FONTE: http://cartunistasolda.com.br/
terça-feira, 31 de janeiro de 2017
EM BUSCA DA IGNORÂNCIA ABSOLUTA
Por Zé da Silva
Cansei. Juro que tentei. Caí na lorota de batalhar por um mundo melhor. Mifu. Tomei drogas na Vila Califórnia e no festival de Águas Claras. Me amarrei em árvores, dei tiros contra gorilas verdes e agentes da CIA. Enfiaram agulhas embaixo de minhas unhas e queimaram meu saco na cadeira do dragão. Sem lenço e sem documento acreditei no Caetano – e caí do cavalo. Escrevi um livro e foi antes do ponto final que me toquei. Não sujei a tela com o tal. Apaguei tudo. Fui para o pico da Neblina, olhei a imensidão em volta e ouvi o barulho dos tratores, das motosserras, dos milhões de índios trucidados por balas e doenças – e também o canto dos caciques bêbados. Voltei para a cidade e o espancamento diário das notícias acabaram por me soterrar de vez. Não dou o tiro no céu da boca porque vai sujar o tapete que ganhei de mamãe. Agora, ali do outro lado da janela, um canário da terra me olha. Chego perto e ele não se assusta. Então, eu digo: sem árvore, sombra e paz o homem segue destemido em sua busca da ignorância absoluta.
FONTE: http://www.zebeto.com.br/ze-da-silva-119/#.WJETAFMrKUk
segunda-feira, 30 de janeiro de 2017
BETTY DAVIS
Mulher, negra e feminista: Betty Davis foi a fagulha para o nascimento do Jazz Fusion e revolucionou o funk e o blues
Por Vitor Paiva
A história oficial é contada pelos vencedores. Por isso, se sacudirmos a memória do mundo, descobriremos sempre algum herói ou heroína que injustamente acabou deixado pra trás. Num momento como o atual, no qual a afirmação da força feminina e o protagonismo da mulher cada vez mais é justamente exigido e sublinhado, parece ser o timing perfeito para redescobrirmos ou enfim tomarmos conhecimento de uma dessas figuras notáveis, que permanece soterrada sob o racismo, o ostracismo, a sombra de outros homens e o peso da própria história: é preciso, antes tarde do que tarde demais, dar a devida atenção à obra e à vida de Betty Davis.
Se a apresentássemos como simplesmente a segunda mulher de Miles Davis, estaríamos cometendo uma tremenda injustiça, ainda que a informação esteja correta. Se disséssemos que ela foi responsável pela virada do maior trompetista de todos os tempos na direção do Fusion, misturando o jazz com o rock e o funk, seria a mais pura verdade. Ainda assim, não estaríamos nem de longe sendo justos com a história de Betty.
Podemos chamá-la de um ícone histórico ainda a se descobrir; uma desbravadora, presa na vanguarda da música negra do final do início dos anos 1970, uma força feminina em um universo masculino. Nas palavras do próprio Miles, registradas em sua autobiografia de 1989, “Se Betty estivesse ainda cantando hoje, ela seria como Madonna, ou como Prince, mas como uma mulher. Ela deu início a tudo isso. Ela simplesmente estava a frente de seu tempo”.
A referencia à Madonna e Prince é precisa, afinal, tudo na musicalidade e na própria vida de Betty vinha de sua força sexual. Mais de uma década antes de Like a Virgin ou Purple Rain – e pouco mais de uma década depois de Elvis trazer a provocação sexual para a ribalta da música popular – Betty cantava, sentia, oferecia e ilustrava a sexualidade direta, provocadora, explicita e feroz sobre a qual Madonna e Prince construiriam os artistas que foram.
A mesma sexualidade explicita que, aliada ao seu talento como compositora (sim, ela escrevia a maioria das suas canções), sua voz rasgada e seu balanço, forjou sua personalidade, foi também a força que a impediu de ser reconhecida como artista. Nem os EUA nem o mundo estavam prontos para, em 1973, aceitar uma personagem tão desafiadora e explícita quanto Betty Davis foi. Muitos de seus shows foram boicotados por grupos religiosos e até cancelados, e sua estrela acabou nublada pela controvérsia que provocou.
