quinta-feira, 30 de junho de 2016

DIRETRIZES


por Yuri Vasconcelos Silva


1º – Antes de agir, pense. Para o bem ou mal. O ímpeto é quase sempre estúpido, caminha às cegas pelo corpo esperando uma brecha para verter pele afora. É o animal que nunca morre no homem. O mesmo vale para o ato de falar.

2º – Não buzine.

3º – Mantenha o som dentro de seu território. A música que ultrapassa as fronteiras de seu quarto, do seu carro ou seu corpo pode ser obscena aos outros.

4º – Em qualquer fila, não encoste num desconhecido. Mesmo que este seja muito atraente.

5º – Se você não suprimiu as emoções, evite discutir política ou religião. Por isso o voto é secreto e a oração, silenciosa.

6º – Dê a seta quando mudar de direção.

7º – Ouça mais as crianças e velhos. Sabedoria em estado bruto. Ignore adultos sempre que puder, em especial os vaidosos.

8º – Contrate um arquiteto quando for construir. Engenheiros só enxergam o óbvio. Mas nunca deixe um arquiteto cuidar sozinho de uma obra. Arquitetos não enxergam o óbvio.

9º - Caso considere-se melhor do que os demais, guarde a certeza num baú trancado em sala escura e refrigerada, só para você. Este título só pode ser exibido quando vem de fora, nunca de dentro. E não significa nada.

10º - Não dê atenção para pessoas que cagam regras. Confuso?

FONTE:
http://www.zebeto.com.br/diretrizes-para-nao-ser-um-idiota/#.V3WP3PkrKUk


quarta-feira, 29 de junho de 2016

ELVIS PRESLEY

ELVIS 1968 
Come back Special
Thats alright mama

SCOTTY MOORE, ADEUS

 Da Reuters

Scotty Moore, guitarrista de Elvis Presley, morre aos 84 anos

Músico pioneiro do rock fez parte da banda original de Elvis. Ele gravou músicas famosas como ‘Heartbreak hotel’ e ‘Hound dog’.

Scotty Moore, guitarrista de rock pioneiro conhecido principalmente por ter sido membro da banda original de Elvis Presley, morreu na terça-feira, aos 84 anos, disse o jornal Memphis Commercial-Appeal.

Moore, que tocou no primeiro sucesso de Elvis, “That’s All Right” (“Mama”) e em outras canções famosas como “Heartbreak Hotel” e “Hound Dog”, morreu em Nashville depois de passar meses com a saúde frágil, segundo o jornal.

“Perdemos uma das melhores pessoas que já conheci hoje”, disse Matt Ross-Sprang, engenheiro de som do Sun Studio de Memphis, no Instagram. “O guitarrista que mudou o mundo… especialmente o meu; espero que você não se importe se eu continuar roubando suas frases musicais”.

Moore, que nasceu em Gadsen, no Estado norte-americano de Tennessee, e começou a tocar guitarra aos oito anos, foi recrutado para a banda de Elvis pelo lendário produtor Sam Phillips em 1954, de acordo com a revista Rolling Stone.

Foi essa banda, que foi apelidada de Blue Moon Boys e incluía o baixista Bill Black e o baterista D.J. Fontana, que tocou com Elvis durante a maior parte da década seguinte nas canções que lhe renderam o título de Rei do Rock ‘n’ Roll.

As cerimônias fúnebres de Moore, que foi incluído no Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll em 2000, estão agendadas para a quinta-feira em Humboldt, no Tennessee, informou o Commercial-Appeal.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A DISPUTA DA CARNIÇA


por Roberto José da Silva


Como cheira a podre todo este espetáculo! Como dá asco e ânsia de vômito assistir a estes senhores de banho tomado, perfumados, barba feita, roupas bem cortadas, despejando mentiras que eles acreditam serem verdades porque psicopatas alimentados pelo poder que lhes foi outorgado, como dizem no palavrório imbecil, pelo “meu povo”. Ladrões que assassinam quantos ao embolsar o dinheiro que poderia ser útil para aquele fiapo de gente e ignorante que morre sem assistência de qualquer forma nas franjas pobres das cidades ou nos confins do sertão ou da floresta? Ignorantes ou milionários que descobriram na política, cuja missão deveria ser nobre, o caminho dessa doença que é mistura entre poder e cobiça. E eles riem entre eles, como hienas a se alimentar da carniça que não é nada mais do que o que resta dos corpos destes brasileiros que não sabem nada, porque mantidos assim, no cabresto da ignorância, por ser mais fácil conduzir, como bois de carga, espetando as ancas para que andem na direção que eles, estes verdadeiros animais sanguinários, querem, porque o fruto deste esforço, do “meu povo”, é que que vai lhes permitir contar a vantagem do que foi roubado, para que seus filhos e os filhos dos seus filhos não passem dificuldade – e assim, o objetivo é roubar para várias gerações, de onde sairão novos “políticos”, a se perpetuar como a miséria deste país de quinta categoria. Assistimos hoje a um outro espetáculo – o da prisão de alguns. Neste Brasil lindo e tigreiro, é, sim, de se comemorar – mas isto vai até quando? A Justiça, essa outra que faz parte do conluio geral e sempre dormiu em berço esplêndido e dançou a valsa dos poderosos da vez, fez o quê até que estes garotos federais resolvessem colocar sal e sol nas lesmas de sempre? Os “representantes” dos trabalhadores, escorados nos intelectuais da academia que entendem tanto de povo, desde que fiquem longe e obedeçam, fizeram apenas o que sempre foi feito desde que os portugueses começaram a saquear o país depois do descobrimento. O andar de baixo chegou ao andar de cima do poder e se lambuzou da pior forma. Os que estavam acostumados a isso não gostaram, mesmo porque nunca foram incomodados. O espetáculo que se vê, portanto, é inédito só porque um tico da parte podre e que sempre existiu, foi mostrado. A indignação vem mais dessa classe média que se acha inteligente, ou seja, o pior tipo. Parece que gritam: os meus ladrões eram melhores, porque não se deixaram ser pegos e mantinham uma postura condizente. Que tristeza! Assim, a briga pelo poder maior tem como protagonistas os mesmos. E isso se reflete pelo país inteiro. O cheiro continua. O país é grande. Há muita carniça ainda a ser disputada.


