terça-feira, 30 de abril de 2013

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Capricórnio

Olhou o chão de pedras cinzas e disformes. Estava no meio de uma reunião e alguém relatava uma experiência de vida. Melhor, de dores de uma vida. Ele ouvia, mas o olhar rastreava as junções das pedras, o rosto amparado pelas duas mãos, cotovelos enfiados nas coxas. A voz falou em tentativa de suicídio, prisão, carros destruídos em postes, sumiços, desespero. Mas saía da boca de alguém que podia contar isso porque estava bem. Foi aí que ele a viu. A borboleta pequena, abria e fechava as asas parecendo estar sem força para voar dali. Do lado de fora da sala a noite cobria tudo e os carros faziam muito barulho na avenida em frente. Ela parecia cansada. De repente mais pessoas olhavam para ela, talvez numa hipnose momentânea, porque era bonita, desenhos e cores discretas, mas bonita. Quantos minutos todos ficaram assim? Uma eternidade. Quem falava demonstrou muito otimismo no que pressentia pela frente. Foi então que um daqueles que ouvia e olhava a borboleta levantou da cadeira, pegou-a com toda delicadeza e solto-a no fundo do quintal, onde havia muito verde, muitas árvores. As pedras cinzas continuaram pedras cinzas. A noite, noite. Mas a cena ficou guardada em alguns corações.

FONTE: http://jornalenoticias.com.br/zebeto/?p=185185

segunda-feira, 29 de abril de 2013

domingo, 28 de abril de 2013

Iggy Pop and The Stooges 70's

The Passenger 



POUCO ME IMPORTA

    Pouco me importa.
    Pouco me importa o quê? 
    Não sei: pouco me importa.

    Alberto Caeiro, 24-10-1917
    (FERNANDO PESSOA)

DISCOTECA BÁSICA

IGGY POP
The Idiot (1977)


(Edição 18,Janeiro de 1987) 

Uma escolha insegura. Afinal, os dois LPs com os Stooges são punk puro sete anos antes dos Sex Pistols. "Raw Power" (72) é uma escarrada anfetaminada na cara do flower power. O semipirata "Metallic K.O." é demência pura. O mundo dos espetáculos não via esse desprezo insolente pelo bem ou pelo "bem" desde as conferências vociferadas por Antonin Artaud, na década de 30. Segundo o Iggy de hoje, 39 anos de idade, talvez não precise mesmo ver de novo. Artaud morreu internado. Iggy foi salvo por David Bowie. 
Gravado nos estúdios Hansa (Berlim Ocidental) e do Chateau dÕHerouville (Paris), "The Idiot" tem, de fato, uma mão de Bowie além do que gostariam os raros radicais fãs do Iguana. Na famosa "centena básica", do New Musical Express só entrou o posterior, "Lust for Life". No lançamento, a crítica desceu a lenha, irritada pelo mesmo motivo. 
O disco não esconde. "Música composta por Iggy Pop e sua banda, gravada por David Bowie" são os créditos dados na capa, e as oito faixas são atribuídas à parceria Bowie/Pop (ou Jones/Osterberg). 
"Sister Midnight" abre, dando o tom e a paisagem gerais do disco: paredes ondulantes montadas à base de guitarras distorcidas e sobrepostas em vários canais, uma ou outra intervenção eletrônica à moda de Brian Eno - com quem Bowie começava a gravar a "trilogia berlinense". Em "Lodger" (79), inclusive - o terceiro da série -, "Sister Midnight" aparece com o título "Red Money" e uma nova letra, feita por Bowie. 
Na história da "Irmã Meia-Noite", porém, irrompe o segundo delírio edípico da história do rock'n'roll, tão denso quanto o de Jim Morrison. Em suas "memórias", "I Need More", Iggy conta a fonte de inspiração. Uma vez, quando quase adolescente, estava começando a se entender com a filha de uma família vizinha, quando seu pai o chamou e o proibiu de chegar perto da garota. "Chamando irmã meia-noite/ sabe, tive um sonho essa noite/ mamãe estava na minha cama/ e eu fazia amor com ela/ meu pai veio me caçar com sua pistola de seis tiros/ chamando irmã meia-noite/ que é que eu posso fazer com meus sonhos?" 
Na seqüência, a música que seria a faixa-título de um LP também antológico, de Grace Jones. "Nightclubbing" poderia ser o hino do vampirismo e das madrugadas viradas em festa, mas tem um andamento lento, quase fúnebre. Iggy se esparrama sobre ele como o crooner que Peter Murphy adoraria ser. "Nightclubbing estamos nightclubbing, andamos como um fantasma/ aprendemos novas danças, como a bomba nuclear." 
A faixa seguinte, "Funtime" (título do segundo dos Stooges) faz uma ponta no filme "The Hunger" (Fome de Viver) e não só pelo verso "a noite passada, estive no laboratório/ conversando com Drácula e sua turma". Entre ela e a "Nightclubbing", a mesma rede de conexões entre diversão e cinismo, que vai avolumando como uma nuvem cinza-chumbo no primeiro lado do disco para baixar a chuva ácida, que vem do outro. 
Antes, porém, mais duas faixas. "Baby" sai do tom de lamento para cantar: "Baby, você é tão limpa/ por favor, continue limpa/ baby, você é tão jovem/ por favor, continue jovem/ baby, não chore/ nós já choramos". A última o mundo inteiro conhece na gravação de Bowie, que foi hit em 83 (segundo consta, só os direitos autorais de "China Girl" tiraram Iggy de uma situação de penúria eterna). Aqui, ela obedece ao tom do LP, simultaneamente mais lúgubre e mais sóbria que a de Bowie. 
O lado B tem apenas três faixas. "Tiny Girls" é uma pérola de romantismo e decepção, com um belo solo de sax do anjo da guarda salvador. Está encravada entre "Dum Dum Boys", um olhar nostálgico para os Stooges, e a tecno-esquizóide "Mass Production". Ambas longas e soturnas, e Iggy bufa com o sopro do demo, mas para se chegar ao oásis de "Tiny Girls" você precisa passar por uma das duas. 