A verdade é que Madonna, perto de Betty, soa mais como uma adolescente descobrindo o sexo (mais como uma virgem) do que propriamente com o furacão erótico de Betty. E nem falem em Lady Gaga: é mais fácil pensarmos em alguma dama do funk carioca para uma comparação mais possível com a força provocadora de uma cantora como Betty Davis.
Ainda assim e apesar de tudo isso, é impossível não falar de sua influência sobre a carreira de Miles, tão grande que não seria exagero dizer que, sem ela, o maior nome da história do Jazz haveria permanecido soterrado sob os escombros de seu próprio êxito. Feito um fóssil de um gigante do passado, quando Miles e Betty, então uma modelo de 23 anos, se conheceram em 1967, o trompetista vivia um momento bastante difícil em sua carreira.
Desde que havia revolucionado o jazz diversas vezes ao longos da década de 1950, com clássicos como Birth of the Cool, Sketches of Spain, e principalmente Kind Of Blue (indiscutivelmente o maior disco da história do Jazz), tanta coisa havia acontecido a partir do surgimento do rock que, por maior que Miles fosse, sua música se encontrava resignada a certo ostracismo anacrônico a que os clássicos estão sempre sujeitos. Foi preciso que Miles conhecesse e se apaixonasse por Betty para que pudesse realizar a maior transformação estética de sua carreira – e voltar a revolucionar o jazz, sob influência principalmente de Jimi Hendrix e Sly, do Sly & The Family Stone, ambos apresentados tanto pessoalmente quanto musicalmente a ele por sua segunda mulher.
Betty conhecera Hendrix e Sly durante seu período como modelo, e viu em seus jovens e geniais amigos músicos a faísca possível para reacender o barril de pólvora que havia em Miles e seu trompete. As guitarras distorcidas e cósmicas de Hendrix e o forte funk experimental de Sly & The Family Stone levaram Miles a criar o seminal álbum Bitches Brew, de 1970, um disco elétrico, misturando sonoridades diversas e orientando o jazz na direção de um rock solto e improvisado, que viria a se tornar seu primeiro disco de ouro, e peça essencial para a fusão entre rock, funk e Jazz.
Em suma, quem quiser fique à vontade para afirmar que Betty Davis também inventou o Fusion.
O casal se separou em menos de um ano, com Miles acusando Betty de ter tido um caso com Hendrix (fato negado por ela até hoje) e, ainda que tivesse realizado já uma série de maravilhosas gravações no final dos anos 1960 (algumas inclusive produzidas por Miles) foi só em 1973 que a carreira de Betty de fato começou – com seu disco de estreia, batizado com seu nome. Até então, ela era conhecida como a dona do rosto na capa do disco Filles de Kilimanjaro, lançado por Miles em 1968.
A maioria das faixas no disco Betty Davis foi escrita por ela mesma, tratando de sexo, poder, frustração e desejo feminino com uma franqueza radical e forte. Se o disco é até hoje considerado fundamental para o funk rock, e formador de muito do que viria ser a música negra da década de 1970 e a música pop da década de 1980, a atitude abertamente erótica e provocadora de Davis era demais para a época.
A ideia de uma furiosa rainha do funk, uma indomável pantera negra com um microfone na mão, cabelo afro, roupas coloridas, botas vertiginosas e uma beleza singela e agressiva, elevando o funk a extremos e liderando uma banda formada por homens, definitivamente não era algo fácil de se digerir no inodoro cenário cultural americano do início da década de 1970.
Apesar disso, em 1975 Betty assinou com a lendária gravadora Island Records, para lançar o disco planejado para fazer decolar de ver sua carreira: Nasty Girl (Garota perversa, má, suja). O disco é, na mesma medida, de qualidade impecável e conteúdo bastante arriscado.
Destaca-se a espetácular balada You and I, escrita em parceria com Miles (já seu ex-marido) e com arranjos assinados por ninguém menos que o maestro Gil Evans. Apesar da dedicação de Betty e da enorme promoção feita pela gravadora, Nasty Girl não alcançou o sucesso esperado, e a resposta para o enigma parece ser a mesma que perseguiu Betty ao longo de toda sua carreira: sua música era pesada demais para as rádios negras, e funky demais para as rádios brancas (e sua temática avançada demais para todo mundo).