BLOG DO ZÉ BETOhttp://www.zebeto.com.br/

sábado, 25 de junho de 2016

FRANK ZAPPA & MOTHERS OF INVENTION

COSMIK DEBRIS
MOTHERS OF INVENTION: JEAN LUC PONTY /GEORGE DUKE /TOM FOWLER /BRUCE FOWLER /RUTH UNDERWOOD /IAN UNDERWOOD /RALPH HUMPHREY

sexta-feira, 24 de junho de 2016

JEFF BECK'72








































Jeff Beck (nascido Geoffrey Arnold Beck; Wallington, 24 de junho de 1944) é um guitarrista britânico que tocou em várias bandas influentes da década de 1960,incluindo os The yardbirds.



Assim como muitos músicos de sua época, Beck começou a carreira como guitarrista de estúdio. Em 1965 entrou para o Yardbirds, depois que Eric Clapton saiu do grupo. Dezoito meses depois se afastou do grupo, principalmente por problemas de saúde. Beck passou os anos seguintes com seu próprio grupo, o The Jeff Beck Group, cujos álbuns vendiam bem mas não eram muito comerciais. Conseguiu reconhecimento do grande público em 1975, ao gravar o álbum Blow by Blow em carreira solo.

Uma característica marcante de seu trabalho é o fato de não se ater sempre ao mesmo estilo musical, optando por uma fusão de estilos que vão desde o jazz ao rock n' roll com um toque pessoal.

Ele continua esporadicamente a gravar e lançar seus discos. Em seus últimos três discos ele fez um trabalho com música eletrônica.

Tem paixão pelos hot rods (carros antigos com motores potentes e outras alterações). O próprio Beck é um habilidoso mecânico e restaurador, elogiado por grandes nomes desse meio pelos seus trabalhos com os carros. 
Ao contrário da maior parte dos guitarristas do rock, Jeff costuma tocar sem a palheta (o que pode ser visto ao vivo e/ou em vídeos das apresentações).


quinta-feira, 23 de junho de 2016

SOLDA

CÁUSTICO



SOLDA CÁUSTICOhttp://cartunistasolda.com.br/

CLARICE LISPECTOR

Atenção ao Sábado

Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.

No sábado é que as formigas subiam pela pedra.

Foi num sábado que vi um homem sentado na sombra da calçada comendo de uma cuia de carne-seca e pirão; nós já tínhamos tomado banho.

De tarde a campainha inaugurava ao vento a matinê de cinema: ao vento sábado era a rosa de nossa semana.

Se chovia só eu sabia que era sábado; uma rosa molhada, não é?

No Rio de Janeiro, quando se pensa que a semana vai morrer, com grande esforço metálico a semana se abre em rosa: o carro freia de súbito e, antes do vento espantado poder recomeçar, vejo que é sábado de tarde.

Tem sido sábado, mas já não me perguntam mais.

Mas já peguei as minhas coisas e fui para domingo de manhã.

Domingo de manhã também é a rosa da semana.

Não é propriamente rosa que eu quero dizer.



*Texto extraído do livro "Para não Esquecer", Editora Siciliano - São Paulo, 1992.

HENDRICK GOLTZIUS

Autorretrato

Hendrick Goltzius, Dutch Master : gravador, desenhista e depois pintor, foi um dos artistas mais versáteis de sua época, transitando pelas mais diversas técnicas com igual talento e o mesmo sucesso que transformou suas obras em verdadeiros objetos de desejo.







Hendrick Goltzius (1558-1617) Nasceu na Alemanha na fronteira com a Holanda. Quando criança sofreu sérias queimaduras, que deixaram sequelas irreversíveis na mão direita. Em 1577, estabeleceu-se em Haarlen. Lá começou sua própria empresa de impressão. Treinou vários gravadores. A qualidade de seu trabalho levou sua fama a toda a Europa. Viajou a Itália, onde produziu vários trabalhos. Em 1600, passou a dedicar-se à pintura influenciado por Ticiano e Rubens. Foi artista ligado ao Maneirismo.

