sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Receita de Ano Novo

de  Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ver,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta ou recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



terça-feira, 20 de dezembro de 2016

domingo, 18 de dezembro de 2016

THE ROLLING STONES

Happy Live (1972)
First recorded between December 1971 and March, 1972. Released on Exile On Main Street in 1972.
Lead vox and electric guitar: Keith Richards
Slide guitar: Mick Taylor

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

RELÍQUIA MACABRA

The maltese falcon, 1941
Warner Bros, 100min. 
Direção: John Huston. Roteiro: John Huston, romance de Dashiel Hammett. Fotografia: Arthur Edeson. Montagem: Thomas Richars. Música: Adolph Deutsch. Figurino: Orry-Kelly. Direção de arte: Robert Haas. Produção executiva: Hal B. Wallis. Elenco: Humphrey Bogart, Mary Astor, Peter Lorre, Gladys George, Lee Patrick, Sydney Greenstreet.
*3 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Sydney Greenstreet) e Roteiro



Uma das mais frequentes críticas feitas às transposições de livros para o cinema é a falta de fidelidade ao material original, independente se tal material é um clássico absoluto ou o mais efêmero best-seller. Tal reclamação, no entanto, jamais poderá ser feito a respeito de “Relíquia macabra”, terceira adaptação do romance de Dashiell Hammet para as telas: apaixonado pela obra e por seu estilo seco e direto, o roteirista tornado diretor John Huston manteve, com fidelidade canina, a estrutura e os diálogos do livro original, um policial noir que não apenas estabeleceu os paradigmas do gênero como marcou a estreia de Huston como diretor e Humphrey Bogart como astro. Normalmente relegado a papéis de vilões ou gângsteres, Bogart tirou a sorte grande ao ser escalado para viver o detetive particular Sam Spade, criado por Hammett em 1930 e para o qual a Warner havia pensado seriamente em Edward G. Robinson. Cínico, quase amargo e insensível a ponto de não deixar que o amor atrapalhe qualquer um de seus negócios, Spade é uma espécie de pai de todos os detetives da ficção policial, nascido da experiência do próprio escritor na função. E ao lhe dar carne e osso, o ator – dois anos antes de assumir seu lado romântico em outro produto icônico do estúdio, “Casablanca”, de Michel Curtiz – forjou seu nome a ferro e fogo no ideário popular com um personagem que tornou-se, para o bem ou para o mal, a essência de sua carreira.

Suspenso pela Warner por ter se recusado a participar de “Três homens maus” (41), Bogart acabou sendo o escolhido pelo estúdio para viver o protagonista da nova versão do romance de Hammett – as duas primeiras, “O falcão maltês” (31) e “Satã encontrou uma dama” (43) não haviam sido exatamente sucessos comerciais nem tampouco haviam mudado a história do cinema. John Huston, porém, ainda não era o diretor do filme, cujo comando estava nas mãos de Jean Negulesco (que iria dirigir “Como agarrar um milionário”, com Marilyn Monroe e Lauren Bacall doze anos depois). Foi somente com a demissão de Negulesco que Huston, até então apenas roteirista, pegou sua chance com unhas e dentes: com um orçamento pequeno de 300 mil dólares e um elenco sem grandes astros, o cineasta de primeira viagem filmou o livro de Hammett em ordem cronológica e, aproveitando ao máximo do talento de cada membro da equipe, criou uma obra-prima que lhe colocou, de cara, no rol dos imortais da sétima arte.

Primeiro a fotografia em preto-e-branco de Arthur Edeson: fazendo uso exemplar do jogo de luz e sombra que se tornaria característica marcante do gênero nos anos 40, Edeson criou uma atmosfera envolvente de tensão e perigo, como se a cada esquina e atrás de cada porta houvesse a chance de uma violência inesperada e sádica – culminando com a sequência final, onde as sombras em forma de cela sugerem o destino de um dos vilões da trama. Depois, a trilha sonora de Adolph Deutsch, pouco intrusiva mas incisiva, comentando a ação sem jamais roubar a atenção para si mesma. E por fim, além da ambientação simples mas eficiente em sublinhar a temática da ambição desmedida e da traição, o elenco de encher os olhos. Se Bogart rouba a cena com seu imortal Sam Spade, os coadjuvantes não ficam atrás. Talvez Mary Astor não tenha exatamente o tipo físico de uma femme fatale – ela ficou com um papel para o qual foram consideradas Rita Hayworth, Ingrid Bergman e Olivia de Havilland - mas não deixa que isso atrapalhe sua composição da ambígua Brigid O’Shaughnessy, uma misteriosa mulher que adentra o escritório do protagonista para contratar seus serviços e o leva a uma espiral de morte e violência.

