sábado, 30 de abril de 2016

GEORGES PICHARD


Por Victor Lisboa

Nascido em Paris no ano de 1920, esse senhor francês de humor cáustico ofendeu, nas décadas de 60 a 80 do século passado, muitos cavalheiros e damas defensoras da boa moral e dos bons costumes em seu país.
Mas a verdade é que bom gosto moral  não é irmão siamês do bom gosto estético. Aplicada a Pichard, essa verdade fez com que seus detratores, mesmo quando o acusavam, para os padrões da época, de demasiadamente obsceno, fossem obrigados a reconhecer que seu trabalho sempre foi tecnicamente magistral, ainda quando moralmente ofensivo.
Egresso da École des Arts Appliques, após a Segunda Grande Guerra iniciou sua carreira com trabalhos publicitários. Em 1956, entrou para o mundo dos quadrinhos com trabalhos que já anteviam a sua temática predileta: o erotismo sem sutilezas e o prazer de ofender a Igreja.
Em 1967, enfrentou a primeira polêmica. Junto com Jacques Lob, criou Blanche Épiphanie, uma loira de 17 anos que defendia sua convicta virgindade contra o ataque de vilões (o pior deles, um banqueiro escroto) capazes dos mais ardilosos estratagemas para deflorá-la. 
Felizmente, sempre no último momento, surgia um misterioso herói mascarado para salvar nossa jovem, pura e virginal protagonista. A personagem estreou na V-Magazine, de propriedade de Jean-Claude Forest, ninguém menos que o criador de outra loira: Barbarella, a psicodélica. Mas isso é, literalmente, outra história.


Paulette


Muito menos comportada foi a segunda personagem criada por Georges Pichard, dessa vez ao lado de Georges Wolinski. Em 1971, a dupla criativa apresentou ao público , uma loira com seios firmes e de moral frouxa. Diferente de sua antecessora, essa nova protagonista não estava assim tão convicta das vantagens de uma vida casta.
Paulette surgiu na edição de número 12 da revista de humor Charlie Mensuel. Em suas aventuras, a moça vive de tudo um pouco: é sequestrada, forçada a viver no harém de um Sultão, tem um caso com Ali Babá, herda uma fortuna, vira comunista, insufla uma greve em um bordel (imagem acima), vai para o Vietnã, batalha contra o capitalismo e outras tantas estripulias pelas quais os autores alfinetam, a um só tempo, os religiosos, os conservadores, os machistas, as feministas, a esquerda e a direita.
O que observamos na evolução do trabalho de Georges Pichard é que, ao longo dos anos, ele passou a aproximar-se gradualmente de um tema perigoso: as relações de domínio no âmbito da sexualidade. Em suas obras, a tônica sempre foi a do exercício do poder nas relações sexuais.

Em Animal Agonizante, Philip Roth demonstra que, para além de nossas pretensões civilizatórias, o desequilíbrio e a relação de domínio daí decorrente não podem ser afastadas da sexualidade, pois é necessário atrito para alimentar as chamas do instinto. Toda relação de domínio tem um componente sexual ou toda relação sexual possui um componente de domínio, ainda que sutil? Não importa.
O que Georges Pichard deixou claro em suas obras é que o domínio sexual não se restringe à relação homem/mulher, como as imagens a seguir deixam claro.

Animal Agonizante

Em um trecho que Pichard apreciaria, Philip Roth expõe, através do protagonista de , a seguinte concepção sobre o assunto:

"O que está em jogo aqui é o caos do Eros, a desestabilização radical que é a excitação erótica. Na hora do sexo, todos nós voltamos para a selva. Voltamos para o pântano. O que há é um domínio, um desequilíbrio perpétuo. Você vai excluir o domínio? Você vai excluir a entrega? O domínio é a pederneira, é ele que produz a faísca, que dá início a tudo.”

Discussões literário-filosófico-sexuais a parte, Georges Pichard chegou ao ponto máximo da ofensa dos conservadores franceses com a publicação de Marie-Gabrielle de Saint-Eutrope, no ano 1977. Trata-se de uma obra que o Marquês de Sade colocaria com prazer em sua biblioteca, mas que deixou os contemporâneos de Pichard um bocado aborrecidos.

O motivo desse aborrecimento foi bem simples: na história, freiras torturam e humilham a protagonista para redimi-la de seus pecados. A comercialização de Marie-Gabriele foi proibida.

