CABEÇA DE PEDRA
Viagem à cidade dos mocorongos
Recebeu a bolsa. Pesada. Colocou no bagageiro do ônibus. Destino:
Santarém. Terra dos mocorongos. Um senhor que não abriu a boca durante
os dias de viagem sentou ao lado. Com uma mala. Colocada entre os dois.
Não reclamou. Não sabia o que o fizera aceitar aquela aventura. Um
desconhecido. Uma proposta. E ele foi, mesmo porque precisava sair dali,
daquela cidade, daquelas pessoas, daquilo tudo que o esmagava. Quase
não comeu. Quase não dormiu. Olhava a paisagem, as casas, os animais, as
pessoas, tudo como se fossem imagens projetadas em névoa. Chegou na
rodoviária no meio de uma madrugada quente. Desceu, apanhou a mala e foi
a pé ao endereço que mandaram decorar. Nada de papel escrito. Era um
hotel cuja escada, de madeira, estava torta, com partes podres,
ameaçando despencar. Subiu ouvindo o ranger das tábuas. Foi ao quarto
indicado. Bateu à porta. Quando abriu notou que a pessoa que o esperava
era o mesmo que lhe tinha feito a encomenda. Entregou a bolsa. O outro
disse que não precisava mais. Pediu que abrisse. Ele abriu. Havia muito
dinheiro. Ele podia ficar com tudo, disse o estranho. Perguntou se era
dinheiro sujo. Não, respondeu o outro. Só queria saber se ainda havia
gente de confiança no mundo.
FONTE: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/
Nenhum comentário :
Postar um comentário