domingo, 31 de julho de 2016

OS IMPERDOÁVEIS

OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven, 1992, Warner Bros, 131min) Direção: Clint Eastwood. Roteiro: David Webb Peoples. Fotografia: Jack N. Green. Montagem: Joel Cox. Música: Lennie Niehaus. Direção de arte/cenários: Henry Bumstead/Janice Blackue-Goodine. Casting: Phyllis Huffman. Produção executiva: David Valdes. Produção: Clint Eastwood. Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek, Frances Fisher. Estreia: 03/8/92

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Ator (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Direção de Arte/Cenários, Som
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman), Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Diretor (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman)


Tudo bem que “Dança com lobos” pode ser considerado o filme que de certa forma ressuscitou o gênero faroeste dentro da indústria hollywoodiana, com seu sucesso de bilheteria e seus inacreditáveis 7 Oscar. Mas, justiça seja feita, é com “Os imperdoáveis”, o sensacional trabalho de Clint Eastwood, que o gênero atingiu uma maturidade com que Kevin Costner e suas tediosas e cenas contemplativas podem apenas sonhar. Espécie de réquiem a um gênero antes caro à indústria, "Os imperdoáveis" é melancólico e profundo como poucos ousaram ser. E por isso mesmo, ultrapassa a barreira que o relegaria apenas a fãs do western, atingindo um público mais amplo: os cinéfilos de bom gosto.

Tudo já começa extraordinariamente bem, com um texto explicativo apresentando, em 1880, o anti-herói do filme, William Munny (o próprio Eastwood em seu melhor momento como ator), um conhecido matador - "já matei mulheres e crianças. Uma vez ou outra, eu já matei tudo que anda e se arrasta nesse mundo..." - que abandonou a vida errática e criminosa para casar-se e formar família. Envelhecido, aposentado e viúvo, ele vê a chance de pagar suas dívidas e dar uma vida melhor para os filhos pequenos quando é procurado por Schofield Kid (Jaimz Woolvett), um jovem que lhe propõe sociedade em um trabalho ideal: matar dois homens que retalharam o rosto de uma prostituta na pequena cidade de Big Whisky. Munny reluta em aceitar o trabalho - o pagamento generoso será feito pelas próprias meretrizes da cidade - e o aceita com a condição de poder contar também com o velho parceiro Ned Logan (Morgan Freeman). Juntos, os três homens partem para cumprir a missão, mas esbarram no cruel e sádico xerife do lugar, Little Bill Daggett (Gene Hackman, vencedor do Oscar de coadjuvante).

Eastwood utiliza todos os elementos que fizeram a glória do gênero a seu favor. Xerifes sanguinários, saloons, descampados fotografados com maestria, anti-heróis solitários, tiroteios... Tudo está presente em "Os imperdoáveis", mas de uma maneira tão própria que é difícil entender porque o discípulo de Sergio Leone e Don Siegel - a quem o filme é dedicado - demorou tanto tempo para dirigir um filme no gênero que o consagrou. Dono de uma concisão e uma precisão absolutas, Eastwood constrói seu filme com cuidado, dando a cada cena, a cada diálogo e a cada enquadramento a atenção necessária. Mesmo tendo realizado o filme em apenas 39 dias, é patente sua qualidade autoral e artística. A direção de arte impecável e a fotografia são excepcionais, assim como a trilha sonora - cujo tema principal também foi composto pelo diretor - que equilibra a grandiloquência com a melancolia.

E o elenco escolhido por Eastwood é excepcional. O diretor/produtor/compositor foi indicado ao Oscar de melhor ator por sua performance discreta e raivosa de William Munny, um homem marcado por um passado violento que tenta a redenção, ainda que por meios tortuosos. Morgan Freeman e Richard Harris pontuam com a competência habitual - o segundo na pele de um inglês famoso por seus dotes de atirador. E Gene Hackman deita e rola com seu torpe Little Bill, um homem pra quem a violência, mais do que um meio de vida, é quase um prazer. Suas cenas ao lado de Saul Rubinek (que vive um escritor que é tentado a escrever a biografia do xerife) são magistralmente dirigidas, ficando a um passo entre a tensão e o humor.