Marie-Gabriele 

Em Marie-Gabriele, os algozes da protagonista justificavam os abusos cometidos utilizando a legitimação do discurso religioso. Se o objetivo de Georges Pichard era incomodar a Igreja e seus fiéis, sem dúvida conseguiu -- mas pagando um preço talvez alto demais. A verdade é que é inquietante e, até mesmo, muito desagradável em suas cenas mais violentas. Anos após a polêmica, Pichard procurou explicar as razões que o levaram a conceber uma história tão controversa:
"Tentei quebrar a noção de pornografia e fazer outra coisa. Sei muito bem que entre as pessoas responsáveis pelo sucesso relativo que foi Marie-Gabriele, há leitores que eu não gostaria de conhecer. Há vários tipos de proibições religiosas de conteúdo sexual. Eu queria colocar essas essas proibições em imagens. Para alguns, é só pornografia. Mas, na minha mente, não se tratava disso. Claro, são imagens violentas, muitas vezes difíceis de aceitar. Ms são imagens que correspondem muito bem a textos religiosos que usei, textos publicados por sacerdotes obscuros do final do século XVIII."
(trecho de entrevista dada a Fred Coconut em novembro de 1985 e publicada na revista Ratatouille em fevereiro/1986).

Em seguida à Odisseia, como que para escapar do clima claustrofóbico do catolicismo europeu, Pichard uniu-se novamente a Jacques Lob para fazer uma visita à Grécia mitológica, ao tempo dos deuses e heróis épicos. Seu projeto, ambicioso e muito bem-sucedido, era criar uma versão da que fosse, a um só tempo, descolada e fiel ao original.
E assim surgiu, em 1974, Ulyssepopaliens , um marco da década de setenta e excelente exemplo da cultura . A sacada dos autores foi não retratar os deuses gregos como divindades entediantes e de personalidade unidimensional, mas como seres psicodélicos e retrofuturistas, uma mistura de "rock-stars" com dotados de poderosa tecnologia, manipulando Ulisses e os outros mortais por vaidade e egoísmo.

Sorcières de Thessalie 
Ao que tudo indica, os ares da antiga Grécia fizeram muito bem ao talento de Georges Pichard, pois a eles retornou ao publicar (Feiticeiras da Tessália), em 1978. Tessália, segundo a tradição grega, era uma região famosa por suas bruxas. Dentre as mais poderosas feiticeiras, estavam Meröe e Pamphile, ambas personagens da famosa obra de Apuleio, intitulada (séc. II D.C.). Inspirado nessa narrativa clássica, Pichard criou uma história em que, dessa vez, as vítimas eram os homens.

A adaptação de obras célebres é parte importante da biografia de Georges Pichard. Entre seus trabalhos mais bem sucedidos, está Carmen, aprés Mérimée, baseado na história original de seu conterrâneo Prosper Mérimée.

 La Comtesse Rouge


Em 1985, Pichard adaptou (A Condessa Vermelha) de Sacher-Masoch. A história é baseada em fatos reais da vida da Condessa Isabel Bathory, condenada em 1611 por sacrificar jovens virgens e banhar-se em seu sangue para preservar a juventude.



Mas o talento de Georges Pichard chega ao ápice naquela que será sua adaptação definitiva. Trata-se de Le Kama Soutra (O Kama Sutra), trabalho realizado em coautoria com Joseph-Marie Lo Duca, inspirado no de Vatsyayana e publicado em 1991.

O grau de maturidade de Pichard no manejo da pena é revelado nos rebuscados arabescos e floreios em nanquim, que emolduram cenas em que a sexualidade ganha o colorido do imaginário que o ocidente alimenta sobre um suposto oriente místico. Se há um lugar em que a arte consegue encontrar a obscenidade de uma maneira natural e rebuscada, é nessa obra de Pichard.
Georges Pichard morreu em 2003, aos 83 anos, sem jamais ter pedido desculpas pelas polêmicas que causou. Deixou-nos, além de uma extensa e formidável obra, apenas o testemunho de sua modéstia e uma justificativa para seu estilo, quando afirmou:

"Na verdade, desenhamos com as mãos que temos e com nossas tentativas desajeitadas de dominá-las. E não desenhamos exatamente o que queremos. Quando à minha representação de mulheres curvilíneas, essa é uma forma, como qualquer outra, de representar a feminilidade." (excerto de entrevista publicada em Cahiers de la BD, nº 27, em 1975).



