quarta-feira, 31 de julho de 2013

FOTO



Fotografia de Ricardo Silva

GUIM TIÓ

Guim Tió Zurraluki, nascido em 1987 e baseado em Barcelona, é dono de método e estilo únicos. Ao manipular páginas de revistas de moda, cobrindo-as com imagens criadas a partir de lapis pastel, o artista plástico dá vida a personagens estranhos, compostos por elementos geométricos, marcas coloridas e formas desproporcionais.

Os bustos desenhados por Guim são inconfundíveis, e denunciam imediatamente o seu ator. É como uma mesma família de seres esquisitos, que surgem de retratos humanos perfeitos – que só poderiam advir dos padrões estéticos das revistas – para se apresentar apoiados em uma outra beleza: delicada, sutil e infinitamente mais rara. Indo além, em cada pescoço alongado, olho esbugalhado ou lábio gigantesco, há uma provocação, fruto da inclinação jocosa com a qual o artista objeta a condição humana.







MOVIE STAR


Carmel Myers




FERNANDO PESSOA


    Cai amplo o frio e eu durmo na tardança
    De adormecer.
    Sou, sem lar, nem conforto, nem esperança,
    Nem desejo de os ter.


    E um choro por meu ser me inunda
    A imaginação.
    Saudade vaga, anônima, profunda,
    Náusea da indecisão.


    Frio do Inverno duro, não te tira
    Agasalho ou amor.
    Dentro em meus ossos teu tremor delira.
    Cessa, seja eu quem for!




segunda-feira, 29 de julho de 2013

Virgulino Ferreira da Silva, Lampião



Semira Adler Vainsencher
Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco

      Conhecido como o rei do cangaço e o governador do sertão, Virgulino Ferreira da Silva nasceu no dia 7 de julho de 1897, na Fazenda Ingazeira, situada no município de Vila Bela (hoje, Serra Talhada), no sertão de Pernambuco. Foi o segundo filho de José Ferreira da Silva e de Maria Selena da Purificação. O seu nascimento, porém, só é registrado no dia 7 de agosto de 1900. Tinha como irmãos: Antônio, João, Levino, Ezequiel, Angélica, Virtuosa, Maria e Amália. Todos cresceram ouvindo e/ou presenciando estórias de cangaceiros, e Antônio Silvino lhes serve de exemplo maior.

Naquela época, o sertão quase não possuía escolas e estradas, viajava-se a pé, a cavalo, em burro e em jumento. Os denominados coronéis (os proprietários de terras) imperavam sob o peso da prepotência como os verdadeiros chefes políticos, sem nunca sofrer represálias porque a força do Estado estava sempre do seu lado. Neste sentido, eram eles que davam a palavra final, ou seja, elegiam, destituíam, perseguiam, condenavam, absolviam, torturavam e matavam.


Em períodos de crises econômicas, os coronéis recebiam ajuda do Poder Público. Isto era uma recompensa, um benefício recebido, por causa dos eleitores que controlavam mediante os "votos de cabresto" - aqueles votos fornecidos a um candidato, e garantidos pela palavra-de-ordem dos poderosos, que impõem nomeações e asseguram a hegemonia da classe política local, sem se importar com a competência profissional dos nomeados.

Apesar de muito inteligente, Virgulino abandona a escola para ajudar a família no plantio da roça e na criação de gado. Torna-se famoso nas vaquejadas. Gosta muito de dançar, de tocar sanfona, compõe versos e adora um rifle. Sabe costurar muito bem em pano e couro e confecciona as próprias roupas.

Ele tinha 19 anos quando entrou para o cangaço. Dizem que tudo começou através de disputas com José Saturnino, membro da família Nogueira e vizinha de terras. Lutando contra essa família durante muitos anos, Virgulino e seus irmãos já se comportavam como futuros cangaceiros, não tardando a entrar em conflito com a polícia. A decisão de viver e morrer como bandido, contudo, só foi tomada, mesmo, quando a polícia mata José Ferreira da Silva - o patriarca da família - enquanto ele debulhava milho.

Em um das primeiras lutas do bando, na escuridão da noite, Antônio (um dos irmãos Ferreira), espantado com o poder de fogo do rifle de Virgulino, que expelia balas sem parar e mais parecia uma tocha acesa, gritou o seguinte:Espia, Levino! O rifle de Virgulino virou um lampião! A partir desse dia, a alcunha do famoso cangaceiro passa a ser Lampião.
 
