quinta-feira, 31 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
sábado, 26 de outubro de 2013
O DISCURSO DO GENERAL
por Gen. Paulo Chagas*
Liberdade para quê? Liberdade para quem?
Liberdade para roubar, matar, corromper, mentir, enganar, traficar e viciar?
Liberdade para ladrões, assassinos, corruptos e corruptores, para mentirosos, traficantes, viciados e hipócritas?
Falam de uma “noite” que durou 21 anos, enquanto fecham os olhos para a baderna, a roubalheira e o desmando que, à luz do dia, já dura 26!
Fala-se muito em liberdade!
Liberdade que se vê de dentro de casa, por detrás das grades de segurança, de dentro de carros blindados e dos vidros fumê!
Mas, afinal, o que se vê?
Vê-se tiroteios, incompetência, corrupção, quadrilhas e quadrilheiros, guerra de gangues e traficantes, Polícia Pacificadora, Exército nos morros, negociação com bandidos, violência e muita hipocrisia.
Olhando mais adiante, enxergamos assaltos, estupros, pedófilos, professores desmoralizados, ameaçados e mortos, vemos “bullying”, conivência e mentiras, vemos crianças que matam, crianças drogadas, crianças famintas, crianças armadas, crianças arrastadas, crianças assassinadas.
Da janela dos apartamentos e nas telas das televisões vemos arrastões, bloqueios de ruas e estradas, terras invadidas, favelas atacadas, policiais bandidos e assaltos a mão armada.
Vivemos em uma terra sem lei, assistimos a massacres, chacinas e seqüestros. Uma terra em que a família não é valor, onde menores são explorados e violados por pais, parentes, amigos, patrícios e estrangeiros.
Mas, afinal, onde é que nós vivemos?
Vivemos no país da impunidade onde o crime compensa e o criminoso é conhecido, reconhecido, recompensado, indenizado e transformado em herói! Onde bandidos de todos os colarinhos fazem leis para si, organizam “mensalões” e vendem sentenças!
Nesta terra, a propriedade alheia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é tomada de seus donos, os bancos são assaltados e os caixas explodidos. É aqui, na terra da “liberdade”, que encontramos a “cracolândia” e a “robauto”, “dominadas” e vigiadas pela polícia!
Vivemos no país da censura velada, do “micoondas”, dos toques de recolher, da lei do silêncio e da convivência pacífica do contraventor e com o homem da lei. País onde bandidos comandam o crime e a vida de dentro das prisões, onde fazendas são invadidas, lavouras destruídas e o gado dizimado, sem contar quando destroem pesquisas cientificas de anos, irrecuperáveis!
Mas, afinal, de quem é a liberdade que se vê?
Nossa, que somos prisioneiros do medo e reféns da impunidade ou da bandidagem organizada e institucionalizada que a controla?
Afinal, aqueles da escuridão eram “anos de chumbo” ou anos de paz?
E estes em que vivemos, são anos de liberdade ou de compensação do crime, do desmando e da desordem?
Quanta falsidade, quanta mentira quanta canalhice ainda teremos que suportar, sentir e sofrer, até que a indignação nos traga de volta a vergonha, a auto estima e a própria dignidade?
Quando será que nós, homens e mulheres de bem, traremos de volta a nossa liberdade?
* Paulo Chagas é General de Brigada da Reserva do Exército do Brasil.
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
FERNANDO PESSOA
ANIVERSÁRIO
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado---,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa, No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...
DISCOTECA BÁSICA
Surrealistic Pillow (1967)
(Edição 64,Novembro de 1990)
Nos dourados anos 60, quando o ácido ainda não era empastelado de anfetamina e o desbunde não era apenas pose, a música então desenvolvida era um anteparo imprescindível para o advento do flower power e uma de suas principais formas de expressão.
