quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

CABEÇA DE PEDRA


Xipófogas

Milhares de formigas cobriram o menino no jardim da infância. Ele ficou feito uma bola, inchado pelas mordidas e pelo fato de ser alérgico. Olhei aquilo e pensei que era um castigo, porque ele veio depois de uma irmanzinha que não nasceu. Quando ele apareceu chorei feito um desesperado e não sabia o motivo. Talvez porque no fundo da alma desejasse outra mulher em casa, além da minha mãe. Ficamos perto, mas distantes. Um dia ele se queimou com a água que fervia numa panela no fogão da cozinha minúscula. Ficaram as marcas. As minhas marcas eram mais profundas. Nos perdemos por caminhos diferentes, mas os mesmos. Foi depois que nos encontramos. Já com filhos. Sangue do meu sangue, descobrimos o que sempre existiu e eu lutava para não entender. E nos unimos tanto na vida e na arte que até parece que nossas almas sempre foram xipófogas - em corpos diferentes.


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