por MARCOS BROLIA
Frenzy (1972)
1972 / Reino Unido / 116 min / Direção: Alfred Hitchcock / Roteiro: Anthony Shaffer (baseado na obra de Arthur La Bern) / Produção: Alfred Hitchcock, William Hill (Produtor Associado) / Elenco: Jon Finch, Alec McCowen, Barry Foster, Billie Whitelaw, Anna Massey
Frenesi é o penúltimo filme dirigido pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcok, em sua volta a Londres depois de duas décadas sem filmar por lá, e sem dúvida é sua obra mais misógina e fetichista.
Para contar a história de um serial killer que é um psicopata sexual que mata mulheres enforcadas com suas gravatas, Hitchcok faz nesse filme uma verdadeira amálgama de vários elementos que utilizou em diversos longas que dirigiu em toda a sua carreira. Há claro, uma dose cavalar de suspense, qualidade técnica indiscutível, ângulos inusitados, personagens curiosos, misoginia e seu famoso humor mórbido e sagaz.
Há dois personagens centrais na história de Frenesi: Richard Blaney é um ex-combatente militar, azarado por natureza, que à primeira vista teria tudo para se tornar um sociopata: é divorciado, bruto, alcoólatra, mal educado, vive rondando de emprego em emprego enfadonho por não conseguir se estabelecer, não tem um centavo no bolso e ainda não conta nem um pouco com a sorte. Seu melhor amigo é Robert Rusk, exatamente o contrário de Blaney: bem sucedido, possui dinheiro, um trabalho estável, pois é dono de uma loja de frutas no mercado de Londres, boa pinta, polido, bom filho, simpático a todos, e por aí vai.
Já mencionei o azar de Blaney certo? Pois bem, ele é aquele tipo que está na hora errada e no lugar errado. Ao visitar sua ex-mulher que agora tem um negócio de arrumar casamentos (olha a ironia, mesmo o casamento deles ter sido um fracasso), ele deixa o local sem saber que ela acabou de ser assassinada pelo famigerado Assassino da Gravata, e é visto pela sua secretária. Pronto, isso faz com que a Scotland Yard o considere suspeito número um.
O filme então vai se concentrando na não eficiente investigação policial conduzida pelo Inspetor Oxford, na tentativa de Blaney tentar livrar sua barra, pedindo ajuda para sua namorada atual, a atendente de bar Babs e até para Rusk, entre outras pessoas, e os próximos passos do assassino, que antes da metade do filme já é revelada sua identidade, não tornando-o um daqueles filmes de suspense chavão, onde você precisa assistir até o último minuto para saber quem matou Odete Roithman.
Sem precisar se preocupar em esconder a identidade do assassino para o público, Hitchcock pode aqui trabalhar no modus operandi do criminoso, sempre com sua maestria de costume, não apelando para cenas explícitas e apelativas, mas assustando da mesma forma, principalmente na cena onde ele estupra e estrangula a ex-Sra. Blaney. Além disso, alguns momentos da mais pura tensão são memoráveis, como quando por um descuido, o assassino deixa uma pista em sua próxima vítima, ao tentar despachá-la em um saco dentro de um caminhão cheio de batatas. Para tentar reparar o deslize, ele entra no caminhão que sai andando e ele começa a passar por uma terrível situação, lidando em um veículo em movimento, com um cadáver já apresentando rigor-mortis e um tanto de batatas atrapalhando-o de recuperar seu item perdido.
Outro ponto positivo da história são as cenas de humor sutis, mas muito engraçadas, que ele usa como alívio cômico para atenuar mortes fetichistas cometidas por um homem desequilibrado com tendências masoquistas sexuais. Entre elas, estão os jantares entre o Inspetor Oxford e sua esposa, que está em um curso de culinária francesa e prepara apenas práticos excêntricos para o pobre marido, como sopa de peixes e enguias e pés de porco, ambas de aparência repugnante, enquanto discutem detalhes circunstanciais do crime, sendo que na verdade o pobre policial quer apenas carne, batatas e linguiças para comer. E sem contar a deliciosa e sarcástica cena final do filme, quando o verdadeiro assassino é pego com a boca na botija.
O filme não é dos mais brilhantes da extensa carreira de Hitchcock, ainda mais revisitando um gênero que ele já trabalhou antes com perfeição, como Psicose. Mas o roteiro com suas reviravoltas é bastante consistente e prende a atenção do espectador. Roteiro esse baseado na novela “Good Bye Piccadilly, Farewell Leicester Square” de Arthur Le Bern, e adaptado por Anthony Shaffer, que mais tarde escreveria o controverso O Homem de Palha. Hitchcock nunca deixa de ser uma boa pedida. Frenesi não foge a regra.
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