Tudo começa quando o sócio de Spade, Miles Archer (Jerome Cowan) é enviado pelo companheiro para vigiar o desconhecido Floyd Thursby, a pedido da própria Brigid. Quando ambos são mortos, cabe ao detetive buscar na misteriosa dama algumas respostas – principalmente porque a polícia já está no seu calcanhar. É então que entram no jogo novas peças, que levam a todos para um caminho completamente diferente. Um deles é o inglês Kasper Gutman (o ótimo Sidney Greenstreet, estreando no cinema aos 62 anos de idade e concorrendo ao Oscar de coadjuvante). O outro é o aparentemente delicado mas extremamente traiçoeiro Joel Cairo (Peter Lorre, o vampiro de Dusseldorf em pessoa). Ambos revelam que tudo gira em torno de um artefato histório, um falcão oriundo da ilha de Malta, incrustado de joias, que é o objeto do desejo de todos eles – e cuja posse os faz abdicar dos mais óbvios sentimentos humanos.

Uma fábula sobre amoralidade e ambição, “Relíquia macabra” é, também, um dos maiores filmes policiais da história por não ter medo em abraçar seus temas controversos ou criar personagens que fogem do padrão habitual do cinema comercial – em especial durante a vigência do famigerado Código Hays, que implicava com qualquer coisa que fugisse do convencional. Além disso, oferece um roteiro brilhante e repleto de cenas antológicas e diálogos inteligentes, que permite a seus atores demonstrarem um perfeito domínio de sua arte. Não é à toa que se mantém, mesmo com mais de sessenta anos, tão fresco quanto à época de seu lançamento. 


FONTE: 
http://clenio-umfilmepordia.blogspot.com.br/2016/09/reliquia-macabra.html


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

NASHVILLE PUSSY

Go to hell 
Live Trabendo 10/12/2002

domingo, 11 de dezembro de 2016

FERNANDO PESSOA


Tudo para nós, está em nosso conceito do mundo; modificar o nosso conceito do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, modificar o mundo, pois ele nunca será, para nós, senão o que é para nós. Aquela justiça íntima pela qual escrevemos uma página fluente e bela, aquela reformação verdadeira, pela qual tornamos viva a nossa sensibilidade morta — essas coisas são a verdade, a nossa verdade, a única verdade. O mais que há no mundo é paisagem, molduras que enquadram sensações nossas, encadernações do que pensamos. E é-o quer seja a paisagem colorida das coisas e dos seres — os campos, as casas, os cartazes e os trajos —, quer seja a paisagem incolor das almas monótonas, subindo um momento à superfície em palavras velhas e gestos gastos, descendo outra vez ao fundo na estupidez fundamental da expressão humana.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

JOHN LENNON

Slippin' and Slidin'


JOHN LENNON








John Winston Ono Lennon, nascido John Winston Lennon

Liverpool, 09 de outubro de 1940 / Nova Iorque, 08 de dezembro de 1980


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PHILIPPE DRUILLET








FERREIRA GULLAR


A estante


Naquele novo apartamento da rua Visconde de Pirajá pela primeira vez teria um escritório para trabalhar. Não era um cômodo muito grande mas dava para armar ali a minha tenda de reflexões e leitura: uma escrivaninha, um sofá e os livros. Na parede da esquerda ficaria a grande e sonhada estante que caberia todos os meus livros. Tratei de encomendá-la a seu Joaquim, um marceneiro que tinha oficina na rua Garcia D'Avila com Barão da Torre.

O apartamento não ficava tão perto da oficina. Era quase em frente ao prédio onde morava Mário Pedrosa, entre a Farme de Amoedo e a antiga Montenegro, hoje Vinicius de Moraes. Estava ali há uma semana e nem decorara ainda o número do prédio. Tanto que, quando seu Joaquim, ao preencher a nota da encomenda, perguntou-me onde seria entregue a estante, tive um momento de hesitação. Mas foi só um momento. Pensei rápido: "Se o prédio do Mário é 228, o meu, que fica quase em frente, deve ser 227. "Mas lembrei-me de que, ao ir ali pela primeira vez, observara que, apesar de ficar em frente ao do Mário, havia uma diferença na numeração.

— Visconde de Pirajá 127 — respondi, e seu Joaquim desenhou o endereço na nota.

— Tudo bem, seu Ferreira. Dentro de um mês estará lá sua estante.

— Um mês, seu Joaquim! Tudo isso? Veja se reduz esse prazo.

