sábado, 5 de setembro de 2015

MANUEL BANDEIRA

A Espada de Ouro

Excelentíssimo General
Henrique Duffles Teixeira Lott,
A espada de ouro que, por escote,
Os seus cupinchas lhe vão brindar,
Não vale nada (não leve a mal
Que assim lhe fale) se comparada
Com a velha espada
De aço forjada,
Como as demais.

Espadas estas
Que a Pátria pobre, de mãos honestas,
Dá a seus soldados e generais.
Seu aço limpo vem das raízes
Batalhadoras da nossa história:
Aço que fala dos que, felizes,
Tombaram puros no chão da glória!
O ouro da outra é ouro tirado,
Ouro raspado
Pelas mãos sujas da pelegada
Do bolso gordo dos salafrários
Do bolso raso dos operários.
É ouro sinistro,
Ouro mareado:

Mancha o Ministro,
Mancha o Soldado.



Texto extraído do livro "Antologia de Humorismo e Sátira", seleção de R. Magalhães Júnior, Editora Civilização Brasilleira - Rio de Janeiro,1957, pág. 257.

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