quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

METRÓPOLES


por  Yuri Vasconcelos Silva


A cidade falhou. Lugar insensível que amontoa pessoas, umas sobre as outras, em torres de pedra fria com discursos na casca, só para vender. Não se enxerga mais o céu, apenas fiapos de azul ou um punhado de estrelas esmaecidas. O olhar não vai longe, sempre esbarra num absurdo construído, um muro ou miséria. Tanta gente junta e não há encontros. A praça abarca solitários em bancos ou em passos corridos. Todos estão sempre atrasados. Mas para o quê? Não se sabe o nome nem de meia dúzia de vizinhos, da moça que serve o almoço ou que abre a porta pro mundo passar. Todos se olham com desconfiança, segurando frouxo uma espécie de ódio latente que preserva a própria sobrevivência. A cidade idolatra o indivíduo. O ego. É o centro da publicidade e da política. Da ilusão e da mentira. Pretende-se um modelo da civilização, mas é um simulacro xucro. Para os seres, há mais dor que alívio dentro destas células pulsantes de pedra e energia. A cidade falhou. Quando será dado o próximo passo?

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