FONTE:
http://papodehomem.com.br/18-toda-a-safadeza-de-georges-pichard/

segunda-feira, 25 de abril de 2016

MOVIE STARS


 Anita Ekberg
 Marilyn  Monroe
 AudreyHepburn
 Hedy Lamarr 
 Sophia Loren 

domingo, 24 de abril de 2016

OS HOMENS OCOS

por T. S. Eliot


Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada

Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;

Aqueles que atravessaram
De olhos retos, para o outro reino da morte
Nos recordam — se o fazem — não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

II

Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.

Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo

— Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular


(Trecho de “Os Homens Ocos”, de T.S. Eliot. Tradução de Ivan Junqueira)


quinta-feira, 21 de abril de 2016

terça-feira, 19 de abril de 2016

FOTOGRAFIAS

NO QUINTAL DE DONA ZEFA





 Fotografias de Ricardo Silva

segunda-feira, 18 de abril de 2016

UM SER REVOLTANTE E FALSO

por Friedrich Nietzsche, em ‘A Vontade de Poder


Quanta felicidade dá a grata suavidade das coisas! Como a vida é cintilante e de bela aparência! São as grandes falsificações, as grandes interpretações que sempre nos têm elevado acima da satisfação animal, até chegarmos ao humano. Inversamente: que nos trouxe a chiadeira do mecanismo lógico, a ruminação do espírito que se contempla ao espelho, a dissecação dos instintos?

Suponde vós que tudo era reduzido a fórmulas e que a vossa crença era confinada à apreciação de graus de verosimilhança, e que vos era insuportável viver com tais premissas… que fazíeis vós? Ser-vos-ia possível viver com tão má consciência?
No dia em que o homem sentir como falsidade revoltante a crença na bondade, na justiça e na verdade escondida das coisas, como se ajuizará ele a si mesmo, sendo como é parte fragmentária deste mundo? Como um ser revoltante e falso?


domingo, 17 de abril de 2016

sexta-feira, 15 de abril de 2016

CABEÇA DE PEDRA


Cabeça de Buda

Tenho uma cabeça de Buda aqui na minha mesa. Ela é formada por plaquinhas transparentes. Dentro tem uma lâmpada amarela e um fio que sai dali. Dificilmente acendo a cabeça, mas hoje resolvi fazer isso e colocá-la na janela do escritório que dá de frente para a rua. Fiquei pensando merda, meu exercício favorito para depois escrever coisas ditas sérias, e esqueci o Buda. Quando me toquei tinha uma multidão aglomerada no portão. Estavam em transe. Como eu sei? Desci lá e ninguém notou nem quando o motor do portão automático foi acionado. Olhavam na direção da cabeça e ninguém piscava. Olhei também. Aí não vi a cabeça. Melhor, vi a cabeça e o corpo inteiro flutuando e iluminado por dentro. Não conseguia mais me mexer, mas aquilo me deu uma paz nunca conseguida nem depois do gozo. Foi então que o caminhão do lixeiro passou com a algazarra de sempre. Não havia mais ninguém ali. Olhei de novo para a minha janela. A cabeça estava lá, mas apagada. Subi, tirei a lâmpada de dentro. Tinha queimado.

SOLDA

CÁUSTICO

SOLDA CÁUSTICO:http://cartunistasolda.com.br/

quinta-feira, 14 de abril de 2016

terça-feira, 12 de abril de 2016

sexta-feira, 8 de abril de 2016

MANOEL DE BARROS

Os deslimites da palavra

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas

MILLÔR


quinta-feira, 7 de abril de 2016

OS DOZE CONDENADOS

OS DOZE CONDENADOS (The dirty dozen, 1967, MGM Pictures, 150min) Direção: Robert Aldrich. Roteiro: Nunnally Johnson, Lukas Heller, baseado no romance de E. M. Nathanson. Fotografia: Edward Scaife. Montagem: Michael Luciano. Música: De Vol. Produção: Kenneth Hyman. Elenco: Lee Marvin, Ernest Borgnine, Richard Jaeckel, George Kennedy, Robert Ryan, John Cassavetes, Charles Bronson, Telly Savallas, Donald Sutherland, Trini Lopez, Jim Brown, Clint Walker, Tom Busby, Ben Carruthers, Stuart Cooper, Colin Maitland. Estreia: 15/5/67

