Beat UK TV Show/1991
sábado, 25 de fevereiro de 2017
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017
ARTHUR RIMBAUD
Canção da torre mais alta
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.
Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.
Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.
Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.
Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora.
Eu disse a mim: cessa,
Que eu não te veja:
Nenhuma promessa
De rara beleza.
E vá sem martírio
Ao doce exílio.
Foi tão longa a espera
Que eu não olvido.
O terror, fera,
Aos céus dedico.
E uma sede estranha
Corrói-me as entranhas.
Assim os Prados
Vastos, floridos
De mirra e nardo
Vão esquecidos
Na viagem tosca
De cem feias moscas.
Ah! A viuvagem
Sem quem as ame
Só têm a imagem
Da Notre-Dame!
Será a prece pia
À Virgem Maria?
Ociosa juventude
De tudo pervertida
Por minha virtude
Eu perdi a vida.
Ah! Que venha a hora
Que as almas enamora!
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
domingo, 19 de fevereiro de 2017
sábado, 18 de fevereiro de 2017
CLARICE LISPECTOR
Sobre a Escrita...
Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.
Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma idéia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.
Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo - é por esconderem outras palavras.
Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exatamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.
Simplesmente não há palavras.
O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.
Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranqüilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.
Simplesmente as palavras do homem.
* Texto extraído do site "Sobrado".
A Tartaruga Vermelha
La tortue rouge (2016)
por Waldemar Dalenogare
Vencedor do prêmio Un Certain Regard do júri especial de Cannes, La tortue rouge (A Tartaruga Vermelha, no Brasil) é uma excelente animação. Não apenas quebra com uma tendência estadunidense como também ressalta a qualidade de um trabalho minucioso em torno de uma micro-história. Com direção de Michael Dudok de Wit, La tortue rouge define uma linha de divisão para as animações convencionais logo nos primeiros minutos, quando fica claro que não haverá o uso do diálogo. de Wit apostou em uma estruturação voltada na análise de sentimentos como dor, angústia e raiva em suaves passagens poéticas.
A animação conta sobre um homem que fica preso em uma ilha deserta. Além da necessidade de desenvolver seus instintos básicos (como a caça), ele também deve ser rápido o suficiente para planejar uma saída antes que as alucinações comecem a tomar conta de sua cabeça. É após o encontro com uma tartaruga vermelha gigante que sua percepção de mundo muda completamente – e as respostas para suas dúvidas ganham soluções inesperadas.
É fantástico notar o quão subjetiva essa experiência se torna com o desenrolar do filme. A falta de falas promove um convite ao espectador para solucionar ou abraçar elementos mágicos misturados no roteiro. A interpretação das parábolas, portanto, é a chave nesta produção. A bonita ambientação usa uma paleta de cores forte – que demonstra confiança e cria cenas memoráveis que tornam os oitenta minutos de duração ainda mais agradáveis. Com a assinatura do Studio Ghibli (em sua primeira produção fora do solo japonês) e distribuição da Sony, La tortue rouge espera chegar em condições de igualdade perante as demais animações produzidas em 2016 na temporada de premiações. Uma linda e forte reflexão sobre o ciclo da vida a partir de um relacionamento simbólico do homem com a natureza na descoberta de si.
Vencedor do prêmio Un Certain Regard do júri especial de Cannes, La tortue rouge (A Tartaruga Vermelha, no Brasil) é uma excelente animação. Não apenas quebra com uma tendência estadunidense como também ressalta a qualidade de um trabalho minucioso em torno de uma micro-história. Com direção de Michael Dudok de Wit, La tortue rouge define uma linha de divisão para as animações convencionais logo nos primeiros minutos, quando fica claro que não haverá o uso do diálogo. de Wit apostou em uma estruturação voltada na análise de sentimentos como dor, angústia e raiva em suaves passagens poéticas.
A animação conta sobre um homem que fica preso em uma ilha deserta. Além da necessidade de desenvolver seus instintos básicos (como a caça), ele também deve ser rápido o suficiente para planejar uma saída antes que as alucinações comecem a tomar conta de sua cabeça. É após o encontro com uma tartaruga vermelha gigante que sua percepção de mundo muda completamente – e as respostas para suas dúvidas ganham soluções inesperadas.
