar que o ranço politicamente correto que hoje contamina a produção cinematográfica vem emburrecendo e deixando de tocar em assuntos pertinentes por medo de ser crucificada pelo povo médio? Em 1868, ano em que a história do filme começa (logo após a Guerra de Secessão que opôs o norte abolicionista e o sul escravagista) não havia melindres de nenhum tipo - negros eram negros, índios eram índios e os conceitos de masculinidade eram bem definidos (taí a imagem intocada de Wayne como exemplo de uma virilidade talvez anacrônica hoje em dia, mas extremamente valorizada em um Oeste selvagem e violento).

É inegável o cuidado de Ford com o visual de sua obra. A fotografia espetacular de Winton C. Hoch (ajudada pela beleza natural do famoso Monument Valley e pelas paisagens de Alberta, no Canadá) é quase uma personagem a mais da trama, acompanhando a odisséia de Ethan e Pawley em sua busca desenfreada por justiça (ou vingança, qualquer adjetivo aqui é acertado). O uso exemplar de tomadas à distância e da música grandiloquente de Max Steiner colaboram em criar o clima de épico que "Rastros" esbanja em cada fotograma. E o roteiro, adaptado de um romance de Alan LeMay, ainda encontra espaço para aliviar a tensão da caçada, com uma subtrama que envolve um namoro à distância entre o jovem Pawley e a bela Laurie (Vera Miles). Apesar de engraçado no início, esse desvio do rumo principal é o responsável pela única quebra de ritmo do filme (a briga entre Pawley e seu rival toma diversos e preciosos minutos, em uma desnecessariamente longa sequência).

"Rastros de ódio" é a quintessência do western, a fórmula do gênero em seu máximo grau de qualidade e forma. É também um perfeito exemplo de entretenimento sério e, a despeito das suas hoje equivocadas maneiras de ver os índios e as mulheres, o maior legado da dupla Ford/Wayne ao cinema.


UM FILME POR DIA



domingo, 11 de fevereiro de 2018

SOLDA





SOLDA CÁUSTICO: http://cartunistasolda.com.br/

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



Necrológio dos desiludidos do amor


Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia.

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.



quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

domingo, 28 de janeiro de 2018

FERNANDO PESSOA

FRAGMENTO 152


Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.
A razão por que tantas vezes interrompo um pensamento com um trecho de paisagem, que de algum modo se integra no esquema, real ou suposto, das minhas impressões, é que essa paisagem é uma porta por onde fujo ao conhecimento da minha impotência criadora. Tenho a necessidade, em meio das conversas comigo que formam as folhas que escrevo, de falar de repente com outra pessoa, e dirijo-me à luz que paira, como agora, sobre os telhados das casas, que parecem molhados de tê-la de lado; ao agitar brando das árvores altas na encosta citadina, que parecem perto, numa possibilidade de desabamento mudo; aos cartazes sobrepostos das casas ingremadas, com janelas por letras onde o sol morto doira goma húmida.
Por que escrevo, se não escrevo melhor? Mas que seria de mim se não escrevesse o que consigo escrever, por inferior a mim mesmo que nisso seja?
Sou um plebeu da aspiração, porque tento realizar; não ouso o silêncio como quem receia um quarto escuro. Sou como os que prezam a medalha mais que o esforço, e gozam a glória na peliça.
Para mim, escrever é desprezar-me; mas não posso deixar de escrever. Escrever é como a droga que repugno e tomo, o vício que desprezo e em que vivo. Há venenos necessários, e há-os subtilíssimos, compostos de ingredientes da alma, ervas colhidas nos recantos das ruínas dos sonhos, papoilas negras achadas ao pé das sepulturas dos propósitos, folhas longas de árvores obscenas que agitam os ramos nas margens ouvidas dos rios infernais da alma.
Escrever, sim, é perder-me, mas todos se perdem, porque tudo é perda.
Porém eu perco-me sem alegria, não como o rio na foz para que nasceu incógnito, mas como o lago feito na praia pela maré alta, e cuja água sumida nunca mais regressa ao mar.



*Fernando Pessoa in O Livro do Desassossego


terça-feira, 16 de janeiro de 2018

domingo, 14 de janeiro de 2018

BRUNA LOMBARDI


Alta Tensão

eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo
passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.

*(poema do livro O perigo do Dragão. Rio de Janeiro: Record, 1984. p. 36)