quinta-feira, 12 de julho de 2018

Célio Heitor Guimarães


Ontem, hoje e amanhã



Minha geração foi criada com princípios morais comuns. Quando éramos crianças, ladrão tinha cara de ladrão, padre agia como padre e juiz era juiz; medo, tínhamos do escuro, de cemitério e de alma do outro mundo. Mães, pais, avós, tios e professores eram autoridades presumidas, dignas de respeito. Quanto mais próximas e mais velhas, mais afeto e mais respeito.

Hoje, dá uma tristeza infinita pensar no que já foi, no que aí está e no que nossos filhos e netos terão pela frente. De repente, matar pais ou avós, violentar crianças, sequestrar, roubar, enganar, tirar proveito, tudo virou banalidade, notícias corriqueiras de jornal ou de televisão, que serão esquecidas após o intervalo comercial.

Agentes da segurança viraram bandidos; fiscais de trânsito foram transformados em funcionários da indústria de multas; as blitz policiais não vão além de exercício de abuso de poder. Para os criminosos, os direitos humanos; para o cidadão honesto e cumpridor de seus deveres, mais deveres. Bandidos passaram a usar terno e gravata; assassinos têm cara de anjos; pedófilos, cabelos brancos e batinas. E os ladrões do dinheiro público viraram empresários, políticos e autoridades públicas. Em regra, com o voto da gente.

Que tempo é este?

Escolas são saqueadas, professores são surrados em sala de aula, comerciantes são ameaçados por traficantes; assalta-se e mata-se ao ar livre e à luz do sol com escancarada desfaçatez, grades cobrem nossas janelas, ninguém sai mais de casa; vivemos confinados nos shopping centers. Mas crianças continuam dormindo ao relento e gente como a gente continua morrendo de fome e de frio.

Que valores são esses?

Carros valem mais do que abraço, filhos querem-nos por haver passado de ano; todo mundo anda, come e trabalha de olho na telinha e celulares são presença obrigatória em mochilas escolares de recém saídos das fraudas…

O que vai querer em troca desse abraço, meu filho? Uma viagem ao Exterior, um SUV último tipo ou o mais recente lançamento da Apple ou da Samsung?

Mais vale um Armani do que um diploma; mais vale um whatsapp do que uma conversa; mais vale um baseado do que um sorvete.

Que lares são esses? Jovens ausentes, pais ausentes, droga presente e o presente é uma droga.

Uma árvore, uma estrela, um pássaro, uma flor. Quando foi que tudo sumiu? Ou virou ridículo? Quando foi que eu esqueci o nome do meu vizinho? Qual foi a última vez em que olhamos para quem nos pede comida ou uma moeda no semáforo, sem sentir raiva ou medo?

Quero de volta a minha dignidade e a minha paz. Quero de volta a lei e a ordem, a liberdade com segurança. Quero tirar as grades da minha janela para poder tocar as flores. Quero sentar na calçada e ter a porta da minha casa aberta nas noites de verão. Quero a honestidade como obrigação e motivo de orgulho. Quero a retidão de caráter, a cara limpa, o olho no olho. Quero de novo a vergonha, a solidariedade, a esperança, a alegria. E teto, comida e emprego para todos.

Quero voltar a ser feliz. Quero dizer um basta a essa violência, a esse desamor, a essa patifaria, a essa inversão de valores e de ideais. Preciso voltar a ser gente, a ter amor, solidariedade, fraternidade; a indignar-me diante da falta de respeito, de ética, de caráter. E poder tentar construir um mundo melhor, mais humano e mais justo, onde as pessoas respeitem-se e sejam respeitadas. Apenas isto.

Utopia? Não, se cada um fizer a sua parte.

Esse desabafo me chegou, em essência, há algum tempo, via internet, de autor desconhecido. Assumo-o, adapto-o e o reparto com o leitor. Estamos todos precisando muito dele.


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