O fracasso comercial de Nasty Girl foi demais para Betty, que enfim desistiu da carreira e se mudou para Pennsylvania, onde vive até hoje, reclusa e misteriosamente silenciosa a respeito de seu passado. Seus discos e sua postura, porém, desde o início dos anos 2000 voltaram a ser reconhecidos pelo público e crítica. Um documentário sobre ela está sendo preparado, e aparentemente enfim seu lugar no olimpo da música negra parece estar sendo garantido.
Há quem diga que a imagem de Betty se sobrepunha a sua música. Outros afirmam que ela não conseguiu carregar o fardo do hype criado ao redor de seu nome pela sombra de outros nomes. O que parece se comprovar, com o início da justa (ainda que tardia) retomada de sua importância, é que ela era simplesmente uma dessas artistas que ia ao limite, a fim de expandir nossas noções do que é possível, superando barreiras e provocando a todos num solitário desafio musical, pessoal, emocional, racial e feminista – que teve de esperar por quarenta anos o mundo correr atrás para enfim sentir sua própria força como artista.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
terça-feira, 24 de janeiro de 2017
MOVIE STAR
NORMA SHEARER
Edith Norma Shearer
Nascimento: 10/08/1902, Montreal, Canadá
Morte: 12/06/1983, Woodlad Hilld, Canadá
Nascimento: 10/08/1902, Montreal, Canadá
Morte: 12/06/1983, Woodlad Hilld, Canadá
INCORPORE
Zé da Silva
Tentei matar, mas descobri depois de muito tempo ser impossível. Antes até pensei na lobotomia, mas nunca gostei das cicatrizes que um dia vi no Jack Nicholson Estranho no Ninho. Isso eu esqueci. Mas, e o resto? O tormento vinha como ondas no mar. Às vezes estava tudo calmo, eu na minha vidinha sem graça no trabalho do serviço público, à espera da aposentadoria, dinheirinho contado para as contas e, às vezes, um cineminha sem pipoca. Mais nada. Filhos distantes, ex-mulher em outro planeta. Mas esse sossego sempre foi parte ínfima. De repente todas as ondas me engolfavam e eu via e sentia nitidamente, sob uma nova perspectivas, tudo de ruim que passou. Aquela máquina para amansar o bandalho de Laranja Mecânica para mim seria raspadinha de groselha. Minhas cenas foram e eram reais, agora salpicadas com o tempero da culpa. Como acabar com isso? Às vezes olhava fotografias no álbum para ver se algum sorriso de criança conseguisse apagar o resto, como uma pílula do Dr. Ross. Nada! Piorava porque aí vinham as barbaridades daquele período. Quero matar, mas não quero morrer. Eu sou o passado – e ele não desparece, apenas se incorporou.
FONTE: http://www.zebeto.com.br/ze-da-silva-116/#.WIfg-lMrKUk
EM BUSCA DO OURO
The Gold Rush (1925)
Por Magno Martins
Depois de Casamento ou Luxo, um dos maiores sucessos da carreira de Chaplin certamente é o filme Em Busca do Ouro (The Gold Rush). O filme, que foi lançado em 1925, supriu e muito a saudade dos fãs de Chaplin no cinema, já que em Casamento ou Luxo o famoso vagabundo ficou de fora, dando espaço para o primeiro drama escrito, produzido e dirigido por Charles Chaplin.
Em Busca do Ouro foi digirido pelo próprio Chaplin. Como sempre, ele buscou aperfeiçoar ainda mais o seu olhar cinematográfico, trazendo de volta para as telas o famoso vagabundo. Porém, como nos demais filmes lançados, Chaplin buscou mais uma vez um olhar sobre a sociedade, fazendo uma crítica em torno dos valores sociais impostos na época. Pelo próprio nome do filme, percebe-se uma crítica de que todas as pessoas, para se sentirem felizes e realizadas, necessitam de dinheiro e bens materiais. Porém, no próprio filme, Chaplin mostra tudo isso ao contrário.