Foi neste contexto que, em 65, surgiu na explosão do rock californiano um dos grupos que mais caracterizou o San Francisco sound: The Jefferson Airplane, formado por Marty Balin, Signe Anderson (vocais), Paul Kantner, Jorma Kaukonen (guitarras, vocais), Bob Harvey (baixo) e Skip Spence (bateria). Junto a duas outras bandas locais - The Charlatans e The Warlocks (que depois se transformaria no Grateful Dead) -, o Airplane foi um dos criadores do acid rock, cujos primeiros lampejos encontravam-se logo no álbum de estréia: Jefferson Airplane Takes Off (66), já com o baixista Jack Casady no lugar de Bob Harvey. Depois do disco, as deserções do baterista Skip Spence (que saiu para formar o Moby Grape) e da cantora Signe Anderson (que se afastou por causa da gravidez) foram oportunos pretextos para o grupo atingir sua line up ideal, com a entrada de Spencer Dryden e, especialmente de Grace Slick (que era vocalista do Great Society).
Com esta configuração, o Airplane gravou seu segundo LP, Surrealistic Pillow, um dos mais perfeitos retratos da primeira geração psicodélica e de todo o west coast sound. Só de um modo genérico seria possível desmembrar sua complexidade, uma chapante pororoca na cabeça dos hippies perplexos: uma bateria técnica emigrada do jazz, um baixo bluesy e rebuscado, guitarras com riffs e longos solos revezando-se em atmosferas viajantes.
Mas era na voz de menina tarada de Grace Slick, nas afetadas harmonias de Marty Balin e no toque folkster de Paul Kantner que residia o grande segredo: vocalizações sui generis que soavam estranhas e divagantes. Somadas a isto, letras que misturavam Lewis Carroll (vide "White Rabbit"), deambulações herdadas da beat generation, pacifismo, rebeldia e - claro - muito amor.
Entre as onze canções que compunham este "travesseiro surrealista" revelavam-se obras-primas do Frisco Sound como o hino ao amor livre "Somebody To Love" e a ode lisérgica "White Rabbit" ("Um comprimido te faz crescer/ um comprimido te faz encolher/ aqueles que sua mãe te dá/ não fazem efeito nenhum"), ambas trazidas por Slick do repertório do Great Society. Não menos essenciais eram a hipnótica balada de amor "Today" (apaixonadamente cantada por Balin) e a ultra-inventiva "Plastic Fantastic Lover" - com vocais no melhor estilo rap (!) e ambientada em high lisergia. Mas havia muito mais: as belas passagens folk-psicodélicas detectadas em "My Best Friend", "D.C.B.A.-25" e "How Do You Feel", as pinceladas rockers que embalavam "She Has Funny Cars" e "3/5 Of A Mile In 10 Seconds", a envolvente balada "Comin' Back To Me" e o instrumental intimista de "Embryonic Journey". Tudo isso fez de Surrealistic Pillow o álbum que definiu as diretrizes sonoras do grupo, numa trajetória única e impecável que se estenderia até 72.
Durante este período, o Airplane gravou mais sete álbuns - dois deles ao vivo - onde destrinchou a psicodelia em sua essência, descobrindo seus segredos, virtudes e em que circunstâncias ela poderia se tornar "um bode". Num processo de constantes mudanças passou a chamar-se Jefferson Starship (que, à exceção dos dois primeiros LPs, desonrou totalmente sua história) e, depois, apenas Starship. Em 89, o Airplane voltou com a formação principal dos sixties e um novo disco, mas... nem chegou a decolar.