"Os imperdoáveis" mereceu os 4 Oscar que levou e talvez merecesse até mais. Forte e triste, é um entretenimento adulto do mais alto gabarito, que encanta em todos os níveis possíveis. E foi através dele que Eastwood renasceu como cineasta comercialmente viável e altamente oscarizável. Precisa dizer mais?



sexta-feira, 29 de julho de 2016

ZIEGFELD GIRLS

by  Alfred Cheney Johnston





ÓLEO DE CÃO

por Ambrose Bierce

tradução: José Jaeger

Meu nome é Boffer Bings. Nasci de pais honestos, em um estilo de vida dos mais humildes. Meu pai era fabricante de óleo de cão, e minha mãe tinha, ao pé da igreja da vila, um pequeno gabinete, onde eliminava bebês indesejados. Já na minha infância aprendi os processos da indústria. Não apenas ajudava o meu pai procurando os cães para seu caldeirão, como também minha mãe me encarregava freqüentemente da missão de me desfazer dos despojos de seu trabalho no gabinete. Para me desincumbir desse mister, às vezes precisei de toda minha natural inteligência, posto que todos os agentes da lei da vizinhança se opunham aos negócios de minha mãe. Já que os agentes não haviam sido eleitos pela oposição, o assunto nunca tinha injunções políticas: simplesmente faziam-no por fazer.

Naturalmente, o trabalho de meu pai – fabricação de óleo de cão – era menos impopular, embora os proprietários dos cães desaparecidos o olhassem às vezes com desconfiança, o que, em certa medida, se refletia em mim. Como sócios, à escondida, tinha meu pai os médicos da cidade, que quase nunca aviavam uma receita sem que nela constasse ao que eles orgulhosamente designavam “Ol. can.”, o remédio mais valioso que já se houvera descoberto. Mas a maioria das pessoas não está disposta a fazer sacrifícios pessoais pelos aflitos, e era evidente que muitos dos cachorros mais gordos da cidade eram proibidos de brincar comigo. Isto feriu a minha sensibilidade juvenil e, certa feita, dirigiram-se a mim para fazer-me de pirata.

Olhando para trás, para aqueles dias, não posso, às vezes, evitar o arrependimento, pois, levando indiretamente os meus queridos pais à morte, fui o autor dos infortúnios que profundamente afetaram o meu futuro.

Certa noite, ao passar à frente da fábrica de meu pai, quando vinha do gabinete de minha mãe, trazendo um exposto, vi um guarda que parecia observar atentamente os meus movimentos. Embora bastante jovem, eu já aprendera que os guardas só acorriam aos fatos mais repreensíveis, de molde que dele me esquivei, enfiando-me na fábrica de azeite por uma porta lateral, que calhou de estar aberta. Travei a porta de uma vez e fiquei só com o meu morto. O meu pai já se recolhera. A única luz daquele lugar provinha do forno, que ardia intensamente sob um dos caldeirões, espalhando uma profunda luz e lançando reflexos rubros nas paredes. No caldeirão, o óleo estava em indolente ebulição, empurrando, ocasionalmente, um pedaço de cão para a superfície. Fiquei a esperar que o guarda se retirasse. Mantive no meu colo o corpo nu da criancinha e lhe acariciei ternamente o cabelo curto e sedoso. Ah, como era bela! Já naquela tenra idade eu gostava muitíssimo das criancinhas e, ao contemplar aquele anjinho, quase desejei em meu coração que a pequena ferida vermelha de seu peito, obra de minha querida mãe, não fosse mortal.

O que eu pretendia, como de costume, era jogar a criança ao rio, que a natureza sabiamente nos legara para tal fim, mas, naquela noite, com medo do policial, não me atrevi a deixar a fábrica de azeite. “Afinal – disse com os meus botões – , não acho que teria importância se eu vier a entorná-la no caldeirão. O meu pai nunca irá distinguir os seus ossos dos ossos de um cachorro. E as poucas mortes que pudessem resultar da administração de outro tipo de azeite, no lugar do incomparável 'Ol. can.', não serão percebidas em uma população que cresce tão rapidamente". Em suma, dei o meu primeiro passo para o crime, o que me trouxe sofrimentos indizíveis, e entornei a criança no caldeirão.