Em síntese, Em Busca do Ouro conta a história do Vagabundo que, assim como demais garimpeiros, partem rumo ao Alaska em busca do material precioso para sobreviverem ao injusto mundo em que pertenciam. No meio do caminho, acontece uma tempestade e o Vagabundo se perde dos demais homens e acaba encontrando uma cabana para se proteger. Porém, ele descobre que a cabana já está ocupada por Big Jim McKay (Mack Swain) com uma peculiariedade: ele era bandido e também estava em busca de ouro na região. Os dois começam a disputar pelo espaço e pela sobrevivência e, ao salvar a vida do Vagabundo, eles se tornam amigos. No desenrolar da comédia, Chaplin se apaixona por Georgia (Georgia Hale), uma mulher que é apaixonada por um homem mulherengo e grosseiro que frequenta o café onde ela trabalha.
O filme possui algumas das cenas épicas produzidas por Charles Chaplin: no Reveillon abordado no filme, o Vagabundo espeta dois garfos em dois pãezinhos e faz a famosa dança dos pãezinhos; o bandido Big Jim MCkay delira de fome e visualiza o Vagabundo como uma galinha gigante e tenta matá-lo para saciar sua fome e a cena mais lembrada de todas, onde o Vagabundo e seu amigo bandido cozinham um par de botinas e comem como se fosse um delicioso banquete.
Em todo o filme, é possível ver todas as críticas sociais que Charles Chaplin implementa em sua obra: os valores materiais, a miséria e a fome. Porém, com um olhar otimista, Chaplin buscou mostrar que, mesmo com todos os problemas que as pessoas são submetidas, elas podem construir amizades independente do que as pessoas são, mostra o companheirismo, a importância do trabalho em equipe, enfim, muitas e muitas visões que fazem Em Busca do Ouro ser assistido, que vai além da proposta inicial: ser um filme de comédia.
Chaplin, como sempre, surpreendeu e muito no filme: com uma produção cotada em US$ 923 mil, os 2.500 garimpeiros mostrados no filme eram moradores de rua que toparam em participar do filme por um dia de salário. Além disso, a famosa dança dos pãezinhos ficou tão famosa que, após a exibição do filme, alguns cinemas passavam novamente a cena para o público. O filme foi tão recebido pela crítica e pelo público que, em 1942, após a reedição de Em Busca do Ouro, Charles Chaplin recebeu dois Oscars, o de Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.
Em Busca do Ouro é um grande marco na carreira de sucesso de Charles Chaplin, mostrando ainda a importância de ter uma linguagem cinematográfica voltada para o público que sempre apreciou o vagabundo em condições parecidas de suas vidas. Chaplin sempre foi direto e coerente em suas produções, mostrando um lado do cinema que nenhum diretor na época queria registrar: o das pessoas comuns, o lado humano de ser, revelando cada vez mais não só o seu talento como diretor mas principalmente, seu talento em compreender os problemas sociais ao seu redor.
FONTE: http://cinemascope.com.br/especiais/chaplin/em-busca-do-ouro/
domingo, 22 de janeiro de 2017
sábado, 21 de janeiro de 2017
BUKOWSKI
uma palavrinha sobre os fazedores de poemas rápidos e modernos
é muito fácil parecer moderno
enquanto se é o maior idiota jamais nascido;
eu sei; eu joguei fora um material horrível
mas não tão horrível como o que leio nas revistas;
eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais
que não me deixará fingir que sou
uma coisa que não sou —
o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa
na poesia
e o fracasso de uma pessoa
na vida.
e quando você falha na poesia
você erra a vida,
e quando você falha na vida
você nunca nasceu
não importa o nome que sua mãe lhe deu.
as arquibancadas estão cheias de mortos
aclamando um vencedor
esperando um número que os carregue de volta
para a vida,
mas não é tão fácil assim —
tal como no poema
se você está morto
você podia também ser enterrado
e jogar fora a máquina de escrever
e parar de se enganar com
poemas cavalos mulheres a vida:
você está entulhando a saída — portanto saia logo
e desista das
poucas preciosas
páginas.
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
MILLÔR FERNANDES
Terrível é o pensar./ Eu penso tanto / E me canso tanto com meu pensamento / Que às vezes penso em não pensar jamais./ Mas isto requer ser bem pensado / Pois se penso demais / Acabo despensando tudo que pensava antes / E se não penso / Fico pensando nisso o tempo todo.
