quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
ZÉ LIMEIRA
E diz o Novo Testamento…
O Marechal Floriano
Antes de entrar pra Marinha
Perdeu tudo quanto tinha
Numa aposta com um cigano
Foi vaqueiro vinte ano
Fora os dez que foi sargento
Nunca saiu do convento
Nem pra lavar a corveta
Pimenta só malagueta
Diz o Novo Testamento!
Pedro Álvares Cabral
Inventor do telefone
Começou tocar trombone
Na volta de Zé Leal
Mas como tocava mal
Arranjou dois instrumento
Daí chegou um sargento
Querendo enrabar os três
Quem tem razão é o freguês
Diz o Novo Testamento!
(…)
Quando Dom Pedro Segundo
Governava a Palestina
E Dona Leopoldina
Devia a Deus e o mundo
O poeta Zé Raimundo
Começou castrar jumento
Teve um dia um pensamento:
“Tudo aquilo era boato”
Oito noves fora quatro
Diz o Novo Testamento!
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
LSD
de Enio Mainardi em "O Moedor"
Lá fora o céu se revira
e desvira
em Picassos azuis
de LSD.
Figuras de Chagal
sem penduram
em trapézios soltos.
Van Gogh faz tardes
de amarelo-brilhante
tintas revoluteadas
vibram pelas janelas
luz iluminando
cegante cegando.
De ponta cabeça
vejo impressionista
olhando de lado
sou cubista.
Sei que posso
com minha mão
o céu do céu arrancar
sem nem o braço esticar.
Mas – e se lá
tiver demônios
querendo me levar?
Bosch me vigia
lá das alturas
mostrando torturas.
Amortalhado
sigo em pesadelo
estou já do outro lado.
GRANDES ÁLBUNS
THE BEATLES – RUBBER SOUL
Às vezes, sinto que tenho um débito com os Beatles. Não meço palavras para criticar a febre sessentista que culminou em duas separações: uma devoção quase-doentia a um grupo de rock, por um lado. Do outro, composições inteligentemente trabalhadas que revolucionaram a indústria musical.
Tudo isso gira em torno dos Beatles. John, Paul, George e Ringo marcaram a ruptura das viscerais apresentações ao vivo por volta de 1965 e transferiram suas habilidades de composição para os estúdios, chegando a formar longos hiatos sem realizar grandes turnês.
Reza a lenda que tudo mudou quando um certo Bob Dylan apresentou ao quarteto alguns alucinógenos, mas tudo ocorreu naturalmente, sem intervenção alguma. John e Paul eram habilidosos demais e precisavam se reinventar para que o conflito de egos não decepcionasse uma geração inteira de fãs.
A mudança teve início com o lançamento do álbum Rubber Soul em 1965, com composições inovadoras e mais agressivas, como “Drive My Car” e a psicodelia de “The Word”, pontapé inicial para a eclosão de grupos de São Francisco.
Os integrantes buscaram referências diferenciadas para proporcionar mais sincretismo ao rock, como é o caso da emblemática “Norwegian Wood”, onde George Harrison apresenta a cítara para o universo pop pela primeira vez.
Os arranjos das canções estão muito mais sofisticados do que os trabalhos de outrora. “Think For Yourself” traz uma guitarra crua e levemente pausada, com incursões pop que dão um tom dançante à canção. E “Michelle” é uma linda faixa acústica com uma complexidade dylanesca.
Se por um lado os Beatles mostraram outros caminhos para a música em um contexto universal, a partir de Rubber Soul os Fab Four deram os primeiros passos para a separação, que aconteceria cinco anos depois. Cada um estava concentrado no que podia oferecer de melhor, e o resultado dessa química toda alterou a música pop para sempre.
Em vida, George Harrison disse que este foi o melhor álbum dos Beatles pelo grande momento inspirador que cada integrante estava vivenciando. O produtor George Martin também foi bastante categórico: “Rubber Soul é o primeiro álbum a apresentar um novo Beatles ao mundo”.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
BOCAGE
SONETO DO EPITAPHIO
La quando em mim perder a humanidade
Mais um daquelles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o theologo, o peralta,
Algum duque, ou marquez, ou conde, ou frade:
Não quero funeral communidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gattarrões, gente de malta,
Eu tambem vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada edosa
Sepulchro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitaphio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.
Manuel Maria Barbosa du Bocage
Manuel Maria Barbosa du Bocage
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
CABEÇA DE PEDRA
Milhares de formigas cobriram o menino no jardim da infância. Ele ficou feito uma bola, inchado pelas mordidas e pelo fato de ser alérgico. Olhei aquilo e pensei que era um castigo, porque ele veio depois de uma irmanzinha que não nasceu. Quando ele apareceu chorei feito um desesperado e não sabia o motivo. Talvez porque no fundo da alma desejasse outra mulher em casa, além da minha mãe. Ficamos perto, mas distantes. Um dia ele se queimou com a água que fervia numa panela no fogão da cozinha minúscula. Ficaram as marcas. As minhas marcas eram mais profundas. Nos perdemos por caminhos diferentes, mas os mesmos. Foi depois que nos encontramos. Já com filhos. Sangue do meu sangue, descobrimos o que sempre existiu e eu lutava para não entender. E nos unimos tanto na vida e na arte que até parece que nossas almas sempre foram xipófogas - em corpos diferentes.