quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

ZÉ DA SILVA

por  ROBERTO JOSÉ DA SILVA


Foi logo cedinho que disseram que eu estava estranho. Foi a diarista, que me conhece tanto que na primeira vez fez quiabo gosmento com frango sem eu pedir. Estranhei o estranho. Mas depois que tomei o segundo balde de café… Socorro! Descobri que perdi a cor da vida. Nunca tinha acontecido antes. Não estava nas catacumbas ou no céu, o corpo sem dor, cabeça tranquila, mas… O que é isso? Olhei para Nossa Senhora Aparecida, Xangô, todos os santos, meus pais, filhos nas fotografias e nada de sentir. Ah, não, isso não é bom! Mas foi assim o dia inteiro. Eu perguntando para amigos se já tinham passado por isso – e ninguém entendia. Caiu um toró daqueles na cidade, tirei a roupa e tomei banho de chuva para ver se as cores voltavam… e nada! Pedi que o chão se abrisse para eu ficar na fossa. Pedi que um cavalo alado me levasse para as nuvens da mania. Nada. Então fui dormir muito cedo, no quarto bem escuro, para ver se acordava comigo mesmo. Foi um sonho? Não sei, mas tive a sensação de que no meio da noite meu corpo entrou no meu corpo. Ao acordar a primeira coisa que fiz foi gritar um palavrão, bem alto, daqueles cabeludos. Então ouvi uma voz que veio da rua dizendo: “Ele voltou!”


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