terça-feira, 14 de junho de 2016

CABEÇA DE PEDRA

Mergulho

Fiquei pagando trezentão por sessão do psiquiatra durante anos. Ia duas vezes por semana. Papai bancava. Era rico - até o dia em que foi atropelado por uma crise econômica em forma de Fenemê. Contei para o doutor. Ele encerrou o tratamento na hora. Me deu alta, mas como eu não tinha melhorado nada e continuava nas dúvidas do labirinto das trevas, encerrou o papo com um enigmático conselho: "Mergulhe em si mesmo para se encontrar". Lembrei do livro do Jamil Snege, o espetacular "Como eu se fiz por si mesmo", mas o buraco aqui era mais embaixo. Tive uma ideia e desci pendurado num balde num poço do terreno de um conhecido, lá nas quebradas do mundaréu. Mergulhei na água e subi. Pelado. O frio era de menos um, sem sensação térmica. Veio o momento mágico que eu tanto esperava. Me vi por dentro, se é que a frase exprime bem o que aconteceu. Aleulia! A fortuna gasta no divã teve resultado. Mas..., para encurtar a curta história, o que ficou claro foi o seguinte: mergulhei em mim pra me encontrar; achei muitos, mas nenhum era quem eu realmente esperava.

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