No dia seguinte, para minha surpresa, meu pai, a esfregar as mãos de satisfação, informou a mim e à minha mãe que obtivera o óleo de qualidade nunca vista, e que este era o parecer dos médicos aos quais levara amostras. Ele acrescentou que não tinha ideia de como lograra tal resultado, pois tratara os cães como sempre o fizera, em todos os aspectos, e eram eles de uma raça comum. Considerei que era o meu dever lhes ofertar uma explicação e teria certamente contido o ímpeto de minha língua se pudesse prever as consequências. Os meus pais, lamentando a anterior ignorância sobre as vantagens de combinar os seus afazeres, adotaram medidas para reparar o erro. Minha mãe mudou o seu gabinete para uma ala do edifício da fábrica e as minhas tarefas com relação ao ofício cessaram. Já não mais precisavam de mim para que me desfizesse dos pequenos supérfluos e não remanescia a necessidade de atrair os cães à condenação, pois o meu pai renunciou completamente a eles, embora ainda ocupassem o honroso nome no azeite. Assim, subitamente atraído para o ócio, poder-se-ia esperar que eu me tornasse uma pessoa viciosa e dissoluta, mas não foi isso o que aconteceu. A santa influência de minha querida sempre recaía sobre mim, protegendo-me das tentações que assediam a juventude, e, além disso, meu pai era diácono de uma igreja. Ai de mim! Por culpa minha, estas estimáveis pessoas iriam evoluir a um fim tão cruel!.

Ao experimentar um proveito duplo com os seus negócios, minha mãe se entregou ao mister com uma assiduidade nunca dantes vista. Não apenas se desfazia dos bebês indesejados que lhe eram entregues, como acorria às ruas e becos à procura de criancinhas maiores e mesmo adultos que lograva atrair à fábrica. Também meu pai, apaixonado pela melhor qualidade do óleo produzido, fornia os seu caldeirões com diligência e zelo. A conversão de seus vizinhos em óleo de cão tornou-se, em suma, a paixão de suas vidas. Uma ganância absorvente invadiu suas almas e ocupou o lugar da esperança que tinham de alcançar o paraíso, que, de sua feita, também os inspirava.

E se atiraram tão vivamente à empresa que uma reunião pública foi realizada, na qual adotaram-se resoluções que os censuravam severamente. Ele foi intimado pelo presidente: quaisquer incursões contra a população seriam recebidas com hostilidade. Meus pobres pais saíram da assembleia com o coração partido, desesperados e, creio eu, não completamente sãos. Considerei prudente, de toda forma, não entrar com eles na fábrica de óleo naquela noite e fui dormir lá fora, num estábulo.

Cerca de meia-noite, algum misterioso impulso ordenou que eu me levantasse e espreitasse pela janela do quarto do forno, onde eu sabia que meu pai já dormia. O fogo ardia em fulgores, como se esperasse por uma colheita abundante no dia seguinte. Um dos enormes caldeirões fervia devagar, dotado de um misterioso aspecto de auto-contenção, como se aguardasse o momento de transbordar a sua total energia. Mas meu pai não estava na cama. Levantara-se e estava com roupas de dormir. Fazia um nó numa corda vigorosa. Pelos olhares que dirigia à porta do quarto de minha mãe, deduzi perfeitamente o propósito que ele tinha em mente. Mudo e imóvel, cheio de terror, eu nada pude fazer em matéria de prevenção ou alerta. Subitamente, a porta do quarto de minha mãe se abriu sem fazer ruído e eles se defrontaram, ambos aparentemente surpreso. A senhora também estava de camisola, e levava, na mão direita, a sua ferramenta de trabalho: uma longa adaga de lâmina estreita.

Ela foi, igualmente, incapaz de negar-se ao lucro que a atitude hostil dos cidadãos e a minha ausência lhe permitiam. Por instantes, eles contemplaram mutuamente os olhos em chamas e, então, lançaram-se com indescritível fúria um contra o outro. Como demônios, lutaram pelo cômodo todo. Meu pai maldizia. Minha mãe gritava. Ela tentava cravar-lhe a adaga. Ele forçava por estrangulá-la com as grandes mãos. Não sei por quanto tempo tive a desgraça de observar este desagradável momento de infelicidade doméstica, mas, enfim, depois de um esforço mais vigoroso que o ordinário, os adversários subitamente se separaram.

