domingo, 6 de maio de 2012

LUTADOR DE VALE TUDO


Arte de Ricardo Silva

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Capricórnio

Catou as pedrinhas na rua de terra do bairro distante. Pintou as pedrinhas com tinta guache, aquela que comprou para o trabalho da aula de desenho. Guardou-as com o carinho e a proteção de quem olhou e as viu desprotegidas ao relento. As cores eram vivas. Quando o cinza tomava conta de tudo e uma dor forte travava o peito e o coração, ele abria a caixa de madeira e as olhava. Tudo voltava a ter cor, cheiro, e ele voltava a amar a vida. Deu nome a elas, as pedrinhas coloridas. Criou-os no ajuntamento de letras. Escreveu-os com a Parker 51 que herdou. Tinta azul lavável. Colocou o papel em cima delas, como se fosse uma proteção contra todos os males do mundo. Nunca pronunciou o impronunciável. Olhava os nomes e a pedra correspondente. Carregou-as por anos e anos. Queria passar para os filhos. Teve-os. Descobriu mais tarde que eles eram elas. Nasceram pintados de amor, desprotegidos na vida. Para sempre. As pedrinhas sumiram. Os filhos ficaram. Elas ficaram na lembrança. Eles são eternos.


JENYA ll






quinta-feira, 3 de maio de 2012

RESSONANTE

Por Ticiana Vasconcelos Silva

Espero o seu quadrante
Se encontrar com minha lua minguante
Vaso de mágoa
Luz do amante
E nesse desejo retumbante
Como um voo cortante
Espero a última lágrima de amor
Se desfazer em raios de diamante

GOV'T MULE

SOULSHINE


quarta-feira, 2 de maio de 2012

MANOEL DE BARROS

Parrrede!

Quando eu estudava no colégio, interno,
Eu fazia pecado solitário.
Um padre me pegou fazendo.
- Corrumbá, no parrrede!
Meu castigo era ficar em pé defronte a uma parede e
decorar 50 linhas de um livro.
O padre me deu pra decorar o Sermão da Sexagésima
de Vieira.
- Decorrrar 50 linhas, o padre repetiu.
O que eu lera por antes naquele colégio eram romances
de aventura, mal traduzidos e que me davam tédio.
Ao ler e decorar 50 linhas da Sexagésima fiquei
embevecido.
E li o Sermão inteiro.
Meu Deus, agora eu precisava fazer mais pecado solitário!
E fiz de montão.
- Corumbá, no parrrede!
Era a glória.
Eu ia fascinado pra parede.
Desta vez o padre me deu o Sermão do Mandato.
Decorei e li o livro alcandorado.
Aprendi a gostar do equilíbrio sonoro das frases.
Gostar quase até do cheiro das letras.
Fiquei fraco de tanto cometer pecado solitário.
Ficar no parrrede era uma glória.
Tomei um vidro de fortificante e fiquei bom.
A esse tempo também eu aprendi a escutar o silêncio
das paredes.

Manoel de Barros

(No livro Memórias Inventadas, As infância de Manoel de Barros)

FOTOS

Fotos que foram expostas na "1ª  MOSTRA DE ARTE LIVRE PALMEIRENSE", ocorrida no dia 28/04/2012 na Casa Museu Graciliano Ramos em Palmeira dos Índios, Alagoas.







Fotos de Ricardo Silva