CABEÇA DE PEDRA

Enigma

Fui procurar o hotelzinho no meio do nada naquela estrada só de retas intermináveis. Talvez por causa das piadas do Mineirinho, sei lá. Achei, na Belém-Brasília. A noite chegando, estacionei o carro, notei que não havia mais nenhum veículo, entrei e um senhor de sorriso franco me atendeu. Havia todo tipo de quarto, porque eu era o primeiro a chegar naquele dia, naquela semana, naquele mês, naquele ano. Perguntei a ele como sobrevivia. Com o rosto me apontou uma máquina encostada na parede. Parecia uma jukebox, mas não havia música ali. Ele pediu para eu apertar o botão verde. Fiz isso. Não aconteceu nada, mas imediatamente me deu uma sensação de bem estar, de dever cumprido e... uma preguiça! O senhor disse que era assim mesmo e que foi um viajante estranho que deixou o trem ali, sem cobrar nada. Ele, o dono do hotel, apertava o botão todo dia logo cedo. Há décadas. E ficou feliz, com ou sem hóspedes. Coisa estranha, mas muito boa. No outro dia eu lhe disse, antes de apertar o botão verde, que aquilo era um enigma, uma coisa enigmática, mas com certeza o inventor era certamente um vagabundo daqueles, no bom sentido. Aí eu apertei o botão. É o que faço há anos. Eu e o dono do hotelzinho na reta da Belém-Brasília.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

FOTOGRAFIAS

NO QUINTAL DE DONA ZEFA









Fotografias de Ricardo Silva

AS NOTAS MUSICAIS


Se as gravadoras não levam meu trabalho para as rádios, se ele não toca em nenhum lugar, para que eu faço música? Não tive e nem vou ter nenhum retorno financeiro com minha obra, mas meu prazer, minha alegria, continua sendo tocar. Por isso, as minhas músicas eu quero mais é que sejam pirateadas. Quero mais é que as pessoas toquem, ouçam, a conheçam. E pra mim, quem reclama da pirataria é quem faz música apenas para vender. Meu valor não são as notas de dinheiro. São as notas musicais. 
(Hermeto Pascoal)

HERMETO'80

Nascido em Olho d´Água e criado em Lagoa da Canoa, na época município de Arapiraca, estado de Alagoas, em 22 de junho de 1936, Hermeto Pascoal é filho de Vergelina Eulália de Oliveira (dona Divina) e Pascoal José da Costa (seu Pascoal). Foi no seu alistamento militar que colocaram o pré nome de seu pai como seu sobrenome.

Os sons da natureza o fascinaram desde pequeno. A partir de um cano de mamona de "gerimum" (abóbora), fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos. Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e ficava tirando sons. Até o 8 baixos de seu pai, de sete para oito anos, ele resolveu experimentar e não parou mais. Dessa forma, passou a tocar com seu irmão mais velho José Neto, em forrós e festas de casamento, revezando-se com ele no 8 baixos e no pandeiro.

Mudou-se para Recife em 1950, e foi para a Rádio Tamandaré. De lá, logo foi convidado, com a ajuda do Sivuca (sanfoneiro já de sucesso), para integrar a Rádio Jornal do Commercio, onde José Neto já estava. Formaram o trio "O Mundo Pegando Fogo" que pegou fogo mesmo já na primeira vez em que tocaram, pois, segundo Hermeto, ele e seu irmão estavam apenas começando a tocar sanfona, ou seja, eles só tocavam mesmo 8 baixos até então.

Porém, por não querer tocar pandeiro e sim sanfona, foi mandado para a Rádio Difusora de Caruaru, como refugo, pelo diretor da Rádio Jornal do Commercio, o qual disse-lhe que "não dava para música".

Ficou nessa rádio em torno de três anos. Quando Sivuca passou por lá, fez muitos elogios sobre o Hermeto ao diretor dessa rádio, o Luis Torres, e Hermeto, por conta disso, logo voltou para a Rádio Jornal do Commercio, em Pernambuco, ganhando o que havia pedido, a convite da mesma pessoa que o tinha mandado embora. Ali, em 1954, casou-se com Ilza da Silva, com quem viveu 46 anos e teve seis filhos: Jorge, Fabio, Flávia, Fátima, Fabiula e Flávio. Foi nessa época também que descobriu o piano, a partir de um convite do guitarrista Heraldo do Monte, para tocar na Boate Delfim Verde. Dali, foi para João Pessoa, PB, onde ficou quase um ano tocando na Orquestra Tabajara, do maestro Gomes.


Em 1958, mudou-se para o Rio para tocar sanfona no Regional de Pernambuco do Pandeiro (na Rádio Mauá) e, em seguida, piano no conjunto e na boate do violinista Fafá Lemos e, em seguida, no conjunto do Maestro Copinha (flautista e saxofonista), no Hotel Excelsior.

Atraído pelo mercado de trabalho, transferiu-se para São Paulo em 1961, tocando em diversas casas noturnas. Depois de um tempo, formou, juntamente com Papudinho no trompete, Edilson na bateria e Azeitona no baixo, o grupo SOM QUATRO. Foi aí que começou a tocar flauta. Com esse grupo gravou um lp. Em seguida, integrou o SAMBRASA TRIO, com Cleiber no baixo e Airto Moreira na bateria. No disco do Sambrasa Trio, Hermeto já registrou sua música "Coalhada".

Com o florescimento dos programas musicais de TV, criaram o QUARTETO NOVO, em 1966, sendo Hermeto no piano e flauta, Heraldo do Monte na viola e guitarra, Théo de Barros no baixo e violão e Airto Moreira na bateria e percussão. O grupo inovou com sua sonoridade refinada e riqueza harmônica, participando dos melhores festivais de música e programas da TV Record, representando o melhor da nossa música. Nessa época, venceram um dos festivais com "Ponteio", de Edu Lobo. Além disso, Hermeto ganhou várias vezes como arranjador. No ano seguinte gravou o LP QUARTETO NOVO, pela Odeon, onde registrou suas composições O OVO e CANTO GERAL.

