Os elogios realmente fazem sentido. É altamente satisfatória a sensação de deparar-se com um trabalho que se percebe diferenciado, e faz jus à sua fama de clássico. É o sentimento pós-filme de estranheza, de mudança e de uma tímida e interna felicidade que nos permite julgar este longa com os adjetivos que, por um momento, nem parecem existir. Tamanho elogio não condiz com perfeição, porém há uma necessidade de elevá-lo à um patamar de diferenciação, junto à algumas obras que fizeram por merecer a recorrente lembrança por seus inúmeros motivos.
Sergio Leone foi um diretor italiano de poucos e grandiosos filmes. Não é exagerado, portanto, tamanho reconhecimento pelo cinema que deixou em seu período de atividade. Com maior relevância, destaca-se, além desta obra, Era Uma Vez no Oeste (C'era una volta il West, 1968), Por uns Dólares a Mais (Per qualche dollaro in più, 1965) e Meu Nome É Ninguém (Il mio nome è Nessuno, 1973), como trabalhos notáveis do gênero western, ao qual era recorrente a sua atuação. Era Uma Vez na América (Once Upon a Time in America, 1984) foi o único trabalho grandioso não-western, centrando sua trama num contexto policial, de crimes e máfias.
Na obra em destaque, Três Homens em Conflito (Il buono, il brutto, il cattivo, 1966) também marca um ator de gênero. Clint Eastwood lança-se nesta obra como um ínoce, uma representação direta da imagem que transpiram os fora-da-lei, a qual sustenta até hoje (AKA Chuck Norris). Envolvendo estes grandiosos do cinema, há, ainda, a composição que Ennio Morricone realiza unicamente para este trabalho, assim como fez com outros longas de Leone e também em obras mais recentes, como Os Intocáveis (The Untouchables, 1987) e Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds, 2009). Perfeitamente adequada, a trilha sonora composta por músicas como Ecstasy Of Gold, The Sundown, The Desert, Marcia, The Story Of a Soldier e The Ugly Main, tanspõe o clima de disputa, de ódio e de vingança que os pistoleiros se inserem. Com todas as marcas do gêneros cultivadas, Três Homens em Conflito, torna-se, desde então, a obra clássica dos filmes da turma de pistoleiros. Filmado praticamente todo na Espanha (com somente algumas pequenas cenas na Itália), a fotografia é bem realizada e mostra o clima desértico, de calor insuportável, assim como a maquiagem, principalmente em cenas de queimadura facial.
Tratando-se da trama, que além do western central insiste consistentemente na comédia, destacam-se as grandiosas cenas sem diálogo. Leone investe em jogos de cena bem realizados para mostrar justamente as emoções mais afloridas dos personagens envolvidos em disputa e dominados por ódio e ganância. Com cortes rápidos e zoomolho-a-olho, é quase impossível não se envolver na batalha. A troca de olhares frios entre eles tenta transmitir a segurança que eles fingem possuir, e assemelham-se até com jogadas de pôker. São estas as primeiras e últimas cenas utilizadas pelo diretor.
O Bom, o Mau e o Feio a que o título se refere são uma analogia ao comportamento de cada um dos três personagens centrais da trama. Vivendo de modo muito arriscado para o sustento que conseguem, Loirinho, o bom (Clint Eastwood), Angel Eyes, o mau (Lee Van Cleef) e Tuco, o feio (Eli Wallach) descobrem a existência de uma cova num cemitério que contém 200 mil dólares perto de onde ocorre a guerra civil americana. Isto é o estopim para eles começarem a corrida do ouro. Entretanto, a interdependência que eles possuem causa uma situação controversa: o bom sabe onde fica a cova, e o feio, o cemitério. Num jogo de faz-de-conta, fingem-se ser confiáveis, amigos e capazes de dividir o tesouro, mas sabem que, no fundo, é cada um por si. As grandes interpretações cômidas de Tuco durante grande parte do filme com um humor espontâneo e não-gratuito garantem o sucesso de muitas cenas, a destacar-se as do deserto e da guerra.
Como um bom faroeste, há de haver um grandioso duelo final. Este desfecho resume com honestidade àquilo que se apresentou dos três pistoleiros. O Bom escreve o nome da cova numa pedra e eles iniciam a grandiosa cena final. Não é surpresa afirmar, contudo, que aquele que for melhor e matar os demais, ficará com o ouro. Ao fim, algumas situações são lembradas em decorrêcia das posturas antiéticas que tiveram durante as suas trajetórias. O longa fecha com chave de ouro (sem piadinha) a jornada que traduz em 180 minutos a busca incessante e cega por dinheiro de três homens que odeiam-se entre si, e querem que a recompensa venha também em ver o inimigo tombar ao chão.
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