É fantástico notar o quão subjetiva essa experiência se torna com o desenrolar do filme. A falta de falas promove um convite ao espectador para solucionar ou abraçar elementos mágicos misturados no roteiro. A interpretação das parábolas, portanto, é a chave nesta produção. A bonita ambientação usa uma paleta de cores forte – que demonstra confiança e cria cenas memoráveis que tornam os oitenta minutos de duração ainda mais agradáveis. Com a assinatura do Studio Ghibli (em sua primeira produção fora do solo japonês) e distribuição da Sony, La tortue rouge espera chegar em condições de igualdade perante as demais animações produzidas em 2016 na temporada de premiações. Uma linda e forte reflexão sobre o ciclo da vida a partir de um relacionamento simbólico do homem com a natureza na descoberta de si.
Fotogramas aleatórios
sábado, 11 de fevereiro de 2017
FERNANDO PESSOA
Estagno na mesma alma. Dá-se em mim uma suspensão da vontade, da emoção, do pensamento, e esta suspensão dura magnos dias; só a vida vegetativa da alma — a palavra, o gesto, o hábito — me exprimem eu para os outros, e, através deles, para mim.
Nesses períodos da sombra, sou incapaz de pensar, de sentir, de querer. Não sei escrever mais que algarismos, ou riscos. Não sinto, e a morte de quem amasse far-me-ia a impressão de ter sido realizada numa língua estrangeira. Não posso; é como se dormisse e os meus gestos, as minhas palavras, os meus atos certos, não fossem mais que uma respiração periférica, instinto rítmico de um organismo qualquer.
Assim se passam dias sobre dias, nem sei dizer quanto da minha vida, se somasse, se não haveria passado assim. Às vezes ocorre-me que, quando dispo esta paragem de mim, talvez não esteja na nudez que suponho, e haja ainda vestes impalpáveis a cobrir a eterna ausência da minha alma verdadeira; ocorre-me que pensar, sentir, querer também podem ser estagnações, perante um mais íntimo pensar, um sentir mais meu, uma vontade perdida algures no labirinto do que realmente sou.
Seja como for deixo que seja. E ao deus ou aos deuses que haja, largo da mão o que sou, conforme a sorte manda e o acaso faz, fiel a um compromisso esquecido.
* Do "Livro do Desassossego" composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa.
por Fernando Pessoa
quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017
DISCOTECA BÁSICA
The Cure
FONTE: http://rateyourmusic.com/list/Mhrr/discoteca_basica_revista_bizz/5/
The Head on the Door (1985)
(Edição 205 / Setembro de 2006)
por Camilo Rocha
O ano de 1985 foi horrendo para a música. Na rádio, imperavam nomes como Bruce Springsteen, Dire Straits e Phil Collins. O hip hop era uma novidade passada e ainda não tinha sido sacudido por Run-D.M.C. e Beastie Boys.
A revolução da música eletrônica não passava de iniciantes produtores em Detroit e Chicago que ninguém conhecia fora de suas cidades.
Em meio à pasmaceira exasperante, praticamente os únicos sinais de esperança e inteligência vinham do universo indie inglês. OK, lá na Inglaterra podia ser que esse caldeirão já borbulhasse visivelmente desde a virada dos 80, desde o início do pós-punk. Mas, na paleozóica era pré-internet e MTV, as tendências demoravam anos para atravessar os continentes. Então, tirando poucos antenados com boas conexões ou grana no bolso (muitos dos quais formaram bandas de rock), no Brasil praticamente ninguém, mas ninguém mesmo, sabia o que era o novo rock inglês de gente como Smiths, Echo & the Bunnymen, Siouxsie & the Banshees, Joy Division/New Order e Bauhaus.
Se teve um disco que ajudou a clarear o matagal da ignorância foi o sexto álbum do Cure, The Head on the Door É o disco mais redondo, diverso, criativo e acessível que a banda já lançou. Nem antes nem depois conseguiram algo tão perto do perfeito. Se antes os discos da banda pendiam mais decididamente para um estilo (punk-pop, pós-punk, gótico, electro'pop, psicodelia), The Head ... se esbalda em múltiplas influências. E sempre se sai bem.
Tem Robert Smith (guitarrista, principal compositor e líder) cantando sobre o sangue de Cristo por cima de violões flamencos em "The Blood"; tem o saltitante megahit "In Between Days", com sua historinha de traição e levada que lembra New Order; tem "Kyoto Song", balada trágica com sonoridades de música japonesa (claro!). E isso são só as três primeiras faixas! Avançando disco adentro, os deleites continuam: a descompromissada "Six Different Ways", com cordas indianas e melodia quase infantil; o baixão sujo, suado e funkeado de "Screw", com sua letra que descreve uma overdose; a sinuosa levada eletrônica da paranóica "Close to Me"; o vôo épico de "Push"; o clima de despedida melancólica em "A Night Like This", com seu saxofone que é marca registrada do meio dos anos 80; "Sinking", no final, traz céu nublado a la Joy Division.
