segunda-feira, 8 de abril de 2013

DISCOTECA BÁSICA

AC/DC
HIGHWAY TO HELL  (1979)



(Edição 154,Maio de 1998) 

A introdução deste texto é destinada a quem ainda não era nascido em 1979. Naquele ano, ser fã de rock era missão para gente perseverante. Afinal, o furacão punk (que nem foi tão furacão assim) já definhava, restando apenas o Clash e sua peregrinação rítmica por jazz, ska, rockabilly e  musicais da Broadway, que resultaria nos ótimos London Calling e Sandinista!. 

O som dominante, porém, ainda era disco. ABBA, Boney M. e Bee Gees brigavam pelo topo das paradas. De rock mesmo, só Queen, Van Halen e AC/DC. O Queen havia passado por sua fase mais criativa e o Van Halen era uma ótima banda, mas sem um ótimo álbum. Sobrou ao AC/CD a incumbência de fazer o melhor disco de rock da temporada. E Highway To Hell tem muitos predicados para merecer todas as honras. 

O grupo dos irmãos Young (Malcolm, guitarra base, e Angus, guitarra-solo) vinha de uma série de turnês consagradoras, bem registradas no filme Let There Be Rock e no CD ao vivo If You Want Blood (You’ve Got It). A formação era a melhor que a banda já teve: Bon Scott nos vocais, Angus e Malcolm Young nas guitarras, Phil Rudd na bateria e Cliff Williams no baixo. Só que os álbuns anteriores tinham grandes clássicos ("Whole Lotta Rosie", "Problem Child"), mas estavam longe de ser uma obra completa. Até chegar a Highway To Hell. 

O quinteto trabalhou novamente com John "Mutt" Lange na produção. Apoiado na popularidade do AC/DC, Lange ousou. No lugar da massa sonora habitual do rock pesado, preferiu gravar pistas de guitarra limpas, sobrepostas com sutileza suficiente para ressaltar o lado blues da banda. O produtor burilou o agudo do vocal de Bon Scott e usou todos os membros do grupo no coro de apoio. O resultado é mais peso e menos barulho, passando muito longe do padrão tosco das bandas da época. 

O grupo inovou o gênero sem abrir mão de seus preceitos básicos: as letras machistas e fanfarronas, enclausuradas no binômio mulheres/bebida, a busca de uma melodia básica ao extremo, com uma batida quase marcial, e os solos alucinantes de Angus Young, o guitarrista das calças curtas que toca como se estivesse ligado à corrente que passa no fio do instrumento. 

O álbum inteiro soa como um greatest hits, embora "Walk Over You" e "Shot Down In Flames" se destaquem como as peças mais elaboradas. A pegada mais blueseira de "Beating Around The Bush" e "Love Hungry Man" ajudou a banda a ganhar um público mais adulto. E se todas essas qualidades não bastassem para garantir a Highway To Hell um lugar em qualquer boa discoteca de rock, há ainda o fato de ser o último registro de Bon Scott, morto meses depois, sufocado pelo próprio vômito. 

Highway To Hell é o flagrante da melhor fase de uma banda única, um guitarrista infernal e um vocalista que é uma lenda. 


Tales de Menezes

FONTE:http://rateyourmusic.com/lists/list_view?list_id=133037&show=50&start=150

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