Em 1969, a convite de Flora Purim e Airto Moreira, viajou para os EUA e gravou com eles 2 LPs, atuando como compositor, arranjador e instrumentista. Nessa época, conheceu Miles Davis e gravou com ele duas músicas suas: "Nem Um Talvez" e "Igrejinha". De volta ao Brasil, gravou o lp "A MÚSICA LIVRE DE HERMETO PASCOAL", com seu primeiro grupo, em 1973.

Em 1976, retornou aos EUA, gravou o "SLAVES MASS" e realizou mais alguns trabalhos com Airto e Flora.

Com o nome já reconhecido pelo talento, pela qualidade e por sua criatividade, tornou-se a atração de diversos eventos importantes, como o I Festival Internacional de Jazz, em 1978, em São Paulo. No ano seguinte, participou do Festival de Montreux, na Suíça, quando é editado o álbum duplo HERMETO PASCOAL AO VIVO, e seguiu para Tóquio, onde participou do LIVE UNDER THE SKY. Lançou o CÉREBRO MAGNÉTICO em 1980 e multiplica suas apresentações pela Europa.

Em 1982, lançou, pela gravadora Som da Gente, o lp HERMETO PASCOAL& GRUPO. Em 1984, pelo mesmo selo, gravou o LAGOA DA CANOA, MUNICÍPIO ARAPIRACA, onde registrou pela primeira vez o SOM DA AURA com os locutores esportivos Osmar Santos (Tiruliru) e José Carlos Araújo (Parou, parou, parou). Esse disco também foi em homenagem à sua cidade, que se elevou, então, à categoria de município e conferiu-lhe o título de Cidadão Honorário. Em 1986, o BRASIL UNIVERSO, também com seu grupo.

Compôs ainda a SINFONIA EM QUADRINHOS, apresentando-se com a Orquestra Jovem de São Paulo. Em seguida, foi para Kopenhagen, onde lançou a SUITE PIXITOTINHA, que foi executada pela Orquestra Sinfônica local, em concerto transmitido, via rádio, para toda a Europa.

Em 1987, lançou mais um LP: o SÓ NÃO TOCA QUEM NÃO QUER, através do qual o músico homenageia jornalistas e radialistas, como reconhecimento pelo seu apoio ao longo da carreira. Em 1989, fez seu primeiro disco de piano solo, o lp duplo POR DIFERENTES CAMINHOS.

Em 1992, já pela Philips, gravou com seu grupo o FESTA DOS DEUSES. Depois do lançamento, viajou à Europa para uma série de concertos na Alemanha, Suíça. Dinamarca, Inglaterra e Portugal.

Em março de 1995, apresentou uma Sinfonia no Parque lúdico do Sesc Itaquera, em SP, utilizando os gigantescos instrumentos musicais do parque. No mesmo ano foi a convite da Unicef para Rosário, Argentina, onde apresentou-se para 2.000 crianças, sendo que seu grupo entrou para tocar dentro da piscina montada no palco a pedido dele.

De 23 de junho de 1996 a 22 de junho de 1997, registrou uma composição por dia, onde quer que estivesse. Essas composições fazem parte do CALENDÁRIO DO SOM, lançado em 1999 pela editora Senac/ SP.

Em 1999 lançou o CD EU E ELES, primeiro disco do selo Mec, no Rio de Janeiro.
Nesse CD produzido por seu filho Fábio Pascoal, Hermeto toca todos os instrumentos.

Em 2003, lançou, com seu grupo, o cd MUNDO VERDE ESPERANÇA, também produzido por Fábio.
Em outubro de 2002, quando foi dar um workshop em Londrina, PR, conheceu a cantora Aline Morena e convidou-a para dar uma canja no dia seguinte com o seu grupo em Maringá, PR. Em seguida ela foi para o Rio com ele e, no final de 2003, Hermeto passou a residir em Curitiba, PR, com ela. Assim, passou a dar-lhe noções de viola caipira, piano e percussão e, em março de 2004 estreou no Sesc Vila Mariana a sua mais nova formação: o duo "CHIMARRÃO COM RAPADURA" (gaúcha com Alagoano), com Aline Morena.

Em abril de 2004, embarcou para Londres para o terceiro concerto com a Big Band local, sendo que o primeiro já havia sido considerado o SHOW DA DÉCADA. Em seguida realizou mais alguns shows solo em Tóquio e Kyoto.

Em 2005 gravou o CD e o DVD "CHIMARRÃO COM RAPADURA", com Aline Morena, além de realizar duas grandes turnês com seu grupo por toda a Europa. O cd e o dvd de Hermeto Pascoal e Aline Morena foram lançados de maneira totalmente independente em 2006.

Em 2010 lançou cd com Aline Morena, denominado "Bodas de Latão", em comemoração aos sete anos juntos na vida e na música! Esse cd contem duas faixas multimídias, gravadas às margens do Rio São João, na estrada da Graciosa, em Morretes, Paraná. Além disso, conta com composições novas e antigas do Hermeto, uma composição e algumas novas letras de Aline e uma música de Astor Piazzolla.

Em 2013 lançou o dvd solo "Hermeto Brincando de Corpo e Alma", produzido por Aline Morena, somente com sons do corpo!

Ainda em 2013 fez os arranjos, a direção musical e tocou no Cd de Aline Morena, intitulado "Sensações", que foi lançado no mercado em 2014!

Em 2015 fez os arranjos e a direção musical do cd solo "Universalizando o Acordeon", do acordeonista João Pedro Teixeira, que toca todos os instrumentos dos arranjos apenas com o acordeon!

