sábado, 18 de janeiro de 2014

BOCAGE


SONETO DO EPITAPHIO 

La quando em mim perder a humanidade 
Mais um daquelles, que não fazem falta, 
Verbi-gratia — o theologo, o peralta, 
Algum duque, ou marquez, ou conde, ou frade: 

Não quero funeral communidade, 
Que engrole "sub-venites" em voz alta; 
Pingados gattarrões, gente de malta, 
Eu tambem vos dispenso a caridade: 

Mas quando ferrugenta enxada edosa 
Sepulchro me cavar em ermo outeiro, 
Lavre-me este epitaphio mão piedosa: 

"Aqui dorme Bocage, o putanheiro; 
Passou vida folgada, e milagrosa; 
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro.

Manuel Maria Barbosa du Bocage


Nenhum comentário :