terça-feira, 8 de março de 2016
domingo, 6 de março de 2016
RECEITA
Nicolas Behr
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os sonhos
eróticos mas desta vez deixe ferver um
pouco mais e mexa até dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os mesmos
sirva o poema simples ou com ilusões
sábado, 5 de março de 2016
sexta-feira, 4 de março de 2016
O TRAÇO
por Yuri Vasconcelos Silva
Um ponto, o toque do grafite no papel. É o zero em arquitetura, em desenho, na arte. Às vezes morre nisso mesmo, porque a ideia teima em não descer, não passar das pontas do dedo para o lápis. Quando há sorte, o ponto se estende em um traço. Gosto do traço reto. É objetivo, racional, um mínimo múltiplo que representa muitas formas sintetizadas em um gesto. O horizontal é a terra, o mundano, o humano. É o sentido natural do olhar. É cinemático. Representa aquilo que é seguro e estável. A linha vertical faz olhar para o alto. Não se conecta ao homem, está fora de nossa percepção ordinária. É extraordinário e transcende. Vai aos céus, esse local da busca constante do homem. Com os pés no chão, olhamos para as torres e catedrais, erguendo a cabeça para o alto e, conforme o estado da alma e da arte, ajoelhando-se. Estes objetos nos escapam e também nos esmagam com sua grandiosidade. A linha vertical é aquela que conecta a terra com o transcendental. As curvas são variações desnecessárias, habilidade que pertence à esfera natural. Jamais saberei traçar uma curva tão bem quanto o vento faz com as montanhas, a água faz com as pedras ou a terra faz com os troncos de árvores. Não tenho o tempo e a paciência de traçar a linha torta que leva mil anos para ficar perfeita e ainda não está terminada. O barroco das curvas é instrumento exclusivo da natureza – e exclui a criação do homem. A curva é divina. Para nós, sobram as retas. Elas se cruzam e criam ângulos. Elas se fecham em espaços bidimensionais. Planos, linhas que são arrastadas, partem espaços. Reservam algo para alguma função, mesmo que seja apenas a fruição. Como um bolo que é fatiado através do fio laminar em apenas dois golpes, duas linhas. Quando é concedido ao plano a liberdade de subir em outro eixo, para o alto, então ele ganha a existência tridimensional, o nosso universo. Desenhos ganham o espaço, tornam-se construções sólidas. Esculturas funcionais nas quais podemos entrar. Ou apenas sentar e apreciar. Saborear o objeto apenas com os olhos. Perceber o tempo passar através do lento avanço das sombras, da sutil mudança de cores. Por vezes, até mesmo alguma música vem à cabeça, uma trilha sonora pessoal para deleite do espaço. Não se trata apenas de pura construção organizada de blocos, cimento e ferro. É intencional e planejado para provocar respostas emocionais em todos que entram em contato com o objeto. Se nada provocar, nem mesmo algum estranhamento, então não é arquitetura. É apenas mais um lançamento no mercado imobiliário.
quinta-feira, 3 de março de 2016
quarta-feira, 2 de março de 2016
MILLÔR FERNANDES
A baratinha velha subiu pelo pé do copo quase cheio de vinho, que tinha sido largado a um canto da cozinha, desceu pela parte de dentro e começou a lambiscar o vinho. Dada a pequena distância, que nas baratas vai da boca ao cérebro, o álcool lhe subiu logo a este. Bêbada, a baratinha caiu dentro do copo. Debateu-se, bebeu mais vinho, ficou mais tonta, debateu-se mais, bebeu mais, tonteou mais e já quase morria quando deparou com o carão do gato doméstico que sorria de sua aflição, no alto do copo.
- Gatinho, meu gatinho – pediu ela –, me salva, me salva. Me salva que assim que eu sair eu deixo você me engolir inteirinha, como você gosta. Me salva. - Você deixa mesmo eu engolir você? – disse o gato. - Me saaalva! – implorou a baratinha. – Eu prometo.
O gato virou o copo com uma patada, o líquido escorreu e com ele a baratinha que, assim que se viu no chão, saiu correndo para o buraco mais perto, onde caiu na gargalhada. - Que é isso? – perguntou o gato. – Você não vai sair daí e cumprir sua promessa? Você disse que deixava eu comer você inteira.
- Ah, ah, ah! – ria então a barata, sem poder se conter. – E você é tão imbecil a ponto de acreditar na promessa de uma barata velha e bêbada?
Moral: Às vezes a auto depreciação nos livra do pelotão.
- Gatinho, meu gatinho – pediu ela –, me salva, me salva. Me salva que assim que eu sair eu deixo você me engolir inteirinha, como você gosta. Me salva. - Você deixa mesmo eu engolir você? – disse o gato. - Me saaalva! – implorou a baratinha. – Eu prometo.
O gato virou o copo com uma patada, o líquido escorreu e com ele a baratinha que, assim que se viu no chão, saiu correndo para o buraco mais perto, onde caiu na gargalhada. - Que é isso? – perguntou o gato. – Você não vai sair daí e cumprir sua promessa? Você disse que deixava eu comer você inteira.
- Ah, ah, ah! – ria então a barata, sem poder se conter. – E você é tão imbecil a ponto de acreditar na promessa de uma barata velha e bêbada?
Moral: Às vezes a auto depreciação nos livra do pelotão.