segunda-feira, 21 de setembro de 2015

HORÓSCOPO

por Zé da Silva

Virgem

Ele foi mais que Henry Chinaski porque era real, não personagem do Bukowski.
Estava na Vila Rica, que não era a mineira, mas um subúrbio da megalópole paulistana. Achar o caminho de volta para casa, depois dos porres com cachaça barata no Centro podre da cidade era muito mais que qualquer aventura descrita pelo poeta de cara amarrotada. Isso porque entre o viver o descrever, o céu é o limite da invenção. A cabeça rachada no meio-fio numa queda em cima de vômito foi pouco. O sol da manhã acordando o adolescente na porta cerrada do bar, a cama uma poça do próprio mijo, os documentos e o dinheiro perdido, olhares curiosos, penosos, furibundos em cima, isso ele viveu e ninguém sabe. É desse tempo a certeza, descoberta só muito tempo depois, quando ficou loucamente sóbrio, de que o “poço tem fundo – e não mata, humilha”.



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