O peito de meu pai e a arma de minha mãe exibiam sinais de contato. Por instantes, olharam-se da forma mais hostil. Então meu pobre e ferido pai, sentido sobre si a mão da morte, saltou à frente e, fazendo pouco da resistência que a minha mãe oferecia, tomou-a nos braços, conduzindo-a ao caldeirão fervente. E, reunindo as suas últimas forças, saltou com ela! Em um momento, ambos tinham desaparecido e adicionavam seu óleo àquele do comitê dos cidadãos que os haviam convocado, no dia anterior, à reunião pública.

Convencido que estes funestos acontecimento obstruíam todos os caminhos para uma honrável carreira naquela cidade, abandonei-a em prol da famosa vila de Otumwee, onde escrevi estas memórias com o coração repleto de remorsos por um ato tão imprudente e que envolve um deveras catastrófico desastre comercial.




quinta-feira, 28 de julho de 2016

FOTOGRAFIAS

No quintal de Dona Zefa








Fotografias de Ricardo Silva

CHARLES BUKOWSKI


Encurralado

(Tradução: Pedro Gonzaga)


bem, eles diziam que tudo terminaria
assim: velho. o talento perdido. tateando às cegas em busca
da palavra

ouvindo os passos
na escuridão, volto-me
para olhar atrás de mim…

ainda não, velho cão…
logo em breve.

agora
eles se sentam falando sobre
mim: “sim, acontece, ele já
era… é
triste…”

“ele nunca teve muito, não é
mesmo?”

“bem, não, mas agora…”

agora
eles celebram minha derrocada
em tavernas que há muito já não
frequento.

agora
bebo sozinho
junto a essa máquina que mal
funciona

enquanto as sombras assumem
formas

combato retirando-me
lentamente

agora
minha antiga promessa
definha
definha

agora
acendendo novos cigarros
servido mais
bebidas

tem sido um belo
combate

ainda
é.


SOLDA

CÁUSTICO






































SOLDA CÁUSTICOhttp://cartunistasolda.com.br/


Terrorista aqui não sobe ao pódio


por  Célio Heitor Guimarães


Ao capturar e prender uma dúzia de aprendizes de terrorista, em operação voltada para a mídia, a Polícia Federal e particularmente o atual ministro da Justiça instituíram o terrorismo no Brasil. Valeram-se, para tanto, da proximidade da Olimpíada, marcada para agosto no Rio de Janeiro. Para prevenir ou prevenir-se, saíram na dianteira.

Quer dizer, teria sido uma advertência aos meliantes internacionais. Coisa assim como não vem que aqui tem (vigilância, segurança e reação imediata).

Perda de tempo e dinheiro, além de susto desnecessário. O Brasil não tem terroristas nem os terá. Aqui, eles não se criam. Muito menos no Rio de Janeiro. E se o leitor duvida, relembro o ocorrido algum tempo atrás, após a derrubada das torres do World Trade Center, em Nova York.

Entusiasmada com a tragédia cometida, a Al Qaeda, de Osana Bin Laden, resolveu repetir a façanha no Brasil. O alvo seria a estátua do Cristo Redentor, no Rio. E, para tanto, foram destacados dois mujahedins, que deveriam sequestrar um avião e lançá-lo contra “a estátua-símbolo dos infiéis cristãos”. Os arquivos da Polícia Federal dão conta de que os dois terroristas chegaram ao Rio no domingo, 5 de setembro, às 21h47m, num voo da Air France.

Entretanto, a missão começou a sofrer embaraços já no desembarque dos elementos, quando a bagagem deles foi extraviada, seguindo para o Paraguai. Após quase seis horas de peregrinações por guichês, os dois foram aconselhados por funcionários da Infraero a voltar no dia seguinte, com um intérprete.

Os terroristas tomaram, então, um táxi pirata na saída do aeroporto. O motorista, vendo que eram estrangeiros, rodou duas horas, até abandoná-los num lugar ermo da Baixada Fluminense. Ali, eles foram assaltados e espancados, e obrigados a pegar carona num caminhão de entrega de gás.

