terça-feira, 18 de novembro de 2014

CABEÇA DE PEDRA


Na loca

No dia em que viu o vizinho sair com a calibre 12 e atirar para esbagaçar um canário que cantava no pé de uma árvore, ele achou que era o momento. Não disse nada em casa. Pegou a estrada de chão e caminhou na direção da serra que sempre via quando abria a janela da casinha do sítio logo que o galo cantava. Andou, andou, atravessou um riacho quase seco, olhou a pastagem pegando fogo, o gado magro, uma mulher jogando milho para as galinhas e pintinhos no terreiro da casa. Do alto do morro cada vez mais aumentava o olho da loca. A loca é um buraco. Ele subiu pelas pedras, se arranhou em espinhos, mas chegou lá. Entrou. Não havia bicho algum. Só ele. Bicho homem desiludido com tudo. Entrou até o fundo, sentou, ficou olhando a luz desaparecer naquela boca aberta da entrada. Dormiu. Acordou. Assim ficou até perder os sentidos. E morrer. Convicto de que o ser humano vai acabar com a Terra, mas ainda acreditando que a Terra iria virar o jogo para a paz reinar novamente.


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