Virgulino consegue realizar seu maior sonho, com a intermediação do Padre Cícero Romão Batista: adquirir a patente de capitão, no Batalhão Patriótico do deputado Floro Bartholomeu, o batalhão das forças legais. Além de alimentar sua vaidade pessoal, a patente funcionaria como uma espécie de salvo-conduto, permitindo o bando circular pelas divisas dos estados do Nordeste.


Aproveitando aquela oportunidade, Virgulino solicita, também, para os companheiros Antônio Ferreira e Sabino Barbosa de Melo, os postos de 1o. e 2o. tenentes. Acatada a solicitação, os membros do bando abandonam as roupas costumeiras, vestem a farda de soldado e, como autoridades constituídas, passam a ter o dever - por mais irônico que isto possa soar -, de defender a legalidade e proteger a população nordestina.


Tudo isso foi redigido pelo Padre Cícero e assinado, a pedido deste, no dia 12 de abril de 1926, pelo engenheiro-agrônomo do Ministério da Agricultura, Dr. Pedro de Albuquerque Uchoa. Feliz da vida aos 28 anos de idade, o jovem Capitão Virgulino reúne a família para tirar fotografias.

Oficialmente, ele recebe a missão de combater a Coluna Prestes - um grupo de comunistas liderados por Luís Carlos Prestes -, grupo que vinha percorrendo o País durante o governo do presidente Artur Bernardes. No entanto, após se distanciar uns 6 quilômetros de Juazeiro, Lampião decide se embrenhar na caatinga, em busca de combates mais lucrativos, deixando para trás o prometido a Padre Cícero e as responsabilidades para com o Estado. E os soldados do governo foram chamados de "macacos", porque saíam pulando quando avistavam os cangaceiros.
 
No bando de Lampião tinha indivíduos de todos os tipos: gordos, magros, ruivos, louros, morenos, altos, baixos, negros e caboclos. Alguns, inclusive, eram jovens demais: Volta Seca (11 anos), Criança (15 anos), Oliveira (16 anos). O mais idoso era Pai Velho, com 71 anos de idade.

Lampião arranjava, facilmente, armamentos e munições, mas, como o fazia, era um segredo que não contava a ninguém. Uma parte das armas automáticas, para combater a Coluna Prestes, foi adquirida através do Deputado Floro Bartholomeu e do Padre Cícero. Os demais armamentos do bando foram arranjados mediante a intervenção de amigos.

Um acidente provocado pela ponta de um pau cega o olho direito do Capitão Virgulino, um órgão que, anteriormente, já se apresentava problemático devido à presença de um glaucoma. Enxergando com um olho, apenas, Lampião se vê obrigado a ficar sempre enxugando, com um lenço, as lágrimas que pingam do olho vazado. A despeito dessa deficiência, ele nunca deixou de ser um excelente estrategista.

Dizem que foi uma brincadeira de mau gosto da família Ferreira (o corte da cauda de alguns animais) a gota d’água que desencadeou uma afronta irreparável com o fazendeiro José Saturnino, proprietário das terras vizinhas e membro da família Nogueira. Sendo mais numerosos e tendo o apoio do governo, essa família termina por expulsar os Ferreira de suas terras.

A partir de 1917, Virgulino e a sua família passam a conviver com intensos tiroteios e emboscadas, não podendo morar em um lugar específico: são obrigados a vagar pelo sertão e levar uma vida de nômades.

Em meio às lutas e fugas, falece Dona Maria Selena, no Engenho Velho. E, no início de agosto de 1920, o patriarca da família - José Ferreira - é fuzilado pela volante do sargento José Lucena, enquanto debulhava milho. Naquele mesmo dia, então, os Ferreira fazem um juramento: o seu luto, até a morte, iria ser o rifle, a cartucheira e os tiroteios.

Quando sabia da existência de um coronel perverso, Lampião não perdia a oportunidade de queimar-lhe as fazendas e matar-lhe o gado. Nas incursões em vilas e povoados, o grupo saqueava, dizimava e matava. As violências cometidas pelo bando eram inúmeras: tatuagem a fogo, corte de orelha ou de língua, castração, estupro, morte lenta, entre outras. Muitos habitantes abandonavam definitivamente as suas propriedades, tornando desertas as caatingas, já que elas estavam entregues a soldados e cangaceiros.