Na segunda-feira, às 7h33m, graças ao treinamento de guerrilha no Afeganistão, os terroristas conseguiram chegar a um hotel de Copacabana. Alugaram um carro e voltaram ao aeroporto, determinados a sequestrar logo um avião e jogá-lo no Cristo Redentor. Só que uma manifestação monstro de estudantes e professores paralisou-os por três horas na Avenida Brasil, altura de Manguinhos, onde seus relógios foram roubados em um arrastão.

Às 12h30m, resolveram ir ao centro da cidade e procurar uma casa de câmbio para trocar os dólares que lhes restaram. Receberam notas de R$ 100 falsas, dessas feitas grosseiramente de notas de R$ 1.

Às 15h45m, chegaram finalmente ao Tom Jobim. Os pilotos da Gol estavam em greve por mais salário e menos trabalho. Os controladores de voo também haviam parado (queriam equiparação com os pilotos). O único avião na pista era um antigo, da Transbrasil, que estava sem combustível. A PM chegou em seguida, batendo em todos, inclusive nos terroristas. Os árabes foram conduzidos à delegacia da Federal no aeroporto e acusados de tráfico de drogas – haviam plantado papelotes de cocaína nos seus bolsos.

Às 18h02m, graças a um resgate de presos pelo Comando Vermelho, os muçulmanos conseguiram fugir. Às 19h05m, ensanguentados, dirigiram-se ao balcão da TAM para comprar as passagens. Mas o funcionário que as vende omitiu a informação de que os voos da companhia estavam suspensos.

Às 23h30m, sujos e mortos de fome, eles decidem comer alguma coisa. Pediram sanduíches de churrasquinho com queijo de coalho. Só na terça-feira se recuperaram da intoxicação de proporções equinas. Aí, foram levados ao Miguel Couto, onde esperaram mais de cinco horas por socorro.

Deixaram o hospital no domingo, 18h20m. O Flamengo acabara de perder de 6×0 para o Paraná Clube. A torcida rubro-negra confunde os terroristas com integrantes da galera paranaense e lhes dá uma surra sem precedentes. Um tal de “Pé de Mesa” até abusou sexualmente deles.

Na segunda-feira, os terroristas fogem do Rio escondidos na traseira de um caminhão de eletrodomésticos, que é assaltado na Serra das Araras. Chegam a São Paulo, onde, depois de perambularem o dia todo à procura de comida, acabam adormecendo debaixo de uma marquise de loja.

A PF não revelou onde os dois foram internados, depois de espancados quase até a morte por um grupo de mata-mendigos. Mas há notícia de que, assim que deixaram a UTI, foram recolhidos ao setor de imigrantes ilegais, em Brasília, até que o Ministério da Justiça autorizasse a deportação dos infelizes.

Nada mais se soube dos desventurados agentes do terror. A não ser que conseguiram enviar uma urgente mensagem à comunidade internacional de terroristas, alertando a categoria da necessidade de ficar o mais longe possível do Brasil.


segunda-feira, 25 de julho de 2016

domingo, 24 de julho de 2016

FERNANDO PESSOA


Se eu morrer novo,
sem poder publicar livro nenhum
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem.
Se assim aconteceu, assim está certo.

Mesmo que os meus versos nunca sejam impressos,
Eles lá terão a sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.

Se eu morrer muito novo, oiçam isto:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e a água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.

Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo
(E nunca a outra cousa),
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.

Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela unica grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
E sentando-me outra vez a porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraido.

Alberto Caeiro, 7-11-1915

ROCK STARS

 Lemmy
 Janis Joplin
 Patti Smith
 
Jeff Beck / Stevie Ray Vaughan

sábado, 23 de julho de 2016

DESPEDIDA


por  Rubem Braga


E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo.