BOLA SETE
Djalma de Andrade
16/07/1923 Rio de Janeiro, RJ
14/02/1987 Califórnia, EUA
Na adolescência, costumava participar de rodas de músicos na Praça Tiradentes. Aos 17 anos, seguiu para Marília (SP) como violonista de um conjunto do qual participava o compositor Henricão. No início da década de 1940, tocou em parques de diversão em Campinas (SP) e em Niterói (RJ).
Em 1945 venceu um concurso de violonista na Rádio Transmissora (hoje Globo). Fez apresentações como violonista em Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Voltou para a Rádio Transmissora, apresentando-se durante três anos no programa Trem da Alegria, no Teatro João Caetano, junto com Lamartine Babo, Iara Sales e Héber de Boscoli.
No final da década de 1940 organizou o Bola Sete e seu Conjunto e para cantar, convidou Dolores Durán, que era crooner da boate Beguin. Atuaram nas boates Drink e Vogue. Em 1949, lançou na gravadora Star seu primeiro disco, interpretando ao violão o bolero "Meu sonho", e o choro "Carminho no choro", ambos de sua autoria. Em 1952, gravou com violão elétrico os choros "Sem compromisso" e "Tô" de sinuca", ambos de sua autoria.
Radio Nacional, Rio de Janeiro, 1950.
Em 1953, gravou com violão elétrico o choro "Meditando", de Garoto e o "Baião da Bahia", de sua autoria. Em 1954, formou uma orquestra para atuar no Baile dos Artistas no Hotel Glória. Com este grupo excursionou pela Argentina, Uruguai e Espanha. Em 1955, fez shows em Lima no Peru e em Santiago do Chile. No mesmo ano, gravou com seu conjunto na Continental o choro "Hora staccato", de Dinicu e Heifetz, e o baião "Czardas", de Monti. No ano seguinte, gravou ao violão o fox-trot "Accarezzame", de Pino Calvi e Nisa e o baião "Scapriccitiello", de F. Albano e Pacífico Vento.
Em 1957, gravou com seu conjunto as músicas "Bacará", de sua autoria, e "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso. No ano seguinte, gravou o samba rock "Mister Jimmy", e o mambo "Mambeando", de sua autoria. Em 1959, mudou-se para os E.U.A, onde atuou por três anos nos hotéis da cadeia Sheraton, com shows quase diários. No mesmo ano lançou o LP "Bola Sete... É a bola da vez" pela EMI/Music interpretando "Vai que é bom", e "Batucando mesmo", de sua autoria, "Cadê a Jane", de Erasmo Silva e Wilson Batista, "Minha saudade", de João Donato e João Gilberto, e "Eu preciso de você", de Aloísio de Oliveira e Tom Jobim.
Em 1960, gravou o samba "Batucando mesmo", e o rock "Ma griffe", ambos de sua autoria. Por essa mesma época, foram lançados dois LPs seus: "Bola Sete", pela Sinter, com "Um a zero", de Pixinguinha e Benedito Lacerda e "Império do samba", de Zé da Zilda e Zilda do Zé, entre outras, e "Bola Sete e quatro trombones", pela Odeon, destacando-se "Mambeando", de sua autoria, e "The Man I Love", de Ira Gershwin e George Gershwin, entre outras.
Em 1962, participou do Festival de Monterey, na Califórnia, E.U.A., como integrante do conjunto de Dizzie Gillespie. Como integrante desse conjunto, gravou um disco nos Estados Unidos. Também no mesmo ano, foi lançado no Brasil o LP "O extraordinário Bola Sete", pela Odeon, destacando-se as músicas "Menino desce daí", de Paulinho Nogueira, e "Fico triste sem twist", de sua autoria, entre outras. Em novembro do mesmo ano, apresentou-se em New York, E.U.A., no Festival da Bossa Nova, do Carnegie Hall, ao lado da cantora Carmen Costa, festival que lançou o novo ritmo brasileiro nos EUA, apresentando-se ainda no Village Gate e no Village Vanguard. Também em 1962, organizou seu próprio trio, com Tião Neto (baixo) e Chico Batera (percussão). Lançou, ainda no mesmo ano, pelo selo Fantasy dos Estados Unidos o LP "Bola Sete Bossa nova", interpretando "manhã de carnaval", de Antônio Maria e Luiz Bonfá, além de outras composições suas como "Sem você", e "Cingadinho".
