Por Roberto José da Silva
Leite é
branco. Sangue é vermelho. No dia 7 de fevereiro de 1.989, eles se misturaram
num mistério. Era terça de Carnaval. Não havia festa em Carambeí. Ali, a
maioria trabalha sem folga. Em silêncio, como a paisagem dos Campos Gerais. O
resultado: a região é uma das maiores produtoras do líquido branco no país. O
sítio Sete Quedas só tinha barulho no nome. Sete Quedas também foi enterrada.
Pelas águas de Itaipu. Na casa da propriedade, naquele dia, sete pessoas foram
atacadas. Por armas silenciosas. Faca e porrete. Três morreram. Quatro ficaram
gravemente feridas - e sobreviveram. A fama do leite da região foi manchada
para sempre pelo sangue da chacina. As vítimas contribuíram para isso. Pelo
silêncio. Pertenciam à família Boer. Holandeses, na origem. Miriam e Dick eram
casados. Pais de Thiago, um ano. Receberam a visita Adrianus e Mariana, pais de
Dick, e dos garotos Tony e Leonardo, sobrinhos do dono do sítio. O anjo da
morte estava nas imediações. Era loiro, olhos claros, franzino e tinha pedido
emprego. Foi descrito por Miriam. Que sobreviveu. Depois ela não falou mais
nada. Nem Adrianus, que alegou amnésia. Nem as duas crianças, traumatizadas. A
polícia não acreditou que uma única pessoa conseguiria tanta barbária. A
polícia nunca decifrou o mistério. Dirk e a sogra Mariana foram mortos a
porretadas e facadas. O bebê Thiago foi sufocado e teve o pescoço quebrado. Os
golpes do horror mancharam o quarto do casal e o banheiro. Ali foram
encontrados os vivos e os mortos. Vinte e um ano depois o silêncio continua. E
o mistério aumenta. Na mesma proporção da fúria do assassino depois do primeiro
golpe. O emprego teria sido negado. O sexo com Miriam também, na hora da
vingança. Versões que surgiram à época. Alguém entre os sobreviventes sabe o
que aconteceu naquele dia. O assassino, ou assassinos, também. O silêncio e o
mistério ajudaram a mistura do sangue com o leite no silêncio dos Campos
Gerais.
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