sábado, 18 de abril de 2015

JODOROWSKY'S DUNE



Por  Gui Pereira

Em 1970, Alexander Jodorowsky lançou seu segundo longa-metragem, o faroeste psicodélico “El Topo”. O filme tornou-se um fenômeno Cult mundial e ganhou admiradores como John Lennon e George Harrison. Com exibições limitadíssimas, “El Topo” virou o primeiro “filme da meia-noite”. O próximo filme que Jodorowsky lançou foi o também psicodélico, e obviamente influenciado por drogas ácidas dos anos 70, “The Holy Mountain”. Após sua exibição em Cannes, Jodorowsky já começava a dedilhar seu próximo projeto. O diretor juntou-se ao produtor Frances Michel Seydoux para adaptar a obra de ficção-científica “Duna” de Frank Herbert. A enorme pré-produção de “Duna”, que custou pouco mais de dois milhões de dólares, é tema do documentário “Jodorowsky’s Dune” dirigido por Frank Pavich.

O documentário explora toda a pré-produção do filme que pretendia ser a maior ficção-científica de todos os tempos. Jodorowsky, porém, não pretendia fazer apenas um filme, ele pretendia revolucionar toda a indústria cinematográfica. Jodorowsky uniu um time singular de artistas para trazer a vida todo o design do mundo de “Duna”. Dentre estes artistas, destacam-se o sueco H. R. Giger, o frances Jean Giraud (aka Moebius) e Dan O’Bannon, que ficaria a cargo dos efeitos visuais do filme. O que fica claro no documentário é a paixão que Jodorowsky tinha (e ainda tem) pelo projeto, fato com que contribuiu para que ele conseguisse escalar um elenco dos sonhos. Encabeçado por David Carradine, o filme também contaria com atuações de Orson Welles, Salvador Dalí e Mick Jagger. Para finalizar, a trilha sonora ficaria a cargo da banda Pink Floyd.

O documentário é composto por entrevistas com próprio Jodorowsky e de alguns outros integrantes do time criativo que filmariam “Duna”. O documentário ainda conta com a ajuda de todo o material existente da pré-produção do filme em questão. Aparentemente, um mega-livro com mais de 600 páginas de story boards e designs, foi feito por Jodorowsky e Seydoux, para apresentar aos grandes estúdios de Hollywood, em busca de um investimento de 15 milhões de dólares para a realização do filme. No documentário, fica claro que existem poucos exemplares deste livro: Um , obviamente, está nas mãos do próprio Jodorowsky; fora isso, cada um dos grandes estúdios (Universal, MGM, Disney, Paramount e Warner Brothers) possuí uma copia deste material de encher os olhos de qualquer admirador da sétima arte.

O documentarista Frank Pavich obviamente endeusa Jodorowsky em seu filme, colocando-o como um gênio não compreendido e a frente de seu tempo. Tal aspecto do documentário é fundamental para sustentar sua tese, e ele executa essa função muito bem através do humor e da descontração das entrevistas. Pavich chega a abusar em retratar Jodorowsky como um bom moço ao colocar, desnecessariamente, uma cena cujo o próprio faz carinho em um gatinho. Curiosamente a cena não chega a parecer forçada, mas Jodorowsky já esbanjava simpatia desde o começo do documentário, tornando a cena uma distração bobinha. O bacana do filme é o fato de como Pavich, muito sutilmente, coloca os executivos de Hollywood como antagonistas da trama.

Mais do que um diretor de cinema, fica claro neste documentário que Jodorowsky é um artista. Em determinado momento do filme ele cita que faria qualquer coisa pela sua arte, inclusive cortar o próprio braço. Sua teimosia, sua paixão e sua ambição fizeram com nenhum dos grandes estúdios apostassem em seu filme. Hoje, aos 85 anos, Jodorowsky diz que não é mais tão radical quanto na década de 70, mas isso não o torna menos admirável.

Para finalizar, o documentário explora um tema muito curioso que é o fato de grandes filmes que nunca saíram do papel. O assunto também foi tema do documentário “Lost in La Mancha” sobre os bastidores do filme sobre o Don Quixote que Terry Gillian chegou a iniciar as filmagens, mas teve de cancelar o projeto devido a um furacão que acabou com todo o equipamento do filme. O assunto também foi tratado no livro “The Greatest Movies You’ll Never See” de Simon Braund.


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