sábado, 7 de fevereiro de 2015

CABEÇA DE PEDRA


Ateu sem convicção

Ele não acreditava em Deus até o dia em que a coisa apertou. Doença terminal. Tinha pouco tempo de vida. Ao saber, imediatamente tirou do repertório a piada em que o paciente fica sabendo pelo médico que tinha apenas três minutos antes de morrer; ao perguntar o que podia fazer, ouviu do especialista: “Um Miojo”. Resoluto, resolveu não se entregar ao pessimismo, como se isso fosse possível. Sua determinação durou trinta segundos. Foi para casa, jogou-se na poltrona, cochilou e, ao acordar, viu que fachos da luz do sol vazavam a persiana da sala e iluminavam pontos do tapete velho. Passou a acreditar em Deus imediatamente. De joelhos pediu um milagre e perdão por nunca ter acreditado na existência Dele. Sentiu um alívio no peito e dormiu tranquilo. Os meses se passaram. Ele morreu sem sentir muita dor. O corpo foi velado numa capela ao lado do cemitério. Apareceu um padre. Durante a reza uma mulher com maquiagem pesada perguntou à outra o que o da batina estava fazendo ali. Isso porque o morto, todo mundo sabia, era ateu convicto. A que ouviu o relato resolveu especulara. Achou que aquilo era um milagre porque ninguém da família teria pedido a presença do sacerdote por saber do ateísmo do que estava ali com algodão nas narinas. O da batina orou e, ao sair, foi chamado por um senhor que estava na porta do velório ao lado. Só aí descobriu que tinha errado de defunto.

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