FRANK ZAPPA
HOT RATS (1969)
por TIAGO FERREIRA
Frank Zappa foi o músico mais inventivo que já existiu. Já transitou por tudo que é ritmo, desde rock, passando por blues, avant-garde, música erudita, jazz, fusion, até música eletrônica. É difícil definir os pontos altos e baixos de uma discografia de 79 álbuns de estúdio, contando inúmeros outros que produziu ou ajudou a formatar.
Hot Rats é apenas um pequeno retalho da carreira de um grandioso artista (que também se aventurou no cinema e era um verdadeiro entertainer, como disse Marcio Gaspar). O álbum é como se fosse uma versão experimental do que viria a ser o fusion jazz, que Miles Davis ainda estava começando a inventar naquele ano de 1969 com o seu antológico In A Silent Way.
Mas ao invés de ir pela corrente do bebop, Zappa fez uma verdadeira mescla de sonoridades distintas, incluindo música celta (como se vê na primeira faixa, “Peaches En Regalia”). De fato, como sempre, Zappa estava com uma pulga atrás da orelha após lançar diversos álbuns com letras satíricas e bastante críticas. Todas as faixas de Hot Rats são instrumentais, com exceção de “Willie The Pimp”, que é introduzida pelos vocais deCaptain Beefheart – que naquele ano lançara, com produção do próprio Zappa, o seu mais que conceituado Trout Mask Replica, clássico absoluto da música experimental (logo esse álbum vem parar nesta seção também, aguardem).
Na própria “Willie The Pimp”, Zappa exibe seu vibrante virtuosismo na guitarra, com um solo de 9 minutos acompanhados pela bateria jazzística de John Guerin, que já trabalhou com músicos do porte de George Harrison e Thelonious Monk. A síncope lembra bastante a performance de uma big band desvairada, como se todos resolvessem tocar após uma festa estrondosa, dopados dos mais variados psicotrópicos.
O legal de Zappa é que essa impressão é norteada por uma lucidez sem precedentes. Tocar com um dos maiores gênios (e malucos) musicais não era tão fácil: ele exigia habilidade, técnica, síncope, ritmo… Ouça “Son of Mr. Green Genes” e constate: como o saxofone de Ian Underwood casa tão perfeitamente com os solos de Zappa e a ácida bateria de Paul Humphrey? Pode-se dizer que é o improvável exemplo de um ‘psychofusion’, se é que pode-se utilizar essa expressão. Talvez seja a resposta do músico à lisergia sonora que já estava se desgastando com a onda pós-67, o áureo período dos grupos californianos.
A influência do soft jazz e do esquema de composição da música clássica se faz presente em “Peaches En Regallia” e também na harmônica “Little Umbrellas”, fazendo uma interessante simbiose entre o som característico de John Coltrane junto ao órgão de Underwood (o outro multiinstrumentista do grupo). Sem falar no deleite sonoro dos quase 17 minutos de pura revelia instrumental de “The Gumbo Variations”.
“It Must Be a Camel”, que encerra o disco, pode ser considerada a faixa mais experimental por inovar na sonoridade ambiente e nos estranhos arranjos, que atingem o clímax na curta presença do saxofone e conta com uma virada espetacular de velocidade no baixo executado por Zappa e nos solos de bateria de John Guerin.
Hot Rats é apenas um pequeno retalho da carreira de um grandioso artista (que também se aventurou no cinema e era um verdadeiro entertainer, como disse Marcio Gaspar). O álbum é como se fosse uma versão experimental do que viria a ser o fusion jazz, que Miles Davis ainda estava começando a inventar naquele ano de 1969 com o seu antológico In A Silent Way.
Mas ao invés de ir pela corrente do bebop, Zappa fez uma verdadeira mescla de sonoridades distintas, incluindo música celta (como se vê na primeira faixa, “Peaches En Regalia”). De fato, como sempre, Zappa estava com uma pulga atrás da orelha após lançar diversos álbuns com letras satíricas e bastante críticas. Todas as faixas de Hot Rats são instrumentais, com exceção de “Willie The Pimp”, que é introduzida pelos vocais deCaptain Beefheart – que naquele ano lançara, com produção do próprio Zappa, o seu mais que conceituado Trout Mask Replica, clássico absoluto da música experimental (logo esse álbum vem parar nesta seção também, aguardem).
Na própria “Willie The Pimp”, Zappa exibe seu vibrante virtuosismo na guitarra, com um solo de 9 minutos acompanhados pela bateria jazzística de John Guerin, que já trabalhou com músicos do porte de George Harrison e Thelonious Monk. A síncope lembra bastante a performance de uma big band desvairada, como se todos resolvessem tocar após uma festa estrondosa, dopados dos mais variados psicotrópicos.
O legal de Zappa é que essa impressão é norteada por uma lucidez sem precedentes. Tocar com um dos maiores gênios (e malucos) musicais não era tão fácil: ele exigia habilidade, técnica, síncope, ritmo… Ouça “Son of Mr. Green Genes” e constate: como o saxofone de Ian Underwood casa tão perfeitamente com os solos de Zappa e a ácida bateria de Paul Humphrey? Pode-se dizer que é o improvável exemplo de um ‘psychofusion’, se é que pode-se utilizar essa expressão. Talvez seja a resposta do músico à lisergia sonora que já estava se desgastando com a onda pós-67, o áureo período dos grupos californianos.
A influência do soft jazz e do esquema de composição da música clássica se faz presente em “Peaches En Regallia” e também na harmônica “Little Umbrellas”, fazendo uma interessante simbiose entre o som característico de John Coltrane junto ao órgão de Underwood (o outro multiinstrumentista do grupo). Sem falar no deleite sonoro dos quase 17 minutos de pura revelia instrumental de “The Gumbo Variations”.
“It Must Be a Camel”, que encerra o disco, pode ser considerada a faixa mais experimental por inovar na sonoridade ambiente e nos estranhos arranjos, que atingem o clímax na curta presença do saxofone e conta com uma virada espetacular de velocidade no baixo executado por Zappa e nos solos de bateria de John Guerin.