4 indicações ao Oscar: Ator Coadjuvante (John Cassavetes), Montagem, Som, Efeitos Sonoros
Vencedor do Oscar de Efeitos Sonoros

***

As feministas que perdoem a afirmação, mas existe, sim, "filme de homem". E um exemplo claríssimo disso é "Os doze condenados", dirigido pelo mesmo Robert Aldrich que domou Bette Davis e Joan Crawford em "O que terá acontecido a Baby Jane?". Baseado em um romance de E.M. Nathanson, "Os doze condenados" é uma explosão de testosterona em cada fotograma, não abrindo espaço para nenhum tipo de sentimentalismo, dramas desnecessários ou senso de humor. É um grande filme, mas com um público-alvo específico - os fãs de filmes de guerra à moda clássica.


"Os doze condenados" começa em março de 1944, em Londres. O Major Reisman (Lee Marvin em papel recusado por John Wayne) é chamado à presença de um superior para receber uma nova e atípica missão. Conhecido por seus modos rebeldes e contrários à hierarquia, ele é escolhido para ser o comandante de uma missão aparentemente suicida - invadir um castelo na França onde os alemães guardam sua munição, explodí-lo e matar todos os soldados nazistas que estiverem presentes (assim como quem mais estiver por perto). Como seus comandados, o Major terá uma equipe de doze homens que pouco tem a perder - uma dúzia de condenados pela justiça militar (alguns à morte, outros à prisão perpétua) que, se bem sucedidos em sua perigosa batalha, estarão absolvidos de seus crimes. Entre os escolhidos por Reisman encontram-se o ex-soldado Wladislaw (Charles Bronson) - preso por atacar um superior -, Jefferson (Jim Brown) - um ativista dos direitos dos negros -, Franko (John Cassavetes) - um gângster rebelde -, Maggot (Telly Savallas) - um psicopata que mata mulheres que fogem dos padrões cristãos - e Pinkley (Donald Sutherland) - um homem com problemas mentais.

A primeira providência de Reisman é unir seus homens e fazer deles uma equipe coesa e sólida. Para isso, ele reúne a todos em um campo de treinamento rígido e implacável. É neste campo que os prisioneiros transformados em soldados tornam-se um time, deixando suas diferenças de lado em prol de um mesmo objetivo. Logo em seguida, depois de provarem ao superior de Reisman que são capazes de cumprir o que lhes foi proposto - mesmo quando chegam perto de perder sua possibilidade de perdão graças a uma festinha particular com algumas garotas de programa - chega a hora de partir para o ataque. Com suas vidas em jogo, a dúzia de imundos do título original se entregam de corpo e alma ao plano criado por seu líder.

"Os doze condenados" é um filme que vale por três. Seus três atos claramente delimitados poderiam facilmente ser produtos isolados e seriam interessantes o suficiente. Primeiro, o treinamento: é pouco provável que o espectador mais ligado não vá perceber semelhanças entre esta parte inicial com o primeiro ato de "Nascido para matar", de Stanley Kubrick - logicamente sem a violência deste último. Inúmeros filmes de guerra de certa forma utilizaram deste artifício para apresentar suas personagens e o trabalho de Aldrich é exemplar: com o encerramento do capítulo inicial, o público já está torcendo por seus "heróis", mesmo que saiba que eles são todos criminosos. É interessante notar que o roteiro não se detém em explicitar detalhadamente as razões que levaram os protagonistas à cadeia, o que por um lado os torna mais simpáticos à plateia, mas ao mesmo tempo enfraquece suas personalidades. O público, de certa forma, tem acesso apenas ao que está vendo, esquecendo já na metade do filme que está torcendo por homens que, em produções menos corajosas, seriam os vilões.

A segunda parte da trama mostra como os homens contatados por Reisman provam sua competência em relação ao que foi planejado e como tornaram-se realmente unidos. É talvez a parte menos empolgante do filme, mas que serve de ponte para a esperada e catártica terceira fase do roteiro de Nunnally Johnson e Lukas Heller: a missão propriamente dita.