Fernando Naporano
terça-feira, 15 de outubro de 2013
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
CABEÇA DE PEDRA
Borboleta não voa
Borboleta não voa. Ele ouviu este trecho de uma conversa numa linha cruzada. Estava encomendando um bolo para o aniversário do filho e as palavras atravessaram tudo. Ele desligou o telefone e não sabia mais se haveria festa para o guri de quatro anos. Borboleta não voa. Claro, faltava alguma coisa - o complemento ou o início. Como saber? Então ele ficou caçando borboletas na memória. Entraram até aquelas pregadas no prato para enganar turistas no Pão de Açúcar ou Cristo Redentor. A cena que tomou conta, entretanto, foi aquela do terreno baldio, deitado no mato, na brincadeira de esconde com a turma da rua, dia de sol... de repente, várias delas, pequenas, passando perto do seu rosto. Respiração presa e a mente hipnotizada por imagem tão fantástica, onde os galhos finos e a folhas pequenas do mato eram perfeitas como paisagem para o desfile delas. Ao pensar mais uma vez ele chegou a ver em câmera lenta. Então, veio o estalo. A frase só poderia ser: borboleta não voa, desfila no ar. Ele então sorriu e viu o filho mais belo e iluminado naquela véspera de aniversário.
CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/10/borboleta-nao-voa.html
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
CLARICE LISPECTOR
...Que minha solidão me sirva de companhia. que eu tenha a coragem de me enfrentar. que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.
domingo, 6 de outubro de 2013
FLYING BURRITO BROTHERS
Artist: Flying Burrito Brothers
Song: Christine's Tune
Album: The Gilded Palace of Sin (1969)
Song: Christine's Tune
Album: The Gilded Palace of Sin (1969)
DISCOTECA BÁSICA
The Flying Burrito Brothers
Na Los Angeles dos anos 60, o quente era ser hippie e curtir as viagens da efervescente cena psicodélica. Uma de suas expressões máximas era o space rock (rock "espacial") do grupo The Byrds, capitaneado pelo guitarrista Roger McGuinn. A banda se utilizava de elementos da música folk, mas quase sempre em um contexto lisérgico. Até então, a country music da costa oeste americana era dominada pela "caipirice", reacionária e com padrões adequados ao gosto do público matuto. Mas um músico uniu esses dois universos, concebendo a gênese do country rock. Seu nome: Gram Parsons.
Filho de uma família abastada da Flórida, Parsons chegou à Califórnia para cursar a universidade de Harvard. Mas abandonou os estudos para se dedicar integralmente à sua International Submarine Band, na verdade o primeiro grupo de cabeludos a tocar no circuito de country tradicional. Esta postura inusitada atraiu a atenção do instrumentista Chris Hillman, integrante do já afamado The Byrds. Hillman convenceu McGuinn a incluir Parsons na banda. Com ele, o grupo registrou em 1968 o álbum Sweetheart Of The Rodeo, o primeiro grande marco do country rock. Mas, por causa de divergências internas, Parsons largou os Byrds, seguido por Hillman. Juntos, formaram os Flying Burrito Brothers, ao lado de Chris Ethridge (baixo) e "Sneeky" Pete Kleinow (pedal steel guitar). A proposta era fazer um "country cósmico", em que o estilo caipira ancestral americano se fundisse com os mais diversos gêneros musicais. Objetivo atingido em The Gilded Palace Of Sin.
O disco traduzia o country rock tradicional para o idioma do rock nas parcerias de Parsons com Hillman ("Christine’s Tune", "Sin City", "Wheels") e Ethridge ("Hot Burrito #1 & #2"), além de reler, ao melhor sabor do estilo, pérolas do soul (na versão do hit de Aretha Franklin, "Do Right Woman - Do Right Man"), do rhythm’n’blues ("The Dark End Of The Street", sucesso de James Carr), terminando com uma faixa gospel ("Hippie Boy"). Depois desse disco, Gram parou de se dedicar ao grupo. Afinal, na época ele consumou uma aproximação com os Rolling Stones - "Wild Horses" e outros hits do grupo inglês da época tiveram uma "mãozinha" do guitarrista. Parsons ainda gravou mais dois álbuns solo (GP e Grevious Angel), antes de morrer de overdose em 1973, aos 26 anos. Hillman continuou com a banda, convocando outros músicos, mas nunca com a mesma inspiração. Os Burritos jamais voariam tão alto.
Celso Pucci
The Gilded Palace of Sin (1969)
(Edição 161,Dezembro de 1998)
Na Los Angeles dos anos 60, o quente era ser hippie e curtir as viagens da efervescente cena psicodélica. Uma de suas expressões máximas era o space rock (rock "espacial") do grupo The Byrds, capitaneado pelo guitarrista Roger McGuinn. A banda se utilizava de elementos da música folk, mas quase sempre em um contexto lisérgico. Até então, a country music da costa oeste americana era dominada pela "caipirice", reacionária e com padrões adequados ao gosto do público matuto. Mas um músico uniu esses dois universos, concebendo a gênese do country rock. Seu nome: Gram Parsons.
Filho de uma família abastada da Flórida, Parsons chegou à Califórnia para cursar a universidade de Harvard. Mas abandonou os estudos para se dedicar integralmente à sua International Submarine Band, na verdade o primeiro grupo de cabeludos a tocar no circuito de country tradicional. Esta postura inusitada atraiu a atenção do instrumentista Chris Hillman, integrante do já afamado The Byrds. Hillman convenceu McGuinn a incluir Parsons na banda. Com ele, o grupo registrou em 1968 o álbum Sweetheart Of The Rodeo, o primeiro grande marco do country rock. Mas, por causa de divergências internas, Parsons largou os Byrds, seguido por Hillman. Juntos, formaram os Flying Burrito Brothers, ao lado de Chris Ethridge (baixo) e "Sneeky" Pete Kleinow (pedal steel guitar). A proposta era fazer um "country cósmico", em que o estilo caipira ancestral americano se fundisse com os mais diversos gêneros musicais. Objetivo atingido em The Gilded Palace Of Sin.
O disco traduzia o country rock tradicional para o idioma do rock nas parcerias de Parsons com Hillman ("Christine’s Tune", "Sin City", "Wheels") e Ethridge ("Hot Burrito #1 & #2"), além de reler, ao melhor sabor do estilo, pérolas do soul (na versão do hit de Aretha Franklin, "Do Right Woman - Do Right Man"), do rhythm’n’blues ("The Dark End Of The Street", sucesso de James Carr), terminando com uma faixa gospel ("Hippie Boy"). Depois desse disco, Gram parou de se dedicar ao grupo. Afinal, na época ele consumou uma aproximação com os Rolling Stones - "Wild Horses" e outros hits do grupo inglês da época tiveram uma "mãozinha" do guitarrista. Parsons ainda gravou mais dois álbuns solo (GP e Grevious Angel), antes de morrer de overdose em 1973, aos 26 anos. Hillman continuou com a banda, convocando outros músicos, mas nunca com a mesma inspiração. Os Burritos jamais voariam tão alto.
Celso Pucci
FERNANDO PESSOA
O guardador de rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Alberto Caeiro
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
CABEÇA DE PEDRA
Rango
Com o macarrão ele forrou o prato. Bem forrado. Depois jogou o feijão preto em cima e a massa sumiu na escuridão. Aí a abobrinha compareceu dando o tom verde à instalação. O dono do prato segurava-o com a mão esquerda e ia colocando as camadas com a eficiência de um artista. A quirela ele espalhou. Com o arroz ele exagerou e alguns grãos foram ao chão. Ele pisou e esfregou. Nada de salada. Foi para a mesa e ficou esperando o bifão que pousou ali como uma nave, uma coroa de rei. Aí, aconteceu. Com uma técnica absurda, ele conseguiu revirar e misturar tudo sem deixar cair nada. Fez mais! A cada garfada engolida (ele não mastigava), revirava tudo de volta - sempre no mesmo sentido, partindo do lado mais próximo do seu peito e escorando a massaroca com o garfo. O bife aparecia e desaparecia, mas ia diminuindo porque, depois da garfada, ele cortava um pedação e comia. Não bebeu nada. Ao final, limpou a boca com barra da camiseta puída, prato limpinho à frente, e foi ao balcão pagar. Nove reais pelo rango.
CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/2013/09/rango.html
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
LITTLE MURDERS
PEQUENOS ASSASSINATOS, de ALAN ARKIN
Cena inicial - um fotógrafo, chamado Alfred Chamberlain, tirando fotos aleatórias em uma rua qualquer de Nova Iorque. Ele acaba chamando a atenção da gangue da região, que começa a espancá-lo. Apático, Chamberlain não reage.
Mas uma moça que passava por ali, Patsy Newqvist, se indigna e resolve intervir. Os marginais fogem. Surpreendentemente, Alfred briga é com a sua defensora, pois ele não desejava socorro algum. Apesar desse estranhamento inicial, os dois resolvem manter o contato. Tempos depois, o fotógrafo confessa a Patsy que não consegue mais gostar de nada. E ela, mulher apaixonada pela vida, resolve ajudá-lo a se interessar pelo mundo novamente. Assim, os dois acabam namorando. Casando. E...
Esta é a premissa de “Pequenos Assassinatos”, um tesouro do cinema estadunidense que precisa ser (re) descoberto.
Dirigido por Alan Arkin, o longa-metragem em questão foi lançado em 1971, baseado na peça de mesmo nome do cartunista pop Jules Feiffer. É interessante contar que o dito espetáculo fracassou na sua estréia em NYC: a primeira montagem, de 1967, ficou apenas uma semana em cartaz. Contudo, a produção teatral obteve sucesso na Inglaterra e, quando retornou aos palcos da América, acabou sendo adaptada para os cinemas. No elenco do filme temos Eliott Gould e Márcia Rodd como o casal principal. Nomes como o próprio Alan Arkin, Lou Jacobi e Donald Sutherland completam o cast.
Por isso, não se engane, não estamos falando sobre um romance. Há o envolvimento entre os dois protagonistas, mas o final da história de ambos não é feliz. Nem estamos diante de uma comédia escrachada. É inegável que o primeiro ato da produção é carregado de humor. Uma graça que explora o caos do cotidiano, que segue a máxima de que, de perto, ninguém é normal. Entretanto, muito habilmente, há uma guinada e o final da obra ganha cores sombrias, com críticas escancaradas à sociedade ocidental pós-moderna e questionamentos sobre a nossa existência gritando na tela. A família feliz/histérica atirando pela janela, um quadro quase kafkiano, incomoda e nos faz pensar para onde estamos caminhando.
Nesse sentido, Alan Arkin consegue, assim como a sua heroína Patsy, acabar com a apatia reinante, mesmo que brevemente. Ele nos faz, sem ilusão alguma, refletir sobre o que estamos nos tornando, sobre o valor das nossas vidas – existem mesmo assassinatos sem importância?
Para concluir, é preciso ressaltar que “Pequenos Assassinatos” é um produto de seu tempo. Uma arte quase apocalíptica, nascida em meio à Guerra do Vietnã, durante a desilusão do movimento hippie e a ascensão de um conservadorismo que tinha em Richard Nixon o seu principal rosto. Contudo, algumas das problemáticas levantadas no filme continuam relevantes ainda no século XXI - o fetiche por armas de fogo e a banalização da violência, o valor dos sentimentos em uma sociedade cada vez mais conflituosa, sobre como precisamos reagir frente às adversidades, quais são os rumos da arte (Alfred, por não desejar mais retratar seres humanos, começou a fotografar excrementos de cachorros. E, na história, ganha prêmios por isso)... Ou seja, a profundidade da película não se esgota nesta resenha. Ela é uma bela pérola do fenômeno histórico que foi a contracultura dos anos 60 e 70.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
terça-feira, 1 de outubro de 2013
NÃO TEM CURA
leite, leitura,
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo,
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo,
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura
CABEÇA DE PEDRA: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/