*Extraído do livro "A Traição das Elegantes", Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967, pág. 83.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

DISCOTECA BÁSICA

Eric Clapton
Eric Clapton (1970)


(Edição 137,Dezembro de 1996)

por  Marcelo Fróes

O guitarrista Eric Clapton fechou o ano de 1969 cercado de amigos que o convenciam a gravar seu próprio disco. Entre eles estava Delaney Bramlett, líder - ao lado da esposa Bonnie - do grupo mambembe descoberto por Clapton meses antes, quando Delaney & Bonnie abriram os shows da única turnê realizada pelo Blind Faith - grupo que Clapton formara com Steve Winwood (teclados) e Ginger Baker (bateria), após o fim do lendário Cream.
Delaney & Bonnie tinham sido levados por Eric à Europa para uma turnê promocional. Foi naquele instante que Eric Clapton decidiu gravar seu primeiro álbum solo, ao lados do últimos companheiros e produzido por Delaney. A banda de Delaney & Bonnie - integrada por, entre outros, Bobby Keys (saxofone, Rolling Stones) e a cantora Rita Coolidge - ainda ganhou os adornos de Stephen Stills, Leon Russell e dois ex-Crickets (banda de Buddy Holly) na gravação das bases do disco.
Eric Clapton, o álbum, abre com uma jam instrumental oriunda das primeiras sessões cai em seguida em "Bad Boy" e "Lonesome And A Long Way From Home", ambas de Delaney- a primeira com Clapton, a segunda com Leon Russell -, antes de chegar a "After Midnight", composta por um desconhecido de Tulsa - o hoje reconhecido J.J. Cale. "Easy Now" levanta a bola para "Blues Power", o segundo grande sucesso do disco. É uma música que, segundo o guitarrista, tem tudo a ver com sua real idade naquela época. "Bottle Of Red Wine", feita na pressão quando Clapton e seu produtor notaram que o repertório estava curto, é apenas uma balada, enquanto "Lovin´ You Lovin´ Me" tem história: fora feita para que o Blind Faith a gravasse em seu segundo disco, que não acabou rolando.
Bramlett revelou-se como compositor de referência. Ele trouxe para o repertório algumas parcerias. "Don´t Know Why", uma das primeiras músicas compostas por Clapton e Delaney para o álbum, mesmo assim acabou não passando de uma balada preparatória para o grand finale do disco: "Let It Rain", uma quase-sobra originalmente conhecida como "She Rides" que, ao ganhar nova letra, tornou-se um dos clássicos do guitarrista.
Muita gente ficou enfurecida quando Clapton escolheu Delaney Bramlett como parceiro. Mas o tempo mostrou que ali havia algo especial. Da banda de apoio, nasceu o projeto seguinte de Clapton - Derek & The Dominós - e também um bom número de músicos que se revelariam em discos lançados por gente como Leon Russell e Joe Cocker, no início dos anos 70.


FONTE
http://rateyourmusic.com/list/Mhrr/discoteca_basica_revista_bizz/3/

terça-feira, 19 de julho de 2016

CABEÇA DE PEDRA


A curva e o vento

Hoje todo mundo fala. Todo mundo sabe tudo. Paga-se para centenas de imbecis ficarem cagando regras, por exemplo, sobre futebol. Se jogarem uma bola na direção deles, saem correndo na direção oposta. Mas sabem tudo e, de vez em quando, recebem um contravapor de um boleiro para deixar de falar besteira. Em economia, política, sexo, etc., há os especialistas. A moda agora gira em torno dos chefs de cozinha – e todo mundo virou cozinheiro de chapelão e uniforme. Qualquer hora vai aparecer aquele que vai analisar a personalidade da pessoa através do cocô, bolo fecal, troço, tolete, produto interno bruto. Foi por tudo isso que zarpei e não quero saber de nada – mesmo porque não sei de nada. Simplesmente cansei dessa palhaçada toda. Para quem insiste em me dizer que leu não sei o quê ou viu não sei onde, tenho uma resposta pronta para calar a boca de quem quer me incomodar: “Onde o vento faz a curva eu passo reto”.

Cabeça de Pedra: http://cabecadepedra1.blogspot.com.br/

segunda-feira, 18 de julho de 2016

sábado, 16 de julho de 2016

MESMO DIA, ANO E LUGAR

Josefa Maria da Silva (Zefa) e José Antonio da Silva (Zé Luis)
Nasceram no dia 16/07/1926

