por Zé da Silva
Capricórnio
Catou as pedrinhas na rua de terra do bairro distante. Pintou as
pedrinhas com tinta guache, aquela que comprou para o trabalho da aula
de desenho. Guardou-as com o carinho e a proteção de quem olhou e as viu
desprotegidas ao relento. As cores eram vivas. Quando o cinza tomava
conta de tudo e uma dor forte travava o peito e o coração, ele abria a
caixa de madeira e as olhava. Tudo voltava a ter cor, cheiro, e ele
voltava a amar a vida. Deu nome a elas, as pedrinhas coloridas. Criou-os
no ajuntamento de letras. Escreveu-os com a Parker 51 que herdou. Tinta
azul lavável. Colocou o papel em cima delas, como se fosse uma proteção
contra todos os males do mundo. Nunca pronunciou o impronunciável.
Olhava os nomes e a pedra correspondente. Carregou-as por anos e anos.
Queria passar para os filhos. Teve-os. Descobriu mais tarde que eles
eram elas. Nasceram pintados de amor, desprotegidos na vida. Para
sempre. As pedrinhas sumiram. Os filhos ficaram. Elas ficaram na
lembrança. Eles são eternos.
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