— A estante é grande, dá muito trabalho... Digamos, três semanas.

Contei as semanas. Não via chegar o momento de ter no escritório a estante sonhada, onde enfim poderia arrumar os livros por assunto e autores. E,mais que isso, sentir-me um escritor de verdade, um profissional, cercado de livros por todos os lados. No dia da entrega, voltei do trabalho apressado para ver minha estante.

— Como é, veio? — perguntei ao entrar.

— Veio o quê?

— Como o quê? A estante!

Não viera. Seu Joaquim não cumprira com a palavra empenhada, ah português filho de... Telefonei para ele sem dissimular, no tom da voz, minha irritação. E ele:

— Como não cumpri? Andei com dois homens de cima para baixo da rua e não encontrei o tal número que o senhor me indicou. Não existe na rua Visconde de Pirajá o número 127, senhor Ferreira.

Fiquei sem ação. Dera a ele o número errado.

— Diga-me o número certo e sua estante estará em sua casa amanhã mesmo.

Fiquei sem palavra. Se não era 127, qual número seria? Não era 227, disso
tinha certeza... E o Joaquim ao telefone:

— Qual o número, seu Ferreira?

— É 217, seu Joaquim... É isso, 217.

— Muito bem, 217. Já anotei. Amanhã terá sua estante.

Não tive. Ao chegar em casa e verificar que a estante não estava lá, conclui que havia dado de novo o número errado ao marceneiro. E corri para o telefone a fim de me desculpar.

— Seu Joaquim, é o senhor Ferreira... da estante.

— O senhor está querendo brincar comigo?

Fui tomado por um frouxo de riso, enquanto seu Joaquim, indignado, dizia que não ia mais entregar estante nenhuma, que eu fosse buscá-la, pois já era a segunda vez que subira e descera a Visconde de Pirajá, carregando aquela estante enorme, etc. etc...



*
O texto acima foi extraído do livro "A estranha vida banal", José Olympio Editora - Rio de Janeiro (RJ), 1989.

domingo, 4 de dezembro de 2016

THE ROLLING STONES

Midnight Rambler 
Live Marquee Club 1971


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

DARCY RIBEIRO


O ruim no Brasil e efetivo fator do atraso, é o modo de ordenação da sociedade, estruturada contra os interesses da população, desde sempre sangrada para servir a desígnios alheios e opostos aos seus…O que houve e há é uma minoria dominante, espantosamente eficaz na formulação e manutenção de seu próprio projeto de prosperidade, sempre pronta a esmagar qualquer ameaça de reforma da ordem social vigente.

SOLDA

CÁUSTICO



FABRÍCIO CARPINEJAR


Meu maior medo é viver sozinho e não ter fé para receber um mundo diferente e não ter paz para se despedir. Meu maior medo é almoçar sozinho, jantar sozinho e me esforçar em me manter ocupado para não provocar compaixão dos garçons. Meu maior medo é ajudar as pessoas porque não sei me ajudar. Meu maior medo é desperdiçar espaço em uma cama de casal, sem acordar durante a chuva mais revolta, sem adormecer diante da chuva mais branda. Meu maior medo é a necessidade de ligar a tevê enquanto tomo banho. Meu maior medo é conversar com o rádio em engarrafamento. Meu maior medo é enfrentar um final de semana sozinho depois de ouvir os programas de meus colegas de trabalho. Meu maior medo é a segunda-feira e me calar para não parecer estranho e anti-social. Meu maior medo é escavar a noite para encontrar um par e voltar mais solteiro do que antes. Meu maior medo é não conseguir acabar uma cerveja sozinho. Meu maior medo é a indecisão ao escolher um presente para mim. Meu maior medo é a expectativa de dar certo na família, que não me deixa ao menos dar errado. Meu maior medo é escutar uma música, entender a letra e faltar uma companhia para concordar comigo. Meu maior medo é que a metade do rosto que apanho com a mão seja convencida a partir com a metade do rosto que não alcanço. Meu maior medo é escrever para não pensar.


