sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ZÉ DA SILVA


CONGESTÃO

Por favor, chamem a ambulância do SAMU! Não sei o que aconteceu que me deu a louca de ler numa sentada o Catatau do Paulo Leminski e o Ulisses, do James Joyce. Sempre evitei. Sou um pé rapado que aprendi a ler, escrever e fazer duas operações matemáticas. Mas, por acaso, comecei a dividir em pílulas o que entrou na minha vida desde quando a Rosinha, Minha Canoa atracou no meu porto de vida. Tá certo que voei rápido – porque fui tateando até encontrar os que considero grandes – e aí entram os russos, americanos e baianos como o João, aquele Ubaldo. Viva o Povo Brasileiro me deixou sem capacidade de viver o real do momento durante muito tempo. Foi com ele que me viciei em ler aos pouquinhos, um tiquinho de cada vez, porque foi naquele livro imenso, em todos os sentidos, grosso, como contava o autor, que quase tive um piripaque ao engatar um dia e uma noite sem tirar os olhos do universo com cheiro deste país mágico e estropiado pela própria natureza. Depois disso só tive uma crise com o Chandler, o Raymond – mas isso é outra conversa. Não sei o que aconteceu agora. Acho que me falaram num sonho para ler o Catatau Ulisses de uma vez a fim de passar para outro patamar da minha existência que, fora disso, é tão medíocre quanto o da maioria dos conterrâneos. Deu no que deu: uma congestão na alma. Cadê a ambulância?




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