quinta-feira, 18 de setembro de 2014

JIMI HENDRIX

44 anos


por Roberto José da Silva

Quando me disseram quarenta e quatro anos eu me senti mais moço. Há quarenta e quatro anos ele foi beijar o céu e o corpo ficou inerte porque o vômito o afogou. “Eu vivia num quarto repleto de espelhos; tudo o que eu via era eu mesmo. Me apeguei ao meu espírito e quebrei meus espelhos, agora o mundo todo está aqui para me ver”. Disse isso e só li agora, mas aí entendo porque no primeiro acorde disparado não sei onde, ele entrou num radinho na cabeceira da cama do quarto num subúrbio e arrebentou as paredes, a casa, me alçou no vôo que depois quase me matou do mesmo jeito, mas foi uma grande experiência. Um anjo negro vestido de branco e disparando bombas no hino nos Estados Unidos e sobrevoando a jato aquela multidão de Woodstock, começo e início do fim de um sonho que foi enterrado em Altmont, com a facada do Hell Angels em alguém que queria atirar nos Rolling Stones. Quatro décadas e quatro anos se foram, mas o que Jimi Hendrix sinalizou depois de jogar napalm em quem jogava napalm nos norte vietnamitas, o que ele sinalizou com os acordes mais tranquilos deste mundo, foi isso que encontrei na hora certa. E o eterno Deus da guitarra continua deus, como provou naquela fazenda ao encerrar com calma sua apresentação pouco tempo antes de morrer aos 27 anos. O corpo se foi na busca do que não se sabe. A arte, essa é eterna. Sobreviver para confirmar isso é uma dádiva.




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