MARILYN MONROE


ZÉ DA SILVA


CONGESTÃO

Por favor, chamem a ambulância do SAMU! Não sei o que aconteceu que me deu a louca de ler numa sentada o Catatau do Paulo Leminski e o Ulisses, do James Joyce. Sempre evitei. Sou um pé rapado que aprendi a ler, escrever e fazer duas operações matemáticas. Mas, por acaso, comecei a dividir em pílulas o que entrou na minha vida desde quando a Rosinha, Minha Canoa atracou no meu porto de vida. Tá certo que voei rápido – porque fui tateando até encontrar os que considero grandes – e aí entram os russos, americanos e baianos como o João, aquele Ubaldo. Viva o Povo Brasileiro me deixou sem capacidade de viver o real do momento durante muito tempo. Foi com ele que me viciei em ler aos pouquinhos, um tiquinho de cada vez, porque foi naquele livro imenso, em todos os sentidos, grosso, como contava o autor, que quase tive um piripaque ao engatar um dia e uma noite sem tirar os olhos do universo com cheiro deste país mágico e estropiado pela própria natureza. Depois disso só tive uma crise com o Chandler, o Raymond – mas isso é outra conversa. Não sei o que aconteceu agora. Acho que me falaram num sonho para ler o Catatau Ulisses de uma vez a fim de passar para outro patamar da minha existência que, fora disso, é tão medíocre quanto o da maioria dos conterrâneos. Deu no que deu: uma congestão na alma. Cadê a ambulância?




quarta-feira, 30 de novembro de 2016

FERNANDO PESSOA


" Cada qual tem o seu álcool. Tenho álcool bastante em existir. Bêbado de me sentir, vagueio e ando certo. Se são horas, recolho ao escritório como qualquer outro. Se não são horas, vou até ao rio fitar o rio, como qualquer outro. Sou igual. E por trás disso, céu meu, constelo-me às escondidas e tenho o meu infinito."

THE JIMI HENDRIX EXPERIENCE

Jimi Hendrix Experience at The Lulu Show


sábado, 26 de novembro de 2016

FOTOGRAFANDO

Em Alagoas






Fotografias de Ricardo Silva

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

DISCOTECA BÁSICA

Dave Brubeck Quartet
Time Out (1959)


Por  Ricardo Seelig / Collector´s Room


Além de ser um dos álbuns mais populares da história do jazz, Time Out é também um trabalho fundamental para o estilo. Gravado pelo pianista Dave Brubeck ao lado dos excepcionais Paul Desmond e Joe Morello, o quarteto era completado pelo seguro Eugene Wright no baixo.

O trabalho tem sete faixas, sendo que duas delas são peças fundamentais para o desenvolvimento do cool jazz. "Blue Rondo A La Turk" contém um arranjo matemático, com Brubeck desenvolvendo variações dentro do arranjo. O estilo de Dave, que toca o seu piano de uma forma quase percussiva, funciona como o coração da canção, criando uma base sólida para os demais integrantes alçarem vôos sem limites.


Paul Desmond, instrumentista brilhante e criativo, é, ao lado de Brubeck, o personagem principal de Time Out. A liberdade e a sensibilidade que saem de cada nota de seu sax são tão grandes que, mesmo ouvindo o álbum inúmeras vezes, a cada nova audição somos surpreendidos por novas sensações.

O brilho de Desmond fica escancarado em "Take Five", composição de sua autoria e uma das mais conhecidas do jazz. Brilhante e única, "Take Five" por si só justificaria a inclusão de Time Out entre os grandes álbuns do século XX. Uma faixa perfeita, com solos antológicos de Paul Desmond e Joe Morello.

O piano de Dave Brubeck, preciso e repleto de malícia e feeling em diversos momentos do álbum, conduz Time Out ao posto de álbum funcamental da história da música. Além disso, o disco tem a rara qualidade de ser um trabalho que cativa e agrada até o ouvinte não habituado ao estilo que contém, e, por essa razão, é indicado por muitos como porta de entrada para o jazz.

Clássico e fundamental.



FERNANDO PESSOA


"A vida, para mim, é uma sonolência que não chega ao cérebro. Esse conservo eu livre para que nele possa ser triste."


quinta-feira, 24 de novembro de 2016

sábado, 19 de novembro de 2016

ZÉ DA SILVA

MEDO E PAVOR

Caubói. Dose tripla do “Velho Jack”. O balcão, pra mim, parecia mais uma obra de Dali. Era o quinto bar que passava. Não lembrava quais os outros e nem o que tinha bebido. Há muito tempo estava com este pequeno problema que chamam de “apagamento”. O meu era no ato, não daqueles que, no dia seguinte, ressaca fenomenal, a gente tenta lembrar como conseguiu chegar em casa – e blicas. Não sei se paguei. Saí. Meu carro? Eu tinha carro? Fui andando encostado às paredes para não desabar. Sem prumo. Sem Rumo. Caí porque uma parede acabou. Olhei do chão. Era um beco. Tão escuro como minha vida. Levantei. O porre federal pareceu ter ido embora. Algo me incentivava a ir em frente. Senti medo. Foi aí que vi, ou achei que vi. Eram cabeças apenas. Alguma luz iluminava-as de forma tênue. Delirium? Não, estava sóbrio naquela hora, tanto que senti o xixi quente escorrendo perna abaixo. Os olhos que me fitavam eram cor de sangue. Bocarras escancaradas mostravam dentes podres. Não parei de andar. Achei que meu fim chegara dessa forma. No beco escuro. Então, uma luz forte iluminou meu rosto. Tive uma cegueira momentânea. Por isso gritei. Não sei o quê. A luz apagou e eu vi, juro!, eu vi todas aquelas cabeças se virando e sumindo em alta velocidade. Eles sentiram pavor. Eu fui o motivo.



