domingo, 31 de julho de 2016

OS IMPERDOÁVEIS

OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven, 1992, Warner Bros, 131min) Direção: Clint Eastwood. Roteiro: David Webb Peoples. Fotografia: Jack N. Green. Montagem: Joel Cox. Música: Lennie Niehaus. Direção de arte/cenários: Henry Bumstead/Janice Blackue-Goodine. Casting: Phyllis Huffman. Produção executiva: David Valdes. Produção: Clint Eastwood. Elenco: Clint Eastwood, Gene Hackman, Morgan Freeman, Richard Harris, Jaimz Woolvett, Saul Rubinek, Frances Fisher. Estreia: 03/8/92

8 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Ator (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman), Roteiro Original, Fotografia, Montagem, Direção de Arte/Cenários, Som
Vencedor de 4 Oscar: Melhor Filme, Diretor (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman), Montagem
Vencedor de 2 Golden Globes: Diretor (Clint Eastwood), Ator Coadjuvante (Gene Hackman)


Tudo bem que “Dança com lobos” pode ser considerado o filme que de certa forma ressuscitou o gênero faroeste dentro da indústria hollywoodiana, com seu sucesso de bilheteria e seus inacreditáveis 7 Oscar. Mas, justiça seja feita, é com “Os imperdoáveis”, o sensacional trabalho de Clint Eastwood, que o gênero atingiu uma maturidade com que Kevin Costner e suas tediosas e cenas contemplativas podem apenas sonhar. Espécie de réquiem a um gênero antes caro à indústria, "Os imperdoáveis" é melancólico e profundo como poucos ousaram ser. E por isso mesmo, ultrapassa a barreira que o relegaria apenas a fãs do western, atingindo um público mais amplo: os cinéfilos de bom gosto.

Tudo já começa extraordinariamente bem, com um texto explicativo apresentando, em 1880, o anti-herói do filme, William Munny (o próprio Eastwood em seu melhor momento como ator), um conhecido matador - "já matei mulheres e crianças. Uma vez ou outra, eu já matei tudo que anda e se arrasta nesse mundo..." - que abandonou a vida errática e criminosa para casar-se e formar família. Envelhecido, aposentado e viúvo, ele vê a chance de pagar suas dívidas e dar uma vida melhor para os filhos pequenos quando é procurado por Schofield Kid (Jaimz Woolvett), um jovem que lhe propõe sociedade em um trabalho ideal: matar dois homens que retalharam o rosto de uma prostituta na pequena cidade de Big Whisky. Munny reluta em aceitar o trabalho - o pagamento generoso será feito pelas próprias meretrizes da cidade - e o aceita com a condição de poder contar também com o velho parceiro Ned Logan (Morgan Freeman). Juntos, os três homens partem para cumprir a missão, mas esbarram no cruel e sádico xerife do lugar, Little Bill Daggett (Gene Hackman, vencedor do Oscar de coadjuvante).

Eastwood utiliza todos os elementos que fizeram a glória do gênero a seu favor. Xerifes sanguinários, saloons, descampados fotografados com maestria, anti-heróis solitários, tiroteios... Tudo está presente em "Os imperdoáveis", mas de uma maneira tão própria que é difícil entender porque o discípulo de Sergio Leone e Don Siegel - a quem o filme é dedicado - demorou tanto tempo para dirigir um filme no gênero que o consagrou. Dono de uma concisão e uma precisão absolutas, Eastwood constrói seu filme com cuidado, dando a cada cena, a cada diálogo e a cada enquadramento a atenção necessária. Mesmo tendo realizado o filme em apenas 39 dias, é patente sua qualidade autoral e artística. A direção de arte impecável e a fotografia são excepcionais, assim como a trilha sonora - cujo tema principal também foi composto pelo diretor - que equilibra a grandiloquência com a melancolia.

E o elenco escolhido por Eastwood é excepcional. O diretor/produtor/compositor foi indicado ao Oscar de melhor ator por sua performance discreta e raivosa de William Munny, um homem marcado por um passado violento que tenta a redenção, ainda que por meios tortuosos. Morgan Freeman e Richard Harris pontuam com a competência habitual - o segundo na pele de um inglês famoso por seus dotes de atirador. E Gene Hackman deita e rola com seu torpe Little Bill, um homem pra quem a violência, mais do que um meio de vida, é quase um prazer. Suas cenas ao lado de Saul Rubinek (que vive um escritor que é tentado a escrever a biografia do xerife) são magistralmente dirigidas, ficando a um passo entre a tensão e o humor.

"Os imperdoáveis" mereceu os 4 Oscar que levou e talvez merecesse até mais. Forte e triste, é um entretenimento adulto do mais alto gabarito, que encanta em todos os níveis possíveis. E foi através dele que Eastwood renasceu como cineasta comercialmente viável e altamente oscarizável. Precisa dizer mais?



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