segunda-feira, 1 de julho de 2013

CABEÇA DE PEDRA

Era uma casa

A casa e a árvore estavam ali desde o tempo da primeira foto que ele viu a cinco mil quilômetros de distância. Parecia ideal para anões, mas isso acontecia porque a centenária mangueira ao lado era tão grande como o pé de feijão da história fantástica. Um dia ele foi lá ver, mesmo porque sua avó morava sozinha, pito na boca, milho na mão a espalhar para as galinhas e pintinhos do terreiro. Chegou de madrugada e lembrou da voz de Luiz Gonzaga. Ô de casa! Louvado seja o senhor Jesus Cristo! Fez outras fotos, dormiu em rede, acendeu e apagou o lampião, subiu até onde pode por dentro da árvore gigante. Foi e voltou várias vezes para aquele local de origem, mesmo depois que a casa ficou sem a vida da avó. Até que um dia soube que tinha sido derrubada, sem consulta, por uma parente. A árvore também tombou a machadadas. Por causa de sexo. Uma menina esquizofrênica, também parente, ali entrou e fez do local o abrigo para todos os homens da redondeza. Quando ele voltou lá, anos depois, não havia nem vestígio daquele seu monumento particular. Ele tem as fotos. Ele tem a história. Mas a casa e a mangueira se tornaram invisíveis até no papel. Ele olha e vê apenas uma plantação de mandioca, o céu azul de doer os olhos e uma desolação que lhe marca a alma.


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