terça-feira, 4 de novembro de 2008

TIAGO NOBEL E A ONÇA CAETANA

A Onça Caetana Por favor, se você chegou até aqui leia o texto até o fim. Porque ele é parte de mim, e de uma reflexão que quero fazer com todos que aqui chegaram. O texto é interneticamente um pouco extenso. Mas não desista, a vida é extensa também. Obrigado por seguir por aqui!
Se você der uma olhada nos outros textos, esses que estão ali um pouco abaixo, irá perceber que não gosto muito de temas soturno. Mas não teve jeito. Após as dezenas de imagens que presenciei hoje, no meu local de trabalho, preciso dividir com os caros cinco leitores que se detém nessas mal tecladas linhas. Hoje vou falar sobre a morte. Não aquela coisa de filme e etc. Não aquela coisa do além, sem explicação e cheia de penduricalhos que a acompanham neste e em outros mundos.
Para quem ainda não sabe eu trabalho em dois grandes hospitais do estado de Pernambuco. Que ironicamente levam o nome de dois famosos políticos. Um a nível nacional e outro estadual. Getúlio e Agamenon. Enfim, narizes de cera a parte, voi entrar nas imagens e reflexões que hoje vieram ao meu encontro. Farei apenas um recorte. Não quero aprofundar nos fatos, e nem aumentar o drama para elevar a audiência deste blog (ao contrário de muitos autores de novela).
O número de mortes que ocorreram hoje pela manhã foi maior que o normal. Constatei isso pelo grande movimento de carros de funerárias no necrotério e dado também o volume de parentes, desconsolados, chorando pelos cantos. Uma imagem de um mulher, aparentando uns 55 anos foi que me chamou mais atenção. Ela estava em um canto, chorando baixinho, quase inaudível.
Parecia sozinha, sem ninguém lhe dando atenção. Eu fiquei de longe, observando-a, e torcendo para que ela não me notasse. Queria ficar invisível perante esse momento. Não entendam, porém, dignissímos cinco leitores, invisível como uma metáfora para fugir daquilo, daquela sensação. Não! Digo invisível para poder passar por observador em primeira pessoa. Longe dos dramas e pensamentos que nos aflingem, nós podres mortais. Vamos ao recorte:
Cabelos presos. Banquinho de madeira. Sem encosto. Costas apoiadas na parede, forrada de azulejos brancos. Encardidamente brancos. Choro. Um choro copioso. Desprovido de qualquer bloqueio ou convenção social. Porque pra morte não existe convenção alguma. Saudade estampada no semblante. Saudade apenas. Simplicidade escrita no jeito, no gesto, na solidão. Simples como é nascer. Simplesmente se morre.
Quero apenas refletir e levar vocês a reflexão sobre esse fato, que muitos nem pensam, não gostam de pensar, tem medo. Reflitam meus diletos cinco leitos. Pensem em dizer e fazer o que gostam e que precisam. Mas não com desespero ou sofreguidão como se fossemos encontrar a onça caetana na próxima esquina. Façam com amor, com dedicação e com afeto. Porque o resto é apenas saudade.
Como diria sabiamente o mestre Ariano Suassuna: "...eis a única coisa que une tudo quanto é vivente em um só rebanho. Porque tudo que é vivo, morre".

Um comentário :

Anônimo disse...

Ricardo, fiquei muito feliz e orgulhoso por você ter postado esse texto em seu blog. Ainda mais por que ele veio acompanhado de van gohg, pra mim o maior pintor que já pisou na face da terra...

o meu blog ficou pelo meio do caminho... acabei abandonando ele por conta da correria do dia a dia. Mas esse seu ato acendou uma fagulha e acho que irei retoma-lo!

Muito obrigado!
Abraço
Tiago Nobel