Virgulino Ferreira era bastante impulsivo. Às vezes, passavam-se meses sem se ouvir falar nele, pensando-se, inclusive, que tinha morrido. Mas, de repente, ele surgia do nada com o seu bando, como um tremendo furacão, lutando contra as volantes, incendiando fazendas, roubando e matando com a maior naturalidade. Em algumas ocasiões, seus gestos eram generosos: confraternizava com as pessoas, organizava festas, distribuía dinheiro, pagava bebida para todos.

Em uma de suas paradas para descansar, perto da Cachoeira de Paulo Afonso, conheceu Maria Déia, filha de um fazendeiro de Jeremoabo, na Bahia. Há cinco anos ela era casada com José de Nenén - um comerciante da região - mas nutria uma paixão platônica por Lampião, mesmo sem nunca tê-lo encontrado.

Alguns afirmam que foi a própria mãe de Maria Déia que segredou a Lampião sobre essa paixão. Já outros dizem que foi Luís Pedro - integrante do bando - que insistiu para o rei do cangaço conhecê-la. Na realidade, o fato é que Virgulino caiu de amores ao vê-la. E, impressionado com a sua beleza, passou a chamá-la de Maria Bonita.

Em vez de três dias, ficou dez na Fazenda Malhada da Caiçara. Com a concordância dos pais, que apoiavam o desejo da filha, Maria Déia coloca as suas roupas em dois bornais, penteia os cabelos, despede-se para sempre do marido, e parte com Lampião rumo à caatinga. Era o ano 1931 e ela tinha 20 anos.

Pouco tempo depois, Maria Bonita engravida e sofre um aborto. Mas, em 1932, o casal de cangaceiros tem uma filha. Chamam-na de Expedita. Maria Bonita dá à luz no meio da caatinga, à sombra de um umbuzeiro, em Porto de Folha, no estado de Sergipe. Lampião foi o seu próprio parteiro.

Como se tratava de um período de intensas perseguições e confrontos, e a vida era bastante incerta, os pais não tinham condições de criá-la dentro do cangaço. Os fatos que ocorreram viraram um assunto polêmico porque uns diziam que Expedita tinha sido entregue ao tio João, irmão de Lampião que nunca fez parte do cangaço; e outros testemunharam que a criança foi deixada na casa do vaqueiro Manuel Severo, na Fazenda Jaçoba.
 
O Capitão Virgulino adora ser fotografado e filmado. Neste sentido, consente que Benjamim Abraão, um fotógrafo libanês, conviva durante meses com o seu bando e colete muito material sobre o cangaço. Esse fotógrafo, contudo, é assassinado por um coronel, e grande parte do seu acervo é destruída.

Maria Bonita sempre insistia muito para que Lampião cuidasse do olho vazado. Diante dessa insistência, ele se dirige a um hospital na cidade de Laranjeiras, em Sergipe, dizendo ser um fazendeiro pernambucano. Virgulino tem o olho extraído pelo Dr. Bragança - um conhecido oftalmologista de todo o sertão - e passa um mês internado para se recuperar. Após pagar todas as despesas da internação, ele sai do hospital, escondido, durante a madrugada, não sem antes deixar escrito, à carvão, na parede do quarto:

Doutor, o senhor não operou fazendeiro nenhum. O olho que o senhor arrancou foi o do Capitão Virgulino Ferreira da Silva, Lampião.

Além das emboscadas planejadas para liquidá-lo, cabe ressaltar que Lampião conseguiu sobreviver ao veneno e ao fogo. Do primeiro, contou com a dosagem fraca que lhe deu, somente, um inconveniente desarranjo intestinal; do segundo, apesar de chamuscado, conseguiu escapar pulando. Mas foi ferido à bala diversas vezes.

Excetuando-se João, todos os irmãos de Virgulino morreram antes dele. Em 1926, Antônio foi morto em Serra Talhada, no encontro com uma volante pernambucana. Uma outra volante desse mesmo estado matou Levino Ferreira. O último a falecer foi Ezequiel, gravemente ferido pela polícia de Sergipe. Mas, quando Lampião percebeu que seu irmão estava se ultimando e sofrendo, saca do próprio revólver e dispara um tiro de misericórdia bem em cima de sua testa.