sexta-feira, 18 de novembro de 2016

MORTE EM VENEZA


Morte a Venezia, 1971, Alfa Cinematografica, 130min.
Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Luchino Visconti, Nicola Baudalucco, romance de Thomas Mann. Fotografia: Pasquale Di Santis. Montagem: Ruggero Mastroianni. Figurino: Piero Tosi. Direção de arte/cenários: Ferdinando Scarfiotti. Produção executiva: Mario Gallo. Produção: Luchino Visconti. Elenco: Dirk Bogarde, Bjorn Andresen, Silvana Mangano, Marisa Berenson, Romolo Valli. 
Estreia: 01/03/1971

*Indicado ao Oscar de Figurino


A sequência inicial, ao som de Gustav Mahler, já dá o tom melancólico do que virá pela frente. "Morte em Veneza", adaptação do clássico romance de Thomas Mann, encontrou em Luchino Visconti o diretor ideal. Esteta por natureza e provavelmente o cineasta europeu que melhor soube retratar a decadência da aristocracia - sempre de forma sutil e elegante - o autor de obras-primas como "O leopardo" e "Rocco e seus irmãos" (quando ainda flertava com o neorrealismo italiano) fez da história criada por Mann um estudo visual e sensorial sobre a beleza, a arte e a juventude que, se requer do espectador uma paciência rara nos dias que seguem, oferece em troca um espetáculo de sensibilidade e delicadeza.

Provavelmente a maior e mais significativa alteração do filme em relação ao livro é a mudança da profissão de seu protagonista, Gustav von Aschenbach, de escritor para compositor, o que de certa forma traduz com mais consistência sua busca pelo esteticamente perfeito, pela arte suprema, pela beleza primal. Ao passar um período de férias em Veneza - depois da trágica morte da filha, da falência de seu relacionamento e da incompreensão em relação à sua última obra - Aschenbach encontra em Tadzio (Bjorn Andresen) a encarnação absoluta de tudo em que acredita: o adolescente, que está na cidade acompanhado da numerosa família, representa para o compositor, com seus traços andróginos e placidez serena, todo o frescor da juventude que ele vê aos poucos esvaindo de si mesmo. Obcecado pelo rapaz, a quem persegue de longe, ele mal se dá conta de uma epidemia de cólera que vai tomando conta da cidade onde está hospedado.

Contando sua intimista história com um mínimo de diálogos - quase todos em flashbacks que mostram ao público os caminhos que levaram o protagonista à sua situação de desilusão pela vida - Visconti prefere, acertadamente, deixar que suas poderosas imagens falem mais do que as palavras. Ao som da belíssima trilha sonora que faz uso exemplar de Mahler, Aschenbach desfila sua pungente tristeza pelas ruas fotografadas com perfeição pelo mestre Pasquali De Santis, perseguindo não apenas Tadzio, mas o ideal de pureza que ele transmite. Atraído cada vez mais pelo jovem - que simultaneamente o encoraja com olhares dúbios e o afasta com sua frieza - o músico acaba deixando-se levar pela obsessão, mesmo vendo sua saúde debilitar-se a cada dia.

"Morte em Veneza" pode ser compreendido de várias maneiras, e provavelmente todas elas estarão corretas - o que certamente eleva um produto à categoria de arte. Tanto pode ser visto como a história de um artista frente à frente com a beleza extrema - e sua incapacidade de lidar com maturidade diante dela - quanto como a obsessão de um homem mais velho por um adolescente - o que é mais polêmico, mais desconcertante e impactante, principalmente porque tanto Mann quanto Visconti tratam seu protagonista com respeito e sinceridade. Retratar Aschenbach no cinema politicamente correto de hoje seria detonar uma bomba de consequências imprevisíveis - o que não deixa de deixar a todos curiosos com a possibilidade de um remake sob as mãos de Peter Greenaway. O desejo de Aschenbach por Tadzio tem diversas camadas, tanto sexuais quanto estéticas, tanto amorosas quanto ideológicas e é justamente essa complexidade de seu tratamento que o faz, ainda nesses tempos cínicos, uma obra provocadora e instigante.

