Antonia Santana da Silva, a Mãe Tonha, adeus
Não quero mais despedidas finais. Descobri isso depois de dar adeus ao meu pai na porta de uma UTI. Há pouco foi embora quem eu também chamava de mãe, por ser mãe e irmã da minha Zefinha que já foi há tempos, depois do Zé Luis – e eu só a encontrei pouco antes do enterro do corpo lá na origem, Alagoas. Há 20 dias foi embora o irmão do meu pai, o Mané Luis, marido da Mãe Tonha, como eu chamava a Antonia Santana da Silva, que está lá no hospital. Poucas horas antes cheguei aqui em Campinas com meus dois filhos mais velhos, o Yuri e a Ticiana. Ela nos recebeu lúcida, sentada na sala da casa da filha, Estela, mas com o olhar distante, como se estivesse numa mundo só seu, onde sentia a morte do marido e, agora penso, como só se pensa nessas horas, sabendo que estava na hora do descanso. No início da madrugada passou mal, meu irmão, Ricardo Silva, foi me acordar e, agora penso, foi aí que decidi, sem pensar, que não queria mais o tipo de despedida final, a que tive com meu pai, depois de vê-lo com dificuldade de respirar, uma semana depois de ficar com ele na enfermaria de um hospital. Dormi. Yuri apareceu, me sacudiu, disse que ela teve uma parada cardíaca, que estavam reanimando-a no hospital. Fui para a sala da casa, sozinho, e pensei nessas coisas, antes do telefonema definitivo. Não chorei. Apenas esperei a chegada da filha, do genro, dos netos dela. Misturamos lágrimas em abraços e eu fiquei pensando o que escrever e veio isso aí, uma coisa descritiva, porque não consigo dimensionar o que minha alma e coração guardam, às vezes escondem lá no fundo. Sempre a chamei de mãe, porque nestes 62 anos que nos conhecemos, penso agora, ela me deu a proteção que, por motivos que depois entendi, não tive em casa. Para a casa dela eu ia sempre, atravessando apenas um pequeno quintal, na Vila Alpina onde nasci. Morei com ela é o Mané Luis quando meus pais construíram a casa própria em outro bairro e decidi continuar no colégio público que me deu um pouco de base para a caminhada em busca do conhecimento, que é o aprendizado do dia-a-dia. Depois, a vida separou nossos corpos, mas jamais o pensamento e o sentimento de gratidão que eu consegui dar, apesar dos atrapalhos. Meus filhos eram seus netos também. Depois que veio para Campinas nos falamos muitas vezes ao telefone, vim aqui algumas vezes, talvez para me sentir mais seguro nesta vida montanha-russa. Quando podia, ajudava financeiramente – e ouvia tanto agradecimento por tão pouco… Ela era muito decidida e muito forte. Costureira como a irmã Josefa, minha mãe, mas muito mais rápida na máquina que pedalava ou depois acionava o moto. Ela e o marido viveram duas décadas mais que os irmãos, meus pais. Penso agora que era para continuar a proteção, delegada, sem querer, pelos meus pais, mas consentida de coração pelos meus pais. Não quis me despedir por isso e muito mais. Os quatro estão juntos. Sim, aqui, dentro, no sentimento. E como é bom agradecer. Porque eles nos deram tudo. E a Mãe Tonha me deu a certeza do quanto foi importante, porque, na verdade, era prova de amor a seres humanos – fundamental na vida. Amém.
FONTE: http://www.zebeto.com.br/
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