Em uma outra luta contra a volante pernambucana, na vila de Serrinha, próximo a Garanhuns, Maria Bonita foi baleada. Como estava perdendo muito sangue, Lampião deu ordem para encerrar a luta imediatamente: pega a amada nos braços e segue rumo ao município de Buíque, onde ela é tratada na vila de Guaribas.

Vale deixar registrado que o bando de Lampião resistiu durante quase 20 anos, brigando com grupos de civis que o perseguiam e com a polícia de 7 estados nordestinos. Por todo esse tempo, assaltou propriedades de grandes fazendeiros, atacou povoados, vilas e cidades, roubou, pilhou, torturou e matou os seus adversários.
 
Apesar de ter sido baleado nove vezes, Lampião sobreviveu a todos os ferimentos, sem contar com qualquer tipo de assistência médica formal. Naquela época, desconheciam-se os antibióticos e as sulfas. Para estancar o sangue e curar os ferimentos, por exemplo, usavam-se mofo, pó de café e, até, excrementos de gado. Eram usadas, ainda, ervas medicinais e rezas dos curandeiros, que nem sempre funcionavam como se esperava. Um ferimento em seu pé, neste sentido, condenou Virgulino a mancar para o resto da vida.

Extremamente jeitoso, além de dotado de grande capacidade de improvisação, era o Capitão Virgulino que fazia os curativos, encanava pernas e braços quebrados dos feridos e fazia os partos das mulheres dos cangaceiros. Super dotado de inteligência, ele era médico, farmacêutico, dentista, vaqueiro, poeta, estrategista, guerrilheiro, artesão. Desconfiado, só ingeria algo depois que alguém tivesse provado o alimento. Por outro lado, só entregava o dinheiro após ter recebido a mercadoria. Entretanto, não conseguiu se livrar da traição dos falsos amigos.

No dia 27 de julho de 1938, conforme o costume de anos a fio, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. Na madrugada do dia 28, a volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Quando um dos cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais.

Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.

O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos 34 cangaceiros presentes, 11 morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais saquearam e mutilaram os mortos. Roubaram todo o dinheiro, o ouro, e as jóias.

A força volante, de maneira bastante desumana, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira e Mergulhão: tiveram suas cabeças arrancadas em vida.
 
Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensangüentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Guardadas as devidas proporções, após ter passado, praticamente, cento e cinqüenta anos da Revolução Francesa, os brasileiros retrocederam ao século XVIII, decepando cabeças como fizeram com Luís XVI e Maria Antonieta.

Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Maceió e, depois, foram ao sul do Brasil.

No Instituto de Medicina Legal de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.

Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.

Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Silvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.

O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois.

Virgulino morreu aos 41 anos de idade. No entanto, contabilizando-se os riscos enfrentados durante 20 anos de cangaço, a alimentação incerta, as emboscadas, os ferimentos, a falta de assistência médica, entre outros, pode-se afirmar que o rei do cangaço viveu mesmo muito tempo. Vale registrar, por outro lado, que Lampião e Maria Bonita possuem parentes próximos em Aracaju: sua filha, Expedita, casou com Manuel Messias Neto e teve quatro filhos (Djair, Gleuse, Isa e Cristina).

Por fim, a grande inteligência de Virgulino Ferreira da Silva, bem como o seu valor como estrategista valem a pena ser ressaltados. Mais de sessenta anos após sua morte, ele continua sendo lembrado na música, na moda, na literatura de cordel, no teatro, no cinema, em escolas, em museus, em conferências e debates. O temido cangaceiro, indubitavelmente, o mais importante e carismático de todos, deixou gravado nas caatingas sertanejas um pedaço da história do Nordeste do Brasil.

Recife, 24 de julho de 2003.
(Texto atualizado em 19 de março de 2008).

sexta-feira, 26 de julho de 2013

MICK JAGGER' 70

The Rolling Stones - Star Star (Live)

Official



quarta-feira, 24 de julho de 2013

SEBASTIÃO SALGADO







DOR DE AMOR


Ai... dói! 
A costela dói, o coração dói e a dor me mói.
Mas a dor é de amor
Sentimento que me alucina
Como morfina
Que para a dor e me faz delirar!