É difícil descrever a elegância de Robert Aldrich em dirigir o terço final de "Os doze condenados". Sem apelar para uma violência exagerada - ainda que o tema e a proposta permitissem que ele fizesse isso - o cineasta rege uma sucessão de pequenas cenas que, concatenadas, formam um extraordinário clímax, que, revisto hoje, parece claramente ter inspirado Quentin Tarantino em seu "Bastardos inglórios": ao recusar-se a cortar uma cena crucial - que envolvia mulheres e crianças alemãs - o diretor demonstrou uma bravura louvável, que, dizem, lhe custou uma indicação ao Oscar.


"Os doze condenados" é um filme de guerra exemplar. Ao fugir do clichê de mostrar as batalhas em si, ele apresenta um lado até então inédito do conflito e cede espaço para algumas criações raras em obras do gênero: John Cassavetes, por exemplo, concorreu ao Oscar de ator coadjuvante por seu trabalho como o rebelde Franko e Donald Sutherland (herdando um papel recusado por outro ator), carimbou seu passaporte para um dos papéis principais de "M.A.S.H.", de Robert Altman - que lhe transformou em astro. Isso sem falar na atuação de Lee Marvin, ele mesmo um veterano da II Guerra, assim como Telly Savallas, Charles Bronson e Ernest Borgnine.
Maior sucesso de bilheteria da MGM no ano de 1967, "Os doze condenados" rendeu três sequências feitas para a TV e tem um remake marcado para 2012. É esperar para conferir o que a tecnologia moderna pode oferecer para melhorar ainda mais a incrível história criada por Nathanson.


FONTE:


quarta-feira, 6 de abril de 2016

FOTOS

NO QUINTAL DE DONA ZEFA





Fotografias de Ricardo Silva

terça-feira, 5 de abril de 2016

DISCOTECA BÁSICA

Tetê Espindola
Pássaros Na Garganta (1982)

por  Augusto TM

Existem discos que, para mim, são obras mais que preciosas. Discos que estão na minha lista dos ‘1000 melhores da música brasileira’. Pode soar esquisito dizer assim, mas mil me pareceu uma média boa, considerando a variedade e qualidade musical na nossa terra. Chego às vezes a pensar que este número ainda é pequeno, mas vou pegando por aí… Se considerarmos este disco da Tetê Espíndola como um trabalho regional, nesta classificação por géneros, posso afirmar que ele está entre os dez mais originais e melhores álbuns produzidos da década de 80 prá cá. Acho que estou escrevendo isso mais para afirmar o quanto “Pássaros na garganta” é um trabalho excepcional. “Sertaneja” de Rennê Bittencourt tem aqui (para mim) sua mais linda versão. Sem dúvida, o melhor álbum de Tetê. Apesar deste disco já ter sido postado em outros blogs (inclusive em minhas outras encarnações), faço questão de tê-lo também aqui. Como sempre, no capricho e completo!


MÚSICAS:

amor e guavira
cunhataiporã
canção dos vagalumes
olhos de jacaré
fio de cabelo
cuiabá
pássaros na garganta
sertaneja
longos prazeres de amor
paisagem fluvial
ibiporã
jaguadarte
galadriel
sertão

OUÇA:




DESESPERANÇA


Por  Manuel Bandeira

Esta manhã tem a tristeza de um crepúsculo.
Como dói um pesar em cada pensamento!
Ah, que penosa lassidão em cada músculo. . .

O silêncio é tão largo, é tão longo, é tão lento
Que dá medo… O ar, parado, incomoda, angustia…
Dir-se-ia que anda no ar um mau pressentimento.

Assim deverá ser a natureza um dia,
Quando a vida acabar e, astro apagado,
Rodar sobre si mesma estéril e vazia.

O demônio sutil das nevroses enterra
A sua agulha de aço em meu crânio doído.
Ouço a morte chamar-me e esse apelo me aterra…

Minha respiração se faz como um gemido.
Já não entendo a vida, e se mais a aprofundo,
Mais a descompreendo e não lhe acho sentido.

Por onde alongue o meu olhar de moribundo,
Tudo a meus olhos toma um doloroso aspeto:
E erro assim repelido e estrangeiro no mundo.

Vejo nele a feição fria de um desafeto.
Temo a monotonia e apreendo a mudança.
Sinto que a minha vida é sem fim, sem objeto…

- Ah, como dói viver quando falta a esperança!


domingo, 3 de abril de 2016

WILLIAM ROBINSON LEIGH




CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

sábado, 2 de abril de 2016

FACES

"Stay With Me"

AMOR BASTANTE


Paulo Leminski

quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante