sábado, 22 de março de 2014

HORÓSCOPO


Leão

por
Zé da Silva


bebo um copo de cólera para sentir como é a vida em moto-contínuo sem parada para respirar nas vírgulas que um dia lhe apresentaram na escola pública hoje destruída e com o mato adubado pelos cadáveres dos que foram professores e ensinavam o beabá com a paixão dos que amam a eternidade do saber repassado àqueles meninos e meninas que sempre posavam para a foto com o mapa do Brasil atrás e segurando uma caneteira tinteiro porque era assim no tempo em que não havia a televisão global como agora e a aventura maior era comprar pão quentinho da fornada do fim da tarde e depois voltar para casa antes de o pai chegar do serviço porque criança que era criança respeitava as ordens e a ordem era estar do portão pra dentro e era tão bonito isso porque tinha um jardim onde em se plantando tudo dava mesmo porque era a mão santa que fazia isso a mesma que não alisava nem batia mas nem precisava porque a presença protegia até hoje na foto de todos os males e olhares e pensares ai que saudade eu tenho também da bahia e de todos os cantos e de todas as gentes mais humildes do que na letra de vinícius e que sorriem mesmo sem dentes e dentro do lixo e porque basta um gol bonito do time ou alguém que pague a talagada que desce rasgando o peito onde há um coração que resiste porque é assim e sempre será.



FONTE: http://jornalenoticias.com.br/zebeto/?p=220a241

sábado, 1 de março de 2014

GRANDES ÁLBUNS

STEVE CROPPER

DEDICATED: A SALUTE TO THE 5 ROYALES

por Tiago Ferreira

O guitarrista Steve Cropper – um dos maiores vivos – foi um dos músicos que ajudaram a formatar o som clássico da gravadora Stax, utilizando mais o instrumento como uma força rítmica do que uma sonoridade à parte. Assim, ele criou o melhor método de destacar a voz de soulmans como Otis Redding e Wilson Pickett.
Mas também mostrou que, pelo ritmo, é possível ouvir requintes de virtuosidade: no grupo Booker T. & the MGs deitou e rolou em clássicos como “Green Onions” e “Time is Tight”.
Em Dedicated: A Salute to the 5 Royales o músico presta tributo a um grupo imprescindível para o surgimento da soul music: o The 5 Royales. Todo o repertório do álbum vem de hits dos anos 50 e 60, e aqui Cropper não foi nem um pouco pomposo ao chamar o time de convidados: Sharon Jones canta com exuberância em “Messin’ Up” e “Come On & Save Me” e Steve Winwood entra no clima dançante do soul sulista em “Thirty Second Lover”. Até o blueseiro BB King cai na dança em “Baby Don’t Do It”, junto com Shemekia Copeland.
Sabe aquela clássica “Dedicated to the One I Love”, que ficou bem conhecida nas versões do The Mamas and the Papas e The Shirelles? Então, ela é de autoria do The 5 Royales. E quem relembra esta bela canção aqui é Lucinda Williams, em um dueto com um parceiro das antigas de Cropper: Dan Penn, um dos grandes gênios da gravadora Muscle Shoals.
Bettye LaVette mostra que tem vigor de sobra nos vocais. Seus 65 anos de idade não pesam nada em contribuições como “Say It” e “Don’t Be Ashamed” – faixa em que faz um dueto com o baterista de jazz Willie Jones. Os solos de Cropper se misturam ao ritmo, e percebemos como a sonoridade da Stax continua rejuvenescedora cinco décadas depois.
O soul é a grande praia de Cropper, mas aqui vemos um flerte mais aproximado com o rockabilly e o R&B. Dessas faíscas sai muito rock and roll, como a acelerada “I Do”, parceria com Brian May, e o agito dançante de “Right Around the Corner” (com Delbert McClinton), que vai deixar você na dúvida entre o que ouvir em seguida: Elvis Presley ou Chuck Berry?