José Augusto Lemos


FONTE: http://rateyourmusic.com/lists/list_view?list_id=133037&show=50&start=0

ZIEGFELD GIRLS

 por Alfred Cheney Johnston









FONTE: http://www.doctormacro.com/Movie%20Star%20Pages/Ziegfeld%20Girls/Ziegfeld%20Girls.htm

LIBERDADE

Passo a passo
Me enlaço
No encalço de desandar
Desnudo o mundo
Faço o acaso
Se desmesurar
Soo os sinos
Para despertar
Nessa manhã
De caminhos
Idos e vindos
Nos sentidos de amar
Deixo rastros
Que não levam a nenhum lugar
Lá, onde se encontram
As razões de parar
E olhar...
O horizonte
Que nos faz saltar
Por entre os muros
Que separam a liberdade
Do que nos faria voltar.


por Ticiana Vasconcelos Silva


FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/

sexta-feira, 26 de abril de 2013

FOTOS






Fotografias de Ricardo Silva

SOLDA

CÁUSTICO
GASTANDO-O-LATIM                    Jornal Correio de Notícias – 1980

SOLDA CÁUSTICO: http://cartunistasolda.com.br/page/4/

quinta-feira, 25 de abril de 2013

ELLA FITZGERALD

One note Samba (scat singing) 1969

June 22, 1969 jazz vocalist Ella Fitzgerald with accompaniment by Ed Thigpen on drums, Frank de la Rosa on bass, and Tommy Flanagan on piano.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

É o modo como você joga o jogo

por Charles Bukowski

chame-a de amor
coloque-a de pé sob a luz
imperfeita
ponha-lhe um vestido
reze cante implore chore ria
apague as luzes
ligue o rádio
acrescente-lhe enfeites:
manteiga, ovos crus, jornais
de
ontem;
um cadarço novo, e então
páprica, açúcar, sal,
pimenta,
ligue para sua tia velha e
bêbada em
Calexico;
chame-a de amor,
espeta-a bem, adicione
repolho e molho de maçã,
então a esquente primeiro
no lado esquerdo,
depois no
direito,
ponha-a numa caixa
livre-se dela
deixe-a nos degraus de uma
porta
vomitando como você fará
nas
hortênsias.


FONTE: http://cronicadeumamorlouco.wordpress.com/category/charles-bukowski-poemas-e-textos/

terça-feira, 23 de abril de 2013

sábado, 20 de abril de 2013

DISCOTECA BÁSICA

Sá, Rodrix & Guarabyra

Terra(1973)


(Edição 166,Maio de 1999) 

