quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

CABEÇA DE PEDRA

Pernas no bar

Me veio assim com sonoridade, com imagem, algo muito forte, como só poderia ter saído da boca dele, aquele moleque das quebradas do mundaréu que João Antonio tão bem desenhou em nosso imaginário. Mas eu peguei pelas beiradas, frase enviada lá de longe, do meio do sertão - e aí misturou tudo, como é neste país desde sempre. Veio voando, veio de trem, veio de Fenemê, veio de canoa de tronco, veio a nado, veio no vento, veio sendo passada por todos os brasileiros que estão nas janelas nas beiras de estrada, veio. Quem falou primeiro já se foi e deixou a marca saída lá do Bexiga, bairro paulistano. Perdido numa noite suja, deve ter se inspirado quando tomando umas e outras num boteco daqueles, rabo de galo na mão, um olho embaixo de outra mesa. Aí ele pensou e, quem sabe, falou: "Destrancou meu coração ao descruzar as pernas". E isso foi por aí, até chegar aqui e, de novo, ir por aí. Plínio Marcos.


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