Ticiana Vasconcelos Silva

FONTE: http://paradoxodoser.blogspot.com.br/

domingo, 21 de julho de 2013

DISCOTECA BÁSICA

Clube da Esquina(1972)



(Edição 199,Março de 2006) 

Em 1970, Milton Nascimento já tinha quatro discos lançados e a fama de cantor e compositor fora 
de série - Burt Bacharach, por exemplo, era seu fã. Só que, em vez de partir para mais um álbum de composições próprias, ele resolveu dividir 
a criação e deixar sua música ser inseminada por outras cabeças. Desse espírito coletivista nasceu Clube da Esquina. Milton convidou um amigo dez anos mais novo, Lô Borges, que conheceu ainda criança em Belo Horizonte, para dividir as composições. Ele sabia que podia confiar no taco beatlemaníacodo rapaz, pois tinha gravado três músicas de Lô no disco anterior, Milton. Em uma casa alugada na praia de Piratininga, em Niterói, Milton e Lô passaram um ano e meio compondo e recebendo a visita de amigos letristas (Fernando Brant. Ronaldo Bastos e Márcio Borges) e músicos (como Beto Guedes, trazido por Lô). 
As músicas foram gravadas nos estúdios da Odeon no Rio, "tudo ao vivo, só com os vocais colocados mais tarde", como contou Lô. As idéias e os arranjos iam surgindo no estúdio. 
Todos davam palpites, inclusive os letristas. 
O resultado desse esforço coletivo chegou às lojas no auge dos tempos barra-pesada 
da ditadura e, segundo Lô, foi recebido com frieza. "Diziam que era música de uns caras que tocavam violão, olhavam para as montanhas e falavam de nuvens e céu azul." Clube da Esquina é tido como o disco que lançou o  o  som e a turma dos "mineiros" (de fato, ele envolve Lô, Beto, Toninho Horta, Nelson Ângelo, Tavito e um monte de músicos de lá), mas a "mineirice" de Clube da Esquina não está em supostas raízes ou ritmos folclóricos. Está na tradição de juntar uma galera num boteco, ouvir e falar de Beatles, rock progressivo, tocar violão e - no caso de BH - olhar para as montanhas. A voz abençoada de Milton, o mistério das letras (de onde vieram coisas como "um gosto vidro e corte/um sabor de chocolate" ou "vento solar e estrelas do mar/a terra azul  da cor de seu vestido"?) 
e as levadas folk-rock piraram a cabeça da rapaziada da época, 
e a versão em CD, lançada 20 anos mais tarde, foi recebida como um tesouro no Japão (onde existe o "Fã-Clube da Esquina"), na Europa e nos EUA. 
A mistura de baladas beatle e MPB com sabor afro-Iatino soa muito bem. Ainda mais nas 
canções sensacionais de Milton (como "San Vicente", "Cravo e Canela", "Nada Será Como Antes")  e Lô(Tom Jobim era fã de ‘Trem Azul”,David Byrne de “Um Girassol da cor de seu cabelo”). 
A casa na praia em Niterói,em que brotaram essas músicas,deveria ser tombada e ter uma placa:”Aqui nasceu um dos discos mais influentes já feitos no Brasil”. 



Thomas Pappon

FONTE: http://rateyourmusic.com/lists/list_view?list_id=133037&show=50&start=150

sábado, 20 de julho de 2013

BRUCE LEE

Bruce Lee (27 de novembro de 1940 – 20 de julho de 1973)