Atualmente, Hermeto Pascoal apresenta-se com cinco formações: Hermeto Pascoal e Grupo, Hermeto Pascoal e Aline Morena, Hermeto Pascoal Solo, Hermeto Pascoal e Big Band e Hermeto Pascoal e Orquestra Sinfônica. Diz ele que, por enquanto, é só!!

Esse é o nosso "CAMPEÃO"!!!

Obs. Público, shows e discos têm todos a mesma importância para o Hermeto. Não há melhor público, nem melhor show, nem melhor disco. São todos filhos muito amados por ele. Portanto, o que foi mencionado nessa biografia refere-se apenas a um resumo dos fatos que foram lembrados.

sábado, 18 de junho de 2016

NASHVILLE PUSSY

Hate and whiskey

Nashville Pussy at 106 Club, Rouen. / 10 de março de 2016 .

quinta-feira, 16 de junho de 2016

FRENESI


por MARCOS BROLIA


Frenzy (1972)
1972 / Reino Unido / 116 min / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Anthony Shaffer (baseado na obra de Arthur La Bern) / Produção: Alfred Hitchcock, William Hill (Produtor Associado) / Elenco: Jon Finch, Alec McCowen, Barry Foster, Billie Whitelaw, Anna Massey

Frenesi é o penúltimo filme dirigido pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcok, em sua volta a Londres depois de duas décadas sem filmar por lá, e sem dúvida é sua obra mais misógina e fetichista.

Para contar a história de um serial killer que é um psicopata sexual que mata mulheres enforcadas com suas gravatas, Hitchcok faz nesse filme uma verdadeira amálgama de vários elementos que utilizou em diversos longas que dirigiu em toda a sua carreira. Há claro, uma dose cavalar de suspense, qualidade técnica indiscutível, ângulos inusitados, personagens curiosos, misoginia e seu famoso humor mórbido e sagaz.

Há dois personagens centrais na história de Frenesi: Richard Blaney é um ex-combatente militar, azarado por natureza, que à primeira vista teria tudo para se tornar um sociopata: é divorciado, bruto, alcoólatra, mal educado, vive rondando de emprego em emprego enfadonho por não conseguir se estabelecer, não tem um centavo no bolso e ainda não conta nem um pouco com a sorte. Seu melhor amigo é Robert Rusk, exatamente o contrário de Blaney: bem sucedido, possui dinheiro, um trabalho estável, pois é dono de uma loja de frutas no mercado de Londres, boa pinta, polido, bom filho, simpático a todos, e por aí vai.

Já mencionei o azar de Blaney certo? Pois bem, ele é aquele tipo que está na hora errada e no lugar errado. Ao visitar sua ex-mulher que agora tem um negócio de arrumar casamentos (olha a ironia, mesmo o casamento deles ter sido um fracasso), ele deixa o local sem saber que ela acabou de ser assassinada pelo famigerado Assassino da Gravata, e é visto pela sua secretária. Pronto, isso faz com que a Scotland Yard o considere suspeito número um.
O filme então vai se concentrando na não eficiente investigação policial conduzida pelo Inspetor Oxford, na tentativa de Blaney tentar livrar sua barra, pedindo ajuda para sua namorada atual, a atendente de bar Babs e até para Rusk, entre outras pessoas, e os próximos passos do assassino, que antes da metade do filme já é revelada sua identidade, não tornando-o um daqueles filmes de suspense chavão, onde você precisa assistir até o último minuto para saber quem matou Odete Roithman.

Sem precisar se preocupar em esconder a identidade do assassino para o público, Hitchcock pode aqui trabalhar no modus operandi do criminoso, sempre com sua maestria de costume, não apelando para cenas explícitas e apelativas, mas assustando da mesma forma, principalmente na cena onde ele estupra e estrangula a ex-Sra. Blaney. Além disso, alguns momentos da mais pura tensão são memoráveis, como quando por um descuido, o assassino deixa uma pista em sua próxima vítima, ao tentar despachá-la em um saco dentro de um caminhão cheio de batatas. Para tentar reparar o deslize, ele entra no caminhão que sai andando e ele começa a passar por uma terrível situação, lidando em um veículo em movimento, com um cadáver já apresentando rigor-mortis e um tanto de batatas atrapalhando-o de recuperar seu item perdido.

Outro ponto positivo da história são as cenas de humor sutis, mas muito engraçadas, que ele usa como alívio cômico para atenuar mortes fetichistas cometidas por um homem desequilibrado com tendências masoquistas sexuais. Entre elas, estão os jantares entre o Inspetor Oxford e sua esposa, que está em um curso de culinária francesa e prepara apenas práticos excêntricos para o pobre marido, como sopa de peixes e enguias e pés de porco, ambas de aparência repugnante, enquanto discutem detalhes circunstanciais do crime, sendo que na verdade o pobre policial quer apenas carne, batatas e linguiças para comer. E sem contar a deliciosa e sarcástica cena final do filme, quando o verdadeiro assassino é pego com a boca na botija.

O filme não é dos mais brilhantes da extensa carreira de Hitchcock, ainda mais revisitando um gênero que ele já trabalhou antes com perfeição, como Psicose. Mas o roteiro com suas reviravoltas é bastante consistente e prende a atenção do espectador. Roteiro esse baseado na novela “Good Bye Piccadilly, Farewell Leicester Square” de Arthur Le Bern, e adaptado por Anthony Shaffer, que mais tarde escreveria o controverso O Homem de Palha. Hitchcock nunca deixa de ser uma boa pedida. Frenesi não foge a regra.