É uma síntese impecável do espírito ambivalente da banda. O chavão sobre o Cure é óbvio: góticos, depressivos, melancólicos, darks. O que é verdade, especial mente nas letras. Mas existe o outro lado da moeda sobre o qual não se fala muito, mas que também está evidente: o Cure tem um tremendo senso de humor e leveza. Ao dar um acabamento mais pop nesse disco, o Cure estava enviando o seguinte recado: não nos levem tão a sério, também queremos fazer você dançar e cantar nossas músicas.
Os clips são bons exemplos: "In Between Days" traz a banda bobamente empurrando a câmera pra todo lado, com Robert Smith num sorrisão sarcástico. Em "Close to Me" a turma aparece enfiada num guarda-roupa que rola ribanceira abaixo. Depois tem todas aquelas fotos com Smith com o famoso look de ursinho panda batido no liquidificador com um estojo de maquiagem. Sem falar que o vocalista sempre adorou cervejinha no pub e pelada de futebol.
Com sua variedade de sons e climas e seus hits radiofônicos, foi um álbum vencedor. Abriu o mercado americano para a banda enquanto consolidava sua posição de titular do novo rock da década de 80 da Inglaterra, chegando a Disco de Ouro nos dois países. Foi o primeiro passo para a banda se tornar a milionária instituição do rock que é hoje. Entre os muitos países onde se tornou popular graças ao disco estava o Brasil. Em 1987, ela viria para uma arrebatadora turnê,que incluiu oito shows.
(Edição 205 / Setembro de 2006)
por Camilo Rocha
O ano de 1985 foi horrendo para a música. Na rádio, imperavam nomes como Bruce Springsteen, Dire Straits e Phil Collins. O hip hop era uma novidade passada e ainda não tinha sido sacudido por Run-D.M.C. e Beastie Boys.
A revolução da música eletrônica não passava de iniciantes produtores em Detroit e Chicago que ninguém conhecia fora de suas cidades.
Em meio à pasmaceira exasperante, praticamente os únicos sinais de esperança e inteligência vinham do universo indie inglês. OK, lá na Inglaterra podia ser que esse caldeirão já borbulhasse visivelmente desde a virada dos 80, desde o início do pós-punk. Mas, na paleozóica era pré-internet e MTV, as tendências demoravam anos para atravessar os continentes. Então, tirando poucos antenados com boas conexões ou grana no bolso (muitos dos quais formaram bandas de rock), no Brasil praticamente ninguém, mas ninguém mesmo, sabia o que era o novo rock inglês de gente como Smiths, Echo & the Bunnymen, Siouxsie & the Banshees, Joy Division/New Order e Bauhaus.
Se teve um disco que ajudou a clarear o matagal da ignorância foi o sexto álbum do Cure, The Head on the Door É o disco mais redondo, diverso, criativo e acessível que a banda já lançou. Nem antes nem depois conseguiram algo tão perto do perfeito. Se antes os discos da banda pendiam mais decididamente para um estilo (punk-pop, pós-punk, gótico, electro'pop, psicodelia), The Head ... se esbalda em múltiplas influências. E sempre se sai bem.
Tem Robert Smith (guitarrista, principal compositor e líder) cantando sobre o sangue de Cristo por cima de violões flamencos em "The Blood"; tem o saltitante megahit "In Between Days", com sua historinha de traição e levada que lembra New Order; tem "Kyoto Song", balada trágica com sonoridades de música japonesa (claro!). E isso são só as três primeiras faixas! Avançando disco adentro, os deleites continuam: a descompromissada "Six Different Ways", com cordas indianas e melodia quase infantil; o baixão sujo, suado e funkeado de "Screw", com sua letra que descreve uma overdose; a sinuosa levada eletrônica da paranóica "Close to Me"; o vôo épico de "Push"; o clima de despedida melancólica em "A Night Like This", com seu saxofone que é marca registrada do meio dos anos 80; "Sinking", no final, traz céu nublado a la Joy Division.
É uma síntese impecável do espírito ambivalente da banda. O chavão sobre o Cure é óbvio: góticos, depressivos, melancólicos, darks. O que é verdade, especial mente nas letras. Mas existe o outro lado da moeda sobre o qual não se fala muito, mas que também está evidente: o Cure tem um tremendo senso de humor e leveza. Ao dar um acabamento mais pop nesse disco, o Cure estava enviando o seguinte recado: não nos levem tão a sério, também queremos fazer você dançar e cantar nossas músicas.