Com Dizzy Gillespie
Em 1964, lançou dois LPs pelo selo norte americano Fantasy: "Tour de force", com destaque para a música título, de Dizzy Gillespie e "Mambeando", de sua autoria e, "From all sides - Vince Guaraldi and Bola Sete". No ano seguinte, lançou mais dois LPs pelo selo Fantasy: "The solo guitar of Bola Sete", com destaque para "Flamenco fantasy", de sua autoria e "Brzilliance", de Laurindo de Almeida e, "The incomparable Bola Sete", com destaque para "Lamento negro" e "Be-bossa", de sua autoria, e "Valsa de uma cidade", de Ismael Netto e Antônio Maria. Em 1966, voltou a gravar com Vince Guaraldi, lançando o LP "Live at el Matador - Vince Guraldi e Bola Sete", com "Favela", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e "Black Orpheus suíte", de Tom Jobim e Luiz Bonfá. No mesmo ano, gravou o LP "Autentico! - Bola Sete and the New brazilian trio", com destaque para "Brejeiro", de Ernesto Nazareth, "Quindim de Iaiá", de Ary Barroso e "Pau de arara", de Luiz Gonzaga e Guio de Morais. Em 1967, lançou pelo selo Verve o LP "Bola Sete at the Monterrey Jazz Festival" no qual interpretou um medley com "Manhã de carnaval", de Luiz Bonfá e Antônio Maria, "A felicidade", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, e "Samba de Orfeu", de Luiz Bonfá e Antônio Maria.
Em 1969, ao lado de Airto Moreira, Eumir Deodato e Milton Nascimento participou do Festival de Música Brasileira e Americana, no México. Em 1971 gravou o LP Workin' on a Groovy Thing, na Paramount/RGE, com destaque para a música "With a Little Help from my Friends", de John Lennon e Paul McCartney.
Ao todo gravou cerca de dez LPs nos E.U.A., entre os quais, um com Vince Guaraldi, além de Ocean I, Ocean II e Jungle Suite. Atuou no regional de Claudionor Cruz. Considerado ao lado de Luís Bonfa, Laurindo de Almeida e Garoto, como um dos "mais talentosos e modernos violonistas brasileiros dos anos cinqüenta", segundo os historiadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello.
Com Carlos Santana
domingo, 15 de janeiro de 2017
sábado, 14 de janeiro de 2017
A Espantosa Realidade das Coisas
de Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)
A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo.
Tenho escrito bastantes poemas.
Hei de escrever muitos mais. Naturalmente.
Cada poema meu diz isto,
E todos os meus poemas são diferentes,
Porque cada coisa que há é uma maneira de dizer isto.
Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada.
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido.
Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;
Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem estorvo,
Nem idéia de outras pessoas a ouvir-me pensar;
Porque o penso sem pensamentos
Porque o digo como as minhas palavras o dizem.
Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade.
sexta-feira, 6 de janeiro de 2017
NA PENUMBRA
por Sérgio Rubens Sossélla
O que sou hoje fui aprendendo na penumbra da sala suarenta, com outros no planeta Mongo, nas selvas africanas, nos poços petrolíferos, nas avenidas de Nova Iorque, no fundo dos mares, nos automóveis de corrida, nos bares dos faroestes, nos desertos, nas geleiras e nos pântanos, nas ilhas perdidas, nos bastidores dos teatros, nas redações dos jornais, nos castelos mal-assombrados, dentro dos vulcões, nos ensaios dos musicais, respirando a paixão de Cristo e a tragédia de Judas.
O que sou hoje fui aprendendo na penumbra da sala suarenta, com outros no planeta Mongo, nas selvas africanas, nos poços petrolíferos, nas avenidas de Nova Iorque, no fundo dos mares, nos automóveis de corrida, nos bares dos faroestes, nos desertos, nas geleiras e nos pântanos, nas ilhas perdidas, nos bastidores dos teatros, nas redações dos jornais, nos castelos mal-assombrados, dentro dos vulcões, nos ensaios dos musicais, respirando a paixão de Cristo e a tragédia de Judas.