FERNANDO PESSOA


Sonhei, confuso, e o sono foi disperso,
Mas, quando dispertei da confusão,
Vi que esta vida aqui e este universo
Não são mais claros do que os sonhos são

Obscura luz paira onde estou converso
A esta realidade da ilusão
Se fecho os olhos, sou de novo imerso
Naquelas sombras que há na escuridão.

Escuro, escuro, tudo, em sonho ou vida,
É a mesma mistura de entre-seres
Ou na noite, ou ao dia transferida.

Nada é real, nada em seus vãos moveres
Pertence a uma forma definida,
Rastro visto de coisa só ouvida.


quarta-feira, 15 de junho de 2016

terça-feira, 14 de junho de 2016

CABEÇA DE PEDRA

Mergulho

Fiquei pagando trezentão por sessão do psiquiatra durante anos. Ia duas vezes por semana. Papai bancava. Era rico - até o dia em que foi atropelado por uma crise econômica em forma de Fenemê. Contei para o doutor. Ele encerrou o tratamento na hora. Me deu alta, mas como eu não tinha melhorado nada e continuava nas dúvidas do labirinto das trevas, encerrou o papo com um enigmático conselho: "Mergulhe em si mesmo para se encontrar". Lembrei do livro do Jamil Snege, o espetacular "Como eu se fiz por si mesmo", mas o buraco aqui era mais embaixo. Tive uma ideia e desci pendurado num balde num poço do terreno de um conhecido, lá nas quebradas do mundaréu. Mergulhei na água e subi. Pelado. O frio era de menos um, sem sensação térmica. Veio o momento mágico que eu tanto esperava. Me vi por dentro, se é que a frase exprime bem o que aconteceu. Aleulia! A fortuna gasta no divã teve resultado. Mas..., para encurtar a curta história, o que ficou claro foi o seguinte: mergulhei em mim pra me encontrar; achei muitos, mas nenhum era quem eu realmente esperava.

domingo, 12 de junho de 2016

SOLDA

CÁUSTICO


SOLDA CÁUSTICO: http://cartunistasolda.com.br/

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas

sexta-feira, 10 de junho de 2016

OCEAN LIFE

James M. Sommerville (1825–1899) 
Christian Schussele (1824–1879)


CINEMA PELA METADE

por  Roberto & Ricardo José da Silva

O Brasil é um país pobre, atrasado e que se afunda no breu da ignorância a cada dia. Não vamos falar dos nossos políticos, essa raça de usurpadores, ladrões sem um pingo de vergonha ou moral, excetuando um dois que honram os votos que receberam. Vamos falar do nosso povo, esse mesmo, os brasileiros que se acham os reis da cocada e nem sabem o que acontece diante do nariz. A culpa não é de ninguém. A culpa é de cada um que espera do Estado esmolas e que resolvam tudo. A culpa é da falta de vontade de procurar o melhor para si mesmo. A culpa é de quem acha a ignorância uma dádiva e a vagabundagem um estilo de vida. Assim, são explorados e vende-se o que pedem, porque o que conta é a lei do menor esforço. A cultura é a que a Globo enfia goela abaixo nas telenovelas. E quando se fala em algo mais digno, como o cinema, uma arte, o que acontece. Alagoas é um dos estados mais pobres da nação – em todos os sentidos. Se aqui nasceu um Graciliano Ramos, ao mesmo tempo temos uma multidão de analfabetos ou analfabetos funcionais. Só isso pode explicar porque nos cinemas de Maceió e Arapiraca, a grande maioria não tem som original e legendas, mas são dublados. Na segunda maior cidade do Estado o Garden Shopping tem todas suas salas confortáveis ocupadas com filmes estrangeiros cujos atores falam com a voz de personagens de um programa humorístico. É o fim da picada. Claro que isso atende a demanda do público que, ou não sabe ler, ou tem preguiça disso – e o filme que se lasque, porque perde sua originalidade. Há muito tempo já se notava isso quando havia locadoras de DVD, onde a maioria dos filmes era dublado. Agora, os cinemas. Isso é um exemplo ínfimo na grande bagunça em que se transformou nosso país. Como é que a coisa vai endireitar ou seguir um caminho normal? Isso lembra aquela piada da criação da Terra quando Deus fez o Brasil e o livrou de vulcões, maremotos, terremotos, etc, mas explicou: “Mas o povinho que eu vou colocar lá...”