Os clips são bons exemplos: "In Between Days" traz a banda bobamente empurrando a câmera pra todo lado, com Robert Smith num sorrisão sarcástico. Em "Close to Me" a turma aparece enfiada num guarda-roupa que rola ribanceira abaixo. Depois tem todas aquelas fotos com Smith com o famoso look de ursinho panda batido no liquidificador com um estojo de maquiagem. Sem falar que o vocalista sempre adorou cervejinha no pub e pelada de futebol.
Com sua variedade de sons e climas e seus hits radiofônicos, foi um álbum vencedor. Abriu o mercado americano para a banda enquanto consolidava sua posição de titular do novo rock da década de 80 da Inglaterra, chegando a Disco de Ouro nos dois países. Foi o primeiro passo para a banda se tornar a milionária instituição do rock que é hoje. Entre os muitos países onde se tornou popular graças ao disco estava o Brasil. Em 1987, ela viria para uma arrebatadora turnê,que incluiu oito shows.
FONTE: http://rateyourmusic.com/list/Mhrr/discoteca_basica_revista_bizz/5/
CARMEN MIRANDA
Maria do Carmo Miranda da Cunha
Nascimento: 9 de fevereiro de 1909, Várzea da Ovelha e Aliviada, Portugal
Falecimento: 5 de agosto de 1955, Beverly Hills, Califórnia, EUA
Nascimento: 9 de fevereiro de 1909, Várzea da Ovelha e Aliviada, Portugal
Falecimento: 5 de agosto de 1955, Beverly Hills, Califórnia, EUA
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
O HOMEM É DEUS
por ZÉ DA SILVA
Foi atrás e conseguiu aquela metralhadora .50 que trucidou o traficante brasileiro na fronteira. Era um obcecado. A maneira de empunhar a máquina de matar foi o que o atraiu num treinamento militar há décadas. Cortou a bala o tronco de uma árvore plantada a uma centena de metros. Babou de prazer. Agora, com a trucidadora nas mãos, arquitetou o plano. Simples: subiu e ocupou o mirante que havia atrás e acima de uma mansão em bairro nobre. Dali, imaginou, poderia fazer o estrago que quisesse. Corpos dilacerados em câmera lenta como nos filmes de Sam Peckinpah era o que imaginava, como se a vida real não fosse real. Se instalou e a primeira coisa que viu foi que tinha à frente um templo religioso muito frequentado. Quando engatilhou a arma, travou. Ele travou. Jura que ouviu algo vindo da copa de uma árvore que ficava abaixo dos seus pés. “O homem não é um animal”, dizia a voz. “Não é mesmo! O homem é deus – só não aprendeu a construir”. Então, disparou. Para o alto – e de lá saltou para a purificação.
FONTE: http://www.zebeto.com.br/ze-da-silva-122/#.WJu0pW8rKUk
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
RAYMOND CHANDLER
"- ... Não se pode esperar qualidade de pessoas cujas vidas são uma sujeição à falta de qualidade. Não se pode ter qualidade com produção em massa. Não se deseja isso porque demoraria muito a chegar. Portanto, para substituir isso há o estilo. Que é um logro comercial com a intenção de produzir coisas obsoletas e artificiais. A produção de massa não poderia vender seus produtos no ano que vem a não ser que faça o que vendeu este ano ficar fora de moda. Temos as cozinhas mais brancas e os banheiros mais brilhantes do mundo. Mas na adorável cozinha branca a dona-de-casa americana média não consegue cozinhar uma refeição boa de se comer, e o adorável banheiro brilhante é sobretudo um receptáculo para desodorantes, laxativos, soníferos e produtos desta quadrilha de vigaristas que se chama indústria de cosméticos. Nós fazemos as embalagens mais bonitas do mundo, Sr. Marlowe. O que está lá dentro é, na maior parte, lixo."
*Página 253, de O Longo Adeus, extraídos da edição, de bolso, da L&PM Pocket, com bela tradução de Flávio Moreira da Costa.
domingo, 5 de fevereiro de 2017
sábado, 4 de fevereiro de 2017
A TEMPORALIDADE
A temporalidade é evidentemente uma estrutura organizada, e esses três pretensos "elementos" do tempo, passado, presente , futuro, não devem ser considerados como uma coleção de "dados" cuja soma deve ser feita - por exemplo, como uma série infinita de "agora", alguns dos quais ainda não são, outros que não são mais -, mas como momentos estruturados de uma síntese original. Senão encontraremos, em primeiro lugar, este paradoxo: o passado não é mais, o futuro ainda não é, quanto ao presente instantâneo, todos sabem que ele não é tudo, é o limite de uma divisão infinita, como o ponto sem dimensão.
Jean-Paul Sartre, in 'O Ser e o Nada'