por Zé da Silva
TOURO
Abriram o joelho dele. Estava na morte proporcionada pela anestesia. Depois, mostraram a foto. Era pior que o que viu num açougue. Era tão dolorido quanto o grito do porco que esperneou quando lhe enfiaram uma peixeira para atingir um coração e erraram. Finalmente tinha se visto por dentro. Se apavorou. Perto daquilo, as catacumbas visitadas no pior das depressões eram estações do paraíso. A capa que imaginava inatingível, cortada por um bisturi minúsculo para a exposição na tela do computador daquele emaranhado tétrico. Ossos, músculos, nervos, tendões. Costuraram. E continuaram a fotografar. O alinhavo era algo parecido com a buchada de bode apresentada num boteco de azulejos azuis e moscas voando numa cidadezinha de beira de estrada no Nordeste. Ele olhou de novo todas as fotos, fechou a tela e ficou alisando a cicatriz imensa, pele esgarçada, dorzinha por dentro que vai acompanhá-lo até o fim da vida. Estou ali dentro, pensou. O avesso somos nós, filosofou. Então, abriu a gaveta e mais uma vez apreciou a coleção de armas brancas.
SOLDA CÁUSTICO:http://cartunistasolda.com.br/
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