quarta-feira, 8 de junho de 2016

terça-feira, 7 de junho de 2016

ATRAVÉS DO ESPELHO


por  Yuri Vasconcelos Silva

Você acorda de um sonho e percebe que mais um ciclo nasce na rotina do dia-após-dia. À exceção dos momentos esparsos, pontuais de alegria ou tristeza, a sequência martelada de pensamentos, sentimentos e ações moldam quem você é. No fundo, todos sabemos disso. A mesma quantidade de gotas de aspartame no café passado, virar o cabelo para o lado de sempre, os mesmos caminhos e tropeços até qualquer lugar. Os pensamentos são viciantes, eles nunca morrem. Ficam, em estado eterno de looping, retornando à cabeça e atormentando seu banho no final do dia. A vida então adiciona pequenas variações para que ninguém desista disto aqui. Um tesão que muda seu objeto de desejo a cada noventa dias, ser promovido a alguma coisa ou um livro delirante escrito por outro não muito diferente de você. O dia acaba, os olhos se fecham. Os sonhos retornam e são repetitivos também, mesmo os mais extraordinários. Dentro do sonho, raros são os momentos em que se percebe viver em um mundo que existe só na mente. Acredita-se em tudo o que acontece a ponto de influenciar as emoções, batimentos cardíacos e glândulas sudoríparas. O onírico atravessa a membrana da fantasia e estimula corpos reais desacordados na metade do mundo que está girando na escuridão. O problema é não saber, naquele momento, que são apenas ilusões que lhe atormentam. Elas sabem, com íntima precisão, o que deseja e o que teme. Elas criam paraísos efêmeros de alegria passageira ou infindável pesadelo. Você grita no escuro, preso em seu corpo imóvel, acreditando que a paisagem da mente que vive é tão real quanto sua carne. Ao acordar, com alívio ou decepção, levanta-se para mais um dia. Então alguém aparece em respeitável tom profético, com guarda-pó branco e centenas de artigos publicados, e lhe atira na testa que esta vida é uma simulação avançada de outra civilização. Você seria um personagem dentro de realidade virtual. Esta alegação não é nova. Abordada por cientistas há bastante tempo, já foi incorporada a livros e cinema de ficção. Matrix (1999), filme dos irmãos Wachowski, representa o exemplo mais notório. O paradoxo está no fato de que, ao contrário do sonho acordado da noite, onde é possível diferenciar com clareza os limites entre o onírico e a realidade, não é possível para a ciência no estado atual aferir o potencial de sermos todos frutos da imaginação de outro ser ou sistema. No fim das contas, a própria aferição pode nos dar um resultado que é também simulado. Assim, na eventualidade de você viver em uma camada de realidade criada, estará para sempre preso. Não poderá acordar e ter ciência de que continua dormindo. Se assim fosse possível, a liberdade máxima seria atingida. Seria semelhante ao pesadelo de um elevador que nunca para no seu andar e continua a descer até o inferno, sem nunca frear. Ao perceber que a situação não passa de um sonho, deixaria de sentir medo. Na verdade, poderia controlar a cabina para que te levasse onde seu desejo manda. Não ser dominado pelos sentimentos impostos pelo contexto da realidade é se livrar das mais poderosas amarras que lhe prendem. Sendo esta experiência de realidade o sonho de algum deus ou o vídeo-game de uma civilização distante, o que faria com este conhecimento?

Qualquer que seja a resposta, o olhar mais aprofundado indica que esta experiência não muda. Não importa se você acorda, trabalha todos os dias, sente fome e come, sofre ou se alegra. Estando dentro de uma simulação, de um sonho ou da realidade, o mundo como percebemos continuará operando da mesma maneira. O que pode ser alterado é como reagimos a causas da realidade, pois ela é subjetiva. Este posicionamento tem o potencial de alterar a experiência pessoal. As experiências podem ser boas ou ruins conforme o observador, não a realidade. Mas é bom sempre lembrar que, no final deste jogo, todos os personagens morrem com apenas uma vida.


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domingo, 5 de junho de 2016

ZÉ DA SILVA

Nada restará

Com ele não tinha essa de nhenhenhém. Talvez por ter passado a maior parte do tempo encolhido, dentro da toca da cabeça dele, envolvido pelas quatro paredes do quarto. Um dia abriu as porteiras do mundão – e foi. Quando gostava, se entregava feito bebê procurando o leite no peito da mãe. Se não, ficava na dele, mas como geralmente tentavam pisar no seu calo, a pancada, de qualquer forma, era violenta. E se não pudesse fazer isso, guardava no departamento da vingança. Às vezes esperava anos até surgir a chance do golpe a ser desferido – e ele era como o de Kyuzo, o mestre espadachim do filme “Os 7 Samurais”. Não entendia bem como isso funcionava, mas não se importava. Porque carregava tatuado no peito a inscrição que pouca gente conheceu, porque um dia sumiu de tudo e de todos: “Lapide a lápide como quiser; foto, nome, frase bonita e o escambau – no final das contas, nada restará”.


sábado, 4 de junho de 2016

MUHAMMAD ALI

Cassius Marcellus Clay Jr.
Da Folha.com

Lenda do boxe Mundial, Muhammad Ali morre aos 74 anos nos EUA

O ex-boxeador americano Muhammad Ali, 74, morreu após internação por problemas respiratórios, nos Estados Unidos. A morte foi anunciada na madrugada (de Brasília) deste sábado (4). Seu porta-voz, Bob Gunnell, anunciou nesta quinta (2) que o ex-atleta estava hospitalizado.

Ali foi campeão olímpico, participou da “Luta do Século” original, venceu o combate mais famoso da história, foi o primeiro tricampeão mundial dos pesados, dominou o boxe no período mais competitivo entre os grandalhões dos ringues e se tornou a primeira estrela globalizada do esporte, com duelos em países do Terceiro Mundo.

Poderia ter conquistado mais como atleta, muito mais, não tivesse sido forçado a ficar inativo durante mais de três dos anos mais produtivos da carreira de um esportista. Mas, graças a esse sacrifício, transcendeu o esporte e influenciou a sociedade americana em questões sociais, políticas e religiosas.
Nascido Cassius Marcellus Clay Jr. em 1942, na cidade de Louisville, oriundo de uma família humilde, Ali descobriu o boxe na infância por acaso. Aos 12 anos, quando roubaram sua bicicleta, procurou Joe Martin, um policial que dava aulas em um centro de recreação, para reclamar do roubo. Nunca mais viu a bicicleta, mas logo estava calçando as luvas de boxe.

