domingo, 29 de julho de 2018

WILLIAM MORTENSEN

William Herbert Mortensen  
(January 27, 1897 – August 12, 1965)










terça-feira, 24 de julho de 2018

ODAIR JOSÉ

Festival de Inverno de Garanhuns
Garanhuns, 23 de julho de 2018.

Fotografias de Ricardo Silva






 *Participação especial de Bárbara Eugênia
 *Participação especial de Bárbara Eugênia






quinta-feira, 12 de julho de 2018

Célio Heitor Guimarães


Ontem, hoje e amanhã



Minha geração foi criada com princípios morais comuns. Quando éramos crianças, ladrão tinha cara de ladrão, padre agia como padre e juiz era juiz; medo, tínhamos do escuro, de cemitério e de alma do outro mundo. Mães, pais, avós, tios e professores eram autoridades presumidas, dignas de respeito. Quanto mais próximas e mais velhas, mais afeto e mais respeito.

Hoje, dá uma tristeza infinita pensar no que já foi, no que aí está e no que nossos filhos e netos terão pela frente. De repente, matar pais ou avós, violentar crianças, sequestrar, roubar, enganar, tirar proveito, tudo virou banalidade, notícias corriqueiras de jornal ou de televisão, que serão esquecidas após o intervalo comercial.

Agentes da segurança viraram bandidos; fiscais de trânsito foram transformados em funcionários da indústria de multas; as blitz policiais não vão além de exercício de abuso de poder. Para os criminosos, os direitos humanos; para o cidadão honesto e cumpridor de seus deveres, mais deveres. Bandidos passaram a usar terno e gravata; assassinos têm cara de anjos; pedófilos, cabelos brancos e batinas. E os ladrões do dinheiro público viraram empresários, políticos e autoridades públicas. Em regra, com o voto da gente.

Que tempo é este?

Escolas são saqueadas, professores são surrados em sala de aula, comerciantes são ameaçados por traficantes; assalta-se e mata-se ao ar livre e à luz do sol com escancarada desfaçatez, grades cobrem nossas janelas, ninguém sai mais de casa; vivemos confinados nos shopping centers. Mas crianças continuam dormindo ao relento e gente como a gente continua morrendo de fome e de frio.

Que valores são esses?

Carros valem mais do que abraço, filhos querem-nos por haver passado de ano; todo mundo anda, come e trabalha de olho na telinha e celulares são presença obrigatória em mochilas escolares de recém saídos das fraudas…

O que vai querer em troca desse abraço, meu filho? Uma viagem ao Exterior, um SUV último tipo ou o mais recente lançamento da Apple ou da Samsung?

Mais vale um Armani do que um diploma; mais vale um whatsapp do que uma conversa; mais vale um baseado do que um sorvete.

Que lares são esses? Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente é uma droga.

Uma árvore, uma estrela, um pássaro, uma flor. Quando foi que tudo sumiu? Ou virou ridículo? Quando foi que eu esqueci o nome do meu vizinho? Qual foi a última vez em que olhamos para quem nos pede comida ou uma moeda no semáforo, sem sentir raiva ou medo?

Quero de volta a minha dignidade e a minha paz. Quero de volta a lei e a ordem, a liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para poder tocar as flores. Quero sentar na calçada e ter a porta da minha casa aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como obrigação e motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa, o olho no olho. Quero de novo a vergonha, a solidariedade, a esperança, a alegria. E teto, comida e emprego para todos.

Quero voltar a ser feliz. Quero dizer um basta a essa violência, a esse desamor, a essa patifaria, a essa inversão de valores e de ideais. Preciso voltar a ser gente, a ter amor, solidariedade, fraternidade; a indignar-me diante da falta de respeito, de ética, de caráter. E poder tentar construir um mundo melhor, mais humano e mais justo, onde as pessoas respeitem-se e sejam respeitadas. Apenas isto.

Utopia? Não, se cada um fizer a sua parte.

Esse desabafo me chegou, em essência, há algum tempo, via internet, de autor desconhecido. Assumo-o, adapto-o e o reparto com o leitor. Estamos todos precisando muito dele.


quarta-feira, 4 de julho de 2018

TORTA DE RICOTA

por  Yuri Vasconcelos Silva


Oito e pouco da noite. Pronto para uma rápida viagem, ida e volta em menos de 24 horas, uma inquietação preenche os espaços vazios entre os pensamentos. Ela vai aprontar esta noite. Ele a observa do outro lado da cozinha, tomando um redbull de canudinho para a vigília ao volante. Ela está vendo um seriado, esparramada no sofá, dentro de um moleton cinza e velho. Os olhos fixos na TV, ele tem convicção de que movimentos rápidos das órbitas oculares dela verificam se ele ainda a está observando. Tchau amor, estou indo. Ele diz, enquanto esmaga a latinha para enfiar no lixo. Boa viagem querido, cuidado na estrada. Ela responde, levantando-se do sofá para, em uma rápida esticada até a cozinha, dar um beijo de despedida. Ele quase enxerga a felicidade oculta logo abaixo da feição despreocupada em seu rosto. Ela não vê a hora do meu carro virar a esquina, para arrancar este trapo cinza e se enrolar naquela roupa apertada que comprou logo que soube que eu precisava fazer esta viagem. Ele pensou. Na garagem, sozinho, olhou o outro carro e concluiu que deveria ter colocado um rastreador. Uma ideia surgiu. Tirou um lápis de sua pasta e fez pequenas marcas em cruz no piso, sinalizando a posição dos pneus do veículo, de modo a demarcar com perfeição e discrição a posição exata das rodas. Como ela havia prometido que ficaria em casa vendo maratona de séries, esperando pelo retorno dele, ele saberia da traição assim que verificasse a posição das rodas. Não havia a menor chance dela tirar o carro e depois colocar no exato local sutilmente demarcado. Entrou no carro e foi embora. Tão logo virou a esquina, o terror invadiu os pensamentos. Uma série de pequenos trailers onde sua esposa era a protagonista dos mais picantes atos sexuais com desconhecidos e conhecidos. Um pesadelo que o mantém esmagando o volante até chegar ao destino. No dia seguinte, após angustiantes horas de retorno a velocidades superiores aos cento e vinte, ele enfim estaciona ao lado do carro de sua mulher. Ligeiro, verifica se as marcas em grafite no piso coincidem com as rodas. Nem um pouco! Nosso casamento não vai resistir. Entra se arrastando pela casa e encontra sua companheira prostrada diante da TV, no mesmo velho moleton. Você foi aonde? Ele pergunta seco. Oi amor, que bom que chegou antes. Tive que sair hoje cedinho porque estava louca pela torta de ricota da Gaspar. Mal consegui dormir de vontade. Ela justificou. O semblante sisudo dele se derrete em uma satisfação orgástica. Os olhos brilham, os cantos dos lábios se erguem. Ele abre a geladeira e encontra aquele prêmio dos deuses. A torta de ricota da Gaspar! Quando a garfada ainda com a geladeira aberta, encontra seu paladar, ele pensa que mesmo que sua mulher tivesse participado de uma orgia com o confeiteiro, ainda assim valia a pena.