Interpretado com coragem por Dick Borgarde, Gustav von Aschenbach encontra no filme de Visconti uma encarnação excepcional. Com seu olhar tímido e seus modos acanhados, que vão transformando-se aos poucos em coragem e enlevo absoluto, Bogarde exprime, quase sem falar, uma infinidade de sentimentos. A metamorfose de seu personagem - que vai do quase recluso e discreto hóspede a um pouco sutil e apaixonado homem de meia-idade mergulhado na obsessão - é tratado com delicadeza e as lentes de Visconti apenas acompanham a transformação, assim como ele acompanha Tadzio pelas ruas de Veneza em longas sequências de beleza ímpar. E, se para o público atual a beleza quase feminina de Tadzio não justifica tanta paixão por parte de Aschenbach, é inegável que a beleza do filme mantém-se inacta mesmo depois de quatro décadas.

"Morte em Veneza" é cinema-arte. É um ensaio sobre a beleza, sobre a juventude, sobre a obsessão, sobre a velhice, sobre o amor. Mas é, sobretudo, uma obra-prima inquestionável.


domingo, 13 de novembro de 2016

DAFT PUNK

Technologic


FERNANDO PESSOA


O cego e a guitarra

O ruído vário da rua
Passa alto por mim que sigo.
Vejo: cada coisa é sua
Oiço: cada som é consigo.

Sou como a praia a que invade
Um mar que torna a descer.
Ah, nisto tudo a verdade
É só eu ter que morrer.

Depois de eu cessar, o ruído.
Não, não ajusto nada
Ao meu conceito perdido
Como uma flor na estrada.

Cheguei à janela
Porque ouvi cantar.
É um cego e a guitarra
Que estão a chorar.

Ambos fazem pena,
São uma coisa só
Que anda pelo mundo
A fazer ter dó.

Eu também sou um cego
Cantando na estrada,
A estrada é maior
E não peço nada.


SOLDA

CÁUSTICO
SOLDA CÁUSTICOhttp://cartunistasolda.com.br/

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

DANÇA MORTAL


A morte me chamou pra dançar. 
Não era valsa, salsa ou mambo
Era uma melodia divina
Nunca dantes ouvida.
Dancei!

LEONARD COHEN

Cantor e compositor Leonard Cohen morre aos 82 anos



Um dos mais influentes artistas do século 20, o canadense Leonard Cohen morreu na quinta-feira (10), aos 82 anos.

A informação foi confirmada por sua gravadora em uma publicação em sua página no Facebook. “É com profundo pesar que informamos que o legendário poeta, compositor e artista Leonard Cohen morreu. Perdemos um dos mais prolíficos e visionários músicos”, afirma a nota.

O comunicado ainda diz que um funeral deve acontecer em Los Angeles “nos próximos dias”: “A família pede privacidade em seu luto”.

A causa da morte de Cohen não foi divulgada. Sabia-se, porém, que sua saúde estava debilitada. Em outubro, lançou seu último álbum, “You Want it Darker”, espécie de carta de despedida do artista.

Conhecido por suas canções melancólicas em letras poéticas, que o colocam em um mesmo patamar que Bob Dylan e Joni Mitchell, o canadense foi mais fundo em sua última obra. Algumas faixas falavam claramente na morte: “Estou pronto, meu Senhor”.

Cohen nasceu numa família de classe média judaica –mais velho, se tornaria budista. Ainda jovem, começou a estudar música e poesia. Em 1956, publicou seu primeiro livro: “Let Us Compare Mythologies”, pioneiro entre os 13 livros de poesia que publicaria.

Na música, suas composições ficaram conhecidas, por vezes, na voz de outros intérpretes. Ele entrou na indústria fonográfica em 1967, quando Judy Collins gravou “Suzanne” e transformou sua canção em um sucesso.

Mesmo o hino “Hallelujah”, que escreveu nos anos 1980 e foi gravado mais de duzentas vezes, é mais lembrado na versão de Jeff Buckley, que a gravou em 1994.

Seu timbre –uma voz tenebrosa, quase sussurrada– embalou ao longo de toda a carreira canções sobre amor, espiritualidade, sexo, guerras e depressão.

O sucesso com a própria voz, porém, não veio em sua juventude na década de 1960, caso de outros artistas de sua geração, mas quando ele já passava dos 70 anos.