Rapidamente ele conquistou títulos amadores que lhe abriram caminho até a Olimpíada de Roma, em 1960. Lá, aquele jovem tagarela ganhou a medalha de ouro entre os meio-pesados (categoria de peso imediatamente inferior à dos pesados no amadorismo).

Ao retornar aos Estados Unidos, foi acolhido como herói, homenageado por autoridades e assinou contrato com um grupo de milionários que o patrocinou.

Naquela época, prevalecia o racismo. Os restaurantes, hotéis e cinemas, especialmente os do sul do país, reservavam espaços para que os negros se acomodassem separados dos brancos.
Quando teve o pedido de um hambúrguer e um milk shake negado em uma lanchonete por causa da cor de sua pele, Ali foi à Ponte Jefferson County e atirou no Rio Ohio sua medalha olímpica, com a qual sonhava desde que desferira os primeiros socos no ginásio. “Não houve dor ou remorso, só alívio e renovação de forças”, disse Ali sobre o episódio, anos depois.

O boxeador se adaptou facilmente ao profissionalismo, no qual estreou ainda em 1960. Adotou um slogan simpático: “flutuar como uma borboleta, picar como uma abelha”, em referência à forma como bailava no ringue e à velocidade dos golpes. Seus reflexos faziam com que raramente fosse atingido com força.

Ele se dava ao luxo de prever, por meio de poemas, em que assalto derrubaria seus adversários. Na maioria das vezes, acertava. E não perdia a pose quando errava a previsão. Quando o ranqueado Doug Jones aguentou dez assaltos com ele, Ali argumentou: “Primeiro disse que venceria em seis assaltos, depois em quatro. Bom, seis mais quatro dá dez, não?”.
Poucos meses após conquistar o título mundial dos pesos-pesados, ao bater Sonny Liston, a quem apelidou de “O Grande Urso Feio”, em fevereiro de 64, revelou que se convertera ao islamismo, abrindo mão do seu “nome de escravo”, Cassius Clay, e passando a se chamar Muhammad Ali. Em suas próprias palavras, era agora “O Rei do Mundo” e “O Mais Bonito”.

Três anos depois, ainda campeão, foi convocado a comparecer ao centro de recrutamento do Exército, onde recusou o alistamento para a Guerra do Vietnã. “Nenhum vietnamita jamais me chamou de crioulo”, justificou Ali, que teve a licença de pugilista cassada e foi destituído do cinturão em 1967. Nos anos seguintes, ganhou a vida com palestras no circuito universitário. Viu aumentar o ódio daqueles que defendiam o sistema, mas seu discurso o tornou ídolo dos jovens, que à época clamavam veementemente por mudanças.
Após uma longa batalha jurídica, recuperou a licença de pugilista e retornou aos ringues em 1970, contra dois rivais de categoria, Jerry Quarry e o argentino Oscar “Ringo” Bonavena. No ano seguinte, enfrentou na “Luta do Século” “Smokin” Joe Frazier, que então era o dono de seu cinturão, em um choque de invictos. A comoção gerada pela luta foi tamanha que o cantor Frank Sinatra, já um grande astro àquela época, aceitou fazer um “bico” como fotógrafo para a revista “Life” apenas para garantir um lugar à beira do ringue, já que os ingressos estavam esgotados.

Ali perdeu por pontos em 15 assaltos, mas em 1974 ganhou nova oportunidade de lutar pelo título, desta vez contra George Foreman, na “Rumble in the Jungle” (“Briga na Selva”), no Zaire. Ali subiu ao ringue como o azarão. Afinal, Foreman tomara o cinturão de Frazier ao derrubá-lo seis vezes em dois assaltos, e precisara do mesmo número de assaltos para destruir outro algoz de Ali, Ken Norton.

Sem a agilidade e os reflexos do auge da carreira, Ali usou a cabeça. Encostou-se nas cordas e permitiu que o rival o castigasse, assalto após assalto, até que Foreman se cansasse. Então, no oitavo assalto, partiu para o ataque e derrotou o rival. O combate foi transformado em livro por Norman Mailer (“A Luta”) e gerou um documentário, “Quando Éramos Reis”, ganhador do Oscar em 1996.
Thomas Hoepker 

Ali disputou depois aquela que foi eleita pela publicação especializada “The Ring” a melhor luta da história, a “Thrilla in Manila”, seu terceiro duelo com Frazier, nas Filipinas. “Foi o mais próximo que cheguei da morte”, falou sobre a luta, que venceu no 14º assalto.

Em 1978, Ali perdeu o título para o novato de sete lutas Leon Spinks, mas o recuperou no mesmo ano para se tornar o primeiro tricampeão dos pesados. Anunciou sua aposentadoria, mas retornou contra seu ex-sparring Larry Holmes, agora campeão, e contra Trevor Berbick. Perdeu as duas e pendurou as luvas em definitivo.
Ele passou, então, a se dedicar a missões de cunho humanitário e político, visitando países como Cuba, China e Rússia. Foi ao acender a pira olímpica nos Jogos de Atlanta-96 que o mundo descobriu os avançados sintomas do Mal de Parkinson, que reduziu drasticamente a sua mobilidade e a sua capacidade de comunicação. Passou os últimos anos de sua vida dependente de tratamentos e remédios, e suas aparições públicas se tornaram cada vez mais raras.


quinta-feira, 2 de junho de 2016

FOTOGRAFIAS






Fotografias de Ricardo Silva