sexta-feira, 19 de julho de 2013

MATCHBOX

Carl Perkins, Eric Clapton & Ringo Starr


quinta-feira, 18 de julho de 2013

FOTO


Fotografia de Ricardo Silva

quarta-feira, 17 de julho de 2013

SOLDA

CÁUSTICO


SOLDA CÁUSTICO:http://cartunistasolda.com.br/

CABEÇA DE PEDRA

Viagem à cidade dos mocorongos

Recebeu a bolsa. Pesada. Colocou no bagageiro do ônibus. Destino: Santarém. Terra dos mocorongos. Um senhor que não abriu a boca durante os dias de viagem sentou ao lado. Com uma mala. Colocada entre os dois. Não reclamou. Não sabia o que o fizera aceitar aquela aventura. Um desconhecido. Uma proposta. E ele foi, mesmo porque precisava sair dali, daquela cidade, daquelas pessoas, daquilo tudo que o esmagava. Quase não comeu. Quase não dormiu. Olhava a paisagem, as casas, os animais, as pessoas, tudo como se fossem imagens projetadas em névoa. Chegou na rodoviária no meio de uma madrugada quente. Desceu, apanhou a mala e foi a pé ao endereço que mandaram decorar. Nada de papel escrito. Era um hotel cuja escada, de madeira, estava torta, com partes podres, ameaçando despencar. Subiu ouvindo o ranger das tábuas. Foi ao quarto indicado. Bateu à porta. Quando abriu notou que a pessoa que o esperava era o mesmo que lhe tinha feito a encomenda. Entregou a bolsa. O outro disse que não precisava mais. Pediu que abrisse. Ele abriu. Havia muito dinheiro. Ele podia ficar com tudo, disse o estranho. Perguntou se era dinheiro sujo. Não, respondeu o outro. Só queria saber se ainda havia gente de confiança no mundo. 

FONTE: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/

sexta-feira, 12 de julho de 2013

FERNANDO PESSOA


    Tudo quanto penso,
    Tudo quanto sou
    É um deserto imenso
    Onde nem eu estou.


    Extensão parada
    Sem nada a estar ali,
    Areia peneirada
    Vou dar-lhe a ferroada
    Da vida que vivi.

domingo, 7 de julho de 2013

O CASTELO ANIMADO

(Hauru No Ugoku Shiro, 2004)


Enquanto as animações ocidentais aparecem cada vez mais sofisticadas, com efeitos de computação gráfica que deixam o público indeciso quanto ao estúdio mais competente, o diretor Hayao Miyazaki e o Studio Ghibli não trocam por nada seu estilo de animação. Os traços transparentes e inconfundíveis permanecem, mesclando-se perfeitamente com detalhes computadorizados, em cenários deliciosos que estúdio ocidental nenhum poderia imaginar.

Desta vez, Miyazaki optou por transportar às telas uma história já existente, um livro da britânica Diana Wynne Jones, que, tendo sido aluna de mestres como J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis, acrescenta às suas obras o teor ideal de fantasia. O livro conta a história de Sophie, uma jovem que vive numa cidade industrial, de formato claramente europeu, e leva uma vida ordinária em sua chapelaria. Sua rotina muda completamente quando uma bruxa vem visitá-la, lançando sobre ela um feitiço que a transforma numa velha senhora de 90 anos.

A partir daí, Miyazaki atrela seu estilo à obra original. Sophie foge de casa e procura outro abrigo, acabando por encontrar o castelo que dá título ao filme, onde conhece o demônio de fogo Calcifer, o garoto Markl e o próprio dono do castelo, Howl. Enquanto procura a relação existente entre Howl, Calcifer e as guerras que eclodem a todo momento, Sophie imerge num mundo inimaginável e absolutamente fantástico, tendo que lidar com as armadilhas do caráter humano e seus desdobramentos. A premissa criada por Diane Wynne Jones permanece; o que Miyazaki faz é retocá-la, adicionando e modificando elementos que se complementam. No final, é como se o filme e o livro fossem extensões de si mesmos.

As comparações com A Viagem de Chihiro são inevitáveis, por ter sido este o ápice da expressão artística de Miyazaki. Chihiro sintetiza todo o estilo do diretor, toda sua filosofia de trabalho e também seu modo de expressão. Por isso mostra-se um filme visivelmente chocante e metafórico, munido de produção artística atordoante. O Castelo Animado é menos arrebatador, como que uma retomada de fôlego após tanto estardalhaço visual. Ainda assim, Miyazaki não abandonou sua melhor arma – as cores – e coloriu cenários e personagens até não poder mais. O melhor de tudo – e mais surpreendente – é que o visual fervescente não cansa, nem enjoa, talvez porque a preocupação de Miyazaki não seja colorir apenas para agradar.


Os traços delicados e ainda assim veementes, a leveza do desenho e as metáforas visuais são apenas um anestésico, se comparados à inventividade da animação. As personagens, inclusive animais e seres inanimados, têm seus próprios conflitos e amadurecem durante a película, moldando características e personalidade. A maldição de Sophie, transformar-se numa velha de 90 anos, acaba por se tornar num aprendizado, e ela aprende que a vida é proveitosa em qualquer idade.


