domingo, 27 de maio de 2012

LEITE E SANGUE

Por Roberto José da Silva

Leite é branco. Sangue é vermelho. No dia 7 de fevereiro de 1.989, eles se misturaram num mistério. Era terça de Carnaval. Não havia festa em Carambeí. Ali, a maioria trabalha sem folga. Em silêncio, como a paisagem dos Campos Gerais. O resultado: a região é uma das maiores produtoras do líquido branco no país. O sítio Sete Quedas só tinha barulho no nome. Sete Quedas também foi enterrada. Pelas águas de Itaipu. Na casa da propriedade, naquele dia, sete pessoas foram atacadas. Por armas silenciosas. Faca e porrete. Três morreram. Quatro ficaram gravemente feridas - e sobreviveram. A fama do leite da região foi manchada para sempre pelo sangue da chacina. As vítimas contribuíram para isso. Pelo silêncio. Pertenciam à família Boer. Holandeses, na origem. Miriam e Dick eram casados. Pais de Thiago, um ano. Receberam a visita Adrianus e Mariana, pais de Dick, e dos garotos Tony e Leonardo, sobrinhos do dono do sítio. O anjo da morte estava nas imediações. Era loiro, olhos claros, franzino e tinha pedido emprego. Foi descrito por Miriam. Que sobreviveu. Depois ela não falou mais nada. Nem Adrianus, que alegou amnésia. Nem as duas crianças, traumatizadas. A polícia não acreditou que uma única pessoa conseguiria tanta barbária. A polícia nunca decifrou o mistério. Dirk e a sogra Mariana foram mortos a porretadas e facadas. O bebê Thiago foi sufocado e teve o pescoço quebrado. Os golpes do horror mancharam o quarto do casal e o banheiro. Ali foram encontrados os vivos e os mortos. Vinte e um ano depois o silêncio continua. E o mistério aumenta. Na mesma proporção da fúria do assassino depois do primeiro golpe. O emprego teria sido negado. O sexo com Miriam também, na hora da vingança. Versões que surgiram à época. Alguém entre os sobreviventes sabe o que aconteceu naquele dia. O assassino, ou assassinos, também. O silêncio e o mistério ajudaram a mistura do sangue com o leite no silêncio dos Campos Gerais.

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