DESPEDIDA

Em outubro, Cohen falou com clareza sobre a morte em entrevista à revista americana “The New Yorker”. Disse que estava pronto para morrer. “Espero que não seja tão desconfortável. Para mim, é sobre isso que se trata.”

À publicação o músico, que se disse uma pessoa obcecada com organização, falou sobre os vários poemas e composições inacabadas e inéditos que gostaria de concluir, mas não se mostrava muito esperançoso, indicando a morte como o grande desafio para a conclusão de seus projetos.

“Não acho que conseguirei acabar essas músicas. Talvez, quem sabe? Talvez eu tenha uma segunda chance, não sei, não me atrevo a me atrelar a uma estratégia espiritual. Tenho trabalho a fazer. Estou pronto para morrer.”

Na entrevista, Cohen celebrou estar menos distraído do que em outros momentos de sua vida, quando tinha preocupações como o sustento, a vida conjugal e os deveres paternos, o que em consequência permitia que ele se concentrasse mais no seu trabalho.

Entre as diversas honrarias que recebeu, estão um Grammy honorário em 2010, por sua trajetória, e a menção no Rock and Roll Hall of Fame, em 2008.

Cohen deixa dois filhos, Lorca e Adam Cohen, do casamento com Suzanne Elrod.



Folha de São Paulo



SOLDA CÁUSTICO: http://cartunistasolda.com.br/

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

FOTOGRAFANDO

DE TUDO UM POUCO






Fotografias de Ricardo Silva

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

GRACILIANO RAMOS

(Trecho final de São Bernardo)


A agitação diminui. 
- Estraguei a minha vida estupidamente. 
Penso em Madalena com insistência. Se fosse possível recomeçarmos ... Para que enganar-me? Se fosse possível recomeçarmos, aconteceria exatamente o que aconteceu. 
Não consigo modificar-me, é ò que me aflige. 
A molecoreba de Mestre Caetano arrasta-se por aí, lambuzada, faminta. A Rosa, com a barriga quebrada de tanto parir, trabalha em casa, trabalha no campo e trabalha na cama. O marido é cada vez mais molambo. E os moradores que me restam são uns cambembes como ele. 
Para ser franco, declaro que esses infelizes não me inspiram simpatia. Lastimo a situação em que se acham, reconheço ter contribuído para isso, mas não vou além. 
Estamos tão separados! A princípio estávamos juntos, mas esta desgraçada profissão nos distanciou. Madalena entrou aqui cheia de bons sentimentos e bons propósitos. Os sentimentos e os propósitos esbarraram com a minha brutalidade e o meu egoísmo. 
Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins. 
E a desconfiança terrível que me aponta inimigos em toda a parte! 
A desconfiança é também consequência da profissão. 
Foi este modo de vida que me inutilizou. Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos dos outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.
Se Madalena me via assim, com certeza me achava extraordinariamente feio.

Fecho os olhos, agito a cabeça para repelir a visão que me exibe essas deformidades monstruosas. 
A vela está quase a extinguir-se. Julgo que delirei e sonhei com cheios e uma figura de lobisomem. Lá fora há uma treva dos diabos, um grande silêncio. 
Entretanto o luar entra por uma janela fechada e o nordeste furioso espalha folhas secas no chão. 
É horrível! Se aparecesse alguém ... Estão todos dormindo. Se ao menos a criança chorasse ... 
Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria! Casimiro Lopes está dormindo. 
Marciano está dormindo. Patifes! E eu vou ficar aqui, às escuras, até não sei que hora, até que, morto de fadiga, encoste a cabeça à mesa e descanse uns minutos.

O CORCUNDA DE NOTRE DAME


The hunchback of Notre Dame, 1939
RKO Radio Pictures, 117min.
Direção: William Dieterle. Roteiro: Sonya Levien, adaptação de Bruno Frank, romance de Victor Hugo. Fotografia: Joseph H. August. Montagem: William Hamilton, Robert Wise. Música: Alfred Newman. Figurino: Walter Plunkett. Direção de arte/cenários: Van Nest Polglase/Darrell Silvera. Produção: Pandro S. Berman. Elenco: Charles Laughton, Maureen O'Hara, Cedric Hardwicke, Thomas Mitchell, Edmond O'Brien, Alan Marshal. Estreia: 29/12/39
2 indicações ao Oscar: Trilha Sonora Original e Som.