O Castelo Animado, bem como a maioria dos desenhos feitos pelo Studio Ghibli, é um filme inegavelmente adulto, apenas disfarçado como diversão infantil. É através deste disfarce, inclusive, que Miyazaki lembra ao espectador comum a importância do sonho e da imaginação, porque o próprio Miyazaki, ao que parece, não cessará seus sonhos tão cedo.
Por Flávio Augusto 

FONTE: 
http://www.cineplayers.com/critica.php?id=522

DODGE CHALLENGER 1971








CABEÇA DE PEDRA

OLHOS DE ASSASSINO

Na beira do rio, no meio da floresta, o estranho deu a senha. Olhos de assassino. E eu ali me arrastando nas trevas da doença da alma, tentando ver beleza no que era belo e de força absurda. Aquilo ficou gravado como se fosse um código, que poderia ser acessado a qualquer hora, para deflagar o desconhecido. Os contos de Rubem Fonseca vieram apenas completar. Ele sabia! Ele sabia! A necessidade de ceifar vidas desconhecidas para não ter remorso. Apenas ceifar, como um deus ou um diabo vestido de ser humano. Os olhos do assassino tomaram conta numa noite qualquer, de tédio, de televisão jogando lixo na cara, de comida gelada, de café requentado, de ninguém para conversar, de saco cheio de tudo. Quando voltei para casa, o coração aos pulos, tinha feito, mas não sabia direito o quê. Lembrava do barulho do tiro e do movimento de me virar rápido e sair correndo na rua escura e deserta. Quem foi? Quem seria? Nada. Lawrence da Arábia na cena em que diz ter gostado de matar. Os olhos de assassino voltaram no dia seguinte para ver a cena. Não havia marcas. Ninguém tinha ouvido nada. Os jornais e rádios também não noticiaram. Comecei a desconfiar que tinha entrada em delírio. Ou talvez que tenha disparado contra minha própria cabeça.

CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/07/olhos-da-assassino.html

sábado, 6 de julho de 2013

TOCANDO DJANGO

Stochelo Rosenberg playing Django Reinhardt


Improvisation


MARILYN MONROE

by Frank Worth 

ROGER DEAN

Roger Dean, nascido a 31 de agosto de 1944 em Ashford, kent na Inglaterra, tendo passado a maior parte da infância viajando pelo mundo pois seu pai fazia parte da Marinha Britânica retornando a Inglaterra em 1959 após completar o ensino médio estudou na Escola Canteburry de Arte tornando-se Publicitario e Artista.
Mundialmente conhecido a partir do final da década de 60  por trabalhar nas capas mais fantasticas de albuns  principalmente de Rock Progressivo, a primeira capa onde trabalhou foi para uma banda chamada “gun”.

Em 1971 criou a capa do primeiro album da “Osibisa” e no mesmo ano começou a trabalhar nas capas da banda “Yes” onde seu primeiro projeto foi para o album “Fragile”, ele veio a criar o logotipo da banda que viria a aparecer em todos os albuns da banda, desde então vem fazendo as capas do Yes até os dias de hoje tendo inclusive colaborado com seu irmão Martin na  concepção de varios shows da banda.

Dean inicialmente trabalhava com aquarelas, atualmente em muitas obras utiliza varias tecnicas: tinta, lápis, colagem, esmalte e outras absorveu várias influências mas talvez as maiores  tenham vindo dos antigos pintores chinêses e da literatura de Tolkien.

Flertou inclusive com a arquitetura desenvolvendo o projeto de uma casa completamente concebida em seu estilo inconfundível, a casa parece ter sido esculpida na parte interna de uma colina com grama e plantas crescendo sobre ela não agredindo o visual natural, internamente parece um dos cenarios de Tolkien, a extrutura é toda em fibra de vidro fazendo com que haja isolamento completo do ambiente, nos dias frios mantém o calor e nos dias quentes faz o ambiente fresco, á partir daí surgiram outros incríveis projetos arquitetonicos. Dean também é respeitado por suas obras de caligrafia e disign de logotipos, trabalhou no projeto de apresentação de jogos para video game, tem alguns livros que apresentam a compilação de sua obra, artista completo recentemente influênciou tambem o cinema.

por  Eduardo Piloto






DISCOTECA BÁSICA

VIOLENT FEMMES


Violent Femmes(1983)

(Edição 170,Setembro de 1999) 