Antes de começarem a trabalhar juntos, os cariocas Zé Rodrix e Luiz Carlos Sá e o baiano Gutemberg Guarabyra viveram experiências musicais distintas. Rodrix vinha do Som Imaginário, grupo que no final dos anos 60/início dos 70 fundia a música de Minas Gerais com elementos do então nascente rock progressivo. Guarabyra havia vencido o li Festival Internacional da Canção em 1967 com a marcha-rancho "Margarida". Sá trabalhava como compositor, tendo músicas gravadas por Pery Ribeiro e Nara Leão. 
O trio Sá, Rodrix & Guarabyra nasceu em 1972, com um estilo batizado de 'rock rural'. O som tinha o progressivo aliado a fortes influências de Beatles, música mineira, folclore baiano, country e folk. O primeiro disco, Passado, Presente, Futuro, deixava isso claro em canções como "Zeppelin", "Jurity Butterfly" e "Hoje É Dia De Rock". Mas o gênero se definiu mesmo em Terra, segundo e último trabalho do trio, lançado em 1973. 
O disco abria com o rock saudosista "Os Anos 60", regravado depois por Cely Campello. A balada "Desenhos No Jornal" trazia uma atmosfera beatle. "Mestre Jonas" retratava uma passagem bíblica, com Rodrix arrasando no piano e no órgão. "Blue Riviera" também falava da era primária do rock, mas de modo melancólico. "Adiante" era um country típico, com belos solos de gaita no arranjo. 
Em "Pendurado No Vapor", uma história de retirantes, apareciam as influências das cantigas do folclore baiano trazidas por Guarabyra. "O Pó Da Estrada", uma canção country no melhor espírito 'On the road', contava a trajetória de um andarilho em busca de um futuro melhor. Brilho Das Estrelas/Paulo Afonso" retomava a atmosfera do interior baiano,enquanto "Até Mais Ver" era mais uma canção sobre retirantes, mas com estética country. 
O rock rural teve continuidade com Sá & Guarabyra (Zé Rodrix fez carreira solo enveredando pelo pop, passou pelo grupo de rock satírico Joelho De Porco e hoje se dedica apenas à criação de jingles publicitários). Alguns dos seguidores do gênero foram o 14 Bis e, de certa forma, Almôndegas, Kleiton & Kledir e Boca Livre. Terra foi um marco na história do pop brasileiro da época. Até hoje, Sá & Guarabyra têm público fiel e muito do sucesso que fazem se deve ao trabalho que realizaram em 1972 e 1973 ao lado de Zé Rodrix. 


Toninho Spessoto


MERDA E OURO

De Paulo Leminski para o jornal Rascunho:

Merda é veneno.
No entanto, não há nada
que seja mais bonito
que uma bela cagada.
Cagam ricos, cagam padres,
cagam reis e cagam fadas.
Não há merda que se compare
à bosta da pessoa amada.


FONTE:http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/

FOTOS




Fotografias de Ricardo Silva

quinta-feira, 18 de abril de 2013

FLEETWOOD MAC

 Albatross (1970 UK TV Performance)

SOLDA

correr-o-risco 
Bico-de-pena sobre papel 66 x 44 cms. Década de 80

HORÓSCOPO

Por  Zé da Silva

Peixes

Sim, tomou remédios durante um tempo. Tarja preta. Sim, melhorou um pouco. Foi-se embora aquela angústia massacrante, perfurante. Mas era o remédio. Ele, não. Achou que, dopagem por dopagem, a do álcool era mais agradável. Mas não era. Por isso tinha de beber mais para tornar tudo menos terrível, mesmo que acordasse vomitado no meio-fio da avenida principal da cidade pequena. Sol queimando o rosto. Olhos alheios furando o que restava de segurança. Cheiro do mijo nas calças. Às vezes cocô. Degradação. Banho quente limpa tudo, pensava. Era o bebê problema da mãe passiva. Era o homem problema do pai durão. Viajou e fez a mesma coisa em todos os lugares. Carregava a maldição. Não havia retorno, pensava. Até o dia em que, jura, viu uma luz atravessar a copa de uma árvore. Estava sóbrio. Sentiu alguma coisa. Não era delírio. Resolveu se entregar. Para ele mesmo. Abriu a guarda, começou a ouvir. Alguém falou em milagre. Nunca contou para ninguém o que aconteceu. Raio de sol furando folhas verdes no balanço do vento. Encontrou a água. Sua bebida única. A cada gole, a mesma sensação daquele momento.

FONTE:http://cartunistasolda.com.br/

M. C. ESCHER






quarta-feira, 17 de abril de 2013

MILLÔR FERNANDES

O Rei dos Animais

Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".

Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?".

Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.

Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".


MORAL: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.

Texto foi extraído do livro: "Fábulas Fabulosas", editado por José Álvaro - Rio de Janeiro, 1964, pág. 23.