Quando revelo que nasceram no mesmo dia, no mesmo ano e vizinhos de sítio em Palmeira dos Índios, não acreditam. Aí, emendo: morreram na mesma UTI de hospital naquela cidade do interior das Alagoas – com diferença de quatro anos. Primeiro, foi embora Zefinha. Depois, Zé Luis. Tinham menos de oitenta anos. Deixaram dois filhos e quatro netos – depois apareceu a bisneta. Começaram a namorar no Rio de Janeiro que era capital federal e Cidade Maravilhosa. Tinham vindo, cada um seguindo irmãos, tentar a vida no Sul Maravilha. Casaram no Nordeste, para provar que tinham casado mesmo. O signatário foi feito numa rede na casa dos avós paternos no pedaço de sítio que eu e meu irmão, que nasceu sete anos depois, herdamos. Como sei? Simples: ao voltar ao Rio, mamãe estava grávida. Aí o Zé Luis cismou e foi para São Paulo ser operário. Onde nasceram os dois filhos. Depois… Bem, eles nos deram tudo que era possível, ou seja, o básico, além da vida: educação, saúde, um teto e a certeza de que tínhamos apoio. Só fui ver isso depois dos quarenta anos. Mas nunca é tarde. Agradeci e entendi os dois. Ela chamava ele de Filhinho. Ele chamava ela de Filhinha. Bonito. Consegui me aproximar de verdade depois que me perdi na vida. Ricardo Silva, o artista da família, morou com eles. Só posso falar de mim e dou graças a deus ter podido ficar junto. Até na hora da morte dele. Na dela, cheguei apenas a tempo do enterro, pois tinham voltado para cumprir a sina do pau de arara: morrer na terra. Deles, nossa. Pra sempre. Amém.

por Roberto José da Silva

PARA O ZÉ


por  Adélia Prado 


Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas
o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não
ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho. Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.


(Do livro Bagagem. São Paulo: Siciliano, 1993. p. 99)


quarta-feira, 13 de julho de 2016

NO DIA DO ROCK

Jerry Lee Lewis
Whole Lotta Shakin Going On (Live 1964)

quarta-feira, 6 de julho de 2016

terça-feira, 5 de julho de 2016

CABEÇA DE PEDRA

Viagem na escuridão

No último vagão do trem de carga. Estava lá o menino no meio de uma aventura que começou com a família perdendo o trem que a levaria para uma chácara de um parente. Aconteceu numa baldeação. Então surgiu a carona. Embarcaram lá atrás no começo da madrugada. O céu nublado e nenhuma réstia de luz dentro ou fora daquela serpente sobre os trilhos. O som alto da locomotiva e o chacoalhar não assustaram o garoto. Os olhos, verdes, estavam arregalados. A sensação era a de estar entrando no desconhecido e, por mais paradoxal, ele morria de medo do desconhecido. Mas ali, não! O tempo deixou de existir. Ninguém falava - e a máquina que puxava uma infinidade de vagões, rasgava a escuridão impetuosamente. Até que parou, como o previamente combinado. Todos desceram, andaram um pouco e, na porteira da chácara, estancaram ao ouvir as feras chegando. O menino então teve medo, porque os latidos eram apavorantes. O mais velho da família falou algo em tom alto. Os cães reconheceram e se acalmaram. Entraram. A casa pareceu um castelo de contos de fadas. No dia seguinte, o garoto pode ver o sol nascendo dentro do lago envolto em neblina. Aí teve certeza de que a viagem na escuridão foi apenas uma preparação para o deslumbre.

NOEL NEILL

A primeira Lois Lane de Superman

Noel Darleen Neill (November 25, 1920 – July 3, 2016)

Kirk Alyn como Clark Kent (1948)

com George Reeves

Noel Darleen Neill, primeira atriz a interpretar Lois Lane, morreu neste domingo, aos 95 anos, em sua casa em Tuscon, Arizona, nos Estados Unidos. A notícia foi divulgada por seu biógrafo Larry Ward no Facebook. Noel sofreu por muito tempo de uma doença que não foi divulgada.
                                                               com George Reeves

A atriz deu vida ao par romântico do herói em 1948, em Super-Homem, ao lado de Kirk Alyn como Clark Kent, e em 1950, em O Homem Atômico Contra o Super-Homem. Ela retornou ao papel na série de TV As Aventuras do Super-Homem, entre 1953 e 58, com George Reeves na pele do protagonista.



Jack Larson and Noel Neill, who played Jimmy Olsen and Lois Lane

Noel Darleen Neill (November 25, 1920 – July 3, 2016)