Gordon Gano (voz/guitarra/violão), Brian Ritchie (baixo elétrico, acústico e vocais) e Victor DeLorenzo (bateria/ vocais) se inscrevem na tradição dos grandes power trios do rock. Começaram a tocar juntos em botecos de sua cidade natal, Milwaukee, nos cafundós de Wisconsin. Testemunha de um destes shows - todos acústicos -, James Honeyman-Scott, guitarrista dos Pretenders (morto em 1982) se surpreendeu com o som de Gano & Cia., convidando-os para abrir os concertos da turnê americana da banda de Chrissie Hynde. Foi o bastante para que os Violent Femmes se projetassem: assinaram com o selo independente Slash em 1982 e, um ano depois, lançavam este álbum de estréia, produzido por Mark Van Hecke. 
Rústico, cru, mas sempre com frases inspiradas de guitarra/violão, o som da banda se escorava numa cozinha pesada em que interagiam o baixo frontal de Ritchie e as batidas eficientes de DeLorenzo. A mistura de folk tradicional (especialmente pelo uso ostensivo de instrumentos acústicos) com a pauleira das levadas frenéticas criou alguma coisa que poderia ser definido como country punk. E, além dos instrumentos originais de cada um dos integrantes, Gordon e Brian também se arriscavam com sucesso por incursões pelo violino ("Good Feeling") e pelo xilofone ("Gone Daddy Gone"), respectivamente. 
Já as músicas escritas por Gano formavam um capítulo à parte: com uma revolta latente expressa nas letras, elas ressaltavam este conteúdo por meio de arranjos predominantemente acústicos, em pérolas como a abertura com "Blister In The Sun", "To The Kill" (um perfeito espelho da violência do cotidiano) e “Add it Up”(esta última por sinal,um hino à inquietação juvenil).Tudo isso sapecado por vocais que lembravam o Lou Reed da fase Transformer (disco de 1972).   
Os discos posteriores comprovaram a criatividade do grupo, apesar de não contar com a mesma energia bruta. Com projetos mais sofisticados, os VF trabalharam com o ex-Talldng Heads Jerry Harrison (em The Blind Leading The Naked, de 1986), com o produtor/tecladista Michael Beihom - no disco Why Do The Birds Sing? (1991). em que regravaram "Do You Really Want To Hurt Me?", hit do Culture Club - e desde o CD New Times (1994), substituíram DeLorenzo pelo baterista Guv Hoffman (ex-BoDeans). As "fêmeas" nunca mais chegaram a ser tão violentas quanto em sua estréia. 


Celso Pucci


quinta-feira, 4 de julho de 2013

MANOEL DE BARROS


SOBERANIA

Naquele dia, no meio do jantar, eu contei que tentara pegar na bunda do vento — mas o rabo do vento escorregava muito e eu não consegui pegar. Eu teria sete anos. A mãe fez um sorriso carinhoso para mim e não disse nada. Meus irmãos deram gaitadas me gozando. O pai ficou preocupado e disse que eu tivera um vareio da imaginação. Mas que esses vareios acabariam com os estudos. E me mandou estudar em livros. Eu vim. E logo li alguns tomos havidos na biblioteca do Colégio. E dei de estudar pra frente. Aprendi a teoria das idéias e da razão pura. Especulei filósofos e até cheguei aos eruditos. Aos homens de grande  saber. Achei que os eruditos nas suas altas abstrações se esqueciam das coisas simples da terra. Foi aí que encontrei Einstein (ele mesmo — o Alberto Einstein). Que me ensinou esta frase: A imaginação é mais importante do que o saber. Fiquei alcandorado! E fiz uma brincadeira. Botei um pouco de inocência na erudição. Deu certo. Meu olho começou a ver de novo as pobres coisas do chão mijadas de orvalho. E vi as borboletas. E meditei sobre as borboletas. Vi que elas dominam o mais leve sem precisar de ter motor nenhum no corpo. (Essa engenharia de Deus!) E vi que elas podem pousar nas flores e nas pedras sem magoar as próprias asas. E vi que o homem não tem soberania nem pra ser um bentevi.

FOTO


Fotografia de Ricardo Silva

FERNANDO PESSOA


    Sou o Espírito da treva,
    A Noite me traz e leva;


    Moro à beira irreal da Vida,
    Sua onda indefinida


    Refresca-me a alma de espuma...
    Para além do mar há a bruma...


    E pra aquém? há Cousa ou Fim?
    Nunca olhei para trás de mim...



WALTER TROUTH

Dust my broom (Robert Johnson) 


Walter Trout live in The Paradiso, Amsterdam