Muddy Waters & The Rolling Stones

Mannish Boy 

Live At Checkerboard Lounge 1981

With Buddy Guy And Junior Wells


terça-feira, 16 de abril de 2013

VAUGHN BODÉ







HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Áries

Medo de altura tinha. Mas precisava regular a antena de tevê da casa. Pediu emprestada a escada. Subiu no telhado e foi pisando de leve para não quebrar nada. Casa antiga, rampa íngreme. Chegou lá sentindo vertigem. Agarrou-se ao cano e começou a mexer na tal. Gritava perguntando se a imagem tinha melhorado. Foi aí que aconteceu. A pedra partiu não se sabe de onde e muito menos de que mão certeira. Na testa. O sangue escorreu e tingiu os olhos azuis. Ele quase largou o cano. Se fizesse isso, despencava. Soltou um palavrão, coisa rara saindo de sua boca. Alguém gritou de dentro da casa que tudo estava perfeito. Ele desceu devagar, mas praguejando a vida. Lavou o ferimento. Era pequeno. Colocou um esparadrapo. Ficou com a fachada engraçada. Foi até a sala para ver o resultado da aventura. Vic Morrow comandava seu pelotão em Combate.Ele sentou na poltrona coberta com uma colcha de retalhos e ficou esperando o primeiro confronto com os alemães. Torceu para que o tiro fosse na testa. 

FONTE:http://cartunistasolda.com.br/

FOTOS




Fotografias de Ricardo Silva

segunda-feira, 15 de abril de 2013

domingo, 14 de abril de 2013

PETER PAN SPEEDROCK

 "Come on You" live Jailbreak Festival



FABRÍCIO CARPINEJAR

Poema do livro Terceira Sede


Décima elegia

Só na velhice o vento não ressuscita.
A água dos olhos entra na surdez da neve
e escuta a oração do estômago, dos rins, do pulmão.

O sono desce com a marcha dos ratos no assoalho.
Tudo foi julgado e devemos durar nas escolhas.

Só na velhice os grilos denunciam o meio-dia.
O exílio é na carne.

Esmorece o esforço de conciliar a verdade
com a realidade.
A neblina nos enterra vivos.

Só na velhice o pó atravessa a parede da brasa,
o riso atravessa o osso.
Deciframos a descendência do vinho.

Os segredos não são contados
porque ninguém quer ouvi-los.
O lume raso do aposento é apanhado pela ave
a pousar o bule das penas na estante do mar.

Só na velhice acomodo a bagagem nos bolsos do casaco.
O suspiro é mais audível que o clamor.

Recusamos o excesso, basta uma escova e uma toalha.

Só na velhice os músculos são armas engatilhadas.
O nome passa a me carregar.

É penoso subir os andares da voz,
nos abrigamos no térreo de um assobio.
Pedimos desculpa às cadeiras e licença ao pão.

O ódio esquece sua vingança.
Amamos o que não temos.

Só na velhice digo bom-dia e recebo
a resposta de noite.
Convém dispor da cautela e se despedir aos poucos.

Só na velhice quantos sofrem à toa
para narrar em detalhes seu sofrimento.

O pesadelo impõe dois turnos de trabalho.
Investigo-me a ponto de ser meu inimigo.

Sustentamos o atrito com o céu, plagiando
com as pálpebras o vôo anzolado, céreo, das borboletas.

Só na velhice há o receio em folhear edições raras
e rasgar uma página gasta do manuseio.
Embalo a espuma como um neto.

Confundimos a ordem do sinal da cruz.
O luto não é trégua e descanso, mas a pior luta.

Só na velhice a forma está na força do sopro.
Respeito Lázaro, que a custo de um milagre
faleceu duas vezes.

O medo é de dormir na luz.
Lamento ter sido indiscreto
com minha dor e discreto com minha alegria.

Só na velhice a mesa fica repleta de ausências.
Chego ao fim, uma corda que aprende seu limite
após arrebentar-se em música.
Creio na cerração das manhãs.
Conforto-me em ser apenas homem.

Envelheci,
tenho muita infância pela frente.


ALEN

Tomasz Alen Kopera





RIMBAUD


Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
        Ao sol.

Minha alma imortal,
Cumpre a tua jura
Seja o sol estival
Ou a noite pura.

Pois tu me liberas
Das humanas quimeras,
Dos anseios vãos!
Tu voas então...

— Jamais a esperança.
Sem movimento.
Ciência e paciência,
O suplício é lento.

Que venha a manhã,
Com brasas de satã,
           O dever
           É vosso ardor.

Ela foi encontrada!
Quem? A eternidade.
É o mar misturado
       Ao sol.



FONTE:http://www.elsonfroes.com.br/rimbaud.htm

GENE KRUPA

Gene Krupa Quartet performing an awesome version of Big Noise From Winnetka.1967


CHUCK BERRY

O lendário ícone do rock voltou ao Brasil neste último dia 12 para uma única apresentação no Teatro Positivo em Curitiba. Aos 86 anos fez o que sabe fazer de melhor, o legítimo rock'n'roll.








Fotos de Roberto José da Silva