Em 1831, quando o escritor francês Victor Hugo lançou aquele que se tornaria mais uma de suas obras-primas, "O corcunda de Notre Dame", seu livro lidava, entre outras coisas tais como intolerância e a hipocrisia religiosa. Quando Hollywood resolveu transpor sua história para as telas pela primeira vez, em 1923, ainda na época do cinema mudo e com Lon Chaney no papel principal, sua trama central já estava, graças aos severos códigos de censura que ditavam os rumos das produções, bem menos desafiadora e crítica. Algumas alterações na história central suavizaram o tom iconoclasta do romancista e o filme estreou sem maiores problemas. Por isso, não é de surpreender que a mais bem considerada versão do livro para o cinema, lançada no final de 1939, siga as mesmas diretrizes pouco ofensivas à moral e aos bons costumes do público que assistia, à mesma época, filmes como "... E o vento levou". Realizado sob os olhares rígidos do Código Hays, "O corcunda de Notre Dame", de William Dieterle, aceita as modificações de seu antecessor, mas não deixa de ser um espetáculo de primeira grandeza, comandado por uma atuação impecável do britânico Charles Laughton.

Um dos filmes mais caros produzidos até então pela RKO - sob um custo estimado de 1,8 milhão de dólares - e precedido por uma campanha de marketing agressiva e que escondia da plateia um de seus maiores trunfos (a pesada maquiagem que levava duas horas e meia por dia para ser aplicada em Laughton), "O corcunda de Notre Dame" tinha como principal meta suplantar na memória do público a versão realizada doze anos antes. Da estreia do filme com Chaney até 1939, diversas outras versões da mesma história chegaram perto de se tornarem realidade - em especial uma produção da Universal, em 1932, dirigida por John Huston e estrelada por Boris Karloff como parte de sua série de monstros; e uma outra, em 1937, na MGM, que teria Peter Lorre no papel-título. Para sorte do produtor Irving Thalberg, no entanto, nenhum dos projetos passou da fase de especulações, e o que parecia apenas um sonho em 1934 (quando ele apresentou a ideia ao ator inglês), finalmente tornou-se realidade. Deixando para trás nomes como Bela Lugosi, Claude Rains, Lon Chaneu Jr. e até mesmo Orson Welles - todos considerados para a hipótese de o Setor de Imigração impedí-lo de atuar nos EUA - Charles Laughton criou a mais brilhante representação, nas telas, do anti-heroi de Victor Hugo, impressionante até mesmo nos cínicos dias de hoje.

A trama engendrada por Victor Hugo - e roteirizada por Sonya Levien a partir de uma adaptação de Bruno Frank - se passa na França do século XV, sob os domínios do Rei Louis XI (Harry Davenport). Em Paris, existe um preconceito generalizado contra ciganos e é nesse ambiente em que a bela Esmeralda (Maureen O'Hara) chega com seu grupo e desperta o fascínio de Frollo (Cedric Hardware), o irmão do Arcebispo (Walter Hampden). Incapaz de lidar com o desejo por alguém que considera inferior, Frollo incrimina Esmeralda por um assassinato que ela não cometeu. Respeitado por sua posição social e homem das leis, ele acaba por condenar a cigana à morte. Na hora de sua execução, porém, ela é salva por Quasímodo (Charles Laughton), o sineiro da catedral de Notre Dame, que, deformado e mantido escondido pelo Arcebispo devido a suas deformidades físicas, é frequentemente exposto a humilhações e zombarias por parte do povo. Protegendo Esmeralda - que um dia havia sido a única a oferecer-lhe água depois de uma sessão de chicotadas a qual ele fora condenado injustamente - nos domínios da catedral, considerado lugar neutro, Quasímodo mostra à ela que seu aspecto monstruoso difere muito de sua alma e seu coração puro.

Mesmo se distanciando do romance original, a versão dirigida por William Dieterle - cineasta de origem alemã que também assinou os oscarizados "A história de Louis Pasteur" (35) e "Emile Zola" (36) - é um filme brilhante, equilibrando com perfeição uma contundente crítica social com uma fascinante história de amor platônico. A atuação inesquecível de Charles Laughton, que transmite toda a dor da rejeição pela diferença reflete o belo trabalho de John Hurt em "O homem elefante", realizado 41 anos mais tarde, e sua relação com Esmeralda foge com inteligência do grotesco ou do simplesmente pueril, graças principalmente à bela química do ator com Maureen O'Hara - não à toa, escolhida pessoalmente por ele para integrar o elenco. Sem um galã romântico tradicional forte o bastante para fazer frente ao carisma de Quasímodo, o corcunda acaba por tornar-se o anti-herói, em mais uma subversão dramática que engrandece o filme e o transforma em uma experiência única.


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

EUMIR DEODATO

Also Sprach Zarathustra
Euro Groove Department Live


domingo, 6 de novembro de 2016